Pesquisa recente do Inter-Parliament Union, sobre as mulheres no Parlamento, mostrou que o Brasil aparece apenas na posição 125, entre 150 países. Na Câmara Federal, dos 513 parlamentares, apenas 44 são mulheres. No entanto, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral de dezembro passado, 52% do eleitorado é feminino. Há mais candidaturas masculinas, mas, ainda assim, não faltam mulheres para serem votadas. O que explica, então, tamanho descompasso?
Nas prefeituras, o problema se repete. As mulheres são prefeitas em apenas 12% dos 5.570 municípios do Brasil. No Sul do país a situação é ainda pior. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina – quem diria! – são os estados com o menor percentual de prefeitas eleitas. Apenas 37 cidades gaúchas elegeram prefeitas, ou seja, 7,44% do total. Santa Catarina vem em segundo, com 7,79%.
Isso prova que o machismo ainda está muito enraizado na sociedade brasileira. Com dupla ou tripla jornada de trabalho, além de outros fatores, a atividade política é muito difícil para uma mulher casada, por exemplo. E mesmo quando ela consegue vencer essas barreiras, não recebe o voto de confiança da maioria das mulheres. E dos homens!
Claro, você e eu não somos machistas! Ou, pelo menos, achamos que não, embora a probabilidade não esteja ao nosso lado.
Na melhor das hipóteses, se não somos machistas, somos péssimos em matemática. Pesquisa da Expertise informa que 75% dos brasileiros percebem a nossa sociedade como machista. No entanto, quando solicitados a fazer uma autoavaliação, apenas um terço dos homens entrevistados admite ser machista ou “um pouco machista”. Conclusão: a conta não fecha, o problema é sempre o outro.
Resultado dessa cultura patriarcal que há milênios domina o mundo, o machismo é incorporado também por muitas mulheres, que reproduzem os valores mais conservadores. Isso torna o problema da representação política ainda mais complexo. Votar em uma mulher não é garantia de que ela defenderá, por exemplo, avanços na luta feminista. Mas é fato que, quanto mais equilibrado estiver o Parlamento em relação à representação política, de gênero, de classe, de etnia, dos mais diferentes segmentos da sociedade, mais aumentam as chances de que as demandas específicas de cada grupo social possam ser legitimadas e acolhidas em novas leis, novos costumes, fazendo avançar a democracia.
Admitir a existência de um problema é o primeiro passo para a resolução. Não é fácil, pois todos nós construímos uma boa imagem – necessária – de si. Mas quando todos esses dados apontam numa mesma direção, fica difícil negar.
Eu, machista?
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Celso Vicenzi, jornalista, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, com atuação em rádio, TV, jornal, revista e assessoria de imprensa. Prêmio Esso de Ciência e Tecnologia. Autor de “Gol é Orgasmo”, com ilustrações de Paulo Caruso, editora Unisul. Escreve humor no tuíter @celso_vicenzi. “Tantos anos como autodidata me transformaram nisso que hoje sou: um autoignorante!”. Mantém no NR a coluna Letras e Caracteres.
Um comentário:
Eu acredito que, para uma mulher, não deve ser fácil conviver com tanta testosterona inflada, talvez por isso se candidatem menos, não? E, se tem menos candidatas, tem menos mulheres eleitas, ou não?
Eleonora Abreu
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