Enfim, ao que escrevo. Neste domingo de páscoa, 4 de abril, a edição do Estadão me parece um tanto descompassada em favor do PSDB. A edição tem dose dupla de Fernando Henrique Cardoso, em artigo e entrevista, “Hora de União” e “Intelectual Público”, na página A1 e caderno Aliás, respectivamente. No destaque do artigo, “Cabe a Serra e Aécio conduzir-nos para uma vitória. Eles não nos decepcionarão.” Na entrevista, um dos destaques pontua: “Dilma tem visão mais romântica e Serra vai na tradição mais racional. Espero que ele entenda mais de candomblé e que ela leia mais Descartes.”
Antes, lá na capa, uma foto alegre em destaque do governador de SP em exercício, Alberto Goldman (PSDB), “Um velho comunista no comando de São Paulo”. Ao lado, a fotinho de FHC. “O pais cresceu. E continua injusto”. Sobre Dilma, logo abaixo do sorridente Goldman e da chamada “Serra começa a viajar pelo país na próxima semana”, vem: “Dilma Abandona o figurino de dama de ferro”.
Uma folheada e pau no MST e na Conferencia Nacional de Educação na A1 e A2. Corre um pouco e na A4 aparece José Serra novamente, em foto sorrindo e tirando a gravata, com legenda que diz: “Sério, não sisudo”.
Sobre Dilma, na página A6, a fotografia da candidata passeando com seu cachorro em Minas Gerais e um destaque menor no pé da página: “Nunca fui uma dama de ferro. É um estereótipo, uma imagem irreal”. O título, citado acima, acrescido da linha fina do jornal, diz: “Tática do PT é ‘humanizar’ a candidata – que rebate a fama de durona – apresentá-la como uma mulher comum, com família e amigos.”
Com as mãos no bolso da calça Jeans e mostrando os dentes lá está Goldman em sua entrevista na A8, e como um mantra, “Serra é exigente, e eu também sou”. E para fechar minhas impressões que minha sobrinha já me chama para comer chocolate, na página A11 e sem nenhuma referência na capa, a pesquisa Vox Populi: “Serra supera Dilma por 3 pontos, diz Vox Populi”.
Mas ao ler a matéria, a pesquisa aponta Serra com 34% e Dilma com 31%. No entanto, na pesquisa anterior, em janeiro, citada na mesma matéria, Serra tinha os mesmos 34% e Dilma, 27%, ou seja, ela cresceu 4% e Serra ficou estagnado. Estranho, não?
Ah, já ia me esquecendo, no domingo em que o jornal lançou seu novo projeto gráfico, há algumas semanas, a manchete de capa era “Serra vai se lançar candidato defendendo Estado Ativo”. Trocadilho?
Acabo de ver que em “sinais particulares” na A1 tem um desenho com o texto: “O doutor Serra deseja feliz Páscoa”. Ô, dotôr, para você também! E para não perder a piada penso que o cavalinho montado ex-libris do jornal (na imagem) que encabeça suas páginas deveria ser substituído por um tucano. Alguém se habilita a desenhar?
Thiago Domenici, jornalista
Um comentário:
O jornal deu sequência nesta segunda. Entrevista com Dilma deu início ao "Preste atenção". Basicamente, eles comentam as falas do entrevistado, claramente de maneira editorializada. Lá no pé, tudo aquilo que o Estadão não tem coragem de falar na cara do candidato, mas se gaba de dizer a seus leitores: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100405/not_imp533793,0.php
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