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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Então assim: trabalhar não basta para ser feliz


por Thiago Domenici  ilustração Kelvin Koubik (Kino)*

É preciso um ano – 365 dias – para que a terra complete a sua rotação em volta do sol. Durante esse tempo a lua descreve doze rotações em torno da terra. O mês corresponde, aproximadamente, à duração de cada uma dessas rotações. Por isso, o nosso calendário foi estabelecido levando-se em conta os movimentos da lua em torno da terra, da terra em torno do sol e em torno dela mesma. Então, o ano tem 12 meses, o mês tem 30 dias, a semana sete dias e cada dia tem 24 horas – tempo em que a terra dá uma volta em torno dela mesma.

Mas o povo trabalhador "temos" direito a trinta dias por ano de férias remuneradas, finais de semana – que não são todos que têm direito – e os feriados. Com a Copa do Mundo vamos ganhar, ao menos nos jogos da primeira fase da competição em que a canarinha for jogar, três dias de folga. Além disso, cinco feriados – repito, cinco! – cairão no final de semana. Num país que conta oficialmente com oito feriados nacionais, disciplinados pela Lei Federal 10.607/02, é uma sacanagem com o trabalhador.

Lá em 2009, conversei com o então deputado federal Milton Monti (PR-SP) que propôs um projeto de lei (2756/2003) para alterar feriados que caiam entre terças e sextas-feiras. Para ele, seria bom antecipar para as segundas-feiras os feriados que caíssem nesses dias para evitar a "semana morta". Quer dizer, pela proposta, se o calendário diz que o feriado é quarta, ele seria usufruído na segunda anterior. Mas feriados no sábado e domingo não teriam a mesma regalia.

Imaginei algumas ideias livres para um possível projeto de lei de iniciativa popular. Quem anima? A primeira sugestão é coisa simples e você já deve ter pensado nisso. Não seria o caso de alongar o final de semana para três dias seguidos ou alternados? Por exemplo: sábado, domingo e segunda ou então: sexta, sábado e domingo. A minha preferência é sábado, domingo e quarta-feira pois tente mais ao equilíbrio. Você descansa dois, trabalha dois, descansa um e trabalha dois.

Outro cenário abrange períodos maiores de tempo. Imagine: o sujeito trabalha o ano todo e tem abolido os feriados (não se pode abusar!) mas tem mantido os finais de semana (período inegociável). O que você ganharia com isso? Que tal um ano inteiro de férias com remuneração? Trabalha um ano, folga outro. Seria possível implantar uma espécie de rodízio e um certo grau de critérios para ter uma parcela da população ativa e outra não. Exagerado?

Outra boa seria, pelo menos, férias de trinta dias a cada seis meses, tal como usufruem estudantes, parlamentares e juízes. Ou então a cada quatro anos trabalhados um ano sabático remunerado pelo estado por meio de um imposto pago pelas empresas e estendido ao trabalhador informal, frilas e afins. Na minha cabeça tudo isso é possível.

É verdade que o trabalho dignifica, mas a liberdade de viver períodos sem trabalhar é fundamental. E saber usar o tempo livre para o que bem entendermos nos traria uma vida menos doente, mais produtiva e feliz. Produção, sim, mas com mais prazer, mais descanso e menos estresse, eis o ideal para mim.

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Thiago Domenici, jornalista, editor e coordenador do NR. Ilustração de Kelvin Koubik, "Kino", colunista do NR, artista visual, grafiteiro e músico de Porto Alegre

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