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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Um nome ecoando: Alcir Lacerda, 1927

crédito: Mateus s'a
A fotografia pernambucana lamenta a morte de um mestre. Alcir Lacerda, tinha 85 anos e sofreu um infarto na manhã do último dia 10, em Recife. Entre os ensinamentos do mestre constam, além de técnicas laboratoriais e olhar atento, as palavras humildade e sensibilidade. Para Alexandre Belém, jornalista, fotógrafo e criador e editor do blog Olhavê, os motivos que fazem de Lacerda uma referência para a fotografia pernambucana são muitos. "Ele foi um fotojornalista pioneiro de Pernambuco, com passagem pela revista Manchete e tem um grande material de documentação do Recife e do estado. O litoral, a cidade, cultura, etc. Além disso, criou o maior laboratório PB do Recife que serviu de escola para muitas gerações".

Alcir, nasceu em São Lourenço da Mata, mas mudou-se menino, com a família, para Recife. Em 1957, fundou a Acê Filmes – um laboratório de fotografia que marcou a história pernambucana. A Acê contou com uma equipe de quase 25 fotógrafos, acompanhando diariamente os acontecimentos da Recife dos anos 70. Ele fez parte da saudosa geração das agências fotográficas na luta pelo crédito fotográfico e profissionalização do ofício. Nesta época, grupos de fotógrafos podiam pautar a imprensa local a partir de um olhar engajado e humanitário.

Alcir fotografou a seca, a queda da Igreja dos Martírios e a deposição do governador Miguel Arraes pelos militares. Atravessou a ditadura e teve seus filmes roubados pela repressão. Hoje, 158 negativos seus pertencem a Fundação Joaquim Nabuco.
“Ouvíamos a voz de Arraes falando, aquele rouco bem forte: eu não renuncio não! Vocês podem me botar para fora! Eu fui eleito pelo voto do povo! Quando foi meia noite e pouca, ele saiu preso. Se ele renunciasse, ele saia até solto, mas ele não quis. Consegui fotografar ele num fusca, que saiu correndo. Quando eu vi o wolks, lá atrás, apareceu à cabeça dele... Eu fui fazendo as fotos, mas quando chegou no portão, trocaram ele de carro. Então eu corri para o jornal do commercio, revelei os filmes. Depois fui ao aeroporto por que a manchete estava esperando essa foto, entreguei tudo para um passageiro e o pessoal tava já esperando ele lá. E a foto foi publicada. Foi bem difícil.”
(Entrevista concedida ao Centro de Artes da Universidade Federal de Pernambuco)
 Saiba +
* Entrevista concedida ao Centro de Artes da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
* Coleção Masp/Pirelli
* Galeria de fotos – Fundação Joaquim Nabuco


Imagens:   Missa do VaqueiroSerrita, Pernambuco, 1978; Catedral de Olinda, 1985;
Corrida de Jangadas, 1960-1969; Juazeiro, 1970-1979

Ana Mendes, gaúcha de nascimento, errante de coração e profissão. Fotógrafa e cineasta documental formada em Ciências Sociais. Trabalha como fotojornalista freelancer entre Brasília e Porto Alegre. Mantém a coluna mensal Faço Foto

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