por Maria Shirts*
No último fim de semana fui assistir ao filme Elysium, em cartaz nos cinemas de shopping mais próximos de você. A megaprodução [de George Clooney], uma ficção científica, conta a história do planeta Terra em 2154 sob o ponto de vista da personagem Max da Costa (Matt Damon, com o diretor Neill Blomkamp, na imagem acima).
Depois de séculos de espoliação ambiental, política e social, a Terra de 2154 é a imagem do fim do mundo: inóspita, estéril, e doente. Aqui só restaram os miseráveis, porque os endinheirados abandonaram o barco para morar numa estação interplanetária chamada Elysium.
Elysium vem do grego antigo; é um lugar, segundo os religiosos, em que heróis ou mortais relacionados aos deuses vão após a morte. Também conhecido como a “Ilha dos Abençoados”, poderia ser comparado com o Paraíso católico, enquanto o outro reino dos mortos, Hades, o Inferno.
A analogia se aplica ao filme: em Elysium não há “meros mortais”. Não há pobreza, doença e nem feiúra. As pessoas são imortais e quase não envelhecem porque têm tratamento de ponta. Lá todo mundo fala francês ou inglês e seguem a mais pura etiqueta. Todos têm casas de vidro com vegetação biodiversificada e nenhuma preocupação.
Enquanto isso, na Terra, todos são proletários e pobres. Largados ao relento, sofrem a violência de uma polícia robótica e as mazelas do emprego industrial (qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência). É o caso, por exemplo, do nosso herói Max da Costa que, exposto à radiação massiva no seu local de trabalho, é condenado a apenas 5 dias de vida.
Bem, não preciso dizer que “da Costa” irá fazer de tudo para se curar… em Elysium. Para tanto, contará com a ajuda de Spider (Wagner Moura), o traficante de pessoas latino e de Frey (Alice Braga), enfermeira e mãe de uma menina com câncer terminal que também precisa da tecnologia curandeira de Elysium.
Independente do desenrolar da história, que não irei contar para não estragá-la aos interessados, saí do cinema angustiada ao refletir que a desigualdade e a segregação sociais da Terra de 2013 pouco diferem das vividas por Max da Costa. Talvez a percepção dessa segregação seja até pior, na nossa conjuntura, porque os miseráveis terráqueos convivem no mesmo ambiente dos prósperos “elysianos”: eles os veem, diariamente, dentro de suas SUVs, com Rolexs ostensivos, próteses dentárias e plásticas anti-aging.
“Mas os miseráveis terráqueos, se batalharem muito, têm a oportunidade de ascender na vida”, dirão os tarados pela meritocracia, usando o desgastado (e único) exemplo do Silvio Santos. Pois é, mais ou menos. Se países de economia como a dos BRICS ainda apresentam um coeficiente Gini de desigualdade inaceitável, a que ponto chegaremos?
Talvez o destino da Terra seja mesmo o de uma segregação interplanetária. Espero, entretanto, que iniciativas de governo como os programas de transferência de renda (aliado a outros de moradia, educação e saúde) continuem tentando reverter tão cruel porvir.
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*Maria Shirts, internacionalista e pedestrianista, estreia no NR a coluna mensal Transeunte Urbana
Um comentário:
obrigado pela dica vou ver!
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