Santo Dias da Silva
Nascimento: 22 de fevereiro de 1942
Cidade natal: Terra Roxa - SP
Morte: 30 de outubro de 1979
Região final: bairro de Santo Amaro, cidade de São Paulo
Causa da morte: tiro
por Fernanda Pompeu ilustrações Fernando Carvall
Muita gente valorosa lutou, se sacrificou ou foi sacrificada, durante os anos de arbítrio (1964 a 1985). Uma parte militou porque teve consciência das injustiças, desigualdades, amordaçamentos. Eram estudantes, intelectuais, políticos, gente da classe média esclarecida. Outra parte foi impulsionada pela necessidade de conquistar direitos trabalhistas e melhores salários. O pessoal que não “escolheu” lutar. Simplesmente era preciso para engendrar uma existência mais livre, mais confortável, mais segura. Santo Dias da Silva pertencia ao segundo grupo.
Primeiro filho de uma série de oito, ele conheceu as penúrias e asperezas seculares dos meeiros da terra. Ainda adolescente compreendeu que “sonho bom é aquele em que se sonha junto”. Lá foi o Santo participar das reivindicações dos trabalhadores rurais. Levou a primeira cassetada política: sua família foi expulsa da fazenda. Pais e irmãos viraram boias-frias, e o jovem Santo Dias tocou para São Paulo - na época apelidada de sul maravilha.
Iniciou-se no ofício de operário metalúrgico. Continuou sua história de guerreiro. Atuou nas Comunidades Eclesiais de Base - as combativas e famosas CEBs. Se meteu em todas as demandas - também de base - transportes, escolas, luz elétrica, água encanada, asfalto na rua, comida na panela. Tinha dentro dele a convicção que os direitos são batalhados, nunca vêm de mão beijada. Assim como acreditava que para vencer era necessário se organizar entre companheiros e companheiras.
Os sindicatos, sob a ditadura, eram muito limitados e ligados ao peleguismo. A brecha foi trabalhar nas Comissões de Fábrica. Uma reivindicação aqui, outra ali. Uma paralisação ali, outra aqui. Até que chegou o ano de 1979. Em agosto, foi assinada a Lei de Anistia. A ditadura era madeira oca prestes a desabar.
Os metalúrgicos da região do ABC, em São Paulo, articulavam greves significativas que ecoavam pelo país. Panfletagens, piquetes, comandos, comissões sindicais agitavam portas e chãos de fábricas. Santos Dias era um dos líderes do movimento.
No 30 de outubro de 1979, em frente à fábrica Sylvania, durante panfletagem e piquete, a polícia chegou conjugando os verbos da violência. A ordem era bater e prender. Mas um soldado da PM atirou nas costas de um dos grevistas.
Santo Dias da Silva caiu morto. Deixou a mulher Ana, sindicalista e feminista e dois filhos. Final da história para ele. Mas também mais uma pá de cal no regime militar. O assassinato do operário causou indignação nacional. Milhares de pessoas compareceram à missa de corpo presente na Catedral da Sé, conduzida por Dom Paulo Evaristo Arns. Na ocasião, o cardeal valente disse: “Quase nada está certo nesta cidade, enquanto houver duas medidas: uma para o patrão, outra para o operário”.
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Fernanda Pompeu é a mulher do texto. Fernando Carvall é o homem da arte.
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