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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Futebol e “jornalismo do apocalipse”: tudo a ver


por Moriti Neto  ilustração Victor Zalma*

O que se faz, aproveitando o reforço das escassas inteligências e do quase zero de seriedade constantes no meio do jornalismo esportivo, é apostar maximamente no descartável, mola essencial da sociedade de consumo.

Deparei-me com exemplo disso no último dia 1º de maio, à tarde, um feriado, quando assistir ao jogo de volta entre Barcelona e Bayern Munique, disputado na Espanha, pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa, parecia boa opção. Parecia. Com a partida transmitida em sinal aberto pelas emissoras Bandeirantes e Globo, o que vi foi uma exibição de mau jornalismo, total descompromisso com a informação.

A vitória do time alemão por 3 x 0 e a incontestável classificação (o time bávaro já havia vencido a primeira partida pelo placar de 4 x 0) transformou o Bayern em novo xodó da mídia esportiva internacional, brasileira incluída. Mais do que isso, expõe a irresponsabilidade das equipes “jornalísticas” que transmitem competições esportivas de alto nível, já que alcançam – e influenciam – tantas pessoas.

O modelo do time a ser admirado nem é o problema. Isso vai de gosto pessoal. A questão é a falta de embasamento. O que leva narradores e comentaristas a afirmarem que “um gigante surge” e “o fim de uma era”?

Sim, o Bayern é ótimo. Apresenta valores individuais de excelente nível e bom jogo coletivo. Ganhou o último campeonato alemão de forma notável. Contudo, o que exatamente serve de parâmetro para guindá-lo ao gigantismo internacional promovido pelos Galvões da vida?

Os reis das obviedades tomam como fundamento duas partidas. Absolutamente nada que escape às duas derrotas impostas ao Barcelona, este, de fato, o gigante da história do futebol contemporâneo tanto pela qualidade técnica como por grandeza de títulos conquistados (vale ressaltar que, no momento, o Barça está claramente em declínio, motivado por diversos itens que vão muito além da ausência, na ocasião da partida, do contundido Lionel Messi).

Nem mesmo é possível classificar a recente alçada midiática do Bayern à condição de time mais forte do mundo como resultado de anos de construção. O projeto que colocou o clube em três finais da Liga dos Campões nas quatro últimas competições disputadas não é considerado. Está longe de ser o parâmetro para a conclusão dos gênios da cobertura esportiva, já que mal citado é.

Sai o Barcelona, entra o Bayern Munique. Numa simples operação que não leva em conta nenhum fator a não ser a busca de audiência e a venda da publicidade. Aqui entra a aposta no descartável. Mexe-se na prateleira, substitui-se um produto por outro e esquece-se a missão de informar.

Não estou aqui a defender o mau humor, mas a seriedade. São conceitos bem diferentes. O futebol, esporte mais popular do planeta, não é só diversão. É patrimônio cultural da humanidade. Merece precisão e responsabilidade na transmissão da informação, que é bem de interesse público.

No entanto, na ânsia pela venda do produto, o que prevalece são as bobagens ditas por falsos profetas, principalmente os do apocalipse. Eles adoram gritar fins e surgimentos. Amam antever os rumos do mundo. Triste. Ainda mais entristecedor é que isso vá bem além de uma transmissão esportiva. Invade as várias áreas do jornalismo. Sem piedade, a irresponsabilidade informativa vista em Barcelona x Bayern Munique atravessa a vida de quem acompanha as editorias de cada dia.

Precisão? Que se dane!

Só para reforçar o quanto o futebol serve de referência sobre a falta de competência na apuração e o quão são irresponsáveis as coberturas jornalísticas atuais, vale lembrar casos envolvendo os jogadores Neymar e Paulo Henrique Ganso, hoje no Santos e no São Paulo, respectivamente.

No limite da irresponsabilidade, tem veículo de comunicação que reforça o erro de outro, site que aposta em astrologia para fazer “jornalismo” e interesses nada nobres em jogo.

-- Ganso troca Santos por Corinthians

-- Astrologa prevê lesão de Ronaldo, alcoolismo de Neymar e queda do Vasco

-- A cruzada da mídia contra Neymar


*Moriti Neto, jornalista. ilustração de Victor Zalma, especial para o texto, faz sua estreia no time de colunistas do NR

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