Um defensor engajado do samba tradicional e da cultura popular. É assim o Cesinha Pivetta (no retrato de Marcos Hermes), jovem cantor e compositor paulistano que lançou este ano seu primeiro disco solo, “Nossa Bandeira”, e que desde 2007 é um dos cabeças do Samba do Bule – grupo que se reúne para pesquisar e tocar sambas, e que promove mensalmente uma concorrida roda no Teatro Popular União e Olho Vivo, no Bom Retiro (São Paulo). Quem já assistiu de perto o Bule ou um show do Cesinha – e quem ainda não, deveria – percebe logo sua paixão pela música de raiz brasileira. E assim é feito seu samba, com intensidade.
Seguindo com a proposta de reunir nesta “Discoteca de Músico” artistas dos mais variados estilos, convidei o Pivetta, que conheço desde os tempos de colégio, para fazer aqui as escolhas de discos e clipes que marcaram sua vida. Depois de Tim Bernardes, Rashid, Bruna Caram, Gabriel Basile e Flora Poppovic, ele é o sexto entrevistado da série, que mensalmente traz um artista respondendo às mesmas cinco questões. A ideia é ter, no fim do processo, uma espécie de discoteca/videoteca virtual feita pelos músicos, voltada para o público que quer conhecer mais os artistas ou mesmo que busca sugestões do que ver e ouvir.
E por ser tão mais ligado às linguagens musicais tradicionais, Cesinha subverteu um pouco as regras do jogo aqui na coluna – na parte audiovisual – o que foi muito bem-vindo. Como bom bamba, se saiu bem do impasse de não saber dizer quais os videoclipes que o marcaram positivamente durante a vida. E, ao meu ver, o bom é saber que há de tudo na nova geração da música brasileira: quem faça rock, rap, pop, reggae, música eletrônica, funk, quem misture tudo e também quem se dedique a não deixar a chama do samba tradicional morrer. Vale a pena conhecer o som de Cesinha Pivetta, do Samba do Bule, de Lello di Sarno, do Nervos de Aço e tantos outros.
Um disco brasileiro que marcou sua formação musical
“Partido em 5”. Esse é o registro puro de uma roda de samba. Marcou profundamente pra mim pois ouvi ali o que diversas vezes havia vivido perambulando por aí. Velha, Casquinha, Wilson Moreira, Anézio e Joãozinho da Pecadora contaram com a participação de mestre Candeia e não utilizam recurso especial nenhum para a gravação, ao vivo, de uma sequência de sambas de partido-alto que fui reconhecendo e nunca soube de onde vinham. Neste disco figuram também Luna e Marçal, dois monstros na cozinha que são referência para qualquer amante de batucada como eu.
Um disco gringo que marcou sua formação musical
“Bob Marley and the Wailers, Live” – ‘Nossa, isso é legal também!’. Essa foi minha primeira reação ao escutar esse disco. Sempre fui muito restrito ao samba e em certo momento também ao próprio pagodão, mas em alguns momentos me deixei levar pela música gringa por influência dos colegas, primos... Em casa jazz e blues já tinham o gosto de minha mãe, e sempre passou legal pelos meus ouvidos, fazendo também parte da minha formação. Mas foi quando ouvi Bob que descobri algo que me fizesse querer entender melhor a língua inglesa, que sempre rejeitei. Vi ali um sujeito parecido com bambas do nosso samba, falando e mostrando sua simplicidade e quem sabe, daí, a transformação, a busca de um mundo mais justo.
Um disco lançado nos últimos anos que te marcou profundamente
“Lamento do Samba”, do Paulo César Pinheiro. Este disco me fez ver o samba de uma maneira diferente. Estes versos para mim se tornaram mantras: “O segredo da força do samba/ É a vivência do seu fundamento/ O que faz ser eterno um bom samba/ É a beleza que tem seu lamento.” O samba “Nomes de Favela”, que só conheci com o lançamento deste disco, em 2003, considero um verdadeiro hino.
Um videoclipe que marcou sua formação
“Brincadeira de Criança”, do Molejo. Falar de clipe pra mim é muito difícil, pois nunca tive o costume de acompanhar MTV, etc. Mas lembro bem deste clipe, ele me marcou, talvez negativamente (tinha pesadelos) mas duvido que alguém não se lembre!
Um videoclipe lançado nos últimos anos que te marcou profundamente
Olha....impossível eu conseguir um clipe que tenha me marcado profundamente na última década... não lembro nem de um que tenha visto... Então resolvi inverter tudo aqui sem saber se vale ou não. Vai um curta metragem bem mais velho que a última década sobre partido alto.
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Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura, música e afins. llustração de Victor Zalma, especial para a série
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