Ao que parece, essas piscinas eram públicas, ou então coletivas antecipando as piscinas de clubes. Quem tem mais de 30 anos e mora em Sampa deve se recordar do Bidezão de Pinheiros, um clube-piscina. O Google sopra que a primeira piscina aquecida nasceu na Roma Antiga, patrocinada por Gaius Maecenas, protetor das artes e dos prazeres. Por causa desse cara surgiu a palavra mecenas.
Cultura de almanaque à parte, foi o cinema do século XX, mais propriamente Hollywood, quem glamurizou as piscinas. Pôs nas nossas cabecinhas a associação entre piscina e sensualidade. Homens e mulheres, chiques no último, começavam e terminavam tórridos relacionamentos dentro ou à beira do tanque azul. Às vezes perdiam até a vida. É só lembrar do desastrado roteirista morto à bala na piscina do filme O Crepúsculo dos Deuses.
Brasília também deu sua contribuição à épica das piscinas. Avisou que não é só glamour, é poder também. Basta observar a cidade quando o avião se aproxima da pista do Juscelino Kubitschek. Com perdão do trocadilho: é um mar de piscinas. Dá para ver os tanques de água nas avantajadas residências de funcionários graúdos, senadores, empresários, lobistas, arrivistas.
Seja porque seja, nós - os da arraia-miúda - também embarcamos no desejo das piscinas privadas. Tudo bem. Não precisa ser grande, pode ser 2 por 3 metros. Não precisa ser de azulejo, pode ser de plástico, vinil, fibra de vidro. Não precisa ser construída, pode ser pré-fabricada. Pode ser molha-bunda, banha-tornozelo. Mas é uma piscina. O drama é que se você não dispuser de empregados, criadagem, esses tanquinhos de água dão um trabalhão. Se deixar para lá e não limpar, os Aedes Aegyti fazem a dengue.
Falo por experiência. Aluguei uma casa com piscininha no quintal. Confesso que nos primeiros dias exultei: "Subi na vida." Então veio a virada. A água está sempre gelada. O piscineiro toca a campainha duas vezes por semana e recebe 120 reais todo dia vinte. Foi aí que outro dia um taxista, aqui da vila Madalena, sintetizou a coisa: "Piscina boa é a do vizinho. Aquele vizinho legal que convida a gente para um churrasquinho, uma cervejinha e uns mergulhinhos. Na piscina dele, é claro."
Fernanda Pompeu, redatora freelancer, colunista do NR e da ONGPi, escreve às quintas. Ilustração de Carvall, especial para o texto.
2 comentários:
muito bom, adorei e entrei no clima ....
Um olhar muito perspicaz. Sem dúvida, a grama do vizinho continua sendo mais verde e a piscina dele é especialmente linda! Bjs.
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