Conto essa historinha porque tive a chance de assistir na internet ao documentário Capitalismo: uma história de amor (Capitalism: A Love history) do cineasta Michael Moore. O gancho da produção é a crise econômica mundial de 2008, desencadeada nos EUA. Para Moore, de "Tiros em Columbine" e "Fahrenheit 11/9", "o capitalismo é ruim e não pode ser reformado" e o “livre mercado na realidade é um sistema para roubar os trabalhadores e garantir que 1% da população dos EUA mantenha sua riqueza, enquanto os restantes 99% se empobreçam dia a dia.” Você pensa, então: “está bem, mas qual a novidade desses números?”.
É que ao assistir as duas horas de filme recheado de boas sacadas de imagens e pesquisa histórica, as entrevistas com gente graúda, a ótima edição, a irreverência e ousadia de Moore e um bocado de outras coisa, criamos um mapa visual e concatenado do que o Sérgio me dizia sobre o tal “problema de fundo”. Por mais peculiar que seja o estilo das suas produções, arrisco a dizer que Moore fez mais um belo trabalho de investigação jornalística.
Ele conversa com ex-membros de grandes empresas que falam abertamente sobre as sacanagens que faziam a pedido do patrão, entrevista senadores indignados, americanos comuns que perderam suas casas, os desempregados, trata dos pilotos de avião mal remunerados que precisam fazer “bicos” para sobreviver e revela uma excrescência jurídica mórbida que permite que as empresas faturem quantias milionárias com os seguros de vida que estipulam secretamente no caso de morte de seus funcionários mais jovens, sem dar cobertura aos familiares. Tudo ou parte dele é fruto do capitalismo demonstra os exemplos de Moore no longa.
Em linhas gerais, o documentário explica como a banda de Wall Street - ele isola a sede de Wall Street com fita amarela que diz "cena de crime, não passe" - usufrui as benesses do capital fazendo do sistema econômico um cassino que legalizou a fraude e permitiu às empresas lucrarem milhões gerando injustiças sócio-econômicas aos 99% menos ricos.
Até a Igreja Católica americana condena o sistema. Ao consultar um Bispo, a resposta: “O capitalismo não parece estar contribuindo para o bem-estar de todas as pessoas. E isso o torna, quase em sua própria natureza, algo contrario a Jesus, que disse: ‘Benditos sejam os pobres. Ai dos ricos’”. Um dia antes da exibição nos EUA, o bonachão Moore apontou: "Nos EUA a cada sete segundos e meio uma família é desalojada de sua casa e 14.000 perdem o emprego por dia.”
O filme é bom, seduz e bate na tecla da consciência de forma didática ao mapear e denunciar os poderosos bancos e seguradoras de Wall Street (Goldman Sachs, Citybank, Morgan Stanley, AIG etc) e figuras públicas como George W. Bush, Ronald Reagan, Alan Greenspan e outros de terem organizado um verdadeiro "golpe de Estado financeiro" antes das eleições presidenciais vencidas pelo “socialista” Obama.
Esses banqueiros, lobistas, administradores públicos, muitos ligados a administração de Bush, criaram as condições políticas para ficar com os 700 milhões de dólares que o Estado aprovou para salvar as empresas da crise econômica, enquanto a classe média ficava à míngua. E pior, com a conivência de parte significativa do Congresso. Em um trecho, a pergunta a uma alta e bem intensionada funcionária do Tesouro americano: - Onde está nosso dinheiro? - Eu não sei!, diz atônita.
No Festival de Veneza, em 2009, o filme foi bem recebido pela critica. Por aqui deve ser lançado diretamente em DVD, em junho. Nas telonas, poderá ser visto na competição internacional da 15ª edição do É Tudo Verdade, que começa dia 9 de Abril no Rio de Janeiro. Mas eu vi na internet, então você também consegue. Abaixo, o trailher oficial legendado.
Thiago Domenici, jornalista
Um comentário:
O problema sempre foi o capitalismo e isso Karl Marx já tinha descoberto com toda sua genialilidade.
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