Plínio conseguiu romper o anonimato |
Plínio, Marina, Serra e Dilma aparecem com mais ou menos frequência na televisão, no rádio, nos jornais e nas revistas de grande circulação e impacto na opinião pública. Claro, a candidatura de cada um também é abordada com diferentes enfoques, dependendo da posição política e dos interesses de quem publica. Não é novidade para ninguém que os candidatos do PT e do PSDB são os favoritos da imprensa — estes mais do que aqueles.
Serra e Dilma estão na dianteira em todas as pesquisas de opinião e diariamente ganham manchetes país afora. Marina aparece em terceiro lugar nas intenções de voto e também na preferência dos jornalistas. O raciocínio segue com o representante do PSOL, em quarto, chamando muito pouca atenção dos holofotes. Há outros concorrentes, claro, mas a liberdade de imprensa vigente no Brasil não tem espaço para sua insignificância eleitoral.
Talvez pela distribuição desigual de atenções, Plínio de Arruda Sampaio é, de longe e de perto, o postulante ao Planalto que mais recorre ao Twitter. Depois vem Marina Silva, seguida por José Serra e Dilma Rousseff. O ranking dos presidenciáveis tuiteiros é exatamente oposto ao espaço que cada um deles — seja pela letra da Lei Eleitoral, seja pela vontade da imprensa — possui junto aos meios de comunicação.
Plínio está vidrado nesta (já não tão) nova ferramenta da internet. Antes da campanha deslanchar, já anunciava no YouTube sua adesão ao serviço gratuito que permite disseminar mensagens de até 140 caracteres diretamente a quem quiser ou puder lê-las. E lá se vão mais de duas mil, escritas de próprio punho ou pelos dedos da assessoria do PSOL. Os assuntos são variados. Plínio comenta os debates, reforça suas propostas de campanha, critica seus adversários e responde os internautas que lhe perguntam sobre tudo. Como só tem tempo de tuitar tarde da noite, batizou sua atividade internética noturna de Comando da Madrugada.
Tuitaço
Mas o grande feito do Plínio tuiteiro aconteceu no debate organizado em conjunto pelo jornal Folha de S. Paulo e pelo portal UOL. Foi o primeiro evento do tipo transmitido ao vivo pela rede. Ao contrário do que aconteceu na Bandeirantes e, mais recentemente, na TV católica Canção Nova, o candidato do PSOL simplesmente não foi convidado. Porém, marcou presença. Como? Pelo Twitter, oras. Plínio lançou mão da twitcam, uma ferramenta que permite ao tuiteiro tuitar, em tempo real, com voz e imagem, através de uma câmera instalada no computador. Como o debate da Folha/UOL se deu integralmente na internet, o candidato excluído se fez notar como um internauta qualquer que estivesse participando e interagindo com os debatedores oficiais.
Mas, claro, não se tratava de um internauta qualquer, e sim de um presidenciável. A travessura de Plínio, portanto, foi além.
“Para surpresa geral, o número de pessoas interagindo com o candidato do PSOL pela twitcam chegou a superar a quantidade de participantes das salas de bate-papo do debate Folha/UOL. O fato foi registrado pelos serviços de informação disponibilizados pela internet”, comenta o próprio candidato num artigo publicado na edição online da revista CartaCapital.
Empolgado, Plínio até criou um neologismo para resumir seu êxito cibernético contra o bloqueio dos grandes meios de comunicação: tuitaço.
Num país como o Brasil, em que a internet chega a apenas 50 e tantos por cento dos domicílios, o tuitaço de Plínio pode parecer empolgação barata de um candidato de um partido sem base social, que não tem a menor chance de vencer as eleições e que, exatamente por isso, se contenta em celebrar como grandes conquistas pequenos episódios isolados e sem maiores impactos no pleito de outubro.
Mas é importante levar em consideração o fato de que “nunca antes na história deste país” um candidato rotulado como nanico e com uma porcentagem sofrível de intenções de voto conseguiu impor sua participação, ainda que de forma paralela e extra-oficial, num debate presidencial. Até porque, antes do aparecimento das novas ferramentas da internet, Twitter entre elas, entrar de bicão no circo midiático eleitoral era tarefa impossível. O feito de Plínio foi ter reconduzido, ainda que timidamente, as ideias e posições políticas ao centro do debate, passando ao largo dos desígnios dos grandes meios de comunicação. Se o tuitaço teve mais audiência que o programa em si, é porque o candidato do PSOL tinha algo a dizer. E havia gente interessada em ouvi-lo.
A Folha e o UOL quiseram limar Plínio do debate que promoveram na internet e, além de não terem conseguido, não tiveram como detê-lo. Por isso, o presidenciável pode ter razão ao escrever que “as forças democráticas da nação precisam se debruçar sobre o fenômeno, porque ele pode representar um instrumento poderosíssimo para ajudar a reverter o sombrio panorama da política mundial neste inicio de século.”
É esperar (e agir) pra ver, levando em conta que o Plano Nacional de Banda Larga está prestes a arrancar e difundir um pouco mais a internet no Brasil.
Tadeu Breda é jornalista, colunista do NR e vive em Latitude Sul.
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