“Oi… Marcio?”
“Isso!”
“Boa noite!” saúdo o taxista do apllicativo, entrando no carro.
“Posso te dar uma dica?”.
“Pode, claro”, respondi, um pouco apreensiva.
“Nunca pergunte o nome do taxista antes de entrar. Sempre diga ‘você veio buscar quem?’. Porque o cara pode tá agindo de má fé e vai falar que é o taxista quando ele não é, sabe”.
“Ahn…” me limitei a grunhir, um pouco perplexa com a paranoia do motorista.
“Hoje em dia a gente nunca sabe moça. E aí, vamo pra onde?”.
“Vamo lá pra Vila Romana. Acho que você pode ir aqui por dentro, pela Vanderlei, sabe?”.
“Ah esse caminho né bom não. Por dentro é escuro, vai que uma moto segue a gente…”
“Bom, moço, então faz o caminho que o senhor quiser”.
“To falando pro nosso bem senhora. Hoje em dia tem um monte de motoqueiro ladrão. Você nunca foi assaltada por um motoqueiro?”.
“Já….” respondi, agora já um tanto arrependida.
“Pois então. Esses dias um colega meu matou um filha da puta desses”.
“Como assim moço? Que horror”.
“Foi a reação dele ué”.
“Mas ele não ficou em choque de matar uma pessoa?”
“Ficou. Mas é o que dizem né, depois do primeiro…”
“Hein?”
“Sabe como é moça. Quem mata um pega gosto”.
“Na verdade não, não sei não”.
“O meu amigo neguinho que falava isso. Trabalhou pro meu pai lá na Mooca, quando a família tinha negócio no bairro. Na verdade ele começou a dormir lá porque era meio desabrigado, não tinha casa, mas era boa gente sabe. Aí meio que cuidava da loja, tipo vigia, sabe? Um dia entrô um cara lá pa roubar o caixa e assustou, de certo, quando viu o neguinho. Diz que o ladrão partiu pra cima, era ele ou o cara”.
“Eu hein”.
“Pois é… aí o neguinho matou o bandido na facada. Vomitou a noite inteira, ficou mal, disse que nunca mais ia conseguir dormir. Precisou remédio pra derrubar o hômi. E olha que ele era grande. Ma nunca tinha relado o dedo em ninguém sabe”.
“Sei…”
“Fia, eu sei que o hômi pegou um gosto pela coisa. Ma um gosto. Que depois disso ele virou o maior matador de aluguel que a Mooca já viu”. “Como assim moço?”.
“Assim ué. Matava com prazer. Tinha vez que ele matava sem receber, quando os cara assaltava loja de amigo dele”.
“Geeente… que horrível”.
“Tem quem goste né”.
“Tem?”
“Ô…”
“Mas e aí moço, que fim deu o neguinho?”
“Morreu”.
“Do que?”
“Matador de aluguel. Encomendaram a morte dele”.
“….”
* * * * * * * * *
Maria Shirts, internacionalista e pedestrianista, mantém a coluna Transeunte Urbana. Ilustração Ligia Morresi, especial para o texto
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