por Tomás Chiaverini*
As coisas nunca saem exatamente como o planejado. Fato. E às vezes a diferença entre sonho e realidade é brutal. Ou, como dizem os americanos, shit happens. Aparentemente foi esse o caso da abertura da copa do mundo. Uma grande cagada coletiva, com o perdão do termo.
Um fiasco. Felizmente, foi um fiasco parcial, não total. E é copa, é Brasil, é futebol, todo mundo já estava na terceira latinha de Itaipava, a seleção levou de virada então bola pra frente, literalmente, e vamos ver aonde vai dar essa maluquice toda.
Mas, antes de irmos adiante, seria muito interessante ver alguém assumido a bronca. Levantando a mão, admitindo o erro e simplesmente pedindo desculpas. Nenhum cristão foi capaz, por exemplo de dizer que a abertura não funcionou, sei lá, porque a cenógrafa teve um piriri em cima da hora. E pra completar o avião dos bailarinos e cantores atrasou e tiveram de improvisar com fita-crepe, tinta spray e três cantores que estavam por aqui só pra assistir o mundial. Por isso saiu aquele espetáculo mambembe, com cara de teatro de quinta série. Acontece, foi muita pressão, assumimos o erro, mas vamos tentar fazer melhor na próxima... Nada, não houve erro, foi tudo lindo, era pra ser aquela porcaria mesmo.
E nosso brilhante neurocientista Miguel Nicolelis, o santo milagreiro das sinapses rompidas? Em vez de dizer que tudo deu certo, não seria o caso de vir a público explicar que a coisa é infinitamente mais complexa do que até ele podia imaginar? Que foi um erro prometer que um paraplégico ia levantar da cadeira de rodas, andar vinte e cinco metros por conta própria e sapecar um pimba na gorduchinha biônico à lá Tony Stark? Infelizmente não conseguimos deixar tudo pronto, a coisa não funcionou, o pobre homem ficou ali pendurado num cabide humano... Nada de novo. Pra ele também não houve erro. Só da Fifa e da Globo, que não deram mais tempo pro fiasco.
E o pênalti? Fred, Felipão, vamos parar de lero-lero. Vamos sair a público, respirar fundo e admitir que foi isso mesmo. Desesperamos e apelamos pro jeitinho brasileiro. Enganar o juiz faz parte do jogo. Não é bonito, não é ético mas assim fomos forjados, e foi o jeito que encontramos pra nos mantermos ali, na luta, carregando duzentos milhões de brasileiros na ponta das chuteiras. Só nos resta, portanto, pedir as mais sinceras desculpas...
* * * * * *
Tomás Chiaverini é autor do romance Avesso (Global), e dos livros reportagem Cama de Cimento e Festa Infinita (ambos pela Ediouro). Mantém a coluna mensal Abelha na Orelha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ofensas e a falta de identificação do leitor serão excluídos.