por Júnia Puglia*
Propaganda eleitoral. Quase todos os livros de auto-ajuda. Gênero musical new age, com destaque especial para Enya. Bloqueio de sinal de celular em cadeias e penitenciárias. A polêmica das biografias. A farsa das UPPs – eu acreditei.
Pintura naïf, flores artificiais, cerveja sem álcool, feijoada light, refrigerante zero, espírito natalino, meta de inflação. Chamar a velhice de “melhor idade”. Grande parte da linguagem politicamente correta. Postagens edificantes nas redes sociais. Postagens malcriadas nas redes sociais. A glorificação da maternidade e dos laços familiares. Caridade. Revistas de celebridades. Gente que chora com as reportagens sobre cachorrinhos maltratados e continua comendo carne.
Reuniões de trabalho intermináveis. Marombeiros convictos. Tudólogos convictos. Microfone aberto ao público em seminários e palestras. Discutir a relação, qualquer uma. Festa de aniversários do mês. Amigo oculto de fim de ano. Dia das mães, dia dos pais, dia da família, dia das crianças, dia dos namorados. Bêbado enturmado. O persistente item “estado civil” em questionários banais – pra quê?
Restaurante com cardápio em francês ou que serve porções mínimas, ou as duas coisas. Restaurante com fila na porta, nem morta! Fotos das viagens alheias. Fazer sala, entreter socialmente. Ser inteligente às sete da manhã.
Reforma política, reforma previdenciária, reforma fiscal. Copa do Mundo no Brasil. Declarações do Pelé, corrida de carro, voto obrigatório. Comentários tipo “classe média sofre”. Grandes corporações tentando me convencer do seu compromisso com o meu bem-estar. Sulistas, incluindo paulistas, que acham que carregam o Brasil nas costas. Governante decretando a felicidade suprema.
Vou aos poucos, ainda tem muito mais.
* * * * * *
Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo.
5 comentários:
Observações super-realistas sobre a vidinha maluca de hoje. Depois dessa análise tão abrangente , a solução é nomear a Júnia como analista, observadora e relatora de todos os problemas da atualidade .De minha parte, o espaço só me permite uma pergunta, dessas que permanecem na cabeça da gente ; "quem inventou a expressão Melhor Idade ?" Você já fez 60,70,80,90 anos ? Então conte a verdade sobre "as maravilhas da terceira idade. Escreveria,se para tal tivesse competência, um livro bem grosso, cheio de expressões próprias para analisar a análise de hoje do Nota de Rodapé. Parabéns, Junia.
Bjs da Mummy Dircim
Pelo menos metade da lista me deixa cansadissima. Valeu pelo registro.
Ju, adoro a sua perspicácia! Muita coisa - ou quase tudo - que vc citou me causa uma alergia danada. Aguardo as próximas.
Fernando, que ilustração deliciosa!
Terê
acrescentável a listagem: o próprio texto, já clássico da perspicácia e 'ironia crítica' da classe média tradicional brasileira, nos lembrando 'demodé-ices' que lhes cansam a beleza. alguns parecem tão bons (ou engraçadinhos - literalmente, de abrir sorriso dental, espremer olhinhos e suspirar um 'é bem assim mesmo, hehe') que têm espaço em cadernos 'donna' de grandes jornais.
inácio barreto
muito bom o blog, adorei!
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