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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 27 de julho de 2013

Um papo com Dominguinhos



por Marcos Grinspum Ferraz*

Quando Dominguinhos completou 69 anos, no início de 2010, comemorou a data com um show no Canto da Ema, tradicional reduto do forró em São Paulo. Eu estava no meu primeiro mês de trabalho na Ilustrada (Folha de S.Paulo) – ainda um pouco tenso de entrevistar pessoas como o mestre da Sanfona e escrever para um público tão grande – e alguns dias antes propus para a editora uma matéria sobre o show. Ela não deu muita bola, mas falou para eu tocar a pauta, porque tentaríamos publicar algo.

Arranjei o contato do sanfoneiro e liguei para fazer a entrevista. Ele atendeu, e o nervosismo logo passou, dada sua voz calma e sua simpatia. O papo foi rápido, mas acabamos conversando não só sobre o show, mas também sobre Carnaval, política e os “50” anos de carreira. A matéria entrou na edição no dia da apresentação, mas com muito menos espaço do que eu desejava e achava que merecia. Por isso mesmo, nessa semana em que Dominguinhos partiu, aos 72 anos, lembrei que havia um material dessa entrevista guardado, que não havia sido publicado. E fui atrás para ver se rendia algo aqui para o Nota de Rodapé. Segue abaixo um apanhado de alguns trechos da conversa:

SHOW DE 69 ANOS

“Todo ano o Paulo Rosa, proprietário do Canto da Ema, tem a preocupação de fazer um show no meu aniversário, com alguns colegas. A turma do nordeste. Os “cabeça chatas” vão todos. E tocar nessas casas de shows pequenas, redutos do forró, tem um gosto especial. Eles dão o maior valor, têm respeito, gostam da música nordestina. O povo dançando a noite toda, brincando o tempo todo... é bonito.”

CARNAVAL E POLÍTICA

“Eu ia fazer uma participação no Carnaval de Pernambuco esse ano. Ao total, são 340 artistas contratados para fazer o Carnaval de lá, entre Olinda e Recife. E aí decidiram não me levar, argumentando que não tinham verba... (risos). Aí você vê: sou de lá, já fiz tantos Carnavais lá... e agem dessa forma, infelizmente. A prefeitura é do PT, e como já fiz coisas pro Fernando Henrique em águas passadas, eles me colocam como adversário. Eu já fiz trabalhos pro PT também, não tem nada a ver... No fim, o show é para o povo, não para governos.”

50 OU 60 ANOS DE CARREIRA? 

“Toco desde os 8 anos. Então seria até 60 anos de carreira mesmo. Mas quando falo 50 e poucos, eu considero quando cheguei aqui no Rio (anos 1950), e me associei a Luiz Gonzaga. Ele me ajudou demais, e eu fiquei praticamente morando com ele. E dali parti para a Rádio Nacional, pras boates todas de Ipanema, Copacabana, Leblon. Antes disso, no NE eu tocava com meus irmãos, em portas de hotéis. Foi em um hotel lá em Garanhuns que eu conheci o Gonzaga. (...) Mas pode colocar aí 60 anos de carreira (muitos risos).”

A SANFONA

“A sanfona nordestina é a mesma sanfona que toca em qualquer gênero. E é um instrumento que está em um momento muito bom. Todo mundo está usando o acordeom. Até em banda de rock. Bom, os ingleses sempre usaram né... no Leste Europeu também. Então somos nós que chegamos atrasados. Mas também, eles são muito velhos, né?! (risos)”.

MESTRE ZINHO 

“Escreve aí também, por favor, que eu lamento muito a perda nessa semana do Mestre Zinho (1943-2010). Era um dos maiores cantores nordestinos”.

*Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura, música e afins.

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