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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Exclusivo e histórico: “crise de consciência” da grande imprensa


por Thiago Domenici*

Num momento histórico das comunicações do Brasil, os principais grupos de mídia, aqueles controlados, principalmente, por sete famílias (Grupo dos Sete), publicaram um editorial conjunto, divulgado recentemente, inclusive em horário nobre de televisão, em que admitem a parcialidade das coberturas jornalísticas ao longo da história. “Enganamos nossos leitores, ouvintes e telespectadores durante décadas ao imprimir em nossas coberturas um tom de imparcialidade, quando, na verdade, sempre tivemos intenções que valorizassem somente nossos interesses privados. Admitimos: a imparcialidade não existe”.

Esses interesses, esclarecem, pautavam, sobretudo, as questões políticas, econômicas e sociais. Como forma de amenizar o que chamam de “notícias enviesadas em detrimento da informação de interesse público”, esses grupos de mídia irão lançar um Portal de Transparência, inspirado na Lei de Acesso à Informação, em vigor desde 2012. A ideia é corrigir – com a participação direta do público e dos que se julgarem prejudicados – as informações que estiverem “comprometidas do ponto de vista jornalístico” e que “estão distantes da  possível verdade factual dos acontecimentos”.

Uma Comissão Nacional da Verdade dos Crimes de Imprensa (CNVCI) também será formada, mas a atuação e duração seguia indefinida até o fechamento desta matéria. A CNVCI foi sugestão dos controladores do jornal diário carioca de maior circulação, que recentemente admitiram ter errado ao apoiar o golpe militar de 1964. Além dessas medidas, os donos dos jornais alegaram que o movimento inédito, de aparente arrependimento e acerto de contas com a sociedade, faz parte do que chamaram de “delação de amenização de consciência”, ou seja, algo de difícil compreensão, mas que, uma vez a cada mil anos, pode ocorrer na humanidade. “O capitalismo selvagem fez com que eu e meu jornal perdêssemos o prumo. Por isso, prejudicamos pessoas, instituições e governos, ao passo que isso precisa acabar”, disse o dono da revista semanal de maior circulação do país.

Em busca de uma credibilidade real, não falseada por propagandas que “vendem a ilusão do correto a se fazer”, o grupo propôs um novo Marco Regulatório das Comunicações. “Já passou da hora de assegurar a pluralidade de ideias e opiniões nos meios de comunicação, os métodos de financiamento equânimes, além de promover a participação popular na tomada de decisões acerca do sistema de comunicações brasileiro”, disse o apresentador do telejornal de maior audiência no país. O editorial conjunto, publicado em primeira mão no site www.sonhomeu.org, enumera várias razões para uma guinada nas comunicações, entre elas:

* ausência de pluralidade e diversidade na mídia atual o que esvazia a dimensão pública dos meios de comunicação;
* a Constituição Federal de 1988 carece da regulamentação da maioria dos artigos dedicados à comunicação (220, 221 e 223), deixando temas importantes, como a restrição aos monopólios e oligopólios e a regionalização da produção sem nenhuma referência legal.

O último item, inclusive, é o ponto principal do Projeto de Lei de Iniciativa Popular das Comunicações, lançado nacionalmente por um pool de entidades no dia 22 de agosto, em Brasília, que há anos lutam pela bandeira da democratização. O “Grupo dos Sete” afirmou endossar o apoio ao PL publicamente. Afirmaram em nota: “No Brasil há uma grave situação de concentração monopólica da mídia. Sabemos e admitimos que somos parte fundamental desse problema e estamos dispostos a corrigir, seja espontaneamente ou por via judicial, essa aberração. Por isso, vamos colaborar e apoiar qualquer iniciativa que vise romper com esse nó górdio das comunicações no país”.

A repercussão dessa inédita e surpreende decisão foi manchete de jornais em todo o mundo. Em pesquisa divulgada ontem pelo DataNR, a maioria dos veículos internacionais (80%) é contrária a postura do "grupo dos Sete". A população, no entanto, vê com bons olhos a iniciativa: 70% dos brasileiros querem regulação da mídia e, para 35% dos entrevistados, os meios de comunicação defendem os interesses dos donos; apenas 8% avaliam que estão a serviço da população.

Procurados pelo NR, políticos e autoridades que preferem não se identificar admitiram "confusão mental" com a notícia. “Muita gente vai se indignar com as 'novas verdades' que vão surgir”, comentou uma alta figura da república. De fato, o mundo não será mais o mesmo.

*Thiago Domenici, editor e coordenador do NR, escreve fantasias, caso dessa que você acaba de ler (as partes em negrito no texto são reais).

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