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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Mídia Ninja: jornalismo que requer mais debate



por Moriti Neto*

Difícil abordar os debates sobre a Mídia Ninja*. Difícil, pois o projeto autoproclamado “a mídia que não é manipulada, distorcida, que não ganha nada em troca, que quer mostrar a realidade”, visita questões amplas, que vão do modelo de negócios até as ligações político-partidárias do coletivo Fora do Eixo (FdE), rede fomentadora da proposta. No mais, são vários os analistas competentes a avaliar e argumentar nos últimos tempos sobre o assunto.

Na semana passada, estive, pelo Nota de Rodapé, na bancada de tuiteiros do Roda Viva, da TV Cultura, onde o centro era justamente a Mídia Ninja, representada pelo jornalista Bruno Torturra (à direita, na imagem acima) e o articulador do FdE, Pablo Capilé (à esquerda). Na ocasião, este colunista saiu da entrevista com a sensação de que, entre muita polêmica referente à arrecadação de fundos e às relações políticas da proposta, quase nada se falou do fazer jornalístico.

Perguntei a membros da bancada de entrevistadores se não consideravam que o jornalismo deveria ser a questão central de um debate que opõe “mídia velha” e “mídia nova”. A reposta veio no tom de que temas éticos, casos de obtenção de recursos financeiros e possível envolvimento com partidos políticos, seriam temas “mais indispensáveis” naquele instante.

Não concordei. Fui até Torturra, na intenção de escutar algo diferente. O jornalista respondeu, frustrando minhas expectativas, que a pauta sobre os Ninjas era extensa e que não havia espaço para “falar de tudo”.
*Braço do Fora do Eixo – uma rede de pessoas envolvidas com produção cultural –, o coletivo de jornalismo em rede Mídia Ninja, sigla que resume o nome Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação, tem enfoque na distribuição de conteúdo informativo de forma independente que, de acordo com definição do próprio grupo, é produzido de “dentro dos acontecimentos” e especializado na cobertura de mobilizações da sociedade.
Sigo preocupado, apesar de compreender a urgência de temas morais e éticos, como modelo de financiamento e a busca por entender relações políticas que tornam possível a captação de recursos. Mas pergunto: também não é assunto relevante, exatamente dos pontos de vista moral e ético, a forma de levar informação ao público? Não é também fundamental debater o processo de produção e a consequente qualidade do jornalismo que chega à sociedade?

A menos neste instante, de acaloradas argumentações de lado a lado, não percebi empenho de nenhum lado a garimpar as vantagens e desvantagens do formato proposto, que é um filho sagaz da era digital. Já faz algum tempo, parcela crescente dos usuários de internet desejam participar, interferir e produzir o próprio conteúdo subsidiados pelos mecanismos digitais disponíveis, celulares, tablets etc...

Em relação ao método de cobertura jornalística, a exemplo daquela feita via internet durante o junho de manifestações, a pauta se perdeu nos últimos dias. Quem tem disposição para sair das redações e se deslocar para longe da tela do computador, sabe que os fatos das grandes cidades, essencialmente nas periferias, são cobertos em grande parte por “repórteres comunitários”. Desse pool de novas tecnologias e da interação é que surge espaço a experimentos comunicacionais aglutinadores como os Ninjas.

É claro que os Ninjas podem preencher uma lacuna, sobretudo porque têm condições de recuperar o estilo reportagem de rua, com o acréscimo de fazê-lo ao vivo. Por outro lado, há o crescimento explosivo de fontes, o que é visto pelo coletivo como potencial de “narrativas independentes”. Nisso, reside um perigo: garantir informação de qualidade requer checagem dos fatos e contexto. Nesse sentido, é preciso selecionar o material de forma especialmente criteriosa e, para isso, existe a necessidade de mediadores. Afinal, qual a credibilidade resultante da cultura das redes sociais, onde, individualmente, é possível publicar o que se quer e, logo depois, apagar?

Respeito o argumento de que a pauta é abrangente, mas há itens emergenciais a serem tocados. Deveria ser inescapável e imediato o interesse em debater jornalismo nas oportunidades históricas, aquelas que trazem a possibilidade da fazer evoluir o tratamento do bem público chamado informação, independentemente da forma em que ela é apresentada.

*Moriti Neto, jornalista.

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