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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Nas mesmas mãos de sempre


por Pedro Mox*

Depois do papelão sofrido diante da Alemanha, a seleção brasileira voltou a reunir-se, contra seu adversário das quartas de final, a Colômbia, em Miami. Venceu o jogo por um a zero. Também ganhou do Equador, ontem, pelo mesmo placar. Em tese, vida nova; ou não, se levarmos em conta as expectativas criadas pela Copa e, sobretudo, pelo fim desastroso vivido pelo nosso onze. Muito falou-se em mudanças no futebol do país, reformulação na Confederação Brasileira de Futebol, adequação e profissionalização...

O visto na prática, contudo, não foi nada disso – o que era, convenhamos, previsível. Mudar nunca foi muito o forte da CBF. No máximo, mudar para permanecer o mesmo, como o ideário abordado em O Leopardo, clássico de Luchino Visconti.

Paulo Vinicius Coelho, da ESPN, publicou em seu blog texto com o seguinte título: Em vinte anos, seleção teve mesmo número de técnicos da Alemanha em um século e da Espanha em 45 anos. A lógica de demitir treinadores, comum em nossos clubes, repete-se na seleção: desde a campanha do tetra, em 1994, tivemos dez mudanças de treinadores, sendo que quatro (contando o retorno de Dunga) tiveram duas passagens. Já a Alemanha, desde a copa dos EUA, teve cinco treinadores; nenhum repetido. Joachim Löw, campeão no Brasil, está desde 2006 no cargo; antes de assumir o Nationalelf foi assistente de Klinsmann durante dois anos. Tal trabalho de longo prazo inexiste no futebol de resultados aqui encontrado.

Na cartolagem a situação se inverte: de 1980 para cá, a CBF foi comandada por apenas quatro homens, com destaque ao reinado de Ricardo Teixeira: assumiu em 1989 e só saiu em 2012 – ou melhor, renunciou em meio a escândalos de corrupção. Passada a turbulência, leva uma vida sossegada em Miami. José Maria Marin herdou o cargo, e vai presidir a entidade até o final deste ano.

Para fazer um candidato (inscrever uma chapa) é necessário apoio de ao menos seis clubes e oito federações. No último pleito, realizado em abril deste ano, uma segunda chapa sequer existiu. A candidatura única de Marco Polo Del Nero – apoiado por Marin – elegeu-se com impressionantes 46 votos a favor e dois em branco. Na prática, será  uma troca de cadeiras.

Votam nas eleições para presidente da entidade máxima do futebol brasileiro presidentes das 27 federações estaduais e dos 20 times da primeira divisão. Portanto, não é estranho que a mesma falta de oxigenação encontre-se nas federações: Eduardo José Farah assumiu a Federação Paulista de Futebol em 1988, seguido por Del Nero desde 2003. (Del Nero é também atual vice da CBF). A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, desde sua fundação em 1978, teve três presidentes. A federação catarinense está sob a batuta de Delfim de Pádua Peixoto há mais de 25 anos, enquanto o ex-presidente da federação paranaense Onaireves Rolin de Moura ocupou o cargo por 22 anos.

A própria posição da confederação ao final do mundial deixou claro que sua preocupação é a seleção brasileira, não o futebol brasileiro. Assim, enquanto deveria zelar pelo esporte e pelos que o praticam/admiram, aparenta mais disposição para arrumar seu 17º patrocinador. Além disso, divulga o calendário do próximo ano com sequer um mês de pré-temporada. Vale lembrar que a entidade, até 2009, nem mesmo responsabilizava-se pela organização da Série B, que ficava a cargo da Futebol Brasil Associados.

A escolha do atual treinador foi, portanto, natural. Não pelo aspecto futebolístico, mas político: alguém com uma posição mais crítica a respeito do esporte dificilmente se encaixaria nos moldes conservadores da Confederação. O futebol brasileiro está nas mesmas mãos de quem sempre esteve, por isto seria demais esperar qualquer mudança radical antes do anúncio de Dunga. As preocupações destes homens, infelizmente, nem sempre dizem respeito ao melhor para o futebol.

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*Pedro Mox, jornalista e fotógrafo, especial para o NR

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