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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 29 de março de 2010

A verdadeira origem do “Armeration” vem de nome de um peixe caribenho

Longe de ser um craque, o lateral-esquerdo Pablo Armero, de 24 anos, caiu nas graças da torcida do Palmeiras e ficou conhecido pelos amantes do futebol no Brasil por conta da comemoração de um gol (que nem por ele foi marcado) há algumas semanas. A fama repentina do colombiano surgiu na partida entre o Palmeiras e o Santos, jogo cheio de gols (4 a 3 para os palmeirenses) e passos.
Os santistas abriram dois gols de vantagem e comemoram seus feitos com danças coreografadas (e previamente ensaiadas). Irritados, os jogadores do time de Palestra Itália, responderam à brincadeira dos rivais com gols e danças, essas sim espontâneas e sem prévia combinação. E foi numa dessas comemorações que Armero, com seu talento, roubou a cena.



A celebração efusiva do lateral palmeirense tomou conta do noticiário (não só o esportivo) e de pronto surgiram várias teorias sobre a origem da coreografia feita pelo jogador.

A referência à singela canção Rebolation, do candidatíssimo ao Grammy latino Parangolé, foi a mais citada, e os vídeos de Armero bailando ao som de “bote a mão na cabeça que vai começar o Rebolation” se reproduziram como gremlins. Surgia o Armeration.



Os saudosos da legítima música popular brasileira foram buscar no século passado outra referência. A poesia do É o Tchan, com a inesquecível canção Segura o Tchan, foi citada como fonte de inspiração de Armero.



Os antenados na indústria norte-americana de entretenimento pediram espaço e compararam a dança de Armero ao gingado de Beyoncé (que não viu Puerto Candelaria), com a necessária observação de que o colombiano requebra melhor do que a estrela pop.



O que pouca gente sabe é que Pablo Armero recorreu a seus antepassados para encantar a torcida palmeirense. A coreografia do colombiano é inspirada no Mapalé (nome também de um peixe), uma dança criada pelos escravos. A história remete aos negros trazidos à região do Caribe colombiano. No final do dia, homens e mulheres se reuniam na praia para limpar os peixes e dançar ao som de seus tambores para espantar o banzo. A coreografia, repleta de saltos, quedas, rebolados e mexidas de ombros, serve como demonstração de força e virilidade (no caso do homem) e sensualidade/fertilidade para as mulheres.



Armero não é propriamente de San Basílio de Palenque, região onde o Mapalé surgiu, mas é muito provável que um ramo da sua família tem passado por aquelas terras. A região de Pelenque foi a primeira zona de resistência dos africanos contra a escravidão na América do Sul (não apenas na Colômbia). Fugidos de seus senhores, os negros se reuniam em áreas livres, chamada de palenques, e se organizavam em sociedades regidas por regras próprias. Parangolé, É o Tchan e Beyoncé que me desculpem, mas Pablo Armero trazia no sangue, há séculos, a coreografia exibida na Vila Belmiro naquele domingo.
Bônus para quem sobreviveu até aqui: Teria Armero se inspirado em Kiko, do Chaves? Você achou original a comemoração de Armero? Então olha isso:



Ricardo Viel é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

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