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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Por que os brasileiros não gostaram do Oscar?


por Maria Shirts*

A resposta ao título é simples: “porque Gravidade ganhou tudo”. E, diferentemente dos norte-americanos, os brasileiros não gostam de filmes como Gravidade.

O que aquela Academia de Cinema preza não tem nada a ver com os nossos valores estéticos e narrativos. Gravidade é um filme de efeitos especiais. Foi inteiramente feito em estúdio, e ainda com dois atores queridinhos de Hollywood (George Clooney e Sandra Bullock). A trama, uma espécie de Odisséia pós-pós-moderna, tem superação de desafios, é um périplo heróico e de final feliz que ainda por cima foi dirigido por um latino americano, o que pode ser considerado um belo fetiche aos olhos dos norte-americanos politicamente corretos.

Creio que os brasucas gostem de filmes com mensagens existenciais, do tipo Nebraska e, se for pra ter mais “ação”, com uma estética mais chamativa e interessante, do tipo d’O Lobo de Wall Street. Aliás, muitos amigos se surpreenderam pelo fato d’O Lobo não ter ganhado nada. A maior frustração talvez tenha sido com o prêmio de melhor ator, que não ficou com Leo DiCaprio, que encenou o protagonista. No entanto, segundo minha amiga Clara Holtz, que já apareceu em outras mal-traçadas minhas sobre o Oscar, ele não tinha como competir com o ganhador desse ano, Matthew McConaghey, que levou o prêmio pelo filme Clube de Compras Dallas. Afinal “quem emagrece muito e pela primeira vez para fazer filme em Hollywood sempre ganha o Oscar”, justifica.

Independente das questões nutricionais de McConaghey, me parece que os filmes de Martin Scorsese estão um nível acima do que Hollywood gosta e entende. Isso porque quando o espectador norte-americano não sabe exatamente pra quem torcer, fica aflito e perde o interesse. Eles precisam de um herói, e precisam que ele seja do bem. O que aparentemente não dividiu tantas opiniões entre lá e cá foi o também premiado 12 Anos de Escravidão. Percebi que tanto brasileiros quanto americanos gostaram desse filme, se emocionaram com ele. Apesar da luta racial e da escravidão terem acontecido de maneira bem diferente nos dois países, desconfio que esse tema sempre sensibilizará os habitantes das Américas, mesmo que dirigido por um inglês... Encenado ainda por Lupita Nyong’o, chega a ser covardia. A atriz, que levou o prêmio de melhor coadjuvante por sua personagem Patsey, deveria ter um filme só dela. Não me surpreenderia se os víssemos nos cinemas em breve.

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Maria Shirts, internacionalista e pedestrianista, mantém a coluna Transeunte Urbana.

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