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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Primeiro de Maio sob a ditadura

1964 + 50
Histórias de pessoas de carne e osso - e também de personagens de papel - que viveram na roda viva da ditadura militar. Novos episódios toda quinta-feira.

(Episódio 5)


por Fernanda Pompeu    ilustração Fernando Carvall

Hoje quase ninguém dá ibope para as comemorações do Primeiro de Maio. É fato que as centrais sindicais até tentam mobilizar, mas para garantir que o trabalhador e a trabalhadora deixem suas casas em direção à praça, contratam músicos, promovem gincanas, sorteiam prendas etc. Muito mais circo do que manifestação de classe.

Sei que a própria definição do que é trabalhador anda embaralhada em tempos de terceirizados, frilas e até dos carteiras-assinadas contemporâneos. Marx, Lenin & cia não iam entender nada. Mas, consolo para a esquerda, se mudou a identidade do trabalhador, pouco mudou a do patrão. Este continua sendo o cara que detém o capital e os instrumentos.

Mas toda vez que o Dia Internacional do Trabalhador se aproxima - que a maioria entende como apenas mais um feriado - uma onda, melhor dizendo, um sopro de nostalgia me assalta. Porque, atenção menores de trinta anos, essa data já foi rebelde. Que digam os militares brasileiros quando estavam por cima. Quando davam as cartas e vigiavam o jogo.

O Primeiro de Maio, sob a ditadura, era motivo de apreensão política e prontidão nos quartéis. A data vinha carregada de história e resistência heroica dos trabalhadores contra o julgo do capital e dos patrões. Ela era tão ameaçadora que governo e meios de comunicação trocaram trabalhador por trabalho. O concreto pelo abstrato.

Muita gente até hoje diz Dia do Trabalho. Simples assim. Na verdade a coisa fica destituída de qualquer significado político, pois trabalho diz respeito a todos. Mark Zuckerberg, os irmãos Marinhos, Antonio Ermírio, Eike Batista também trabalham. Ops! Então a data é dos patrões também!

Mas voltando a minha nostalgia - e acredito de muita gente mais - o Primeiro de Maio era sinônimo de mobilização e luta. Nos longos anos da ditadura, levá-lo a sério era risco de prisão. Não à toa, Lula consolidou sua liderança discursando em primeiros de maio.

Vila Euclides, São Bernardo do Campo, bandeiras vermelhas, uma ditadura para derrubar, estudantes organizados, poemas, músicas, panfletos e uma alegria doida fazem parte do passado. Pensando bem, várias formas de luta fazem parte do passado. Mas a tensão trabalhador-patrão, vida-capital está mais viva do que nunca.

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Fernanda Pompeu é escritora e redatora. Fernando Carvall é o homem da arte.

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