por Pedro Mox*
Algum tempo atrás, Mino Carta utilizou cena do filme Os Companheiros para titular sua coluna semanal: “Que país é este?”. Tomo emprestada a pergunta ao ver os comerciais de Itaú e Brahma, patrocinadores da seleção brasileira de futebol – ambos produzidos pela mesma agência.
O mote de um é “imagina a festa”, do outro “vamos jogar bola”. E eu penso, as preocupações do brasileiro hoje são tão pífias que devemos apenas relaxar e assistir o maior espetáculo do futebol em nosso quintal tomando uma gelada?
No um minuto do filme da cerveja, o expectador é levado a crer que todos os problemas nacionais serão resolvidos num passe de mágica, apenas porque somos brasileiros. Exibe um pôster com Ronaldo fenômeno à tio Sam e os dizeres pessimistas, pensem bem. Ou seja, toda e qualquer voz discordante é um pessimista, um cidadão que não valora seu país, quase um traidor da pátria.
Diz “temos os maiores clássicos”, o que é verdade. Um derby entre Palmeiras e Corinthians não perde em nada aos grandes jogos europeus. Entretanto, a violência aqui existente também não. O sociólogo Mauricio Murad, em seu livro Para Entender a Violência no Futebol – lançado ano passado – mostra que em 2012 aconteceram, até setembro, 17 mortes relacionadas a torcidas de futebol.
Enquanto na Inglaterra torcedores violentos são banidos, aqui nada acontece – aliado ao marasmo da justiça brasileira, nada impede quem se mete em confusão de estar semana seguinte na mesma atividade. Belo Horizonte tem sérios problemas com depredação de ônibus em dias de clássico, o que gerou até uma campanha, a gol contra, na tentativa de coibir estragos no patrimônio. Isso não deveria preocupar?
Parte da mídia tupiniquim, junto à confederação brasileira de futebol, quer fazer-nos parecer que nada na copa pode dar errado, que será um grande espetáculo, daremos inveja à Alemanha etc. Pior, qualquer tipo de questionamento é encarado como falta de patriotismo, quase motivo à pena de morte por deserção. O Brasil, contudo, não pode se preocupar em fazer a melhor copa da história, como quer a Brahma. Tem de fazer a sua copa, admitindo as limitações que temos e tentando melhorar o que for possível.
Nossa megalomania permite gastar fortunas na construção de estádios. Mas, e depois do mundial? Um estádio de futebol pode servir para muitos eventos, entretanto sempre será um estádio de futebol. Cidades como Manaus ou Cuiabá, cujos times ao final da temporada 2012 jogam apenas a terceira divisão, realmente necessitam de tais estruturas? Será que o Estádio Nacional, em Brasília, receberá o clássico câmara x senado?
Natal, que tem três times na primeira divisão estadual, já possui três estádios, mesmo assim está sendo erguida a Arena das Dunas. Em São Paulo, por birra da FIFA um novo estádio está sendo construído, quando uma reforma no Morumbi era plenamente plausível.
Reportagem publicada no portal Uol mostrou que a previsão de gastos com construção/reformas em estádios para o mundial subiu 992 milhões de reais: dos 5,912 bilhões de reais estimados em 2010 para 6,904 bilhões. Com um detalhe que agrava drasticamente tal cenário: 97% deste valor será bancado com dinheiro público. E ninguém garante que esta quantia não vai aumentar. Lembremos dos jogos Panamericanos realizados no Rio de Janeiro. Inicialmente fora orçado em 400 milhões de reais, mas no apagar das luzes sua conta foi bem mais salgada: passou dos 4 bilhões.
No livro Gol Contra, o jornalista inglês Andrew Jennings explica claramente como a FIFA realiza seus negócios – e sua conduta ética passa longe do louvável. Não é a toa que João Havelange presidiu a entidade por 24 anos, e Joseph Blatter reina desde 1998. Eleições recheadas de escândalos, acordos escusos, propina... Mas atenho-me à declaração de um executivo da Mastercard, à página 308 da obra, após um negociação sem muito fair-play por parte da football association: “(qualquer empresa) deveria ter sérias preocupações ao fazer negócios com a Fifa, onde a mentira, a fraude e a má-fé são o procedimento-padrão”.
O caos aéreo, que não é de hoje, também não apresenta muitas perspectivas de melhora. Absurdos como vôos cancelados e o passageiro que se arrume não são casos isolados. Nossos estádios – não no evento copa do mundo, mas hoje, jogos comuns para pessoas comuns – deixam a desejar em diversos aspectos. Dificuldades de acesso, filas quilométricas para entrar, falta de planejamento. Não seria o caso, por exemplo, dos trens funcionarem até mais tarde em dias de jogo no Engenhão?
Em junho próximo teremos a Copa das Confederações, evento teste para a Copa. Será uma boa oportunidade para ver, além de como está a seleção, como será o transporte dos torcedores, acomodações, organização nos estádios etc. Até lá, que Charles Miller nos ajude.
*Pedro Mox, jornalista e fotógrafo, especial para o NR
2 comentários:
Mais um bom texto Pedro.
É isso ai, Pedro, como se diz aqui no Rio: "tá ruim de pegar com a mão"
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