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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Mais uma chance…


por Pedro Mox*

Lembro-me de, inúmeras vezes nos últimos anos, em conversas com familiares ou mesas de bar, argumentar que frequentar estádios no nosso país era algo seguro. Aquele passado dos anos noventa, no qual brigas em clássicos eram quase obrigatórias, havia ficado para trás, e era possível ir e voltar de um jogo sem grandes perigos.

Pois bem, hoje seria obrigado a rever minha posição. A invasão de alguns torcedores ao Centro de Treinamento do Corinthians fez-me repensar em que plano está a segurança do futebol brasileiro. Em pleno ano da Copa do Mundo na nossa casa, o Brasil parece ter regredido várias casinhas no quesito segurança em praças de jogo. Cenas as quais ninguém quer ver – espancamentos, correrias, torcedores “comuns” desesperados – tornaram-se novamente corriqueiras, envergonhando a pátria de chuteiras.

Claro, seria muita ingenuidade pensar que houve um hiato nos casos de violência ligados à torcidas, ou que durante esse tempo ir ao campo era 100% seguro. Entretanto tais conflitos aconteciam, geralmente combinados, no caminho para os estádios, estações de metrô. O interior das arenas reservava-se aos cantos e alegorias.

Todavia, em 2013 esta não foi a tônica. O maior exemplo, não poderia deixar de ser, aconteceu em Santa Catarina, na última rodada do Brasileirão. A partida entre Atlético-PR e Vasco da Gama ficou marcada pela batalha campal entre membros da torcida Os Fanáticos contra Ira e Força Jovem. Partida paralisada por incontáveis minutos, jogadores atônitos em campo, helicóptero para resgatar feridos. Barbárie em estado bruto.

Foi o caso mais emblemático, conquanto houve outros. Na mesma rodada integrantes de duas facções cruzeirenses (Máfia Azul e Pavilhão Independente) brigaram em plena festa de comemoração ao tricampeonato celeste. O estádio Mané Garrincha, em Brasília, viveu tumultos tanto na parte interna, no Vasco x Corinthians, como na entrada, no duelo entre São Paulo e Flamengo. Rodrigo Mattos, do UOL, apurou em seu blog que a edição 2013 do nacional registrou torcidas de 17 times envolvidas em algum tipo de confusão.

Tais fatos nos remetem a outra pergunta: porque atos desse naipe continuam acontecendo? Leniência do Estado, incompetência de autoridades, apatia dos que comandam o futebol, “culpa” das organizadas? Uma mistura disso tudo, porventura. Contudo o principal motivo não é, e pelo jeito mais uma vez, não será atacado: punição a quem comete crimes.

No Brasil todo e qualquer caso ligado a futebol é simplesmente desconexo do mundo real – está inalcançável e inimputável. Experimente discutir com um colega de trabalho e “cair na porrada”. Ou, invadir qualquer estabelecimento privado. Duvido que nada aconteça. Porém, acontecendo em um ambiente futebolístico, há permissão para tudo, como se o motivo justificasse a ação. Dos envolvidos no incidente da Arena Joinville, não há mais nenhum detido – e ficará por isso mesmo, como todos os outros casos aqui citados ou não.

Em reunião no dezembro último, diversas autoridades discutiram o que poderia ser feito em 2014 para que acontecimentos desse tipo não voltassem a ocorrer. Dentre elas Aldo Rebello, ministro do esporte, José Eduardo Cardozo, ministro da justiça, Flávio Sveiter, presidente do STJD e Weber Magalhães, vice-presidente da CBF.

Infelizmente, nenhuma novidade nas conclusões do grupo. Medidas usualmente sugeridas já mostraram-se ineficientes; não adianta acabar com organizadas – que tem sim belo papel nas festas da arquibancada e tem importante papel nos jogos – criar juizados especiais, realizar partidas com portões fechados, entupir estádios com câmeras...

A simples aplicação da lei, a mesma que qualquer cidadão está submetido em seu cotidiano é o maior passo que o estado brasileiro pode dar. Aos envolvidos em brigas, as mesmas penas que sofreria qualquer um pelo mesmo ato efetuado em outras circunstâncias. Talvez assim consigamos avançar alguns passos e, quiçá, chegarmos a estádios sem divisão entre campo e arquibancada.

Que não precisemos de uma tragédia de Heysel para que realmente algo seja feito.

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*Pedro Mox, jornalista e fotógrafo, especial para o NR

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