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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Sem dizer adeus


“La esperanza le pertenece a la vida, es la vida misma defendiéndose” (Julio Cortázar, en “Rayuela”)

 Rubem Braga, em uma de suas tantas crônicas maravilhosas, daquelas adornadas de poesia e delicadeza, relata uma separação sem despedida, e a tristeza que ela trouxe.

“Talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão”, diz o mestre. E completa: “não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.”

Será permitido guardar uma “leve tristeza” e uma “lembrança boa”, anota o velho Braga. E amparados em ambas, digo eu, como se fossem duas muletas, há que se carregar, como for possível, o peso imenso da ausência.

Não há protocolo a ser seguido quando se trata de uma separação. Mesmo a ausência de uma despedida não garante que a dor seja menor; pode, sim, alimentar uma ilusão de que se deu porque assim quis a vida – o que, dependendo do ponto de vista, resulta menos ou mais triste.

Tenho pra mim que o pior que há numa despedida é que ela já leva consigo uma saudade – e uma dor – antecipadas. Nem foi dito o adeus e já estamos a pensar como sobreviver sem aquela(s) pessoa(s), sem aquele lugar – ou pior, sem ambos. E nesse momento parece ser que será impossível seguir a vida com esse vazio.

Pode ser tão dilacerante a ponto de levar-nos a pensar que melhor seria nunca ter acontecido. Mas perdoemos os magoados, porque eles não sabem o que dizem. Melhor seria, isso sim, nunca ter que dizer adeus. Porém, a eternidade não existe (e caso existisse seria uma chatice). Há que, se tragar demasiado rancor, acostumar-se com a ideia de o que foi já não será.

Por fim, talvez fosse melhor mesmo esquecer aquela última mensagem, aquele telefonema no meio da madrugada, como sugere o cronista dos cronistas. Assim fica a ilusão de que foi como em um baile de carnaval e se carrega a esperança de que um dia, talvez no próximo fevereiro, haja um reencontro e que, de mãos bem dadas para não se perder mais, se seguirá, em companhia, o cordão da vã alegria.


Ricardo Viel, jornalista, atualmente em Lisboa, Portugal, é dos primeiros colunistas deste NR e, a pedido, tira umas férias para voltar quando tiver o que dizer a seus leitores. 

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