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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Em Atibaia, prefeitura troca o amianto, mas desinformação é crônica

Novamente, Atibaia. Outra vez, o campo do Santa Clara, na Vila São José, e os moradores afetados pelas enchentes, alojados em contêineres de metal e que, segundo a prefeitura, serão transferidos por dois anos para casas de madeira até a construção de um conjunto habitacional. O Nota de Rodapé, após a publicação da matéria que denunciou a instalação de telhas de amianto nas moradias, torna e retorna à cena e constata que a desinformação é problema crônico no local.
Nossa primeira visita depois da denúncia foi em 25 de abril, num domingo à tarde e os mesmos moradores que entrevistamos na páscoa nos receberam. Ficaram surpresos com o que os esperava no “abrigo provisório de madeira”. “Teve gente que levantou suspeita sobre as telhas serem de amianto, mas não sabíamos o que isso significava. Quando vimos a reportagem, soubemos que é proibido e que pode até matar”, diz uma senhora que prefere não se identificar.
As telhas vinham sendo trocadas desde a noite da quinta-feira, 21 de abril. A moradora F.S, indignada, pergunta: “foi o dia da publicação da reportagem, não foi?”. Com a resposta afirmativa, ela desabafa: “olha, já vão colocar a gente nestas casas de madeira compensada, que mais parecem barracões, vão amontoar famílias nelas. E ainda queriam pôr as pessoas debaixo de veneno. Li que amianto dá câncer, que mata. Será que ninguém da prefeitura viu nada disso? Precisou de reportagem para tomar providências? O problema é que somos pobres. E pobre é olhado assim, com desprezo, acham que por não termos nada qualquer coisa está bom”, critica.
Nas casas, homens trabalhavam para colocação das novas coberturas como mostram as imagens de Paula Sacchetta. Agora, os dizeres, marcados nas telhas de outro fabricante, apontavam: “não contém amianto”. Tentamos contato com os trabalhadores que instalavam as peças sem nenhuma proteção. Nem luvas nem máscaras. Alguns se fecham, não falam. Outros são econômicos nas palavras. É clara a orientação para que evitem o assunto sobre o amianto. Somente um se estende, dialoga, mas o tom é de dúvida. “Este negócio de amianto faz mal mesmo? Mata de verdade?”, indaga. Esclarecido sobre a proibição, ele cala. Perguntamos se são orientados a utilizar equipamentos de proteção nas atividades diárias. Ninguém responde. Na saída do campo, dois moradores nos abordam. A conversa segue e eles comentam: “os trabalhadores não vão falar nada. Mesmo pra nós, moradores, veio gente pedir pra não comentar sobre o amianto, pra não falarmos com jornalistas sobre o assunto”. Mas, quem orientou? “Ah, foi alguém que estava fiscalizando a troca das telhas. Não sei se era da prefeitura ou da empreiteira”, conta uma mulher.
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Datas não explicadas e inexplicáveis
A prefeitura afirma que faz a fiscalização de dois em dois dias, por meio da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente. Teoricamente, do início das obras até a publicação da matéria, foram sete semanas com a presença de fiscais. Considerada a possibilidade de que as visitas dos funcionários comecem nas terças, elas ocorreriam, no mínimo, duas vezes por semana, totalizando 14 verificações. “Vocês vieram aqui um dia (4 de abril) não são profissionais de construção e mostraram que era amianto. Como os fiscais não perceberam este tempo todo?”, questiona a moradora F.S.
Talvez a pergunta de F.S e de outros moradores seja respondida em poucas palavras: desinformação e negligência. Algo materializado quando é avistada uma grande placa colocada recentemente na entrada da obra. Ali está escrito “Construção de abrigos provisórios” e um dos slogans da prefeitura “Pela cidade, por você”. Também são observados os valores do projeto: R$ 407.946,54 (quatrocentos e sete mil novecentos e quarenta e seis reais e cinquenta e quatro centavos), nome e registro do engenheiro responsável e o prazo de entrega do “abrigo”, que seria de 60 dias. Fato que coloca mais dúvidas nas cabeças dos desalojados. “Afinal, quando será entregue?”, é o questionamento geral.
Foi na última ida ao campo do Santa Clara, no dia 4 de maio, que o Nota de Rodapé obteve esses dados e um flagrante, no mínimo, curioso e emblemático, se levada em conta a falta de clareza na situação do projeto. Na placa, ainda se lê: “início da obra: 30/02/2010”, data inexistente no calendário, já que fevereiro tem, quando muito, 29 dias. Diante de tal frase, um morador faz sinal de reprovação. “Espero que os dias de entrega do abrigo e de saída para o conjunto habitacional que estão prometendo não sejam como o do começo da construção, pois senão vão virar lenda”, ironiza.

Moriti Neto é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

3 comentários:

Tbotafogo disse...

Aqui no Brasil o tipo de amianto é o crisotila (que o corpo consegue eliminar rapidamente) e a forma de aplicação é como fibra de reforço amalgamdo ao fibrocimento de telhas e caixas dágua. Estando presas ao cimento, as fibras não se desprendem e o risco destes produtos de prejudicar a saude é praticamente zero. Além disso, conheçio algumas empresas que usam o miernal e todas elas possuem potentes sistemas de captação, filatragem e despoeiramento.
Sugiro a todos, dois sites que trazem muita informação ao assunto, é importante entendermos o conteúdo. A FALTA DE INFORMAÇÃO É REALMENTE UM PROBLEMA.

Tbotafogo disse...

www.crisotilacomcerteza.com.br
www.orgulhosama.com.br.

Abraços a todos.
Thiago

Anônimo disse...

Bem, se o amianto crisotila representa "tão infímo perigo", porque ele é proibido por lei no estado de São Paulo? E porque outros cinco estados brasileiros também caminham para bani-lo? E mais: por que as duas, e apenas duas, empresas que usam amianto em São Paulo, por meio de liminares, colocam em suas telhas avisos de que "contém amianto: se ocorrerem perfurações sua saúde pode ser GRAVEMENTE prejudicada" ou algum alerta assemelhado?

Também aconselho um site para informações sobre o tema: www.abrea.com.br

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