.

.
30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 30 de abril de 2011

Tentativas

Música do Nazareth se mistura com o que tenho que escrever, noite de balada para uns, noite de balada de certa forma para outros.
A rádio some e finalmente os pensamentos se soltam, disparam como a turnê de Clapton em 2001 vista num dvd pirata comprado no Jardim Comercial, numa barraca abarrotada de lançamentos e catálogos, todos devidamente separados por nomes e fichas internas, não foi lá que tive o prazer de adquirir Floyd, depois de tantos anos saiu em dvd o Pulse, e por mais alto que eu consigo deixar, o barulho do funk estremece e grita.
Quem senta, senta, senta, senta se concentra.
O Gol prata finalmente vira a rua e Al Pacino me encara da estante, ele pensa que com sua roupa branca e uma pistola na mão pode me intimidar, mal sabe ele onde está.
O caderno de anotações está cheio, versos para letras de músicas, inícios de textos que nunca serão terminados, desabafos, trechos de pensamentos tumultuados, idéias que não serão realizadas e dicas de livros que nunca serão comprados, tudo ao lado de uma garrafa azul vazia a algumas horas.
Kirby e Colin disputam traços em minha mente, mas é Paulo Sérgio que quer chamar atenção e um de seus discos caem em cima da única agulha Ortofon que tenho, ao lado tem outra garrafa azul, dessa vez é uma de café, a anterior era de água, a de café me foi dada pela mãe de um parceiro.
Stan Lee não, ele não, por exemplo o Surfista, quem criou ele? e quem fez o Capitão América? Vamos ser sinceros, o que Lee fez ultimamente além de programas de televisão, sendo somente uma caricatura dele mesmo?
É o mesmo que comparar Roberto Carlos com Amado Batista, um tem mídia, mas o povo tá mesmo com o Amado.
O Peixe Peludo se levanta e assim como Rourke em O Lutador, ele sabe que não será fácil ficar vivo e que só a vida pode leva-lo a nocaute.
Seus desgraçados, agente só para quando quiser, quer dizer, eu só paro quando quiser, eu acho.
A madrugada vem chegando, o ar que entra pela janela agora é mais para uma brisa, fica mais frio, eu tiro a camisa para saber realmente que ainda posso sentir algo, sei como Saramago, que a felicidade é só algo inventado para suportarmos a vida, e sei também que as meninas que passam agora por esse asfalto logo abaixo, só querem um pouco de diversão, mesmo sem ser a solução, a madrugada ainda pode oferecer algo melhor do que o pequeno barraco, recheado de familiares com mais sonhos que realizações e metros quadrados, o maldito Gol cinza passa novamente e o que sai lá de dentro ainda estremece o sobrado.
Piroca, piroca, piroca.
A palavra é repetida sem parar, um som grave estremece a casa, penso se isso fosse um texto Kafkiano ou eu virava um piroca e deslizava mole pelas escadas até sair no portão e começar a esmagar pessoas na rua, ou uma piroca gigante entraria pelo teto e destruiria toda a casa, ainda bem que não é.
Lixo toma espaço da rua, os pedestres que se fodam, quem dirige carro acha que não é pedestre, nunca foi e nunca será, tem nojo dessa raça.
Carros toma toda a calçada enquanto uma senhora caminha pela rua, em meio a motos e seus motores disparando tiros imaginários, entre a viela e o muro branco do sítio um casal se aperta e prova que aquela coisa ainda pode estar no ar.
Adolfo Aizen vem na minha cabeça, deve ter sido por ter a alguns dias lido o catálogo da Ebal, que Edição Maravilhosa, embora mais raro eu acho é Raio Vermelho, o primeiro lançamento da Abril, quando nem chamava editora Abril, outra revista em quadrinhos que procuro é Raimundo o Cangaceiro, pois José Lanzellotti além dos quadrinhos fez uma grande documentação histórica ao criar o personagem, mas talvez o motivo também seja pelo nome do personagem, mesmo nome do meu pai.
A corrente de ar diminui, alguém chega e diz que minha filha está perguntando porque estou demorando, agora tiro os olhos do monitor e vejo minha esposa, embora suas palavras sejam ditas em nome da menina, sinto que são suas, vou ver a pequena na cama, paro de escrever o texto.
Ela barganha para ir dormir com a mãe enquanto eu não chego, concordo, ninguém aguenta um sorriso misturado com sono, volto para meu cômodo entulhado de celulose, mergulho no texto, mas as vozes na rua me tiram do que tinha pensado em escrever, fogos de artificio tornam ainda mais estranha a madrugada, quem seria o maldito que as altas horas soltaria esses fogos, talvez seja algum jogo na televisão, embora não seja horário nobre, bem longe disso, ou mesmo um balão, como os fogos continuam vou até a janela e não vejo balão nenhum, queria ser Tintin e chegar em algum lugar antes de todos, assim como ele chegou na lua em 1950, tantos anos antes de Neil Armstrong, mas mesmo assim é Armstrong que recebe flores em sua estátua.
O jornalista na televisão diz que a culpa é das pessoas que agora podem ter carro, não é simples assim, a culpa é você poder ter e não saber usar, pra que tanto som? Equipar carro com som na quebrada virou moda, mas quem vai aguentar viver com tanto barulho? Enquanto educação e cultura não forem prioridade o dinheiro só vai servir para transformar a favela num inferno, onde se compra um guarda-roupa novo e o velho se joga na rua, onde o sofá usado agora está dentro do córrego, consumir sem conhecimento, é empinar moto, usar farinha demais, tomar whisky com energético, Catuaba com Schweppes, parar em todo posto para abastecer o carro e abastecer o corpo com cerveja (porque postos de gasolina vendem cerveja, se a idéia e não dirigir depois de beber?).
O dinheiro adquirido, o poder aquisitivo tão esperado, com 3 governos de esquerda, deveriam ser usados para todos se melhorarem como seres humanos, aprender, estudar, saber o grande potencial da cultura, adquirir senso critico, e isso tudo banhando com diversão também, uma boa peça de teatro, um show ao vivo, uma exposição de quadros, nada como ver uma obra ao vivo, bons livros, fotografar ou ir a exposições de fotografia, boas revistas em quadrinhos, as possibilidades são ilimitadas, e se tudo isso estiver longe, vá a algum sarau, são vários na quebrada graças a militância de alguns, mas para isso precisamos começar imediatamente a pregar algo além do consumismo suicida.
Ouço a música ao longe novamente, e abaixo meu velho receiver para entender a letra, impossível, mas indo a janela vejo o maldito Gol cinza e tudo estremece.
Uma buzina é pressionada por vários minutos sem parar, parece de uma bicicleta, o menino já treina para no futuro gerar barulho, meus dedos não conseguem digitar, o coração está mais rápido, tento olhar um pouco para a TV, ela sempre me deixa mais na moral, agora ouço um disparo, já não parece mais fogos, então vou fechar a janela, Rex Mundi livro dois está a minha espera, o primeiro Guardião do templo foi uma grande diversão, não tanta como Os Beats, uma graphic novel coletiva com roteiros de Pekar, Peters e um monte de gente bacana, são trabalhos que me tiram daqui por algumas horas, morar no tema é foda demais, para pegar distância tenho que ir dos livros clássicos até os fanzines que saíram essa semana.
Logo abaixo de Os Beats está Grendel de Matt Wagner, uma edição que oscila entre lirismo e algumas histórias já batidas, o que menos interessa do apanhado é o personagem principal, e isso remete muito a Spirit de Eisner, mas não é Um contrato com Deus que interessa, dá para ver 100 balas e quem lê algo de Azzarello sabe o que digo, nem os Escapistas conseguiriam parar de virar as páginas, agora que meus dedos estão travando e minha mente tenta não ouvir Queem de novo na rádio, Aberrações no coração da América ou Sinal e ruído de Gaiman e Mckean vão terminar minha noite, embora eu não me encaixe nas pessoas que sobem a montanha para esperar a virada do século, porque na verdade estou mais para o escritor que não quer fazer os exames. O clima de Sinal e ruído é perfeito para se pensar a vida através da ameaça de perde-la.
O resto de Pizza ainda está em cima do sofá na sala, e como tive que andar muito para comprar, porque nessa rua não tem uma pizzaria, e na rua de cima, as madeiras usadas no forno são restos de móveis, então como sou um pouco informado para comer algo misturado com produtos químicos vindos da fumaça, e aqui não tem sequer ou uma padaria, tive que andar muito mesmo para trazer essa pizza.
Em alguns lugares é tão comum, porque aqui não? e olha que não estou exigindo nada demais, comida japonesa? Frango Frito? não, só uma maldita pizzaria.
Paro o texto, por aqui já chega de escrever, vou até a cozinha, ponho água para esquentar, não consigo comer pizza com refrigerante, meu negócio é café com leite, volto para a sala mas antes que eu me encaixe no sofá e comece a foliar os desenhos de Mckean, a casa estremece e sei que é o maldito Gol cinca novamente.
- Quem senta, senta, senta, senta se concentra.

Ferréz é escritor (publicado originalmente no blog do autor)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Tadeu Breda, colaborador do NR, lança livro sobre o Equador

Livro do jornalista Tadeu Breda desfaz mitos
sobre o governo Rafael Correa e ajuda a decifrar
o processo de transformação política no Equador e na América Latina

No próximo dia 5 de maio, o jornalista Tadeu Breda lança em São Paulo um extenso livro sobre o Equador antes, durante e depois da ascensão do presidente Rafael Correa e sua Revolução Cidadã. Porém, O Equador é verde – Rafael Correa e os paradigmas do desenvolvimento não fala apenas de política: questões econômicas, sociais e ecológicas permeiam as 320 páginas que constroem o retrato mais fiel já publicado em língua portuguesa sobre a história recente do país vizinho.
O livro aborda a transição reformista que vem ocorrendo no Equador e os conflitos produzidos no seio da sociedade equatoriana devido ao processo de transformação. Para cumprir com este objetivo, Tadeu Breda acompanhou de perto as eleições de 2009 e conversou pessoalmente com os principais candidatos: Lucio Gutiérrez, Álvaro Noboa e, claro, Rafael Correa, que acabou vencendo a peleja e garantindo mais quatro anos no cargo.
Igual atenção foi dada ao movimento indígena, principal força social do país e ponta de lança das transformações políticas, econômicas e sociais que estão acontecendo por lá. Uma delas é a nova Constituição Plurinacional, que ocupa posição de destaque no livro. A Carta Magna equatoriana foi a primeira na América Latina em reconhecer direitos à natureza e adotar um princípio indígena (Sumak Kawsay ou bom-viver) como modelo de desenvolvimento.
O autor também dedicou suas atenções para as influências ideológicas que definem o governo da Revolução Cidadã. Assim, pôde trazer elementos que ajudam a compreender porquê Rafael Correa fala tanto em Simón Bolívar e o que significa Socialismo do Século XXI.
Os desafios ecológicos estão presentes no tocante relato sobre um dos maiores desastres ambientais de que se tem notícia – e que aconteceu na Amazônia equatoriana quando a companhia estadunidense Chevron-Texaco despejou na floresta milhões de galões de petróleo e outros elementos tóxicos. O resultado foi a contaminação do ar, da água e do solo devido às piscinas negras que há mais de 30 anos permanecem à céu aberto em meio à mata. A população sofre diretamente os efeitos da tragédia: os índices de câncer são os mais altos do país, e o desenvolvimento humano, o mais baixo.
O livro termina com um texto aprofundado sobre a tentativa de golpe de Estado (ou teria sido motim policial?) que em setembro de 2010 manteve Rafael Correa sequestrado e à mira de pistola durante horas – e quase lançou o país novamente na instabilidade institucional.
“Fruto do que pretendia ser uma grande reportagem, o trabalho de Tadeu Breda ultrapassou o almejado pela qualidade das questões e análises sobre o que vem acontecendo no Equador”, opina Maria Helena Capelato, titular de História da América Latina na Universidade de São Paulo.
“O Equador é um país que historicamente esteve distante do noticiário brasileiro. Aliás, todos os vizinhos latino-americanos têm sido alvo de nosso esquecimento. A situação mudou um pouco com a ascensão dos presidentes de esquerda, mas a cobertura dos meios de comunicação, muitas vezes superficial, acaba não contribuindo para a compreensão do que de fato está acontecendo nestes países”, explica o autor.
“Os episódios narrados no livro devem ser encarados como parte de um processo cujas engrenagens estão em pleno movimento. Nada está definido no Equador. Por isso, mais que jogar luzes sobre o futuro do país, busquei entender o que aconteceu no passado e o que está acontecendo no presente. Espero que essa tentativa ajude a desfazer mitos e preconceitos sobre a realidade equatoriana e consiga informar, da melhor maneira possível, o leitor interessado em decifrar o momento vivido pela América Latina neste alvorecer de século e (já não tão) novos governos.”

Viagem irresistível
“Tadeu Breda nos convida para uma viagem irresistível: percorrer os marcos visíveis e os subterrâneos de uma sociedade em turbulência há mais de uma década”, escreve o pesquisador Gilberto Maringoni no prefácio do livro, lembrando que o Equador chegou a ter sete presidentes diferentes em dez anos. “O autor realiza com rara competência um exame deste que é um dos pontos luminosos do processo de reação continental à aventura ultraliberal que varre a América Latina desde o final dos anos oitenta.”
Rafael Correa foi eleito em 2006 na esteira de três golpes de Estado civis e militares que contaram com ampla participação popular. Abdalá Bucaram foi derrubado em 1996, Jamil Mahuad, em 2000 e Lucio Gutiérrez, em 2005. Em comum, todos eles traficaram com a esperança do eleitorado: foram eleitos com uma plataforma nacionalista que prometia desenvolvimento e bem-estar, mas, uma vez na Presidência, não hesitaram a adotar políticas neoliberais pautadas pela privatização e pelo corte nos investimentos sociais (educação, saúde e subsídios).
A subserviência ao FMI e ao Banco Mundial chegou a tal ponto que, em 1999, o país simplesmente abandonou sua moeda nacional (sucre) e adotou o dólar estadunidense como unidade de circulação interna. Até hoje, os equatorianos compram e vendem com notas retratando Benjamin Franklin, George Washington e Abraham Lincoln “Talvez nenhum outro país da região tenha ido tão longe na aplicação dos processos de ajuste estrutural”, pontua Maringoni.
A chegada de Rafael Correa virou a mesa. Quando assumiu o poder, o presidente equatoriano contava com um cenário geopolítico favorável: Hugo Chávez, Evo Morales, Michelle Bachelet, Tabaré Vázquez, Néstor Kirchner e Lula governavam Venezuela, Bolívia, Chile, Uruguai, Argentina e Brasil. O Equador passava a integrar, assim, a chamada “esquerda sul-americana”. Mais tarde, radicalizaria sua posição a favor do Socialismo do Século XXI e se tornaria membro da Aliança Bolivariana das Américas (ALBA).
“As políticas neoliberais, também fruto da crise capitalista e da globalização, trouxeram consequências muito negativas do ponto de vista social, e as reações contra a pobreza, desemprego e desequilíbrio econômico começaram a surgir”, contextualiza Maria Helena Capelato, professora de História da América Latina na Universidade de São Paulo (USP). “Assim foram se consolidando governos com projetos políticos que visavam mudar o rumo das políticas vigentes.” (cc)

Serviço

O quê: Lançamento do livro O Equador é verde – Rafael Correa e os paradigmas do desenvolvimento, de Tadeu Breda.
Quando: 5 de maio, das 20 às 23 horas.
Onde: Sede do Projeto Cala-boca já morreu – Av. Henrique Schaumann, 125, Pinheiros, quase esquina com a Av. Rebouças, em frente ao McDonnald’s. São Paulo-SP
O livro custará R$ 25,00
Entrada franca

Expo Container

Nesta exposição no dia do trabalho, 1 de maio, Caco Bressane, colaborador do NR, vai expor suas gravuras. Além dele, muitos outros artistas na Expo Container. Prestigiem!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O jornalismo-FHC está à cata de domésticas fugidias

Lê-se num jornal desta semana uma espécie de guia sobre como “encontrar” uma empregada doméstica, essa “mercadoria” em extinção em tempos de crescimento econômico e ganhos salariais. Há momentos em que essa profissão, a de jornalistas, regala-me um misto de vergonha própria e alheia.
Própria porque, no fim das contas, também estou incluído nesta genericamente denominada imprensa, uma expressão totalizante que abarca tudo o que de ruim pode haver no Brasil. Alheia porque... bem, desnecessário dizer como funcionam as mentes de alguns de nossos colegas. Viva o jornalismo-FHC: esqueçamos o povão, miremos a classe média.
Por que colaborar para as mudanças sociais se podemos ser importantes para assegurar mais uma tranquila noite de sono aos detentores do status quo? Por que ajudar a enterrar essa nossa instituição pós-escravagista, a doméstica, se podemos nos beneficiar de baixos salários e exploração de mão de obra? E ninguém ouse dizer que nossa renda está mais próxima da classe D que das classes A e B – um dia chegaremos lá no alto.
A questão é que os jornalistas somos, hoje em dia e via de regra, integrantes da mais autêntica classe média. Temos nascença, criança e vivência de classe média – branca e de olhos azuis, e não esta nova que o lulismo quer nos impor. Nas horas de folga, circulamos por bairros de classe média, comemos com gente de classe média e, eventualmente, ficamos contentes com a oportunidade de lamber as botas de algum representante dos estratos mais altos – de quem, aliás, fingimos ser íntimos, pois gozamos todos de informações preciosas e anseios comuns.
Ficamos até com um sorrisinho no canto da boca quando xingados por um ilustre político que more em Pinheiros, na Pampulha ou em Copacabana, afinal são pessoas ilustradas que estão a corrigir-nos essa mania de indolência. Mas usamos palavras agressivas ao entrevistar o presidente metalúrgico, um desses que não sabem ocupar o lugar a ele reservado na sociedade – somos esclarecidos e devemos ensiná-lo o funcionamento do sistema de castas brasileiro.
Nossa experiência também é de classe média. Trocamos o Complexo de Super Homem pelo Complexo de Marcelo Madureira, incapazes de nos darmos conta da realidade do país. Não fazemos isso porque somos burros, mas porque não conhecemos a realidade do país. Achamos que o Brasil é aquilo que nos chega pelo Facebook, pelo Twitter, pelo iPad, pelo iPod, pelo iPhone e pelo iQue-cara-a-fatura-do-cartão.
Conhecer as ruas, conhecer a periferia são tema proibido pelo falta de perspectiva própria ou, quando não, pela falta de perspectiva de algum superior hierárquico atolado em um mundo virtual que julga ser ultra-interessante, mas que não corresponde ao mundo real, nem em assuntos, nem em velocidade – tema para outra conversa.
Não por acaso, reproduzimos os sensos comuns de que os políticos são todos iguais, de que a classe média é diariamente torturada por ricos e pobres, de que o Estado não pode intervir no mercado (instituição mais sagrada que o Clero), de que o Bolsa Família é coisa para vagabundo – não faltam especialistas em nossas agendas telefônicas para comprovar qualquer uma dessas teses.
Nos indignamos mais com o aumento do preço da gasolina que usamos em nossos carros do que com o aumento do preço do ônibus, um transporte para pobres, não para nós, os esclarecidos. Sofremos mais com o reajuste da mensalidade escolar que com a necessidade de garantir o básico direito à educação gratuita. Gastamos 15 dias de trabalho ao ano para criticar o aumento dos planos de saúde, mas vamos uma vez por década a um hospital público ver como andam as longas filas e os maus tratos.
Em suma, não perdemos a capacidade de indignação, motor básico do jornalismo, mas nos indignamos com as coisas erradas: somos tão chiliquentos e histéricos quanto Madureira. Se pecamos pelo conteúdo, tampouco primamos pela forma. Tal como os representantes típicos da classe média, achamos que sentados no sofá, reclamando, mudaremos as situações ruins, desconhecendo que é mais fácil, mais inteligente e mais honesto com os leitores que apreendamos a realidade das ruas.

João Peres é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

Para interpretar

Caco Bressane, 25 anos, arquiteto e ilustrador paulistano, mestrando em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Para Julian Assange, Guantánamo é "monstruosidade"

Por Natalia Viana. Matéria publicada pela agência Pública - livre reprodução desde que citada a fonte (cc)


"Os Arquivos de Guantánamo, que o WikiLeaks começou a publicar, jogam luz sobre essa monstruosidade da era Bush que a administração Obama decidiu continuar", afirmou Julian Assange com exclusividade para a Pública nesta segunda-feira.
A declaração de Assange resume a importância do vazamento mais recente da organização, que começou a ser publicado ontem à noite. São milhares de fichas de prisioneiros ou ex-prisioneiros de Guantánamo, em Cuba, e outros documentos relacionados, emitidos pela JFT-GTM (Força-Tarefa de Guantánamo) e enviados na forma de memorandos ao US Southern Command (Comando Sul dos Estados Unidos).
As fichas relatam o estado de saúde dos atuais presos, refazem a teia investigativa que os levou à prisão que, vistos com atenção, revelam que boa parte dos acusados foram incriminados com base em depoimentos de outros presos obtidos sob tortura dentro e for a de Guantánamo – nas prisões secretas da CIA – e o mercado de recompensas promovido pelos Estados Unidos que levou à detenção de homens e meninos inocentes por acusações formuladas por aliados interessados em prêmios em dinheiro.
Também revelam como são feitos os “pareceres”, que recomendam a permanência ou não dos presos em Guantánamo, não apenas pela força-tarefa mas também pelos responsáveis pela investigação criminal e psicólogos encarregados de avaliar a maneira que devem ser utilizadas as informações obtidas em outros interrogatórios.
"A publicação dessas informações é importante para o público, para os prisioneiros e ex-prisioneiros, e para os juízes que se ocupam desses casos. Muitos estão presos há anos sem acusação formal e com base em testemunhos falsos", disse Assange.
"Esta na hora de reacender o discurso Publico sobre a prisao de Guantanamo, na esperanca que finalmente se possa fazer alguma coisa para trazer justica para esse estabelecimento", afirmou o fundador do WikiLeaks, que qualificou Guantánamo de “estabelecimento de ‘lavagem’ de pessoas”.
A comparação com a lavagem de dinheiro, em que bancos internacionais “escondem” recursos suspeitos, é empregada por Assange pelo fato de Guantánamo esconder da sociedade a verdadeira história dessas prisões para justificar a política criminosa do governo e os recursos ilícitos empregados para prendê-los.

Publicação
Na conversa com a Pública, Assange fez questão de destacar que os veículos parceiros nesse lançamento são o Washington Post, dos EUA, o El Pais, da Espanha, o Telegraph, do Reino Unido, a revista Der Spiegel , da Alemanha, o francês Le Monde, da Franca, o Aftonbladet, da Suecia e o italiano La Repubblica.
Isso por que, apesar de não estarem entre os parceiros oficiais, os jornais New York Times, dos Estados Unidos, e Guardian, do Reino Unido, publicaram ontem reportagens baseadas nos mesmos documentos secretos, entregues por uma outra fonte, que preferiu permanecer anônima. Segundo a Pública apurou, por causa disso, o vazamento foi adiantado porque os dois jornais pretendiam "furar" o WikiLeaks.
É o capítulo mais recente da novela que envolve o WikiLeaks e esses dois jornais.
No início do ano passado, o Guardian contratou uma jornalista inglesa que obteve os documentos relativos às embaixadas americanas de um colaborador do WikiLeaks. Naquele momento, o jornal desistiu de publicá-los antes da organização, porque Assange ameaçou processá-lo com base em um contrato assinado pelas duas partes. Depois disso, Julian rompeu com o Guardian, que publicou um livro sobre o Wikileaks considerado tendencioso desfavorável pelo fundador da organização. Assange também se irritou com a publicação do processo contra ele movido na Suécia, que traz detalhes sobre as relações que manteve com as mulheres que o acusam de delitos sexuais. "Transparência é para governos e não para pessoas", disse ele na época.
Também com o New York Times, as relações tem sido conturbadas. Em janeiro, o editor Bill Keller escreveu um artigo em que chamava Julian de "arrogante, cabeça-dura, conspiracional e estranhamento crédulo", alem de dizer que ele "cheirava mal". Não foi o primeiro problema: depois da publicação dos documentos das embaixadas americanas, Keller passou a chamar Assange e o WikiLeaks de "fonte" em vez de uma organizacao jornalística. A diferenciação tem consequências legais, pois os jornalistas são protegidos pela quarta emenda constitucional americana.
No início de abril, durante um congresso de jornalismo na Universidade de Berkeley, na California, Keller e Assange – este por skype já que está sob prisão domiciliar, participaram de um debate em que o fundador do WikiLeaks acusou o jornal de trabalhar a favor do governo americano. "O papel da imprensa é obrigar as organizações poderosas a prestar contas, e não encobrir seus erros", disse.
Keller continuou chamando o WikiLeaks de “fonte” durante todo o debate. Mas brincou: "A grande vinganca de Julian e que eu terei que passar anos da minha vida participando de debates sobre o WikiLeaks".

A Pública é a primeira agência de jornalismo investigativa do Brasil, dedicada a reportagens de interesse público. Todos os textos publicados no site são de livre reprodução, desde que citada a fonte. Apublica.org

Lobão estreia turnê Elétrico: concorra a dois pares de ingresso pelo NR

Com canções inéditas, livro que já se tornou Best Seller e um box que faz um balanço de sua carreira, Lobão celebra a nova turnê que estreia dia 11 de maio, às 21h, no teatro Bradesco em São Paulo, SP

Veja como participar:
- O sorteio, novamente, será pelo sistema sortei.me;

- Para participar é necessário seguir o Nota de Rodapé no Twitter (twitter.com/notaderodape), e “curtir” nossa página no Facebook (facebook.com/notaderodape).

- Publique a seguinte mensagem no seu perfil do Twitter:

#Promoção. Ganhe um par de igressos para o novo show do Lobão. http://kingo.to/zwW

- Perfis criados exclusivamente para concorrer em promoções não serão considerados;

- O sorteio será realizado no dia 9 de maio (segunda-feira) e divulgado aqui no blog no mesmo dia;

-  A promoção é válida em todo o território nacional, mas qualquer custo de transporte, alimentação, hospedagem e afins é de inteira responsabilidade do premiado. O NR disponibiliza unicamente os ingressos.

- O(a) ganhador(a) deverá mandar os dados para envio em até 8h após a divulgação do resultado. Caso o(a) ganhador(a) não entre em contato nesse prazo, novo sorteio será realizado;

- Ao tuitar a mensagem o internauta já estará participando da promoção e terá, automaticamente, aceitado os termos acima.

SOBRE A TURNÊ
“Entre 2007 e 2009. Foram dois anos viajando pelo Brasil com a turnê Acústico MTV, até que, as apresentações foram se encaminhando naturalmente para aquilo que é básico, mas essencial na carreira de um músico do rock’n’roll, ou seja, o bom e velho formato baixo, bateria, guitarra e voz. Nada mais elétrico, depois de tantos meses no formato acústico.
Com shows aleatórios – como grandes ensaios abertos - sem qualquer tipo de pretensão, essas apresentações foram nomeadas de “formato elétrico”, apenas como uma forma de identificar a fase de transição que viria apresentar o que hoje é – de fato – uma turnê que se iniciou em 2011 cheia de frutos colhidos ao longo dos anos de uma carreira musical turbulenta, apaixonada e muito singular!
Lobão volta agora com esses frutos colhidos, certo de que é momento para dividir com seu público, solo fértil de pessoas, que assim como Lobão buscam sempre a música para expandir o seu modo de viver.
Ele escolheu o palco do Teatro Bradesco, que abriga os mais modernos mecanismos cênicos já instalados em um teatro brasileiro e possui um modelo acústico computacional High Tech para apresentar a turnê batizada ocasionalmente, apenas para notificar que o formato acústico havia terminado, não poderia ser melhor: Elétrico 2011. O local possui capacidade para 1.457 privilegiados espectadores, o que faz dele um dos maiores do País, além disso, garante ao público as facilidades de uma infraestrutura moderna e 3.010 vagas de estacionamento coberto.”

GANHADORES:

@HelianeMiscali (
Não poderá!)
@jHoN_KinneY(Não poderá!).

Novos sorteados.

@vivianeclaudino
(Confirmado!)
@govindanandini (Confirmado!)

A política de redução de danos a usuários de drogas no Brasil

Em março fiz um pequeno comentário sobre ver usuários de crack na porta da minha casa. À época estávamos produzindo na Retrato do Brasil uma reportagem, do amigo Tomás Chiaverini, sobre o trabalho dos Redutores de Danos no Brasil. Um trabalho fundamental que é praticado desde a década de 80 e que, além de pouco conhecido, carrega uma enorme carga de preconceitos. A prática está oficialmente presente em 84 países ao redor do mundo, segundo a International Harm Reduction Association (IHRA). O conceito é o seguinte: "se há pessoas que usam drogas, ainda que ilícitas, e que não conseguem abandonar o vício, deve-se trabalhar para que os danos sejam minimizados. O exemplo mais conhecido é a distribuição de seringas ou agulhas a usuários de drogas injetáveis, a fim de impedir a disseminação de doenças, principalmente Aids."
Pois bem, no início, o trabalho dos redutores brasileiros era voltado aos dependentes de cocaína injetável mas o foco mudou com a chegada do crack. E Chiaverini nos conta essa história na reportagem que disponibilizo na íntegra em PDF. Ele foi a cracolândia, entrevistou especialistas, governantes e nos conta em que pé está a atuação dos redutores.

Doc. tenta desvendar o DNA latino

Chico e Eric, a 1º das entrevistas

O que une o Brasil aos demais países latino-americanos? Na tentativa de responder a essa e outras perguntas, o jornalista e escritor Eric Nepomuceno sai pelo continente a entrevistar velhos amigos - como
Eduardo Galeano, Antonio Skármeta, Ruy Guerra, Milton Nascimento e Paulo José - e artistas da nova geração, tal qual o músico Kevin Johansen e o cineasta Pablo Stoll.
O resultado dessa empreitada é o documentário Sangue Latino, que a Cultura começa a exibir hoje (25), às 20h45min. A série de 18 entrevistas com duração de 30 minutos cada, já foi exibida no Canal Brasil, no ano passado, e agora chega à tv aberta.
O primeiro encontro de Nepomuceno é com Chico Buarque, que fala com amor e humor sobre suas crenças, frustrações e sua visão da América Latina.
A utopia, o sonho de uma revolução (e a frustração por não tê-la alcançado), a luta contras as ditaduras, as saudades e o futuro do continente são alguns dos temas recorrentes nas conversas de Nepomuceno com seus entrevistados.
O cuidado na escolha dos personagens a serem escutados se estende à filmagem – feita em preto e branco - e à trilha sonora do documentário. Imperdível para quem quer entender um pouco mais do pedaço de mundo em que estamos. Fica a dica.

Ricardo Viel, jornalista

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Feriado em linha reta

Cristo e Tiradentes. Crucificação e forca. O calendário brasileiro permite esse encontro que, na pior das hipóteses, junta ideais de fé e liberdade. O que eu não sei é se os brasileiros entendem o verdadeiro significado desses dois ideais.
Na verdade, é o feriadão. O feriadão de um milhão de carros para as praias e outro milhão para o interior. Muito bacalhau e pouca fé. Muita arrogância, impunidade e pouca liberdade. Aquela liberdade que interessa, pelo menos. Não aquela que os publicitários, esse mundo à parte, cheio de glamour e mentiras, cunhou como sendo a liberdade de poder usar uma calça jeans. Só mesmo na cabeça de um idiota.
Enquanto o povão que batalha de sol a sol merece o descanso e os supermercados e pedágios se locupletam um pouco mais, o mundo gira e a Lusitana roda.
Cristo e Tiradentes. Tiradentes e Cristo. Dois ícones. Duas imagens de homens magros, de olhar sereno e barbas e cabelos compridos. Como nos anos 60 para quem viveu a guerrilha e o ‘paz e amor’. Dois homens que não foram vis. Para os que vão viajar e os que vão ficar em suas cidades curtindo o feriadão, um pouco da poesia do grande Fernando Pessoa (Álvaro de Campos):

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”.

UM BOM FERIADO A TODOS!

Izaías Almada é dramaturgo e escritor, colunista do NR e do Escrivinhador

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A culpa é do gandula de 1950

O “se” não joga, costumam dizer os entendidos em futebol nas mesas redondas de domingo. Pode até ser verdade, mas para mim é impossível não pensar nas possibilidades que, a todo momento, são descartadas no jogo da vida quando tomamos uma decisão.
Escolhi ir trabalhar de carro e não de ônibus, e todas as circunstâncias que acarretaria minha viagem coletiva passam a não existir. Posso ter evitado ser vítima de um assaltado ou de um atropelamento na rua; ou eu não teria batido o carro, e o pobre sujeito em quem bati não teria perdido o avião (e talvez um negócio ou um encontro).
O que mais me fascina quando começo a pensar nisso é que muitas vezes as decisões que alteram nossas vidas não estão em nossas mãos. Exemplifico:
Pedro e Ana são meus amigos. Eles se conheceram na faculdade, se apaixonaram, se casaram e Maria está a caminho. Simples, né? Não. Se o pai de Pedro não tivesse sido mandado embora do emprego e decidido mudar de cidade (há 30 anos), aquela história de amor jamais existiria. E se o pai de Ana não tivesse esquecido o RG no dia do concurso público, ele teria passado (porque estudou muito) e toda a família ido embora da capital. Mais uma vez, o encontro de Ana e Pedro – e o consequente nascimento de Maria – seriam apenas mais uma daquelas infinitas possibilidades que nunca se concretizaram. Tem mais.
Pedro só entrou na faculdade na segunda chamada. Se duas pessoas não tivessem desistido, ele teria feito mais um ano de cursinho. Talvez tivesse conhecido a Flávia e agora quem estaria a caminho seria o Lucas. A Ana só escolheu fazer medicina por imposição do pai. O negócio dela é arte, queria ter feito arquitetura. Se ela tivesse enfrentado a família, a Maria não estaria hoje chutando sua barriga. Talvez ela tivesse hoje casada com o sujeito em quem eu bati o carro (arquiteto Jorge Rabelo, diz o cartão dele).
Viram a complexidade da coisa?
Caros leitores, não quero deixa-los preocupados, mas nosso destino é um mero acaso. Um segundo a mais ou um a menos e tudo seria diferente, inclusive este texto.
Se o gandula da final da Copa de 1950 tivesse retardado um pouco mais (ou acelerado) a reposição da bola, aquela redonda de couro não teria chegado aos pés de Ghiggia daquela maneira. Ele não teria acertado aquele chute rente à trave do pobre Barbosa e o Brasil seria campeão mundial em cima do Uruguai (imagina a festa que não seria neste país). Consequentemente, meu avô não teria brigado no bar naquela noite, levado uma garrafada na cabeça e nunca teria conhecido minha avó, enfermeira que o atendeu no hospital. Provavelmente ele teria se casado com a avó da Ana (a futura mãe da Maria), que sempre ficava olhando para ele no portão (e era correspondida, segundo consta). Se assim fosse, minha mãe não teria nascido, eu não existiria e, por consequência, este texto nunca teria sido escrito.
Agora, imagina o que o ato desse desconhecido gandula não gerou lá no Uruguai? Talvez um funcionário dos Correios metido a escritor esteja agora rascunhando um texto que conta como seus avós se conheceram nos festejos do título Mundial de 1950, em Montevidéu. Deve estar louvando os pés de Ghiggia, sem saber que o responsável pelo Maracanazo e pelo consequente casamento dos seus avós (e dos meus também) é um anônimo apanhador de bolas.

Henrique de Melo Sabines, mineiro, 30 anos, trabalha na ECT e se dedica à astronomia nos fins de semana. Fã de Drummond, começou a escrever por recomendações médicas. É um dos autores do espaço Cronetas no NR.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Uma capa do Página 12

Uma capa do suplemento Radar do Página 12 argentino, ao lado, o qual não sei precisar a data, é de uma criatividade tremenda ao tratar da polêmica dos Skinheads. Jornalismo visual dos bons.
Diante de tantas manifestações racistas que inundam o Brasil há tempos - e agora na internet com uma voracidade cada vez maior - esse debate tão necessário sobre a homofobia, racismo e todos os tipos de preconceitos precisa aparecer mais na imprensa brasileira. Seja com reportagens, análises e campanhas. E não só quando existe algum "gancho" como agressões filmadas ou no recente episódio pró-Bolsonaro na Av. Paulista que colocou o tema na ordem do dia por algum tempo. Lá no Congresso, é sabido, está parado há anos uma lei que torna homofobia crime. O mesmo Congresso que "desfruta" da presença do deputado Bolsonaro. Espero que a lei seja aprovada um dia, mas até lá, quantos ainda morrerão em vão?

Thiago Domenici, jornalista

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Festival de Curitiba, "Pai"

Em tempos de Comissão da Verdade e de manifestações sombrias de pequenos bolsões militares ou saudosistas como Bolsonaro, o teatro, como sempre, pode ajudar a dramatizar a compreensão de nossa história passada. Minha peça PAI, sobre ossadas de presos políticos encontradas em Perus é uma modesta contribuição ao tema e uma homenagem aos que desapareceram. Saiba mais.
Izaías Almada
, dramaturgo e escritor, colunista do NR.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Você pode ganhar um Samsung Tablet Galaxy do NR e da Telemadrid

Em mais uma parceria NR e Telemadrid, nossos leitores terão a chance de ganhar um brinquedinho dos mais tecnológicos, o Samsung Tablet Galaxy. Para muitos especialistas e usuários, melhor que o Ipad da Apple. Preferências a parte, é mais um produto voltado ao público que gosta de tecnologia e telecomunicações.







VENCEDOR(A):
Já temos a vencedora do Samsung Tablet Galaxy! Parabéns a @luana_1985 de Vitória - ES.

 Veja como participar:

- O sorteio, novamente, será pelo sistema sortei.me;

- Para participar é necessário seguir o Nota de Rodapé no Twitter (twitter.com/notaderodape), e “curtir” nossa página no Facebook (facebook.com/notaderodape).

- Publique a seguinte mensagem no seu perfil do Twitter:

#Promoção. Concorra a um Samsung Tablet Galaxy do @notaderodape e Telemadrid. http://kingo.to/yeX

- Perfis criados exclusivamente para concorrer em promoções não serão considerados;

- O sorteio será realizado no dia 12 de junho (domingo) e divulgado aqui no blog no mesmo dia;

- O(a) ganhador(a) deverá mandar os dados para envio em até 48 horas após a divulgação do resultado. Caso o(a) ganhador(a) não entre em contato nesse prazo, novo sorteio será realizado;

- Ao tuitar a mensagem o internauta já estará participando da promoção e terá, automaticamente, aceitado os termos acima.

IMPORTANTE:
A ideia de nossas promoções é agregar mais leitores ao conteúdo do Nota de Rodapé. Nosso espaço é de jornalismo e arte e não só de promoções. Então, aos marinheiros de primeira visita, além de concorrer na promoção, leiam o blog! Se gostarem, indiquem, comentem, espalhem aos amigos. Críticas também são bem-vindas.Boa sorte! 

SOBRE O SAMSUNG TABLET
O aparelho é o primeiro tablet Android do mercado brasileiro, que alia as facilidades de um netbook às de um celular, além de acesso a diversos aplicativos e sistema operacional Android. Compatível com tecnologia 3G e conexão Wi-Fi, o tablet permite o uso de serviço de voz e acesso à web, além de TV digital e analógica. O Galaxy TAB possui tamanho ideal para o dia a dia, tela de 7 polegadas multitouch, câmera de 3 MegaPixels para fotos e vídeos, e câmera de 1.3 MegaPixels para a realização de videoconferência. Ele conta ainda com acelerômetro, funcionalidade swype para textos, 16GB de memória com entrada para cartão de até 32GB e processador de 1.2GHz. Design fino e leve de fácil manuseio tem as dimensões similares a um livro ou agenda. Saiba mais.



Serviços e Aplicações:
- Samsung Social Hub;
- Leitor e Editor de Office Thinkfree;
- Aplicação Layar com pontos de interesse da Teleatlas (via GPS);
- Digitação Inteligente Swype;
- E-book Reader;
- Loja de Aplicativos Android Market;
- Samsung Apps;
- Roteador WiFi;
- Vídeo conferência e All Share.

Conheca a parceira do NR:

CQC e Bolsonaro: cúmplices

Diante da pergunta de Preta Gil a resposta de Bolsonaro
criou uma polêmica nacional. Ele foi racista e preconceituoso


Para quem vê o programa CQC, da TV Bandeirantes, como mistura de jornalismo e humorístico, de cara, largo duas perguntas: depois da tremenda barulheira causada pela pseudo-entrevista do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) no dia 28 de março, pode-se dizer que aquilo é jornalismo? E sobre o tal humor? Eu, sinceramente, não consegui rir até agora.
Todos que são razoavelmente informados politicamente sabem das posições ultra-reacionárias do parlamentar em questão. Jair Bolsonaro foi capitão do exército e confessa ter saudade da ditadura militar. É preconceituoso ao extremo. Por exemplo, manifesta-se, sempre virulento, contra a união civil entre casais homossexuais, o debate sobre homossexualidade na escola e dá sinais óbvios de racismo – não foi só contra Preta Gil que o sujeito destilou o veneno discriminatório de raça, pois muitas vezes já se declarou contra o sistema de cotas, dizendo que jamais permitiria que um médico negro, formado como cotista, colocasse as mãos nele. Sendo assim, o que a brilhante equipe do CQC esperava?
No início do programa, o ex-professor Tibúrcio, Marcelo Tas, já anunciava que viria uma entrevista com “o deputado mais polêmico do Brasil”. No fim da “obra-prima”, dando o tradicional migué, Tas diria, com cara de “susto”: “Prefiro acreditar que o Bolsonaro não entendeu a pergunta”, referindo-se a resposta dada a Preta Gil. Contudo, no dia seguinte, em entrevista ao Terra Magazine, o líder do CQC observou o seguinte: “Entendi que Bolsonaro fez duas coisas que faz com recorrência: declarou seu profundo apoio à ditadura militar e manifestou dois preconceitos, contra os negros e contra os gays”. Então, cadê a surpresa, meu caro? Onde está o jornalismo? Ou mesmo o humor, a tal ironia que joga luzes a temas relevantes, porém com leveza?
De leveza não houve nada. A situação foi pesada. Clima ruim. Foram traídos todos os princípios do bom jornalismo e, se havia intenção de fazer piada, pouca gente riu – talvez só os que lucraram com o ibope gerado em torno da polêmica que, de fato, foi urdida minuciosamente. Senão, porque escolher Preta Gil para fazer a pergunta final? Se o objetivo era provocar debate, “jogar luz” nas discussões, por que não levar ativistas homossexuais e negros para responder com fundamento as imbecilidades proferidas pelo “entrevistado”?
Simples. O intuito era “jogar luz” numa coisa apenas: audiência. Ainda que ela fosse trazida das palavras de um cretino que praticou crimes – morais e éticos – de racismo e preconceito, em rede de projeção nacional. E o CQC deu palco a isso. Foi palanque de um discurso torpe, disseminador do preconceito racial e da homofobia, pois não esqueçamos que mais de 120 mil brasileiros elegeram Bolsonaro ao atual mandato e que figuras assemelhadas transitam pelo Congresso Nacional e outras casas legislativas Brasil afora.
E, se o deputado praticou ato criminoso, o CQC e a Bandeirantes também o fizeram? Tas já andou dizendo que as críticas feitas ao programa por movimentos e ativistas são tão preconceituosas quanto às palavras do parlamentar. Tergiversação, senhor ex-professor Tibúrcio. Não desvie o foco. Os protestos não têm base no preconceito, mas nos crimes que o programa e a emissora ajudaram a cometer.
Com a precipitada trama, o CQC não traiu só os princípios do bom jornalismo. Traiu a Constituição Federal no que tange ao Capitulo V, sobre Comunicação Social. Estimulou sentimentos de dissensão na sociedade brasileira ao abordar tais temas a partir dos grunhidos de uma pessoa desqualificada, fornecendo-lhe uma concessão pública como espaço para propagá-los. Não houve debate algum. Somente gritaria rasteira.

Moriti Neto
é jornalista e colunista do Nota de Rodapé.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Tragédia desfocada

Terremoto, tsunami e acidente nuclear no Japão tiveram cobertura míope na imprensa brasileira

A crise nuclear dos reatores em Fukushima registrou cinco mortes, nenhuma delas relacionadas à radiação, mas em quedas e afogamento pelo tsunami na área das usinas. Mas essa contagem ofuscou a pavorosa tragédia de dezenas de milhares de mortos, cidades milenares varridas do mapa e o drama de uma população idosa. A face humana do desastre logo cedeu lugar na imprensa a uma burocrática contagem de corpos, enquanto numa perversa assimetria noticiosa rotineira do reator em Fukushima ganhava a cada dia detalhes mais confusos.
Complexo de Fukushima, onde estão os reatores nucleares
atingidos pela tsunami que veio logo após o terremoto
A grande imprensa brasileira alicerçou sua cobertura na chamada hardnews, a notícia bruta sem maiores análises, despachada automaticamente pelas agências de notícias e artigos factuais traduzidos. E, claro, afogada no imediatismo da cobertura das televisões, com primado da imagem de consumo sensacionalista. Que uma repórter de TV pergunte a uma estropiada idosa japonesa carregando sacolas o que ele estava achando do evento seria trágico se não fosse prática comum na imprensa brasileira.
Algumas distorções com impacto no Brasil foram flagrantes. Começando pelo lugar comum repetido à exaustão em toda imprensa nacional, sobre um suposto traço estóico de uma suposta cultura milenar japonesa, algo que até estaria no DNA desses orientais. A imprensa brasileira deu enorme destaque à ausência de saques e desordens que costumam suceder as tragédias em todo mundo. Em vários jornais e especialmente na TV, os repórteres se espantavam com entrevistados japoneses que não entendiam a pergunta sobre porque não havia saques e pânico nas regiões atingidas. Claro, existe a possibilidade não remota da precariedade do inglês dos entrevistados e entrevistadores ser a razão dos japoneses não entenderem a questão. E, claro, a falta de experiência dos correspondentes convertidos às pressas em especialistas míopes.
Isso não aconteceu, por exemplo, com o veterano correspondente da revista americana NewYorker, Evan Osnos, para quem o estoicismo e ordem comunal não é bem um traço de caráter milenar na cultura japonesa. Nenhum jornal, revista ou TV brasileira tem repórteres experientes fixos em países além dos EUA, França e Inglaterra. O resto é coberto por jornalistas itinerantes sem familiaridades com os países em emergências.
O veterano repórter da NewYorker também notou a quase completa falta de saques (que eventualmente aconteceram, em escala isolada), de pânico ou exploração política das oposições. Com exceção do prefeito de Tóquio, Shintaro Ishihara, um nacionalista direitista, que atribuiu o desastre a um tembatsu, a punição divina. No dia seguinte ele pediu desculpas públicas pela impulsiva gafe.
Quanto ao suposto traço cultural milenar, o repórter, com vasta experiência e conhecimento da história local, esclareceu: “Até o atual desastre, o mais devastador terremoto tinha sido em setembro de 1923, que atingiu os 7,9 graus na escala Richter, demorou quase cinco minutos, devastando a capital Tóquio e a cidade portuária de Yohohama, matando 140 mil pessoas”.
O mais feio estava por vir, escreve Osnos. “Rumores e boatos de imigrantes coreanos estavam provocando incêndios e envenenando as fontes públicas de água incendiaram hordas, incluindo policiais, que lincharam milhares de inocentes, um massacre que é fonte de vergonha nacional japonesa até hoje”.
Em vez dos brasileiros se humilharem, como induzia a cobertura dos repórteres espantados, a lição certa é de que o processo civilizatório é lento, e muitas vezes penoso.
Mas desde 1923, além dos programas de prevenção e normas rígidas de construções, a cultura japonesa progrediu em civilidade. Descontando, é claro, a exacerbação do militarismo que levou à segunda guerra mundial. O trauma desse desastre levou o Japão a assumir uma postura militarista rígida, com crescimento desenfreado das forças armadas. Além de atacarem os EUA em Pearl Harbor, as forças colonialistas do Japão cometeram toda sorte de barbaridades na China e na Coréia, que até hoje envergonham o império do Sol Nascente. Depois da derrota militar na Segunda Guerra, sim, a cultura nacional humilhada pela derrota assumiu formas mais civilizadas que vemos agora.
Depois do desastre no mês passado nos mais de 300 abalos menores que se seguiram nenhuma casa adicional veio ao chão. Nesse sentido, a cobertura precária da imprensa brasileira foi deseducativa. Em vez da mensagem subliminar de “a gente somos inútel”, deveria ser de mirarmos nos padrões civilizados dos japoneses, acreditando que o processo civilizatório é dinâmico e que um dia podemos também chegar lá.

Flávio de Carvalho Serpa é jornalista, especial para o NR

Da glória à palhaçada

Um menino encantou o mundo do futebol quando, entre os 17 e 18 anos de idade ajudou o Brasil a conquistar o seu primeiro campeonato mundial na Suécia em 1958. Edson Arantes do Nascimento, o até então desconhecido Pelé, partia para sua fulgurante carreira, sendo até hoje considerado o rei do futebol, mesmo tendo ao seu lado grandes nomes como Puskas, Di Stefano, Leônidas da Silva, Garrincha, Maradona.
Conquistou títulos e mais títulos com o seu Santos Futebol Clube e com a Seleção Brasileira e foi ao lado de Garrincha, na minha modesta opinião, um jogador que sabia fazer do futebol uma arte, um espetáculo que ultrapassava as paixões clubísticas e a possibilidade da mesmice dentro das quatro linhas de um estádio.
O mundo mudou e com ele, é claro, o futebol. Aos poucos o “produto” futebol superou o esporte e se transformou numa das maiores máquinas de ganhar dinheiro no mundo. Não demorou muito e o mercenarismo apareceu, bem como a fábrica de jogadores para serem vendidos a preço de ouro. E nesse novo mundo, tudo vale para transformar o craque ou o perna de pau num bom negócio.
O Santos de Pelé também mudou muito e depois de muitos anos ameaçou montar um novo e fantástico time. Apenas ameaçou, pois como se tornou usual nos dias que correm, assim que um novo craque desponta, todos os interesse ao redor dele se manifestam das maneiras mais ambiciosas e mesquinhas. Foi aí que apareceu o também garoto Neymar. Bom jogador, ninguém discute, mas ainda longe daquilo que foi Pelé.
A fama subiu-lhe à cabeça antes da hora e, em menos de dois anos, foi transformado em celebridade e um bom e lucrativo negócio. Com os gols marcados, alguns muito bonitos, ajudou a criar uma coreografia debochada para a comemoração desses gols, desrespeitando o adversário e sua torcida. Depois, a indisciplina contra o seu técnico Dorival Júnior, com o clube dispensando o técnico e passando a mão na cabeça do menino. Por último, a expulsão de campo por comemorar um gol com o uso de uma máscara, prejudicando o Santos numa competição internacional.
Isso resume um pouco a história do futebol brasileiro: da glória de Pelé à palhaçada do Neymar.

Izaías Almada é dramaturgo e escritor, colunista do NR e do Escrevinhador

sexta-feira, 8 de abril de 2011

A tragédia nas capas dos jornais

Diante da tragédia de ontem no RJ a maioria dos jornais diários brasileiros manchetou o episódio nas edições desta sexta-feira. Acontece que diante de tanta informação confusa que saiu poucos são os que conseguem fazer do jornalismo diário uma arte de sensibilidade em vez de sangue, terror e fotos sensacionalistas. Eu cito cinco exemplos, abaixo, do que considerei boas capas, sensatas, com boas chamadas; cada uma com um viés, umas nem tanto pela parte gráfica, mas que valem, pelo menos para mim, como registro importante de bom trabalho. Por exemplo, a capa do Diário de Pernambuco graficamente é simples, mas a chamada é significativa. "12 mortos. 190 milhões de feridos". É a síntese de um sentimento comum, uma tragédia que afetou a todos nós. Já a capa do Jornal de Santa Catarina é delicada: coloca um desenho de uma escola feliz, "como deveria ser". Sem chamar para a tragédia nem nada, usa de um recurso interessante, o quente do fato. Não é preciso dizer muito, só a imagem do desenho resolve sem puxar pelo lado que a maioria foi, o das fotos trágicas. A capa do Pioneiro é igualmente interessante: saiu sem cor, toda em preto e branco, com a chamada. "Um dia sem cor". Usou de criatividade. O Meia Hora do Rio de Janeiro, fomoso pelas capas, às vezes apelativas, desta vez foi muito bem e O Povo também não ficou atrás. Dê uma olhada e tire suas conclusões. (Thiago Domenici, jornalista)

O duplo perfil do Facebook

O jornalista Rodrigo Savazoni escreveu sobre o fenômeno da rede social que revela as tensões entre as potencialidades de livre expressão e organização e os esforços de controle e capitalização das informações que circulam na internet. A matéria foi publicada na edição de março, 44, da Retrato do Brasil, e disponibilizo na íntegra em PDF. Também está na íntegra no blog Trezentos. É uma leitura muito necessária para entender melhor o que se passa além da cortina. O texto de Rodrigo foi construído a partir do diálogo com os professores André Lemos (Universidade Federal da Bahia–UFBA), Gisele Beiguelman (Universidade de São Paulo–USP), Ivana Bentes (Universidade Federal do Rio de Janeiro–UFRJ)e Sérgio Amadeu da Silveira (Universidade Federal do ABC–UFABC).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

México: um morto que vale por 40 mil

Desde que o presidente do México, Felipe Calderón, deu início a uma cruzada contra o narcotráfico no país, em 2006, mais de 35 mil pessoas morreram nessa guerra – há, pelo menos, mais 5 mil desaparecidos. Na semana passada, sete jovens foram torturados e mortos na cidade turística de Cuernavaca (cerca de 90 km da Cidade do México). Poderia ser “apenas” mais uma chacina não fosse o fato de que um dos mortos era Juan Francisco Sicilia Ortega, de 24 anos, filho do poeta e jornalista Javier Sicília.
Há anos o governo distorce e maquia números para tentar convencer a população de que, nessa guerra, só quem está envolvido com os “narcos” perde a vida. A tese, que há muito tempo vem sendo contestada, acaba de receber o golpe final. Desta vez será impossível transformar a vítima em culpado.
Após a morte do filho, Sicilia convocou os mexicanos a protestarem. Pediu para que as ruas fossem ocupadas por um basta à violência. Na quarta-feira (6), o escritor encabeçou uma marcha em Cuernavaca que reuniu mais de 20 mil pessoas. A manifestação se repetiu em outras 22 cidades e já há novos atos programados. Calderón pode ser colocado em xeque por uma morte que vale por 40 mil.
Em uma carta aberta aos políticos e criminosos do país, Sicilia fala em nome de 110 milhões de mexicanos: “Estamos hasta la madre”. A expressão, muito corriqueira no país, significa estar farto. O México já não aguenta mais tanta corrupção, tanta violência, tanta impunidade, diz o escritor. Após atacar os governantes, ele pede aos narcotraficantes um mínimo de dignidade: “Antigamente, vocês tinham código de honra. Não eram tão cruéis em seus ajustes de conta e não encostavam nos cidadãos e nem em suas famílias. Agora, já não distinguem. Perderam, até, a dignidade para matar.”
Quando recebeu a notícia do assassinato, o escritor estava nas Filipinas. No avião de regresso, escreveu um poema, que leu publicamente na praça da cidade onde mataram o filho. Depois, anunciou que aquele havia sido seu último poema. “Não posso escrever mais poesia. A poesia já não existe mais em mim”.

El mundo ya no es digno de la palabra
Nos la ahogaron adentro
Como te asfixiaron
Como te desgarraron a ti los pulmones
Y el dolor no se me aparta
Sólo queda un mundo
Por el silencio de los justos
Sólo por tu silencio y por mi silencio, Juanelo.

Eu estive no México por um mês no começo do ano. Vi um país militarizado, assustado e uma população que se sente refém de uma violência que parece não ter fim nem razão. A sensação que tive ao tentar me informar sobre os acontecimentos é que já é impossível distinguir quem está matando quem e por quê. Por sorte, ainda há o sentimento de indignação.

Ricardo Viel é jornalista, colunista do Nota de Rodapé

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Catadão destaca "É tudo mentira"

EM CIMA DA HORA
É tudo mentira: cena "escorpião de jade", de woody
allen que será exibido dia 9, sábado, às 17h.
Para quem gosta de documentários, já está rolando a 16ª edição do festival “É Tudo Verdade”. Vai até o dia 10 de abril (domingo) em São Paulo e no Rio de Janeiro. A entrada é gratuita. Confira a programação no site do festival. E, paralelamente, tem o festival “É Tudo Mentira”, com ingressos que custam R$1,00 (um real mesmo), na Galeria Olido - na av. São João, 473, República. Só até o dia 11 de abril, segunda-feira próxima. O evento “procura abordar a enganação, o disfarce e a trapaça por meio de um diálogo entre cinema, literatura e música.” Saiba mais aqui. E a programação tem aqui.

PORTUGUÊS DE PORTUGAL
Livros Labcom é um projeto editorial que disponibiliza em PDF todos os livros publicados pelo Laboratório de Comunicação On-line, LabCom http://www.labcom.ubi.pt/ - um espaço ligado ao Departamento de Comunicação e Artes da Universidade Beira Interior (Portugal). Mas o projeto não esquece das pessoas que gostam de livros que possam ser segurados e sentidos nas mãos, você pode fazer o pedido de uma versão impressa de algum livro que queira. Como o site é de Portugal, não sei exatamente como funciona pedidos de outros países, mas quem tiver interesse, não custa tentar.

MUITO JAZZ
AccuJazz.com - A maior rádio de jazz online disponibiliza mais de 400 canais, com mais de 20 mil músicas gratuitamente. O conteúdo é atualizado com frequência, então, a tendência é esse número continuar crescendo. Já testei e garanto: vale muito a pena conhecer! http://www.accujazz.com/

PUBLICIDADE INDEVIDA

Começou a rolar uma história no Facebook que parecia suspeita. A mensagem que vi divulgada em alguns perfis de amigos meus era: "O Facebook começou a usar suas fotografias em anúncios que aparecerão na pagina dos seus contatos. É legal e é mencionado no contrato de uso. Para evitar vá em conta, configurações de conta, clique em anúncios do facebook (alto da página) e escolha a opção "ninguém" nos dois menus que aparecem e salve." Resolvi testar, já que não tinha que clicar em nenhum link suspeito. Essa opção de configuração existe mesmo. Então, por segurança, sugiro que os usuários de Facebook que ajustem suas configurações, porque ser usado(a) em anúncios assim, sem saber, sem querer nem nada é meio absurdo, né!?

CONTRA O MACHISMO
O governo do Equador faz uma campanha bem interessante contra o machismo. Vale muito a pena ver os vídeos abaixo, que passam na TV de lá e torcer para algum dia termos alguma coisa parecida por aqui.



Natalia Mendes é jornalista e colunista do NR. Para dicas e sugestões, muito necessárias, contato@notaderodape.com.br ou via twitter @notaderodape.

Música, nova promoção NR e MCD

Nota de Rodapé e a gravadora MCD vão sortear os lançamentos Brazilian Café e Yoga.


Serão três cds de cada título sorteados no dia 1 de maio. O albúm Brazilian Café reuné uma seleção animada de samba, bossa nova e jazz brasileiro. Já o Yoga é uma relaxante coleção de músicas para meditação.

Como participar via Twitter:
- O sorteio será pelo sistema sortei.me;

- Para participar é necessário seguir o Nota de Rodapé no Twitter (twitter.com/notaderodape), e “curtir” nossa página no Facebook (facebook.com/notaderodape).

- Publique a seguinte mensagem no seu perfil do Twitter:

#Promoção. Quero ganhar do @notaderodape e da @gravadoramcd a Coleção Putumayo Word Music. http://kingo.to/xP8

Serão sorteados 2 kits (Brazilian Café e Yoga).

Como participar diretamente no Blog:
Participam os leitores cadastrados no “Boletim Rodapé”.
 Será sorteado 1 kit (Brazilian Café e Yoga).

Regras gerais:
- Perfis criados exclusivamente para concorrer em promoções não serão considerados;

- O sorteio será realizado no dia 1 de maio (domingo) e divulgado aqui no blog no mesmo dia;

- O(a) ganhador(a) deverá mandar os dados para envio em até 48 horas após a divulgação do resultado. Caso o(a) ganhador(a) não entre em contato nesse prazo, novo sorteio será realizado;

- Ao tuitar a mensagem o internauta já estará participando da promoção e terá, automaticamente, aceitado os termos acima.


VENCEDORES
Blog:
ninodpaula@hotmail.com

terça-feira, 5 de abril de 2011

Retrato do Brasil de Abril

A Retrado do Brasil, nº 45, de abril, já está disponível. No ponto de vista, "AS NOVIDADES DA ORDEM GLOBAL: As profundas transformações que estão em curso no mundo real necessitam de muito mais que o “mundo virtual” para serem apreendidas." Disponível na íntegra, AQUI.
E mais: inúmeros interesses travam a discussão sobre a regulação da mídia. E o governo Dilma parece não ter pressa na questão, por João Peres. Rafael Hernandes escreve sobre o trem-bala que gera muitas dúvidas e uma certeza: se o negócio fracassar, quem pagará a conta será o Estado. Na matéria de capa a Líbia: os países imperialistas têm grande parte da responsabilidade pela onda de revoltas que abala o Oriente Médio.
Rafael Tsavkko Garcia fala do nascimento de um novo país, o Sudão do Sul. Na segunda parte da reportagem sobre o transporte de São Paulo, Tânia Caliari e Simone Freire, chamam a atenção para as parcerias público-privadas e o aumento de tarifas.
Lia Imanishi vai até a Região Serrana que viveu tragédia recente e constata que o alto risco de ocupar a área já era conhecido. O que fazer com a população que vive lá? Flávio de Carvalho Serpa em dose tripla: no primeiro texto, de Gutenberg ao Facebook, analise porque as revoltas e mudanças sociais são precipitadas por mídias contagiosas apenas quando há condições políticas favoráveis. O segundo texto, Do xadrez ao besteirol, ele conta da utilidade do computador Watson, da IBM, que irá muito além dos jogos de perguntas e respostas da televisão americana. E fecha com o texto, O salto do mundo conectado, onde trata da chamada “reurbanização inteligente”, que depende da nova demanda por endereços de internet, os IPs, agora na sexta geração. Em cultura: teatro, resenha e música. Leandro Saraiva faz uma critica do novo espetáculo da Cia. do Latão, que traça um amplo painel crítico sobre a história da produção artística nacional. Ricardo Viel fala dos 20 anos sem a candura de Gonzaguinha. E Tadeu Breda resenha o livro do fotógrafo Robert Capa, no livro Ligeiramente fora de foco. Boa leitura!

Promoção Retrato do Brasil e NR:
Via Twitter, iremos sortear 5 exemplares da revista, no domingo, dia 10 de abril, domingo. Basta seguir e retuitar:
#Promoção.Quero ganhar um exemplar da revista Retrato do Brasil de abril: http://kingo.to/xHO

Sorteio realizado em 12 de abril.
Os ganhadores do exemplar são:
@dilsoncassaro
@leleavai
@lyttamayara
@LucianaFM25
@Jettro7
Por favor, mande o endereço completo para contato@notaderodape.com.br
Obrigado, Parabéns!
Thiago Domenici

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bullying, problema social

Informação da Folha de S.Paulo (em 1 de abril) dava conta de que no Rio de Janeiro, a justiça condenou um colégio a indenizar em 35 mil reais uma ex-aluna por bullying. Os pais da menina, “Ellen Bionconi e Rubens Affonso entraram com ação contra a escola afirmando que, desde 2003 sua filha sofria agressões físicas e verbais por parte de colegas da escola. Na época, segundo os pais, a menina de 7 anos chegou a ser espetada na cabeça por um lápis, ser xingada, arrastada e arranhada, além de levar socos, chutes e gritos no ouvido. Em virtude do bullying, a criança ficou com medo de ir à escola, passou a ter insônia, terror noturno e sintomas como enxaqueca e dores abdominais, tendo que tomar antidepressivos e mudar de escola”, diz a notícia.
Reportagem de Juliana Sassi
com ilustração de Caco Bressane
Em março a Retrato do Brasil publicou uma reportagem sobre o tema, no texto de Juliana Sassi, com o título: "Bullying, numa escola perto de você". Lá ela explica - após ouvir vários especialistas, estudiosos e vítimas - que o problema, apesar de estar na pauta do dia, é muito mais antigo do que parece. No entanto, por aqui, as primeiras pesquisas a respeito são do ano passado. Uma definição do problema, segundo a reportagem de Juliana (que disponibilizo na íntegra em PDF aqui) afirma o seguinte: “As particularidades desse tipo de violência consistem na repetição das atitudes hostis contra uma mesma pessoa, ou grupo de indivíduos, por um determinado período de tempo, sem que haja motivo aparente, no desequilíbrio de poder entre as partes; as ações são premeditadas e causam, necessariamente, prejuízos morais, emocionais, materiais, ou físicos ao agredido.” Para saber mais a respeito, sugiro a leitura do texto.
Ainda no caso da indenização que colégio carioca terá de pagar, salutar a decisão da justiça que responsabilizou a escola, já que na ausêndia dos pais, “ela detém o dever de manutenção da integridade física e psíquica dos alunos.” Eis uma boa discussão, já que em alguns casos, sem haver a necessária intervenção, pessoas que sofrem a violência podem até cometer suicídio.

No Facebook: 
Se você gostou do conteúdo do NR curta lá nossa página.

Faz algumas semanas, virou manchete mundial o caso do garoto australiano, Casey Heynes, que sofria bullying e reagiu a agressão de um colega. O vídeo virou uma febre na internet, levantou novamente a discussão, mas muita porcaria saiu a respeito do tema, uma realidade de muitas pessoas.
(Thiago Domenici, jornalista)

domingo, 3 de abril de 2011

Vencedor do BlackBerry Curve da Promoção NR e Telemadrid

Alô, pessoal!

Boa tarde!

Eis o vencedor da Promoção NR e Telemadrid sorteará um aparelho Blackberry Curve 8520:

@rerecarvalho

Parabéns ao vencedor e todos os participantes. Ao ganhador, o prazo para envio dos dados e confirmação é de 48h do resultado da promoção, divulgado no blog e twitter. Caso o ganhador não entre em contato no prazo de 48h, novo sorteio será realizado.

Nova promoção!
E as promoções não param por aí. A partir da semana que vem iniciaremos outra promoção nesta parceria NR e Telemadrid.  Será mais um celular? Não, muito mais que um celular. Aguardem a surpresa!


No Facebook: 
Se você gostou da promoção e do conteúdo do NR curta lá nossa página.

O aparelho sorteado tem os seguintes recursos disponíveis:

Câmera digital de 2,0 MP
Câmera de vídeo
Suporte à BlackBerry App World™
Memória flash de 256 MB
Wi-Fi® ativado
Bluetooth® ativado
Multimedia Player
E-mail sem fio
Organizador
Navegador
Telefone
SMS/MMS

Para conhecer a Telemadrid, acesse aqui.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Crise que não é de ontem

A Costa do Marfim,
mais um país africano em conflito
Notícias das agências internacionais desta quinta-feira, 31 de março, e repercutidas na internet e jornais de hoje dão conta de que a Costa do Marfim, na África, fechou suas fronteiras e decretou toque de recolher até “nova ordem”, nas palavras de Alassane Ouattara, presidente eleito e reconhecido pela comunidade internacional após vencer as eleições de novembro de 2010. Ele enfrentou no pleito o “motivador” do atual toque de recolher, o ex-presidente Laurent Gbagbo, que não aceitou a derrota alegando fraude no processo eleitoral.
A questão, no entanto, é muito mais complexa. Desde 2002 o país está dividido e em estado de guerra civil por uma revolta iniciada por grupos rebeldes concentrados ao norte. Inclusive, desde esse período, mais de 10 mil soldados da ONU patrulham a região. No caso recente, especificamente, mesmo vencendo as eleições, Ouattara - que era o líder dos grupos rebeldes nortistas - não levou o “caneco”. O rival, Gbagbo, não deixou a cadeira presidencial, se recusou a renunciar e fez um apelo a Suprema Corte, por uma recontagem de votos, no que foi atendido. Ficou o impasse. Um ganha mais não leva. O outro perde mais não sai. Desde então, novos confrontos dos dois lados já mataram centenas de marfinenses. Segundo a Folha de S. Paulo, “Em Genebra, o porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Rupert Colville, disse temer a violência dos confrontos entre pró e anti-Gbagbo.” Cerca de 400 mil pessoas deixaram o país desde o início dos conflitos entre os dois grupos.

Em tempo.
No Zoom do IG, imagens dos conflitos e da situação de Guerra Civil. Também a Al Jazeera está com uma página especial sobre a Costa do Marfim, infelizmente, só em inglês. 

Por aqui, ou por falta de tempo ou de interesse, pouco se fala sobre a África. Bem definiu o jornalista Ramón Lobo do El País sobre a Costa do Marfim estar ofuscada por três catástrofes simultâneas: "o terremoto-tsunami-acidente nuclear do Japão, a guerra civíl na Líbia e o habitual desinteresse ocidental pela África." Na edição de fevereiro da Retrato do Brasil, nosso editor de internacional, Flávio Dieguez, fez um texto mais explicativo sobre os pormenores da crise e seus antecedentes, matéria que coloco na íntegra para vocês em PDF. (Thiago Domenici, jornalista)

Não se preocupe, África

O artista Italiano, Cani&Porci, numa contuntende ilustração. Nem é preciso dizer nada. Se tiver interesse, conheça o blog dele, Mal d’estro.

Web Analytics