Na disputa atibaiense, impressos e sites locais sempre colocaram na frente dois candidatos que não foram os vencedores nas urnas, Professor Wanderley (DEM) e Luiz Fernando Pugliesi (PV). O primeiro chegou a aparecer como líder absoluto nos estudos, com até 42% das intenções. No voto real, ficou com aproximadamente 29%. O segundo, dois dias antes da eleição, foi destacado na manchete do jornal O Atibaiense, em pesquisa de instituto identificado por FLS, como provável vencedor.
No entanto, quem acabou eleito foi Saulo Pedroso de Souza (PSD) jamais citado nos jornais com chances reais de vitória. Ao contrário, ele chegou a ser mostrado, 48 horas antes do pleito, na casa dos 16%, metade do número do líder da pesquisa publicada. Ao fim da apuração, o eleitorado deu a Saulo 31%, quase o dobro das intenções de voto que a medição lhe atribuía.
Em Bragança, as discrepâncias entre pesquisas e votação foram também gritantes. Até o nacionalmente conhecido Ibope errou grosseiramente. Poucos dias antes da eleição, colocou, nas páginas do Bragança Jornal Diário, Renato Frangini (DEM) 14 pontos percentuais (37% a 23%) a frente do prefeito eleito, Fernão Dias (PT). Difícil justificar tal diferença, já que outro estudo, encomendado por um empresário local e feito pelo mesmo instituto praticamente nos mesmos dias, mostrava só 4% de distância entre o democrata e o petista. Além disso, diversas medições internas indicaram, por duas semanas seguidas, muito equilíbrio.
Aos interiores, ainda que relativamente próximos das capitais, os holofotes midiáticos não chegam com a mesma força. Na realidade, na maioria dos casos, eles nem são apontados, já que a audiência e o consequente ganho financeiro são considerados irrelevantes pelas empresas de comunicação.Perto do limite da ida dos eleitores às urnas, outro jornal de Bragança, A Gazeta Bragantina, circulou pesquisa do Instituto IPEMPI. A tal medição alargava ainda mais a distância entre o candidato do DEM e o do PT, conferindo 39,5% ao primeiro e 18,4% ao segundo. Encerrada a apuração, na noite de domingo, 8 de outubro, ambos tiveram pouco mais de 38% e o petista venceu por apertadíssimos 21 votos (0,3% de vantagem, 38,08% contra 38,05%).
Não são raros os exemplos em que pesquisas deixam de refletir a vontade popular do momento. Contudo, nos grandes municípios, como Curitiba e São Paulo, onde os institutos também erraram feio, especialmente nos primeiros turnos, existe forte repercussão crítica por parte de alguns setores da sociedade, o que obriga mídia e institutos a aprofundarem explicações sobre as falhas.
Aos interiores, ainda que relativamente próximos das capitais, os holofotes midiáticos não chegam com a mesma força. Na realidade, na maioria dos casos, eles nem são apontados, já que a audiência e o consequente ganho financeiro são considerados irrelevantes pelas empresas de comunicação. Dessa forma, mesmo que ocorrências – como as de Atibaia e Bragança Paulista – sejam emblemáticas dos equívocos de enormes proporções que institutos de pesquisa e os divulgadores das medições possam cometer, o interesse público é pouco ou nada discutido e se esquece, até a eleição seguinte, o tamanho do estrago que podem causar à democracia.
Por que os institutos erram tão gravemente em condições como essas? A questão principal não é discutir estudos isolados, mas tomá-los por base para debater métodos. Trabalhos de pesquisa são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade, contudo não se pode permitir que distorçam e influenciem negativamente a realidade social.
Até para que o debate não fique restrito aos períodos de campanha, o Nota de Rodapé se coloca nessa polêmica roda de discussões. Depois desta pensata, traremos, quarta-feira, 14, entrevista que analisa o complexo universo de institutos e mídia, com a opinião de um dos mais respeitados do ramo da pesquisa no Brasil, Pergentino Mendes de Almeida.
Moriti Neto, jornalista, mantém a coluna mensal Escarafunchar
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