por Ana Mendes*
Entra no bar, pede um cigarro avulso. A criança atônita, deixa a coca-cola de lado. Estava vendo um faraó egípcio de perto. Num impulso, pergunta: tu é homem ou mulher? Os pais rangem as cadeiras. É mais uma daquelas típicas situações em que as crianças colocam os velhos num beco sem saída. Constrangidos sorriem com as gengivas e deixam o olhar escapar em direção a porta da rua, não queriam estar ali.
– Sou os dois, diz.
– Pará piá, deixa o moço em paz!
– Mas por que eu pareço uma mulher? Insiste, a fim de conversa.
– Porque tu usa colar e short, isso é coisa de mulher.
– E homem?
– Tu tem barba. Meu pai tem barba.
– Sou homem e mulher no mesmo corpo. Faz tempo... Gostou da minha maquiagem?
– É bem legal.
– Qual é o teu nome?
– Ariel.
– E o teu?
– Akhenaton.
Este é Ton. Uma grande amiga que mudou a maneira como uso artigos e substantivos.
*Ana Mendes, gaúcha de nascimento, é fotógrafa e cineasta documental formada em Ciências Sociais. Mantém a coluna mensal Faço Foto e é curadora da coluna Coisa Íntima, autorretratos por fotógrafos profissionais e amadores publicada aos domingos neste espaço.
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