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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 16 de março de 2010

A molecagem que faltava nos campos de futebol

Há muito se discute sobre o fim do futebol arte. E sempre que uma equipe pragmática é campeã o futebol competitivo e de resultado é valorizado. Nós mesmos, aqui no Nota de Rodapé, já abordamos esse assunto e criamos teses diferentes sobre isso. A verdade é que todos os amantes do esporte (praticantes ou não) gostam de espetáculo, seja no futebol, no basquete, no vôlei, mas, sobretudo, gostam de vencer.
Quando o espetáculo é coroado com títulos, a felicidade é completa. Mas uma equipe que joga bonito é inversamente criticada quando sai de uma decisão derrotada. A imprevisibilidade do esporte é emocionante e surpreendente. Quantos times e seleções encantaram os olhos dos torcedores, mas ficaram marcadas pela falta de conquistas? E quantos campeões entraram para história por causa da garra e do espírito de luta que os levaram a superar o favoritismo do adversário?
Enfim, retomo o tema após mais uma exibição de gala do jovem time do Santos. Muitos podem desdenhar a goleada de 10 a 0 sobre o modestíssimo Naviraiense, do Mato Grosso do Sul, mas ninguém pode negar a qualidade técnica da equipe capitaneada por Robinho. Jogando com objetividade, SIM, os novos “Meninos da Vila” quebram tabus e provam, mais uma vez, que a arte e a molecagem fazem parte da nossa cultura. Os garotos do Dorival Jr. empolgam e o técnico faz bem em não deixar que eles se empolguem, como aconteceu em alguns momentos do clássico contra o Corinthians, na Vila, quando Neynar chapelou o zagueiro Chicão quando a bola estava parada, ou quando Madson ficou “penteando” a bola só para irritar o marcador.
O treinador, por sinal um dos melhores da nova geração, ao lado de Adilson Batista, do Cruzeiro, e Mano Menezes, do Corinthians, admitiu que houve excesso de preciosismo naquela partida e repreendeu seus atletas. “Se quiser chapelar, chapela, mas faz isso com bola rolando”, disse o treinador após a goleada contra o Naviraiense.
Dorival Júnior foi além e disse que não vai abrir mão do esquema ofensivo, mesmo correndo alguns riscos defensivos. Neymar e Paulo Henrique Ganso têm muita habilidade e visão de jogo, além da fome de gols, o que faltava a Robinho, quando este surgiu para o futebol, em 2002, pedalando contra os zagueiros. Os dois novos notáveis do Peixe já apresentam hoje características que o companheiro demorou a adquirir. Se eles forem bem orientados e não se iludirem com a fama repentina, poderão, em breve, brilhar também com a camisa amarela da seleção. Pena que o Dunga não dá sinais de mudar o grupo que não tem encantado a ninguém, mas conseguiu bons resultados sob seu comando. De qualquer maneira, os nomes de Neymar e Ganso estarão presentes no ciclo da Copa de 2014, aqui no Brasil. Viva a molecagem no futebol, mas se o Santos não for campeão...

Thiago Barbieri é jornalista; autor do livro sobre o Corinthians "23 anos em 7 segundos", editor do jornal Primeira Hora da Rádio Bandeirandes e colunista do Nota de Rodapé.

7 comentários:

DEDÉ GOMES disse...

Prezado Barba,
a cada comentário você se supera. É
correto o seu enfoque sobre o futebol dos novos "meninos da Vila". A técnica deve ser o destaque sempre, o espetáculo ganha com isso. Vai perder? Claro,faz parte. Mas, o futebol só tem a ganhar com isso.
Abração,
Dedé Gomes.

Rogerio Voltan disse...

Grande Barba... Viva o futebol arte, mas muito além disso viva o futebol alvinegro, e de preferência o alvinegro de Parque São Jorge.
Parabéns pelo texto... muito bom.
Abs. Rogério Voltan

Rogerio Voltan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Caio Costa Carvalho disse...

Neymar e PH são geniais, têm mais é que humilhar zagueirinhos ridículos como o Chicão. Mas e o Robinho, depois do gol de letra contra o SP, só rebolation. Tá valendo 1 milhão de reais por mês?

FG-News.blogspot.com.br disse...

Grande Barba

Em atenção ao e-mail da coluna, passei para dar espiar. E o que vi, de cara, já me deixou feliz. Dedé Gomes e Rogério Voltan - o primeiro da velha-guarda (meu amigo há 38 anos), o segundo da nova geração (com quem já tive o prazer de trabalhar) - estão entre os leitores do blog. Sobre o espetáculo, em qualquer área, não há quem não o aplauda. O futebol, como sabemos, é a paixão máxima do brasileiro. É natural se esperar que o torcedor queira ver um show de bola a cada partida. O atleta tem compromissos como o clube que o paga e o torcedor que o incentiva e deve, sim, ser um artista no gramado. O que não cabe é o menosprezo ao adversário e a uma parcela ponderável do público, que torce pelo outro time. Assim como repudio os gritos de "olé", que a torcida vencedora entoa teimosa e irresponsavelmente, em algumas partidas, em clara provocação ao adversário que, via de regra, se descontrola e parte para a botinada desnecessária. Como se vê, o espetáculo é a grande expectativa e o coroamento de qualquer performance, mas dele fazem parte os artistas e a platéia. É da simbiose perfeita entre as partes que o todo se fortalece. Nesse contexto, nós, jornalistas, temos o nosso quinhão de responsabilidade. Chega de classificar partidas de futebol como se fossem batalhas campais, jogos de vida ou morte. A vida do espetáculo é feita de talento, alegria, paixão, respeito e dedicação. A violência, por outro lado, é a morte do futebol. Cabe-nos escolher e creio que nunca uma escolha foi tão óbvia. Parabéns pela coluna e, cá entre nós, você deveria escrever mais. Textos claros, sintéticos e precisos fazem muita falta nesta imensa plantação de ananases que temos visto por aí.

Unknown disse...

Thiago,
lembro dessa discussão na época que o Robinho apareceu. Mesma história. Engraçado que na Espanha o tema é o mesmo, mas o pivô é Cristiano Ronaldo, que tem apanhado mais do que gato de desenho animado por lá. Há quem diga que o Santos é um Circo (o próprio presidente do clube comparou com o Du Soleil). Por eu prefiro ir ao Circo do que a uma igreja. Entre dancinha e mãos pro alto agradecendo a Deus pelo gol (como se todo goleiro fosse ateu), eu prefiro o baile.
Abraço,

Ricardo (companheiro de blog)

C&T disse...

Oi galera, opções clubísticas à parte, é realmente bonito ver esse time jogando. E aposto no maior sucesos do Paulo Henrique no futuro, apesar da habilidade inquestionável do Neymar.
Obrigado pelos comentários e não percam as próximas colunas. Abs!
Thiago - Madrugador

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