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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quarta-feira, 12 de março de 2014

Sabichões

por Fernanda Pompeu*

Na casa da internet circulam São Google, Mister Yahoo, Wikipédias ao lado de aplicativos que brotam como capins eletrônicos. Sem esquecer as redes sociais que congregam amigos, conhecidos, amigos de amigos, conhecidos de conhecidos. Todos tendo como matéria-prima informações e contrainformações, veiculadas por palavras e imagens.

Hoje, a gente não fala mais em mundo real e mundo digital. Eles se fundiram, configurando o nosso mundo. Da revolução internet, surgiram estonteantes novidades. Dentre elas, a profusão de especialistas e comentaristas. Todos têm, ao menos, uma opinião. Não importa o tema. Como um São Jorge de lança em punho atacamos o dragão dissonante, dissidente.

Ou, ao contrário, como Pietàs emocionadas acolhemos nossa turma, nossos pares, os que pensam parecido com o que pensamos. Sempre foi assim, não é? Por isso, no passado, inventamos partidos, sindicatos, associações. Para defender interesses de uma categoria, de uma classe, de um conjunto. E também para atacar quem atrapalha, trabalha contra, aqueles a quem chamamos eles.

Mas se a essência se mantém, o resto todo muda. Somos seres mais sabidos e capazes de fuçar dados, argumentos, gostos, avaliações em mínimos cliques. Antes era bem mais fácil para governos, empresas, políticos mentirem. Apenas uma pequeníssima parcela tinha acesso a informações e poder para se contrapor. Eram os chamados subversivos da ordem, do estado das coisas.

A nova pergunta é: o que faremos com tanta sapiência? Está certo, para chegar numa minúscula rua no extenso bairro de Parelheiros, extremo sul de Sampa, basta usar um aplicativo no celular. Para descobrir o caminho que me levará para o outro lado do rio, entre as árvores, só preciso de inteligência para cruzar informações ao usar um buscador. Ficou simples e imediato sair do ponto A para o B. Do C até o Z!

O que eu ainda não consigo encontrar na internet são elementos que me ajudem a mudar a rota da minha vida. Nenhum aplicativo me explica como aplacar a tremenda saudade que sinto do meu pai. Jogo algum me habilita a derrotar os inimigos que ardem no meu peito. Não acho nenhum sistema que minimize minha crise.

Talvez no futuro. Chegará uma época em que um programa secará lágrimas? Tempo em que um verbete da wikipédia ensinará a viver a vida? Não consigo dizer que sim nem que não. Sei que um pedaço da resposta que procuro pode estar no poema escrito por uma doceira, ou até na fala espontânea de uma menina de sete anos de idade.

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fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e do Nota de Rodapé. *Texto publicado originalmente no Mente Aberta - Yahoo. Imagem: Régine Ferrandis a partir da obra de Nam-June Paik.

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