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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 29 de novembro de 2005

Videofestival São Carlos 2005

Alô, galera, pra quem não sabe o documentário sobre a Ética na imprensa brasileira e as lições do Caso Escola Base ganhou Menção Honrosa concedida pelo Júri de Premiação do III Vídeo Festival de São Carlos 2005, realizado pelo Sesc São Carlos e pela Secretaria de Educação e Cultura/Departamento de Artes e Cultura e da Fundação Pró-Memória. Foram inscritos 265 trabalhos de 41 cidades e 15 Estados.
Estou muito feliz, contente, honrado, surpreso e queria agradecer aqui meus companheiros Paulo e Mineiro pelo feito. Quem tiver interesse no vídeo sobre a Escola Base basta mandar um e-mail pra mim no thiagodomenici@carosamigos.com.br
É isso aí, galera.
Parabéns: Videoclipe - "Hell", Felipe QuéretteFicção - "Sem Ana", Rafael BarionAnimaç ão - "A morte do Rei de Barro", de Marcos BucciniDocumentário - " Ao vencedor, o capim", de Carol AraújoOs vencedores foram escolhidos pelo Júri de Premiação:André Sturm (cineasta), Di Moretti (roteirista) e André Klotzel (cineasta,sócio da Pandora filmes).Prêmio Júri Popular de São Carlos - "Neguinha e Kika", de Luciano VidigalEscolhido pelo voto popular sem distinção de categoria.As apresentações dos vídeos selecionados tiveram um público de aproximadamente 1.500 pessoas.Tivemos ainda 2 Menções Honrosas concedidas pelo Júri de Seleção:" Homens pequenos no ocaso projetam grandes sombras", de Tim Gerlach" Chico Lee 2: A Fórmula Fênix", de Allan dos SantosE 1 Menção Honrosa concedida pelo Júri de Premiação:" Ética na imprensa na década de 90 e as lições do caso Escola Base" de Gustavo Brigatto,Paulo R. Ranieri e Thiago Domenici.Parabéns aos vencedores!Agradecemos à todos, desde as inscrições à participação no evento!Até a próxima edição!Vídeofestival São Carlos 2005 Central de Atendimento(0XX16) 3372-7555www.sescsp.org.brvideofestival@scarlos.sescsp.org.br

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

O Almoço de Natal

O Almoço de Natal

Naquele tempo em toda casa havia um galinheiro. Bendito galinheiro. E um porão escuro e úmido. Porão abençoado.
A iniciação amorosa de todo menino era feita onde e com quem você já sabe.
Éramos dois irmãos, cada um tinha a sua namorada. E cuidávamos de agradá-las com água fresquinha, folha de couve, punhado extra de milho.
Primeira vez só consegui atraí-la ao navio pirata & mina de ouro & nave espacial com migalhas de pão, nova Mariazinha perdida no caminho de casa. Já nas outras, bastava eu me curvar para adentrá-lo, ela me seguia a toda pressa em passo miudinho de gueixa.
Quando ela chegava fazia-se a luz na caverna. De suas tocas, aranhas e lagartixas espirravam as ca­be­ci­nhas para vê-la.
Era sentimento mútuo, fonte de surpresas, de­lí­cias,­ arrepios de prazer. Ai, olhinho buliçoso que não piscava, sem pálpebra... para melhor te seduzir. De volta da escola, eu corria para o quintal e, ao me ver, ela abria as asas jubilosa ao meu encontro. Enquanto eu penava com as lições de gramática, para me consolar ciscava e arrulhava sob a janela.
A tragédia iminente era o famoso almoço de Natal. No dia fatídico seria a vez da tua bem-querida — a mais gordinha e apetitosa do terreiro. E, angústia maior, os carrascos alternados no altar do sacrifício você imagina quais eram.
Três, os métodos clássicos: golpe certeiro de ma­chadinha no longo pescoço da mártir (sobre a bacia que aparava o sangue do molho).
Ou repuxá-lo sem dó finalizando no estalido se­co­ — ao soltá-la, sem saber que estava morta, en­saia­va uns tantos passos bêbados, antes de se esvair aos teus pés...
Ou, ainda, girá-lo com força até que ouvisse um crack!
Os sons fatídicos — o golpe, o estalo, o crack — eram as três pancadas da desgraça à tua porta.
Afinal me coube — ai de mim, maldito — abre­viar os dias felizes da prometida do meu coraçãozinho de 7 anos. Nem pensar em desobedecer às ordens de Mamãe — atrás dela se levantava o poder maior desse­ Pai dos Pais, ditador trovejante de prêmios e castigos.
Cogitei de imolar não a eleita dos meus suspiros e, sim, a do meu irmão menor, tanto eram parecidas, gêmeas da mesma ninhada. Decerto, feroz na defesa do seu próprio amor, ele denunciaria aos berros a minha fraude. E eu sonhava, dormindo e desperto, com a bicicleta azul que, menino bem-comportado, ganharia no Ano-Novo.
Aqui a mão ponho na minha boca. Sou o túmulo do sofrimento humano.
E o crime foi consumado.
Para surpresa familiar (e minha, mais que de todos), não fui o único glutão a recusar com horror o pedaço predileto de coxa. Também ele, o caçula, se absteve de provar a noivinha inebriante ao molho pardo.
Foi a minha primeira desilusão amorosa. Ah, o coração feminino... Bem que era volúvel, ó ventoinha de penugem dourada vogando ao léu. O tempo todo me iludira, a ingrata — e com o meu próprio irmão!
Outras namoradas vieram. Da primeira você jamais esquece. O amor, essa coisa, sabe como é. Ainda hoje, dela me lembro: pequenina e trêmula nos meus braços, as macias penas arrepiadas, pipilante de prazer.­
Tudo passa, ela passou.
Era aberta enfim a temporada de caça às primas. Viva a estação das priminhas!
Dalton Trevisan do Livro Rita Ritinha Ritona, Editora Record

segunda-feira, 7 de novembro de 2005

João Cabral de Melo Neto

"...E não há melhor respostaque o espetáculo da vida:vê-la desfiar seu fio,que também se chama vida,ver a fábrica que ela mesma,teimosamente, se fabrica,vê-la brotar como há poucoem nova vida explodida;mesmo quando é assim pequenaa explosão, como a ocorrida;mesmo quando é uma explosãocomo a de há pouco, franzina;mesmo quando é a explosãode uma vida severina."
(Morte e Vida Severina)
João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife - PE, no dia 09 de janeiro de 1920, na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo. Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. Passa a infância em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno.
Em 1930, com a mudança da família para Recife, inicia o curso primário no Colégio Marista. João Cabral era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.
Foi na Associação Comercial de Pernambuco, em 1937, que obteve seu primeiro emprego, tendo depois trabalhado no Departamento de Estatística do Estado. Já com 18 anos, começa a freqüentar a roda literária do Café Lafayette, que se reúne em volta de Willy Lewin e do pintor Vicente do Rego Monteiro, que regressara de Paris por causa da guerra.
Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima. No ano seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que apresenta suas Considerações sobre o poeta dormindo.
1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Em novembro viaja, por terra, para o Rio de Janeiro. Convocado para servir à Força Expedicionária Brasileira (FEB), é dispensado por motivo de saúde. Mas permanece no Rio, sendo aprovado em concurso e nomeado Assistente de Seleção do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). Freqüenta, então, os intelectuais que se reuniam no Café Amarelinho e Café Vermelhinho, no Centro do Rio de Janeiro. Publica Os três mal-amados na Revista do Brasil.
O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto Frederico Schmidt. Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. Em fevereiro, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, no Rio de Janeiro. Em dezembro, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.
É removido, em 1947, para o Consulado Geral em Barcelona, como vice-cônsul. Adquire uma pequena tipografia artesanal, com a qual publica livros de poetas brasileiros e espanhóis. Nessa prensa manual imprime Psicologia da composição. Nos dois anos seguintes ganha dois filhos: Inês e Luiz, respectivamente. Residindo na Catalunha, escreve seu ensaio sobre Joan Miró, cujo estúdio freqüenta. Miró faz publicar o ensaio com texto em português, com suas primeiras gravuras em madeira.
Removido para o Consulado Geral em Londres, em 1950, publica O cão sem plumas. Dois anos depois retorna ao Brasil para responder por inquérito onde é acusado de subversão. Escreve o livro O rio, em 1953, com o qual recebe o Prêmio José de Anchieta do IV Centenário de São Paulo (em 1954). É colocado em disponibilidade pelo Itamaraty, sem rendimentos, enquanto responde ao inquérito, período em que trabalha como secretário de redação do Jornal A Vanguarda, dirigido por Joel Silveira. Arquivado o inquérito policial, a pedido do promotor público, vai para Pernambuco com a família. Lá, é recebido em sessão solene pela Câmara Municipal do Recife.
Em 1954 é convidado a participar do Congresso Internacional de Escritores, em São Paulo. Participa também do Congresso Brasileiro de Poesia, reunido na mesma época. A Editora Orfeu publica seus Poemas Reunidos. Reintegrado à carreira diplomática pelo Supremo Tribunal Federal, passa a trabalhar no Departamento Cultural do Itamaraty.
Duas alegrias em 1955: o nascimento de sua filha Isabel e o recebimento do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. A Editora José Olympio publica, em 1956, Duas águas, volume que reúne seus livros anteriores e os inéditos: Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. Removido para Barcelona, como cônsul adjunto, vai com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, onde passa a residir.
Em 1958 é removido para o Consulado Geral em Marselha. Recebe o prêmio de melhor autor no Festival de Teatro do Estudante, realizado no Recife. Publica em Lisboa seu livro Quaderna, em 1960. É removido para Madri, como primeiro secretário da embaixada. Publica, em Madri, Dois parlamentos.
Em 1961 é nomeado chefe de gabinete do ministro da Agricultura, Romero Cabral da Costa, e passa a residir em Brasília. Com o fim do governo Jânio Quadros, poucos meses depois, é removido outra vez para a embaixada em Madri. A Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, publica Terceira feira, livro que reúne Quaderna, Dois parlamentos, ainda inéditos no Brasil, e um novo livro: Serial.
Com a mudança do consulado brasileiro de Cádiz para Sevilha, João Cabral muda-se para essa cidade, onde reside pela segunda vez. Continuando seu vai-e-vem pelo mundo, em 1964 é removido como conselheiro para a Delegação do Brasil junto às Nações Unidas, em Genebra. Nesse ano nasce seu quinto filho, João.
Como ministro conselheiro, em 1966, muda-se para Berna. O Teatro da Universidade Católica de São Paulo produz o auto Morte e Vida Severina, com música de Chico Buarque de Holanda, primeiro encenado em várias cidades brasileiras e depois no Festival de Nancy, no Théatre des Nations, em Paris e, posteriormente, em Lisboa, Coimbra e Porto. Em Nancy recebe o prêmio de Melhor Autor Vivo do Festival. Publica A educação pela pedra, que recebe os prêmios Jabuti; da União de Escritores de São Paulo; Luisa Cláudio de Souza, do Pen Club; e o prêmio do Instituto Nacional do Livro. É designado pelo Itamaraty para representar o Brasil na Bienal de Knock-le-Zontew, na Bélgica.
1967 marca sua volta a Barcelona, como cônsul geral. No ano seguinte é publicada a primeira edição de Poesias completas. É eleito, em 15 de agosto de 1968, para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Assis Chateaubriand. É recebido em sessão solene pela Assembléia Legislativa de Pernambuco como membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
Toma posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida. A Companhia Paulo Autran encena Morte e vida severina em diversas cidades do Brasil. É removido para a embaixada de Assunção, no Paraguai, como ministro conselheiro. Torna-se membro da Hispania Society of America e recebe a comenda da Ordem de Mérito Pernambucano.
Após três anos em Assunção, é nomeado embaixador em Dacar, no Senegal, cargo que exerce cumulativamente com o de embaixador da Mauritânia, no Mali e na Giné-Conakry.
Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. No ano seguinte publica Museu de Tudo, que recebe o Grande Prêmio de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a Medalha de Humanidades do Nordeste.
Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e, em 1979, como Grande Oficial da Ordem do Leão do Senegal. É nomeado embaixador em Quito, Equador e publica A escola das facas.
A convite do governador de Pernambuco, vai a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito de Guararapes, sendo condecorado com a Grã-Cruz da Ordem. Ali é inaugurada uma exposição bibliográfica de sua obra, no Palácio do Governo de Pernambuco, organizada por Zila Mamede. Recebe a Comenda do Mérito Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador.
No ano seguinte vai para Honduras, como embaixador. Publica a antologia Poesia crítica.
Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, em Portugal, como cônsul geral. Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro do Estado do Rio de Janeiro. Publica Auto do frade, escrito em Tegucigalpa.
Ganha o Prêmio Moinho Recife, em 1984 e, no ano seguinte, publica os poemas de Agrestes. Nesse livro há uma sessão dedicada à morte ("A indesejada das gentes"). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua esposa, Stella Maria, falece no Rio de Janeiro. João Cabral reassume o Consulado Geral no Porto. Casa-se em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira.
Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores. É removido para o Rio de Janeiro.
Em Recife, no ano de 1988, lança sua antologia Poemas pernambucanos. Publica, também, o segundo volume de poesias completas: Museu de tudo e depois. Recebe o Prêmio da Bienal Nestlé de Literatura pelo conjunto da obra, e o Prêmio Lily de Carvalho da ABCL, Rio de Janeiro.
Aposenta-se como embaixador em 1990 e publica Sevilha andando. É eleito para a Academia Pernambucana de Letras, da qual havia recebido, anos antes, a medalha Carneiro Vilela. Recebe os seguintes prêmios: Criadores de Cultura da Prefeitura do Recife, Luis de Camões (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas.
Outros prêmios: Pedro Nava (1991) pelo livro Sevilha andando; Casa das Américas, concedido pelo Estado de São Paulo (1992); e também nesse ano o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma. Viaja a Sevilha para representar o presidente da República nas comemorações do dia 7 de Setembro, que tiveram lugar na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América. No Pavilhão do Brasil, foi distribuída sua antologia Poemas sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, recebe do embaixador espanhol a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.
Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.
João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever. Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar ("Não tenho muito o que dizer", argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais variados segmentos de nossa sociedade.
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