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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ô Abestado

O candidato lindo?
O palhaço Tiririca é Francisco Everaldo Oliveira Silva, 45 anos, famoso pela música “Florentina de Jesus”. Às vesperas das eleições, Tiririca se revela um bem-humorado candidato a deputado federal pelo PR (Partido da República) desde que a campanha na tevê se iniciou em agosto.

Em recente entrevista a Folha de S. Paulo, "o candidato lindo" diz que decidiu se candidatar pelo partido, de quem recebeu o convite há um ano, depois de falar com a mãe que o aconselhou a entrar na política já que “daria pra ajudar as pessoas mais necessitadas”. O slogan "Vote Tiririca, pior que tá, não fica" é esdrúxulo. No entanto, não deixa de ser crítico ao atual cenário político brasileiro. Aliás, nem tão atual assim. Um cenário que a cada legislatura se afunda mais em alianças e acordos que desrespeitam a história partidária e os eleitores. Em meio a isso surgem figuras do mundo "artístico" como Tiririca, Mulher Melão, Leandro do KLB etc.

É realmente complexo acreditar em alguma coisa em época eleitoral quando o de sempre volta à baila: “desvio de dinheiro público”, “corrupção”, “improbidade administrativa”, “caixa 2”. A desilusão vem à tona, não tem jeito. Mas cabe aqui uma diferenciação. Aos que acham que está uma merda o cenário, não vale deixar que piore, concorda?

Tiririca, evidentemente, não tem nenhum tipo de preparo para legislar em Brasília caso vença pelo Estado de São Paulo às eleições de outubro. Sua legenda 2222 é simples de memorizar. Agora, sua vitória, cá peço desculpas ao palhaço, espero que não se concretize.

Tiririca não sabe quanto custa sua campanha ou o que faz um deputado federal. Não sabe quem são os seus assessores e mal consegue articular as respostas durante a entrevista. Fica nítido que sua candidatura é uma ambição do partido pequeno em que está de ter algum fantoche – por menor que seja – com certo poder no Congresso. “Por eu ser um cara popular, eles [o PR] acreditaram muito, como eu também acredito, que tá certo, eu vou ser eleito.” Sua mais vaga proposta é batalhar pelos “nordestinos, pelas crianças e pelos desfavorecidos.” Quando perguntado sobre algum projeto concreto, responde: "De cabeça, assim, não dá pra falar. Mas como tem uma equipe trabalhando por trás, a gente tem os projetos que tão elaborados, tá tudo beleza. Eu quero ajudar muito o lance dos nordestinos.”

O slogan do palhaço que afirma ser uma “realidade” o argumento de que “pior do que tá não fica”, se levado ao pé da letra, é problemático e errado. O eleitor, espero, precisa ver Tiririca como uma sátira ao sistema político – existiram outras no passado (ver abaixo) – e ter consciência do seu voto. Temos que tentar votar – por mais que erremos – no candidato que tem proposta programática e alguma ideia que não seja de interesse pessoal.

O candidato Tiririca, não fosse uma candidatura real e com chances de vitória, seria um ótimo personagem de programas que hoje estão proibidos de fazer humor com os políticos, como o CQC, Pânico, Casseta e Planeta etc. Ao contrário do que diz Tiririca “(...) Nunca votei. Sempre justifiquei meu voto”, os eleitores deveriam se envolver mais. Quem sabe, entendendo melhor sua posição, você não se depara com uma posição de recusar todos os candidatos de uma vez e votar nulo, mais isso é tema de um próximo texto.

Cheiroso, Tião e Cacareco
O rinoceronte recebeu 100 mil votos em 1958
Em uma época em que não existia a urna eletrônica e o voto era realizado em cédulas de papel em que se escrevia o nome do candidato de sua preferência o povão, sempre criativo, resolveu protestar. Foram três casos clássicos de voto nulo em massa no Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo. Macaco Tião tornou-se uma celebridade no Brasil depois que os humoristas do Casseta e Planeta lançaram a sua candidatura não oficial para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 1988.

Segundo a revista da Abril, Superinteressante, “depois do fracasso do Plano Cruzado, o macaco chimpanzé Tião, habitante do zoológico do Rio de Janeiro, foi lançado candidato a prefeito. Terminou em terceiro lugar, com 400 mil votos (9,5% do total).” Em Jaboatão (PE), o bode Cheiroso, recebeu 400 votos para vereador. Em São Paulo, segundo o Wikipédia, “O rinoceronte Cacareco, habitante do Zoológico da cidade, nas eleições de outubro de 1958 para vereador, recebeu cerca de 100 mil votos.

Após o resultado das eleições, Stanislaw Ponte Preta comentou no jornal Última Hora que 'diversos membros da cúpula do PSP andaram rondando a jaula de Cacareco, para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros'. Já o então presidente Juscelino Kubitschek declarou: 'Não sou intérprete de acontecimentos sociais e políticos.

Aguardo as interpretações do próprio povo'. A ideia de lançar o animal como candidato teria sido do jornalista Itaboraí Martins, em protesto contra o baixo nível dos outros 450 concorrentes. O fato se tornou notório e serviu como referência para várias análises de percentuais no Brasil de voto nulo e dos chamados votos de protesto.”

Thiago Domenici é jornalista

2 comentários:

Anselmo disse...

acho q vc tem razão na análise de que candidaturas como a de Tiririca desqualificam a política.

mas vale notar que o PR é coligado com o PT na disputa proporcional. Ou seja: voto no Tiririca não vai eleger apenas deputados do PR, mas tbém do PT. Aliás, mais do PT q do PR, pq historicamente há mais candidatos com patamar intermediária de votação.

Portugaz! disse...

Esses dias soube por um amigo que trabalha com edição de um candidato ao senado, do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) que faz suas gravações no local de trabalho dele. Carro importado, blindado e com dois seguranças. Lembrei disso quando lí as questões de história partidária. É incompreensível! O candidato? "Tô chegando na Cohab" de número 650...

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