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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Discoteca de músico: Gabriel Sader Basile


por Marcos Grinspum Ferraz    Ilustração de Victor Zalma*

Os três primeiros entrevistados desta Discoteca de Músico foram artistas acostumados a estar à frente nos palcos. Mais expostos, vocalistas naturalmente costumam chamar a atenção. O convidado desta vez, de outro modo, é um instrumentista que está quase sempre no fundo da cena, mas que de modo algum é menos importante. Aliás, se dizem que o baterista é a alma de uma banda, o Gabriel Sader Basile – ou Biel – é a alma logo de três: Memórias de Um Caramujo, Grand Bazaar e Noite Torta. Isso, além de ser percussionista do Charlie e Os Marretas e de acompanhar atualmente o compositor Maurício Pereira.

crédito: Amanda Amaral de Oliveira
Com apenas 25 anos, o Biel já tem um bom tempo de estrada, e apesar de eu já ter tido alguns contatos anteriores, só conheci melhor seus trabalhos de uns dois anos para cá. Impressiona (para além do carisma, diga-se de passagem) a capacidade com que ele transita de modo tão natural pelos mais variados gêneros musicais – do samba ao rock, do funk à música cigana –, sempre dando seus toques pessoais. E está claro, vendo o alto nível dos discos lançados pelas bandas das quais participa, que essa trajetória está apenas começando.

Pois bem. Depois de Tim Bernardes, Rashid e Bruna Caram, o Biel é o quarto entrevistado da série “Discoteca de Músico”, que mensalmente traz um artista respondendo às mesmas cinco questões, sobre discos e videoclipes que marcaram seus caminhos na música e na vida. Discos e vídeos antigos ou atuais, já que parto aqui da constatação de que música boa não para nunca de ser produzida.

A ideia da série é ter, no fim do processo, uma espécie de discoteca/videoteca virtual feita pelos músicos – de variadas idades e adeptos de diferentes estilos –, voltada para o público que quer conhecer mais os artistas ou mesmo que busca sugestões do que ver e ouvir.

Um disco brasileiro que marcou sua formação musical  

O “Clube da Esquina”, de 1972, com certeza é um deles. É um clássico! As músicas, os músicos, arranjos, timbres, histórias… tudo é lindo. E eu descobri esse disco de um jeito meio coletivo. Foi uma época em que entrei na onda da "mineirice" junto com um grupo de amigos músicos muito queridos. Sempre alguém vinha e mostrava alguma coisa nova que tinha descoberto no disco ou alguma música que tinha tirado. Ouvimos muita música juntos, que é uma coisa que acho preciosa e que cada vez fazemos menos.

Um disco gringo que marcou sua formação
O “With a Little Help From My Friends”, do Joe Cocker. Gosto demais desse disco! É uma mistura de rock com soul que me pega no coração. Acho que são minhas duas maiores influências gringas. É um desses discos que se começa a tocar não dá pra prestar a atenção em outra coisa. Eu entro na onda na hora. A voz do cara é absurda e a banda é fantástica! Tem o Jimmy Page e o Steve Winwood, que é um cara que também curto a beça. Além disso tudo, a gravação tem uma cara de “ao vivo” que gosto muito. Parece que a galera entrou no estúdio, fez um take de cada música, e no fim do dia o disco tava pronto. Dá a sensação que estava tudo entalado na garganta dele há uma eternidade, ele chegou e vomitou tudo no microfone. Fora que nesse disco tem a melhor versão de uma música dos Beatles. Não é pouca coisa…

Um disco lançado nos últimos anos que te marcou profundamente
Pô, tenho ouvido muita coisa boa ser produzida hoje em dia, tanto no Brasil quanto na gringa. Acho que estamos em um momento bem fértil musicalmente. Já faz uns anos, mas em 2010 foi lançada a “Caixa Preta” com a obra completa do Itamar Assumpção. Nessa caixa vieram dois discos com composições inéditas que foram produzidas e arranjadas para a ocasião. Um deles, o Pretobrás II, foi muito importante pra mim nesses últimos anos. Não preciso falar sobre as composições nem sobre o compositor, porque isso todo mundo já sabe que são fora de série e não são dessa década… Mas esse álbum me abriu a porta para começar a entender o que é a produção de um disco. Me chamou muito a atenção como praticamente só com timbres e ostinatos colocados nos lugares certos, os arranjos – feitos em cima de algumas gravações de voz deixadas pelo Itamar – se sustentam cheios de interesse. Também tem muita coisa de produção de música eletrônica feita com MPC, que é um caminho que tenho gostado cada vez mais e tem se tornado mais frequente em sons que tenho ouvido. Gol do Beto Villares, que produziu o disco.

Um videoclipe que marcou sua formação
O clipe “Drop”, do The Pharcyde. Nem faz tanto tempo que vi esse clipe pela primeira vez, mas me marcou bastante. Acho genial como o Spike Jonze, que dirigiu o clipe, conseguiu pegar a ideia musical da base em reverse que o J Dilla fez e usar no vídeo. Rola uma sintonia forte entre música e clipe, um fortalece o outro.



Um videoclipe lançado nos últimos anos que te marcou profundamente
Curti muito o Happy”, do Pharrell. É um clipe que conseguiu usar a internet de um jeito muito criativo. É totalmente pensado para estar nela. São 24 horas ininterruptas de pessoas dançando a música da forma que bem entendem. A música começa, a música termina, aparece uma nova pessoa, a música começa outra vez e o dia vai passando… Dá pra ficar meia hora vendo o clipe, fácil! E se quiser ver de novo no outro dia dificilmente vai ver as mesmas cenas. O clipe se auto recicla, é muito bem bolado.
http://24hoursofhappy.com/

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Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura, música e afins. llustração de Victor Zalma, especial para a série

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