por Ricardo Sangiovanni*
Pedro chega chorando para a professora.
- Não sou falso nada!
- É sim, você é o falso sim. O verdadeiro é o outro Pedro. Você é o F-A-L-S-O – repisa Gilmar, seu coleguinha.
- Sou falso nada! – repete Pedro, e chora mais.
A professora pergunta o porquê da polêmica.
- Ele é o falso porque, quando ele chegou aqui na escola, já tinha um Pedro antes. Quem chega na escola antes é o verdadeiro. O que chega depois fica sendo o falso. Eu mesmo, sou o Gilmar verdadeiro.
***
Outros dois meninos desenham.
- Esse lápis aqui, é que cor?
- É cor-de-pele.
- N’é nada!
- É sim!
E vão tirar a dúvida com a professora.
- Esse aqui é o cor-de-pele, n’é? – pergunta um.
- É sim – confirma a professora.
- Mas cor-de-pele não é esse outro aqui? – pergunta o outro.
- Esse aí também é cor-de-pele. Os dois são cor-de-pele, e além desses existem mais vários cor-de-pele diferentes.
Desfaz-se a querela. Os lápis em questão eram um rosa clarinho, e o outro, aquele amarelinho esmaecido. Os dois meninos eram negros.
***
O pai, engravatado, enquanto espera o filho na porta da escola, compra um saco de pipocas. Leva a boca do saco diretamente à sua, despejando as pipocas de cima para baixo. De dentro da escola, uma garotinha o flagra.
- Hei! – grita. Você tá BEBENDO a pipoca! Não pode beber a pipoca não, pipoca não é de beber! É de comer, assim, ó – e ilustra – , com a mãozinha.
O homem estacou. Jamais tornou a beber pipoca de novo na vida.
* * * * *
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*Ricardo Sangiovanni, jornalista, coordena o blog O Purgatório e mantém no NR a coluna Mistério do Planeta. Escreve de Salvador.
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