Texto e fotos Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá
ilustração Victor Zalma*
Se quinta-feira a polícia era a turba sedenta de sangue espalhando violência na região da Paulista e segunda a paz reinou sem as “forças da ordem” nos Jardins, Marginal e Brooklin, ontem agentes do caos tocaram o terror no Centro de São Paulo. Diversas lojas saqueadas, lixeiras e câmeras de segurança destruídas, uma agência bancária, um posto policial e um carro de reportagem incendiados estão nas listas dos noticiários, para não falar em tentativa de invasão de prédios públicos e pichações, muitas pichações.
É fato que as manifestações pacíficas atraem pouca atenção da mídia e, por consequência, de boa parte da população. Um exemplo claro é a ridícula estimativa pelo DataFalha (e naturalmente repercutida nos principais veículos), dando conta de apenas 65 mil pessoas nas ruas de São Paulo há dois dias.
Outra parte significativa quase nunca é representada honestamente por nossas lentes e microfones. Esse é um dos motivos de indivíduos que recusam qualquer organização partirem para a destruição de propriedade, incentivados ou não por infiltrados. Em geral, são rapazes com muita testosterona e quase nenhuma perspectiva.
Se é verdade, como diz John Zerzan, que uma vidraça não pode ser violentada e que o prejuízo a uma instituição bancária com a depredação de uma agência é irrisório, quando essa ação do tipo Black Bloc mete fogo no térreo de um edifício ocupado por movimentos sem-teto, coloca em risco a vida de uma parcela da população tão excluída pela mídia e das benesses do capitalismo quanto os incendiários. Idosos, crianças, adultos e animais de estimação que talvez há poucas semanas lutassem por espaços sob as marquises da cidade para se abrigar do frio.
Teve morador surtando e quase linchando um adolescente com cartaz contra o vandalismo, além de ameaçar os únicos repórteres a permanecer para a cobertura no local.
Quando até os bombeiros que fizeram o rescaldo do incêndio haviam partido, chega a Tropa de Choque da PM. Já não há manifestantes a serem dispersados e anarquistas, punks e saqueadores estão espalhados pelos calçadões em grupos de, no máximo, quatro ou cinco. Ágeis, não esperam e também não provocam mais os escudos e cassetetes reluzentes. Ainda assim, bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo são atiradas em profusão. Depois desse junho de manifestações, os moradores de rua não correm mais. Apenas se encolhem debaixo de cobertores surrados, meio que acostumados a serem violentados cotidianamente na Paulicéia. Todos somos, mas não tanto quanto eles.
*Texto e fotos Vinícius Souza, jornalista e Maria Eugenia Sá, fotógrafa, ambos do MediaQuatro, especial para o NR. Ilustração de Victor Zalma
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