As aspirantes a escritoras, miúdas menores de 20 anos, quando tenho a alegria de encontrá-las, indagam como era escrever sem uma tela para visualizar as palavras. Como era possível pesquisar qualquer informação sem o google.
Nessas ocasiões, me sinto encantada em desenhar a complicada máquina de escrever. Conto como era pôr, travar, retirar o papel. Como era trocar as bobinas das fitas de tinta. E evoco o "branquinho da redação" – liquidozinho que fazia a vez da tecla del.
Agora o pessoal fica mesmo boquiaberto quando explico que não medíamos a extensão do texto por caracteres. Medíamos por toques. Isso mesmo: a tecla da máquina imprimia na lauda uma letra ou sinal, aí contava-se 1, 2, 20 toques.
Para tirar cópias? Ou corríamos até a papelaria da esquina para xerocar, ou usávamos papel carbono na hora mesma de datilografar. Tudo muito tátil, muito físico. Também o envio do texto era pelo correio ou pessoalmente.
Contando dessa forma parece que estou descrevendo uma época situada na Idade Média. Época em que vampiros e demais fantasmas disputavam espaços com as pessoas. No entanto, há menos três décadas, o mundo dos escritores e jornalistas era assim.
O mais curioso é que quem viveu essa história não sabe exatamente como suportou um jeito de escrever tão detalhista e laborioso. Algum leitor ou leitora, nascido depois dos anos 1980, tem ideia do trabalho que dava rescrever um parágrafo?
Mas toda essa conversa é para dizer que algumas coisas do ofício da escrita não mudam nunca. Se mantêm da pena de ganso ao Mac. Por exemplo, o momento dramático de começar um texto, cômico de continuá-lo, épico ao finalizá-lo.
E a sensação terrorífica que desta vez, não importa que seja o milésimo segundo texto que você escreve, o trabalho não acontecerá. Desta vez as palavras não pousarão nos nossos dedos. Antes, era o medo do papel em branco. Hoje, é o da tela vazia. Dá no mesmo.
fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e colunista do Nota de Rodapé, escreve às quintas.
2 comentários:
É, Fernanda. São Tomé das Letras que nos ajude, sempre. E vamos que vamos. Júnia
É, é sim: a Arte do recheio entre o - New/Novo - e o - Save/Send -, tem que ser preciosa e inspirada como sempre. Desde a primeira pedra entalhada, assim como fazes você... ohhh yehhh!!!
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