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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Um ano sem Saramago

Neste sábado, dia 18 de junho, completa-se um ano da morte de José Saramago. O escritor português morreu em casa, na ilha de Lanzarote (Espanha), às 12h30 (hora local), mas o relógio de parede de sua residência marcava as mesmas 16h de sempre. Os ponteiros estavam congelados por e para Pilar fazia mais de 20 anos.

Saramago pelo ótimo lápis de Cássio Loredano
Foi no ano de 1986, às quatro horas das tarde, que José Saramago viu, pela primeira vez, a mulher que o acompanharia pelo restante da vida e que, segundo ele próprio, a prorrogou – em A Viagem do Elefante, a dedicatória diz: A Pilar, que não deixou que eu morresse. E ela quem hoje toca a fundação que cuida da obra e da memória do escritor.

“Se eu tivesse morrido antes de te conhecer, Pilar, teria morrido sentindo-me muito mais velho. Aos 63 anos, a minha segunda vida começou”, contou certa vez o escritor que costumava dizer que as melhores coisas de sua vida haviam acontecido tardiamente. Não era uma queixa, mas uma constatação que fazia muito sentido. Saramago decidiu tornar-se escritor depois do 50 anos, conheceu Pilar depois dos 60 e recebeu o Nobel aos 74 anos.

Quem assistiu ao documentário José e Pilar viu a luta do escritor português contra a morte. O corpo começou a dar sinais de fadiga, mas Saramago ainda queria escrever e amar. Em 2007 ele havia se recuperado de uma grave doença. Naquela época Saramago disse: “Nossa única defesa contra a morte é o amor”. Em junho de 2010, numa sexta-feira, a morte chegou para ele.

É uma ausência presente, como escreveu Pilar recentemente. “Um ano já sem Saramago. Como é possível, perguntar-se-ão alguns, se continua a publicar livros, se está nas conversas dos analistas políticos, se os jovens saem à rua com as suas frases escritas em cartazes ou em t-shirts, se há concertos de rock onde o aplaudem ou se organizam outros de música erudita em seu nome? Que estranha ausência é essa?”.

Já faz um ano, mas o relógio da casa de Lanzarote não se moveu sequer um segundo. Continua marcando as mesmas 16 horas de sempre. As 16 horas do início da segunda vida de Saramago.

Nesta dia 18 as cinzas de José Saramago serão levadas a Lisboa e depositadas em frente à sede da fundação que leva seu nome. Ele descansará à sombra de uma oliveira trazida de Azinhaga, sua terra natal. Os visitantes terão o gosto de sentar-se no banco de jardim e admirar, ao lado do escritor, o rio Tejo.

Ricardo Viel é jornalista e colunista do NR

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