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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Advinha quem é?

Caco Bressane, ilustrador e arquiteto, fez o desenho abaixo. E o desafio (um grande desafio!) ao leitor é descobrir quem é o "ilustre" ilustrado da vez. Deixe seu palpite pra gente.

Ele teria a ver com futebol brasileiro?
Teria a ver com a Copa do Mundo de 2014?
Ele te lembra alguém?
Quem?
Sobrenome Peixeira?
Não?
Quem será que não larga o osso do futebol brasileiro?
Hum....



Liberdade de imprensa é...

Liberdade de imprensa é chantagear políticos...

Liberdade de imprensa é acusar sem provas...

Liberdade de imprensa é espionar celebridades...

Liberdade de imprensa é defender o cartel da informação...

Liberdade de imprensa é fazer lobby em favor próprio no Congresso Nacional...

Liberdade de imprensa é fazer escutas telefônicas ilegais em Londres

Liberdade de imprensa é inventar escutas telefônicas ilegais no Brasil...

Liberdade de imprensa é extinguir o contraditório...

Liberdade de imprensa é criar fichas falsas...

Liberdade de imprensa é criar factóides para a oposição...

Liberdade de imprensa é a oposição repercutir os factóides...

Liberdade de imprensa é acusar os blogs democratas de “chapa branca”...

Liberdade de imprensa é aceitar e barganhar anúncios do governo...

Liberdade de imprensa é especular hipocritamente com a doença alheia...

Liberdade de imprensa é testar hipóteses...

Liberdade de imprensa é assumir-se como partido político de oposição...

Liberdade de imprensa é denunciar a corrupção dos adversários...

Liberdade de imprensa é fazer vistas grossas à corrupção dos amigos...

Liberdade de imprensa é acusar Chávez, Fidel, Morales e Lula...

Liberdade de imprensa é defender Obama, Berlusconi, Faiçal, FHC...

Liberdade de imprensa é banalizar a violência...

Liberdade de imprensa é disseminar o preconceito e o racismo...

Liberdade de imprensa é vilipendiar, caluniar e fugir para Veneza...

Liberdade de imprensa é inventar bolinhas de papel...

Liberdade de imprensa, no Brasil, é para inglês ver...

Liberdade de imprensa na Inglaterra é para brasileiro aprender...

Liberdade de imprensa é divulgar partes do “relatório” do terrorista norueguês...

Liberdade de imprensa é ocultar o direito de resposta ao MST...

Liberdade de imprensa é manipular a opinião pública...

Liberdade de imprensa só vale para o dono do jornal, do rádio e da televisão...

Liberdade de imprensa é para quem paga mais...

Liberdade de imprensa é apoiar as invasões americanas ao redor do mundo...

Liberdade de imprensa é escamotear os genocídios no Iraque, no Afeganistão...

Liberdade de imprensa é apoiar greve de fome de um único dissidente cubano...

Liberdade de imprensa é jogar sujo contra governos progressistas...

Liberdade de imprensa é acusar sem oferecer o direito de defesa...

Liberdade de imprensa é que nem mãe: só a minha é que presta...

Liberdade de imprensa é a liberdade de se criar novas máfias...

Liberdade de imprensa é dar dicas sigilosas para concorrências públicas...

Liberdade de imprensa, às vezes, se compra com 500 mil dólares...

Liberdade de imprensa é aquela que só vale para os apaniguados...

Liberdade de imprensa é ser arrogante com os pequenos...

Liberdade de imprensa é bajular os grandes...

Liberdade de imprensa é difamar celebridades vivas...

Liberdade de imprensa é enaltecê-las depois de mortas...

A Liberdade de imprensa, tal qual é defendida e praticada nos dias de hoje pelos setores mais conservadores da sociedade brasileira, é o apanágio dos ressentidos e a nova trincheira dos hipócritas...

Izaías Almada, dramaturgo e escritor, colunista do NR

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Amy Winehouse por Carvall

Fernando Carvall, ilustrador e caricaturista, especial para o Nota de Rodapé. Conheça também seu blog: ONG PI.

Confiança x Dúvida

Texto publicado originalmente no O Purgatório
(curtas diárias para escapar do Inferno, sem querer subir ao Céu). 

Pra mim é como se fosse uma gripe, mas afeta o cérebro. Vou dormir com uma leve sensação de insegurança e quando acordo estou derrubado, não tenho nem certeza do meu nome.

Vez ou outra a dúvida me pega de jeito e começo a me questionar sobre o por quê das coisas. Ontem, o surto afetou a escrita. Por que escrevo? Pra quem? Alguém se importa com o que semanalmente publico neste espaço? E para mim, faz bem?

Então me lembrei de um poema do argentino Juan Gelman, e acho que encontrei a resposta. Não sei se o poema foi traduzido em português. Eu me arrisquei a fazê-lo. Serviu pra mim, talvez sirva pra mais alguém.

Confianças (Juan Gelman)

senta à mesa e escreve

“com este poema não tomarás o poder” diz

“com estes versos não farás a Revolução” diz

“nem com milhares de versos farás a Revolução” diz

e mais: esses versos não servirão para

que peões, professores, lenhadores vivam melhor, comam melhor

ou ele mesmo como, viva melhor

nem para enamorar alguma mulher eles servirão

não ganhará dinheiro com eles

não entrará de graça no cinema com eles

não lhe darão roupas por eles

não conseguirá tabaco ou vinho por eles

nem papagaios, nem cachecóis, nem barcos

nem touros, nem guarda-chuvas conseguirá com eles

se for por eles, a chuva o molhará

não alcançará perdão ou graça por eles

“com este poema não tomarás o poder” diz

“com estes versos não farás a Revolução” diz

“nem com milhares de versos farás a Revolução” diz

senta à mesa e escreve

Ricardo Viel, jornalista

segunda-feira, 25 de julho de 2011

As diferentes faces dos mergulhadores

Ezra Shaw, um fotógrafo da Getty Images, fotografou mergulhadores no 14 º Campeonato Mundial da FINA, realizado recentemente.

Só que Ezra fotografou de um jeito que fossemos capazes de ver o exato momento do esforço do pulo do trampolim ou do processo da queda do mergulhador na piscina. Pelo que entendi, foram só os pulos do trampolim de 3 metros.

O que se vê são caretas das mais inusitadas numa sequência muito bacana. Dê uma olhada nas imagens, publicadas no The Wall Street Journal.

domingo, 24 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Atibaia deseja o mesmo que Guará: privatizar a água

Na Europa, essa experiência foi um fracasso de gestão e qualidade. Mas no interior de São Paulo, Guaratinguetá já privatizou seu serviço de saneamento e Atibaia pretende seguir o mesmo modelo

Em maio deste ano informações dão conta de que o Saneamento Ambiental de Atibaia (SAAE), no interior de São Paulo, começou a debater internamente uma proposta de mudança no modelo de gestão do saneamento básico.

Tomando como exemplo o padrão adotado na cidade de Guaratinguetá (SP) o poder público atibaiense busca a iniciativa privada para angariar recursos financeiros o setor. A justificativa é que, sozinho, não conseguirá alcançar metas de saneamento básico previstas em lei federal (lei 1.445 de 2007) que diz, por exemplo, que os serviços devem ser universalizados.

Na proposta, a Prefeitura tenta que a Câmara de Atibaia aprove projeto de alteração de regime jurídico do SAAE (de autarquia para empresa pública) o que possibilitaria, como em Guará, a contratação de uma Parceria Público Privada (PPP).

O esforço da Prefeitura é tamanho que, na semana passada, antes de qualquer chamado para audiências públicas e com atropelamento do tempo que deveria ser direcionado a estudos minuciosos e debates amplos, o vice-prefeito em exercício, Ricardo dos Santos Antonio (PT), solicitou sessão extraordinária no Legislativo, em pleno recesso parlamentar, para votar a proposta.

A sessão foi recusada pelo presidente da Câmara, vereador Emil Ono. No entanto, é provável que quando o Legislativo retornar de férias, no dia 1 de agosto, o assunto volte à pauta.

A alteração de regime, embora a direção da empresa afirme que nada vai mudar para quem fez carreira no SAAE, coloca condições diferentes nas relações de trabalho, ameaçando empregos e direitos adquiridos, o que preocupa funcionários e consumidores.

Sobre as relações de consumo, se deixar de ser uma autarquia, a empresa perderá a isenção de diversos impostos, como PIS e Cofins, ligados à seguridade social. Essa diferença será ou não repassada para as tarifas cobradas da população? Não se sabe até o momento.

Água como
mercadoria

A Companhia de Serviço de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG) é apontada pela atual administração atibaiense como exemplo de solução para atingir essas metas da lei federal, bem como um instrumento capaz de sanar finanças.

Em Guará, o argumento para a mudança e a entrada do setor privado na gestão de água e saneamento era que o poder público não teria condições econômico-financeiras de manter a instituição após a sanção da lei federal de 2007.

Já em 2008, o Serviço Autônomo de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAAEG) mudou o regime jurídico – de autarquia para empresa de economia mista – tornou-se SAEG e instalou uma PPP.

O Grupo Galvão, detentor da Companhia de Águas do Brasil (CAB Ambiental), em tese, seria a solução dos problemas da antiga autarquia de Guará. Não é o que se vê.

No último dia 1 de junho, o prefeito de Guaratinguetá, Junior Filippo (DEM) encaminhou à Câmara Municipal do município um projeto de lei solicitando autorização legislativa para a concessão da água na cidade. Trocando em miúdos, fazer da água uma mercadoria a ser vendida a população sob a tutela da iniciativa privada.

A alegação era de que a capacidade de investimento de Guará é baixa, por isso a decisão de estreitar relações com o setor privado. No dia 30 de junho, em sessão ordinária, os vereadores votaram e aprovaram o texto “em regime de urgência”, por oito votos a três.

A propósito, a CAB Ambiental é o elo das propostas de Atibaia e Guaratinguetá. Além de já estar presente no saneamento da SAEG de Guará, ela é quem fez o projeto de PPP para o SAAE de Atibaia.

Contas 

mais altas

Com a crescente busca pela privatização no setor de água, o consumidor pode ter pela frente contas mais altas. A avaliação é de organizações sociais que participaram, na última quarta-feira, 20, de seminário que debateu como a população pode se organizar para impedir a venda das empresas.

De acordo com representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), 90% da rede de distribuição de água no país são controlados por empresas públicas, com uma cobertura de quase 100% das grandes e médias cidades.

Para o MAB, um negócio que não requer grandes investimentos (já que conta com estruturas prontas, criadas com dinheiro público) e movimentar anualmente cerca de R$ 120 bilhões – mais que todo setor elétrico – desperta o interesse da iniciativa privada.

Sob o controle das empresas particulares, a consequência imediata é o aumento abusivo dos preços, segundo um dos diretores do MAB, Gilberto Cervinski. No município de Santa Gertrudes, em São Paulo, onde o sistema foi privatizado em 2010, os preços triplicaram em seis meses. "Isso ocorre por causa do modelo de reajuste estabelecido com base em preços internacionais. No caso do setor elétrico, depois da privatização, os preços subiram 400%", diz.

A elevação dos custos ocorreria pela própria lógica do sistema privado, que adota um modelo de reajuste estabelecido em preços internacionais. Representantes das organizações já preveem um aumento imediato nos preços, além de uma diminuição dos investimentos no setor.

Os participantes do seminário denunciaram práticas ilícitas em alguns estados do país. Em Rondônia, na região norte, representantes do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Água e Energia afirmam que empresários assediam vereadores.

A entidade também denuncia que, em alguns municípios, as prefeituras têm desconsiderado processos legais, como a licitação para a concessão do sistema de abastecimento, exemplo ocorrido na cidade de Ariquemes. Contra a privatização, os sindicalistas avaliam que as empresas privadas investirão menos na ampliação da rede e, principalmente, em saneamento.

O caso de
Paranaguá

A Justiça de Paranaguá, no Paraná, determinou a rescisão do contrato entre as empresas Águas de Paranaguá S/A, sub-concessionária que administra o serviço de abastecimento e saneamento na cidade, a Companhia de Água e Esgotos de Paranaguá (CAGEPAR) e o município.

A decisão, de caráter liminar, atende ação civil pública apresentada em maio deste ano, pelo Ministério Público do Paraná. A Promotoria de Justiça da comarca sustenta que a empresa deixou de cumprir diversas obrigações contratuais, resultando em grave prejuízo financeiro aos cofres públicos, sem contar a má-qualidade do serviço que é oferecido à população e o desrespeito à legislação.

O juiz que acatou os argumentos do MP impôs prazo de oito meses para que a administração municipal volte a assumir o serviço hoje prestado pelas empresas. Em caso de descumprimento, a Prefeitura deverá pagar multa diária de R$ 10 mil.

Os promotores de Justiça apontaram diversas ilegalidades, como o não pagamento de encargos aos cofres municipais e o descumprimento recorrente de várias cláusulas contratuais, que implicaram na não realização de investimentos em melhoria do serviço e, consequentemente, prejuízo direto para a população.

Na decisão, o juiz chega a transcrever trecho da medida do MP-PR, que resume a situação: “Aproximadamente 45 anos após a assinatura do contrato de concessão de exploração dos serviços de água e esgoto e, após 14 anos da assinatura do contrato de subconcessão destes serviços, nem a Cagepar e nem a Águas do Paraná executaram satisfatoriamente, nem o Município exigiu tal implemento”.

O juiz também destaca: “Frise-se, após 14 anos do contrato de sub-concessão, não há sequer 5% de rede reparadora de esgoto no município de Paranaguá”. Por contrato, a empresa deveria ter implantado 85% do sistema de atendimento de esgoto até 2003.

Além disso, a Águas de Paranaguá havia se comprometido a construir reservatórios com capacidade de 17mil m3 até 2001, sendo que, até 2005, instalou apenas um reservatório, com capacidade de 1 mil m3.

Em virtude disso e de outras situações, em março deste ano, quando houve uma enchente na região, os moradores da cidade ficaram sem abastecimento de água por vários dias. “As fortes chuvas do início do ano nos deram a prova material de que o sistema era de fato frágil e que a população corria risco”, afirmam os promotores de Justiça autores da ação.

Eles estimam que, no total, o descumprimento de cláusulas contratuais que implicavam em investimentos na rede de água e esgoto e o não pagamento de encargos resultaram em um rombo de cerca de R$ 60 milhões aos cofres públicos.

Fracasso
Europeu
O doutorando da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Juscelino Eudâmidas diz que, de acordo com pesquisas internacionais, até 2015, cerca de 60% da capacidade de abastecimento da América Latina estará privatizada. Ele destaca que, nos países ricos, onde a ideia da privatização surgiu, os governos estão voltando atrás.
"O Estado francês, onde surgiram as primeiras experiências de concessão do sistema de distribuição de água, está reestatizando todo o serviço. Eles viram que a qualidade do serviço e da água caíram, os preços subiram exorbitantemente e o serviço não foi universalizado", diz Eudâmidas.
Representantes do MAB destacam que a Itália, por meio de referendo, decidiu, em junho passado, que o sistema de água deve ser gerido por empresas públicas.

Moriti Neto é jornalista e colunista do NR.

Com informações de Agência Brasil e Ministério Público do Paraná

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tony Porter: um chamado (necessário) para os homens

“Nos ensinavam que homens precisam ser valentes, fortes, precisam ser corajosos, dominantes. Sem dor, sem emoções (...) e definitivamente sem medo. Que os homens estão no comando, e isso significa que as mulheres não.”
Tony Porter é cofundador da organização “A Call to Men - Commited to Ending Violence Against Women” (em português, algo como “Um chamado para os homens - compromisso com o fim da violência contra as mulheres”).

Ele deu uma palestra no Ted (no vídeo abaixo) muito interessante - e corajosa. Tony conta histórias fortes sobre sua infância e sobre a educação que deu aos filhos (um menino e uma menina) relatando a diferença com que tratava os dois.
 “Quando eles tinham cinco ou seis anos, (o menino é um ano mais velho que a menina), Jay vinha até mim chorando. Não importava o porquê ela chorava, ela podia sentar no meu colo, assoar o nariz na minha manga (...). Mas Kendall, por outro lado (...), ele vinha chorando, e no momento que eu o ouvia chorar o cronômetro ligava. Dava ao garoto cerca de 30 segundos, o que significava que quando ele chegava eu já estava dizendo ‘por que está chorando?’”
Tony ajuda a entender porque a educação que costuma ser dada aos homens - tantos ensinamentos machistas - pode causar (e provavelmente vai) o desrespeito e a violência contra a mulher.

Diz Tony, em outro trecho da palestra.
“Quando se diz que mulher tem menos valor, são propriedades dos homens, são objetos, particularmente objetos sexuais. Mais tarde descobri que essa era a socialização coletiva dos homens, mais conhecida como a ‘caixa do macho’. A caixa de macho tem todos os ingredientes do que significa ser um homem. Antes quero dizer, sem dúvida alguma, que há coisas maravilhosas, muito boas mesmo, em ser homem. Mas ao mesmo tempo existem algumas coisas que estão erradas.”
É muito importante que falas como a de Tony Porter sejam ouvidas e tenham repercussão. Nos faz pensar, nos faz compreender muita coisa e nos ensina. O vídeo tem 11 minutos, mas parece que tem 3. Não é chato, não é maçante e pode fazer muita diferença.

É por esse tipo de coisa que acho importante que a gente não queira ser “normal” como escreveu a jornalista Eliane Brum num artigo recente.




Natalia Mendes é jornalista, colunista do NR

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Exposição: O Xingu dos irmãos Villas Bôas, no Sesc Pompeia

É quinta-feira, duas da tarde, e eu estou sentado em cima de uma tartaruga à margem de um lago de pedras brancas que reflete a imagem de um índio. Esse índio conta histórias, entre elas a do Qaurup, a festa que sua tribo faz para celebrar a morte (e a vida).

Perto de mim, uma garotinha mexe em um tacho cheio de farinha de mandioca e, conforme move as mãos, desenha figuras indígenas e as colore. Tudo isso aconteceu em São Paulo e eu não precisei consumir nenhum tipo de bebida alucinógena.

Desde quarta-feira passada, dia 13, o Sesc Pompeia (zona oeste) apresenta a exposição “O Xingu dos Villas Bôas”, trabalho que relembra os 50 anos da criação do Parque do Xingu e a trajetória do trio de sertanistas (Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Boas).

Índio conta histórias no Sesc
(Marcello Dantas/Arquivo Pessoal)
A exposição é uma parceria entre a 02 Filmes e Marcello Dantas (de quem já falamos aqui) e é fruto de uma pesquisa sobre a vida dos Villas Bôas - a história desse trio que decidiu largar uma vida classe média em São Paulo para primeiro conhecer e depois proteger o modo de vida dos índios está sendo filmada por Cao Hamburger e a produtora de Fernando Meirelles.

Quer for ao Sesc vai conhecer um pouco da saga dos indigenistas, da mudança de tratamento ao índio que eles conseguiram implementar no país (a criação do Parque do Xingu é uma delas) e aprenderá um pouco dos costumes das etnias que vivem na região.

O uso inteligente da tecnologia, não como pirotecnia, mas como instrumento para se contar histórias de modo que prenda os visitantes, é uma marca registrada de Marcello Dantas. Marcello usa recursos audiovisuais sem deixar que eles chamem mais atenção do que o conteúdo. É o drible em direção ao gol. O resultado é encantador. Quando se der conta, você estará sentado na beira de um lago escutando histórias de um índio ou voando em um helicóptero pelo parque do Xingu.

A presença de educadores (estudantes universitários) é outro ponto positivo da mostra. Não estão ali para ensinar nada, mas para auxiliar você a mergulhar nesse mundo.

Onde: Sesc Pompéia
Horários: Terça a sábado, das 13h às 18h; domingos e feriados, de 10h às 20h
Até quando: Até dia 7 de setembro
Quanto: É gratuito

Ricardo Viel é jornalista

terça-feira, 19 de julho de 2011

Itamar Assumpção abre a série de filmes "Iconoclássicos"

Daquele Instante em Diante, documentário de Rogério Velloso sobre o músico paulista Itamar Assumpção (falecido em 2003) estreou no dia 8 de julho nas salas de cinemas Unibanco de todo o país. E o melhor, a exibição é gratuita.

Itamar abre a série Iconoclássicos que vai ter ainda:
Leminski, Nelson Leirner, Zé Celso Martinez e Sganzerla.
Itamar foi um experimentador de ritmos, na contramão do mercado, como bem descreveu o jornalista Tárik de Souza, em texto publicado na Retrato do Brasil, que disponibilizo em PDF para vocês. Assumpção foi integrante da chamada vanguarda paulistana — ao lado de Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque, Grupo Rumo, Língua de Trapo e cantoras como Tetê Espíndola e Vânia Bastos.

Esse filme é o primeiro de cinco de uma série patrocinada pelo Itaú Cultural, intitulada Iconoclássicos. Terá também, respectivamente, com estreias previstas para agosto, setembro, outubro e novembro: "Ex-isto, de Cao Guimarães, inspirado pelo livro Catatau, do poeta Paulo Leminski; Assim é se lhe parece, de Carla Gallo, sobre o artista plástico Nelson Leirner; Evoé, de Tadeu Jungle e Eliane Cesar, sobre o diretor José Celso Martinez Correia; e Mr. Sganzerla, de Joel Pizzini, sobre o cineasta Rogério Sganzerla.

A ideia é que os filmes fiquem em cartaz por um mês, ou seja, temos alguns dias para assistir o primeiro da série. Em São Paulo, os locais são o Espaço Unibanco Pompéia, Espaço Unibanco Augusta e Arteplex Frei Caneca. Também em cartaz por um mês nas salas do mesmo cinema em Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e Santos. Veja a relação completa com horários, endereços e datas. Abaixo, o trailer.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A bióloga Lynn Margulis contesta teorias de Darwin

A bióloga Lynn Margulis, que foi mulher do astro científico Carl Sagan (fumavam muita erva juntos, admitiram) tem seu brilho próprio. Numa polêmica entrevista na última edição da revista Discover, Margulis desafia quase toda comunidade de biólogos, a começar pelo título: “Minhas ideias não são controvertidas. Eu estou certa”. Os errados, diz ela, são os neodarwinistas, geneticistas populacionais, pesquisadores da Aids e os biólogos em geral.

Margulis contesta as teorias da evolução darwiniana
O que ela está contestando é simplesmente qual seria o motor principal da evolução darwiniana. Segundo a escola clássica as novas espécies surgem por causa de pequenas mutações que vão acumulando e dando vantagens ambientais e competitivas para os sortudos que vencem na luta pela vida.

Margulis argumenta que as mutações não provocam o aparecimento de novas espécies mais adaptadas. Para ela o processo evolutivo é acionado por trocas simbióticas, uma idéia herética. Isso implica a transferência de material genético entre organismos, não apenas pelo cruzamento sexual.

Margulis tem cacife para defender uma hipótese tão revolucionária. Foi ela quem descobriu uma importante mudança genética que levou ao aparecimento das células eucariotas, aquelas que existem nas bactérias e nos animais complexos, como os humanos.

A descoberta foi publicada em 1967 no Journal of Theoretical Biology e amplamente comprovada.Segundo ela, numa hipótese agora aceita por toda a comunidade científica, algumas células procariotas, as mais primitivas, algum dia, há centenas de milhões de anos, seqüestraram uma organela livre, a aprisionaram num cativeiro dentro das células que acabaram virando as bem sucedidas eucariotas – a que temos em todo o organismo. Essa organela tinha uma grande vantagem de produzir energia química essencial para toda célula funcionar eficientemente, o ATP, (Adenosina Trifosfato).

O ATP é basicamente a “gasolina” de toda célula eucariota. A organela que produz o ATP, a mitocôndria, tem seu DNA próprio e independente fora do DNA das células e, curiosamente, só é transmitida ao feto pela parte materna.

Esse é um exemplo agora clássico de um passo fundamental da evolução ocorrido por ação simbiótica, ou de modo mais geral, pela chamada transferência genética horizontal entre espécies. Nessa simbiose a mitocôndria ganhou um meio ambiente favorável dentro das células eucariotas e em troca virou a fornecedora de combustível. Eventualmente perdeu grande parte dos seus genes por falta de uso, pois dentro das células eucariotas a mitocôndria não precisa se defender de uma vasta gama de predadores. Mas não pode mais voltar aos tempos de vida isolada.

Uma grande conseqüência da hipótese de Margulis é que os “reinos” da biologia ficam drasticamente reduzidos. Na biologia tradicional existem principalmente bactérias, fungos, plantas e animais. Para ela existem apenas dois reinos: o das bactérias e o resto.

A idéia de que as bactérias são a forma de vida dominante no planeta não é nova. Afinal os humanos e todos os animais complexos são amontoados de células que no fundo são bactérias que perderam a capacidade de vida isolada e independente.

O famoso biólogo Shetphen Jay Gould apoiava essa visão, e várias vezes argumentou contra uma ciência antropocêntrica, produzida pelos humanos, especialmente no seu livro Lance de Dados (332 páginas, Editora Record). A vida no planeta, argumenta ele, é predominantemente bacteriana e os organismos complexos são uma minoria irrisória, embora poderosa.

Como para dar razão a essas hipóteses, recentemente se descobriu que até mesmo nos seres humanos as células produzidas pelo DNA próprio da espécie estão em franca minoria. Recentes estudos  mostram que apenas 5% das células num corpo de animais complexos são geradas pelo material genético do genoma humano. O resto, 95%, é constituído de bactérias que coexistem pacificamente (às vezes nem tanto) dentro do corpo.

Um lado altamente positivo dessa hipótese é o de que os humanos devem também se preocupar com seu meio ambiente interno, constituído por enorme diversidade de micróbios. Afinal são as bactérias que povoam os intestinos, estômago, pele e pulmão as que produzem muitas das vitaminas que o organismo puramente humano não produz.

O assim chamado “bacterioma”pode eventualmente até alterar o funcionamento mental do ser onde estão hospedados. Assim como os humanos começam a tomar cuidados com o meio ambiente planetário, agora é a hora de se cuidar do meio ambiente interno ao organismo. Começando por restringir o uso indiscriminado de antibióticos, que matam bactérias vitais para os humanos e acabam abrindo espaço para mortais bactérias resistentes a todas as medicações.

Flávio de Carvalho Serpa é jornalista, especial para o NR

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Pessoa com deficiência defende a sua vaga

Uma cadeira de rodas sobre a qual foi borrado um X em vermelho. Acima dela, a frase "EU NÃO RESPEITO A VAGA DO DEFICIENTE". O fundo é branco e o adesivo redondo. Criado pelo artista gráfico Ivan de Sá a partir de uma ideia (e por encomenda) do jornalista Ruy Fernando Barboza (editor de texto da revista Retrato do Brasil), tem sido afixado em carros em Florianópolis, mas Ruy pretende que a ideia se espalhe, numa campanha de objetivos educativos.

Ruy, deficiente físico desde 2002, quando foi atingido no Rio de Janeiro por uma bala de fuzil, se diz "cansado de discutir com os que desrespeitam as vagas dos deficientes fisicos". Resolveu então começar sua campanha educativa: encomendou o adesivo e o cola em parabrisas de carros dirigidos por motoristas sem a menor sombra de deficiência que ocupam as vagas. "Até agora, o resultado foi melhor do que eu imaginava", conta ele. "Houve até quem me pedisse desculpas pelo abuso. Além disso, outro dia, no aeroporto, um soldado da PM multou um carro, ao ver um casal, sem qualquer problema físico, pegar o carro infrator que eu tinha carimbado. Foi a primeira vez que vi isso acontecer em Floripa".

Se você quiser aderir a essa campanha proposta por Ruy pegue a imagem e faça também seu adesivo!

Poeminha pós moderno

por Izaías Almada

Vou-me embora pra Miami
Lá sou amigo da grei
Lá tenho as dicas que eu quero
Dos golpes que aplicarei
Vou-me embora pra Miami
Aqui não sou nada feliz

Lá é que é tudo loucura
Tem gente de tudo que é lado
De Caracas são muitos esquálidos
De Cuba vão muitos gusanos.
De Buenos Aires, São Paulo, La Paz
Tem malandro contumaz

Todos se julgam de elite
Com inveja da gringolandia
Se amarram num badulaque
Que aqui é o ‘must’ IMPORTADO
Lá não sou branco, nem negro
No passaporte sou ‘outros’
Me olham meio de lado...
Não faz mal, tudo é pecado.

E quando estiver estressado
Dou um pulinho em Orlando
Chamo o Pateta e a Minnie.
Pra que me contem histórias
Do tempo em que eu era menino
E não sabia da vida

Vou-me embora pra Miami
Lá eu encontro de tudo
É outra civilização
Tem celular e iPad
De última geração
Tem arma, rifle automático
Tem cocaína à vontade
De preço bom e barato
Protegida pela CIA
E por um grande aparato...

Tem garota de programa
Para gente namoricar
E quando estiver com saudade
Triste de dar dor no peito
E no barzinho eu quiser
Falar mal do meu país
Falo e me sinto feliz...

Pois lá sou amigo do Bush
Do Aznar e do Berlusconi
Essa gente à La Corleoni
Com quem no passado aprendi...

Vou-me embora pra Miami
Lá sou amigo da grei
Tenho e dou assessoria.
Pra quem? Jamais contarei.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A privatização da água no interior de São Paulo

No ano de 2008, a cidade de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, via o começo de um processo de privatização de serviços ligados à água e saneamento, viabilizados pelo grande esforço do poder público em abrir caminho para a concessão de um dos bens coletivos mais importantes do planeta.

Há três anos, o Serviço Autônomo de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAAEG) mudou o regime jurídico – de autarquia para empresa de economia mista – e, após instalação de uma parceria público-privada (PPP), tornou-se a Companhia de Serviço de Água, Esgoto e Resíduos de Guaratinguetá (SAEG).

A justificativa para a mudança e a entrada do setor privado na gestão de água e saneamento era a cantilena de que o poder público não teria condições econômico-financeiras de manter a instituição, principalmente depois das metas estipuladas pela lei federal de saneamento (lei 1.445 de 2007).

De acordo com os defensores do modelo adotado em Guaratinguetá, a PPP permitiria os investimentos necessários para atingir as metas de saneamento básico e desoneraria o poder público que, mesmo contando com os “aportes” e “qualificação técnica” vindos da iniciativa privada, não perderia o controle sobre os recursos. Contudo, mais uma etapa da “sociedade” na área de bens públicos estratégicos estaria por vir.

Água
concedida

No dia 1 de junho deste ano, o prefeito de Guaratinguetá, Junior Filippo (DEM) anunciou encaminhamento, à Câmara Municipal da cidade, de um projeto de lei que solicitava autorização legislativa para a concessão do serviço de água no município. A alegação era de que a capacidade de investimento de Guará é baixa, por isso a decisão de estreitar relações com o setor privado. No dia 30 de junho, em sessão ordinária, os vereadores votaram e aprovaram a proposta “em regime de urgência”. A próxima etapa está nas mãos do Executivo.

Com essa concessão, a SAEG passará a cuidar especificamente da implantação e manutenção dos sistemas de drenagem de águas pluviais, além de continuar como gestora da coleta de lixo, da PPP do esgoto e da concessão da água. Isso não é o mesmo que dizer que o poder público fará a gestão direta dos recursos hídricos. Ao contrário, tal tarefa ficará a cargo da empresa que ganhar a concessão, com prazo inicial previsto de 30 anos de duração, prorrogáveis por mais 30 e assim por diante. Por si só, três décadas de gerenciamento por uma empresa particular já conformam, de fato, a privatização da água.

O projeto gerou impactos na cidade e causa discussões e mobilizações, tanto físicas quanto virtuais. Na internet, não é incomum encontrar manifestos contra a medida da Prefeitura e a aprovação pelos vereadores – que foi acompanhada de protestos na sessão do dia 30. Nos blogs, o debate se dá baseado no eixo de que a água é um bem estratégico e que estudiosos do tema apontam para a necessidade da gestão sustentável, mirando o bem de todos e não os interesses de um grupo privado.

Atibaia
se inspira


Desde maio deste ano, o Saneamento Ambiental de Atibaia (SAAE) também deseja promover mudanças no modelo de gestão. Idêntica a de Guaratinguetá, a justificativa se baseia na necessidade de captar recursos da iniciativa privada para atingir metas que o poder público local, em tese, não seria capaz. A autarquia pretende alterar o regime para empresa pública, podendo instalar, como em Guará, uma PPP. Aliás, o modelo da SAEG é cantado em prosa e verso pela atual administração atibaiense como solução.

O tema, de importância central para a população, não foi aberto à sociedade, mas o projeto já chegou à Câmara Municipal para ser apreciado pelos vereadores. Nesta semana, antes de qualquer chamado para audiências públicas e atropelando o tempo que deveria ser direcionado a estudos minuciosos e debates amplos, a Prefeitura, que está sob o comando do vice-prefeito, Ricardo dos Santos Antonio (PT) em exercício por conta do licenciamento temporário de José Bernard Denig (PV) solicitou sessão extraordinária no Legislativo, em pleno recesso parlamentar, para votar a proposta.

Vários questionamentos estão postos no caso. Eles começam em preocupações dos funcionários e se estendem aos consumidores. As garantias trabalhistas dos servidores, com a mudança de regime, são questionadas. Embora a direção da empresa afirme que nada vai mudar para quem fez carreira na empresa no atual modelo, a transformação coloca condições diferentes nas relações de trabalho, ameaçando empregos e direitos adquiridos.

Sobre as relações de consumo, se deixar de ser uma autarquia, o SAAE perderá a isenção de diversos impostos, como PIS e Cofins, ligados à seguridade social. A questão é: a diferença será ou não repassada para as contas dos munícipes?

Em Guará ou Atibaia,
trabalhadores sem garantias

Na questão da alteração de regime jurídico, a Súmula 390, do Tribunal Superior do Trabalho (TST) classifica da seguinte forma a questão da estabilidade:

“I O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou fundacional é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da Constituição Federal de1988.

II - Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de economia mista, ainda que admitido mediante aprovação em concurso público, não é garantida a estabilidade prevista no art. 41 da Constituição Federal de 1988."

Ou seja, ainda que SAAE ou SAEG incluam qualquer cláusula nas propostas, as regras previstas em esferas superiores à municipal transformariam as medidas em ações inconstitucionais, permitindo que as empresas demitam trabalhadores mesmo concursados.

Drenagem:
ponto mais que preocupante

A drenagem – hoje, de responsabilidade da Prefeitura de Atibaia, mas prevista na proposta de mudança do SAAE, no projeto de lei complementar 007, de 4 de maio de 2011 – é mais que preocupante, já que a ampliação da rede exige um investimento alto que, segundo análises, custaria três vezes mais do que o tratamento de esgoto (hoje, o SAAE tem previsão de investimento total de R$ 60 milhões com esgoto, portanto, o custo com drenagem chegaria a R$ 180 milhões). Na Prefeitura, já se pensa num cronograma e são feitos estudos e cálculos para decidir como a drenagem será repassada à empresa.

Nesses cálculos, por conta do alto custo da drenagem, claro que o consumidor está incluído. Afinal, a previsão de grande acréscimo nos gastos do SAAE com a assunção da nova responsabilidade e, sabendo-se que a iniciativa privada só entra em negócios com perspectivas de altos lucros, não restam dúvidas de que uma das fontes de recursos será o dinheiro dos contribuintes.

O elo
conhecido

O relacionamento entre as administrações de Atibaia e Guaratinguetá não se restringe apenas a tomar como base a proposta da SAEG. Na verdade, a mesma empresa que hoje é a parte privada do saneamento de Guará, é quem fez o projeto para viabilizar uma PPP no SAAE. Constituída em 2006, pelo Grupo Galvão, a Companhia de Águas do Brasil (CAB Ambiental) é o elo conceitual dos dois projetos.

São relações estreitas, portanto. E, da forma como caminham, podem levar Atibaia e Guaratinguetá até o mesmo ponto: o de ver o interesse privado vencer o público em mais um capítulo do embate onde o individual tem prevalecido sobre o coletivo.

Exemplo
que causou revolta

Um exemplo mal sucedido – para o interesse coletivo, óbvio – de controle da água nas mãos de grupos privados ocorreu no final dos anos 90, com a gigante multinacional Bechtel, sediada nos Estados Unidos, cuja receita anual gira em torno de 20 bilhões de dólares. A empresa assumiu o controle do fornecimento de água de Cochabamba, na Bolívia, com contrato de 40 anos.

O aumento dos preços que se seguiu causou uma revolução entre os habitantes do local, cuja sobrevivência depende de que a água seja barata e, no ano 2000, a Bechtel teve que se retirar das terras bolivianas.

Moriti Neto é jornalista e colunista do Nota de Rodapé

Amor fiel

Ser apaixonado por futebol não é algo que acontece por osmose, talvez por convenção familiar ou social, ou em outros casos trata-se de uma coisa que se aprende desde criança como amarrar os cadarços dos sapatos ou cumprimentar as pessoas nas ruas. O difícil é explicar os porques. Mais do que idolatrar um time ou uma seleção, torcer para um clube faz parte do seleto grupo de sentimentos nos quais predominam o amor incondicional, desses irracionais que beiram a cegueira nos lances polêmicos.

Pertencer a uma torcida vai muito além de enotar seu coro, e há quem diga que mais parece um ritual barbáro, ou vestir a camisa do time no dia seguinte a uma vitória. Torcer implica em perder o humor, em chorar quando seu time sofre uma derrota ou é rebaixado. É emoção pura, e nisso não existe espaço para visões céticas nas quais o futebol é comparado a mais uma política pão e circo do sistema. Vibrar com cada gol é natural, é comportamento social esperado para aquela situação, agora, o que foge do comum é o sentimento capaz de extrapolar os limites da razão e manter, durante a derrota, um único canto independente do resultado.

Quando lembro das inúmeras vezes em que vi o Corinthians jogar no Pacaembu, a primeira imagem que me vem a cabeça é da Torcida e seu amor inexplicável de alcance inimaginável. Seu poder de empurrar o time seja da mesma forma independente do placar do jogo não é uma qualidade que encontramos em qualquer esquina. O ambiente da torcida é de festividade pura, não existe classe social entre amigos instantâneos que compartilham as emoções da partida.


Na contramão dessa poesia vivenciamos atualmente o assassinato da beleza em prol da Cartolagem com C maíusculo, manchada de corrupções e intereresses mascarados por uma névoa permanente de banditismo.

Em inúmeras vezes me perguntaram por que os corinthianos falam tanto de sua torcida. Sem saber transmitir essa emoção com palavras sempre convidei meus amigos a irem assistir uma partida do Corinthians no Pacaembu, quem sabe assim eles possam entender. A Gaviões da Fiel arrepia, contagia, enche o coração do povão de alegria. Viva o futebol bem jogado, com lances bonitos, dribles desconcertantes, bandeiras enormes estendidas sobre a torcida, tambores e batucadas entoando os gritos de guerra e todos os elementos desse esporte tão enraizado na cultural canarinha.

Viva o amor incondicional e o futebol arte.

Victor Moriyama, 26 anos, é repórter fotográfico do Jornal O Vale, em São José dos Campos, cidade que reside atualmente. Mantém a coluna Fotógrafo-escreve no NR.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Corre pra onde?

A bola veio alta, passou pela minha cabeça e pensei que se esticasse a perna bem rápido conseguiria alcança-la antes dela quicar e se perder pela linha de fundo. Foi o que fiz. A jogada deu certo, consegui mandar a bola para o meio da área, onde deveria haver algum companheiro do meu time para fazer o gol. O problema foi depois, quando a perna esquerda, que estava no ar, teve que aterrissar. Eu estava rápido, com o corpo meio torto, e o peso todo foi parar só naquela perna. O pé ficou preso na grama, o corpo girou e eu ouvi um barulho seco, como de borracha arrebentando.

Faz três meses que rompi o ligamento cruzado anterior. Sem ele o joelho não funciona. Passei semanas tomando remédio para amenizar a dor, com a perna imobilizada e andando com muletas. Então veio a cirurgia, parafusos para fixar um tendão que vira um ligamento e mais semanas de repouso, remédios e muletas.

O passo seguinte (no qual me encontro) são as sessões de fisioterapia, muitas. Como a perna ficou muito tempo imóvel, ela perdeu massa muscular e, por consequencia, força. É preciso, então, recuperar a musculatura para reaprender a andar. Sim, reaprender a andar.

O que parece tão banal, tão natural, é custoso no início. Calcanhar primeiro, logo o pé todo e depois ir tirando o pé do chão até sobrar só a ponta. E tem que dobrar o joelho. Nessa fase não há outra preocupação no mundo a não ser andar de forma correta. Você caminha (ou tenta) sem pensar em mais nada, só em caminhar.

Passei por um período difícil, mas que teve um lado bom. Fui obrigado a desacelerar. Toda atividade, por mais banal que fosse (como calçar um tênis), requeria esforço e concentração. Eu fazia tudo com lentidão, com calma. Um amigo chegou a dizer que eu transmitia calma, sabedoria, como quem não administra o tempo, sem pressa.

Mas então, aos poucos, fui readquirindo a mobilidade, retomando a vida normal (insana) e perdendo essa tranquilidade, essa obrigatoriedade de dar o tempo para as coisas. E voltei, por exemplo, a calçar o tênis pensando que preciso comprar filtro de café no supermercado.

E agora já me pego, de novo, calculando os minutos para saber se vou chegar atrasado, se dá tempo de tomar banho antes de sair de casa, se consigo passar no banco antes de chegar no trabalho.

Ainda manco um pouco, e sinto alguma dor no joelho, mas já recuperei a pressa que tinha antes e a obsessão em não perder tempo. Parece que de toda aquele período de repouso obrigatório, de reflexão, não restou nenhum ensinamento. Já me esqueci do quão complexo é caminhar, e de que no meu corpo existe um ligamento, um emaranhado de fibras, que se romper...

Se ainda não corro com as pernas, o faço com a cabeça, e sem saber por que, nem para que. Recordo o fim do poema de Drummond, que diz: “você marcha, José! Pra onde, José?”. Peço licença ao mineiro e me pergunto: “você corre, Ricardo! Pra onde, Ricardo?”

Ricardo Viel é jornalista, peladeiro, e recentemente entrou para o clube dos lesionados, como Nilmar, Ganso e outros craques da bola

terça-feira, 12 de julho de 2011

Belo Monte, do que se trata?

Você é a favor ou contra a obra da Hidroelétrica de Belo Monte no Xingu? Essa foi das enquetes mais interessantes do blog. Deixei ela no ar muito tempo (uns dois meses, se não me engano) e 219 votos depois...

51% é contra a obra;
35% a favor;
2% não sabe do que se trata;
10% não tem opinião formada.

Em alguns momentos, "a favor" esteve à frente dos "contrários" a Belo Monte. Mas me chama a atenção a quantidade de gente - 10% equivale a 74 votos do total - que não tem opinião formada a respeito. Em 2010, fizemos aqui na Retrato do Brasil uma longa reportagem sobre o assunto. Convido-os a ler "O Governo paga para ver", Tania Caliari, edição 34.

É só uma leitura para clarear ideias, ok? Não sugiro a reportagem como um "fim" para as dúvidas. Até porque ela não se propõe a isso. Eu, por exemplo, sou contrário a construção de Belo Monte, mas existem muitos a favor da obra. Os meus motivos, mais pra frente, apresentarei aqui melhor concatenados.

O importante, aos interessados no assunto, é não se furtar de saber mais a respeito. É um tema de grande interesse nacional. É sempre bom ficarmos atentos.

Thiago Domenici, jornalista

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Encontro com Abaporu

Talvez o que defina melhor o comentário deste post é o sentimento que o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, causou em mim - o meu primeiro e verdadeiro encontro com essa forma de arte - quando estive recentemente no Malba (Museu de Arte Latino Americano de Buenos Aires).

Fui por indicação de alguns amigos que falaram do lugar com entusiasmo. Não entendia bem o motivo. E a explicação é fácil, nunca entendi de arte, estudei ou mesmo me interessei. Exposições de arte sempre me dão a impressão de erudição em excesso e assim fiquei um completo ignorante.  

O MASP (Museu de Arte de São Paulo), por exemplo, pertinho de mim - como também a Pinacoteca, o MAM, o MIS e tantos e tantos outros em São Paulo - fui apenas uma vez ou outra, pela escola, há muitos anos.

Tem a ver, entre tantas outras questões, com hábitos da cultura. Não é comum no Brasil, por exemplo, uma criança ser educada desde cedo a apreciar a arte de grandes pintores.Ou mesmo se dispor a conhecer os novos.

O fato de estar fora do país, no entanto, proprociona um não comodismo que tenho quando estou aqui; um apetite saudável por conhecer e vivenciar experiências que me interessam. Louco, não? Pelo que converso com amigos, parece-me que muita gente é da mesma laia que eu.

Foi a primeira vez que pude compreender a força de um quadro sem me preocupar com teorias e histórias (também importante, mas não naquele contexto). Simplesmente me emocionei com o belo que o Brasil e seus artistas são capazes de produzir.

Uma pena que o Brasil não o tenha em seu território. Esta obra de Tarsila faz parte da coleção particular de Eduardo F. Costantini, que dá nome a fundação que mantém o Malba. Uma coleção sensacional que conta com Diego Rivera, Frida Kahlo, Candido Portinari, Fernando Botero etc. (Thiago Domenici)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Postagem 1000 do NR

Essa é a postagem de número 1000 do Nota de Rodapé.

Quando começamos lá em 2005, a onda era ser um diário virtual, como a própria concepção de blog foi definida na década de 1990. Idas e vindas, no entanto, me fizeram crer que usar o espaço de um para ser de vários amigos afins que têm o que dizer e sem espaço seria um forma de ser feliz.

Digamos, uma felicidade possível dentro do mundinho jornalístico que vivem os profissionais sem grandes liberdades. A meta aqui, graças a vocês, leitores e colaboradores, é a mesma desde o início: escrever sobre o que agrada ou irrita muito, sempre com informação e qualidade.

Espero, sinceramente, que tenhamos conseguido alcançar isso nessas 1000 postagens. Já fizemos entrevistas, reportagens, falamos de música, política, teatro, cinema e tantas outras que não me recordo agora.

Seguiremos nessa luta diária por essa boa informação e mantendo as reflexões necessárias do cotidiano com jornalismo independende. O canal aqui está sempre aberto, acreditem. Sugiram, reclamem, colaborem. Essa interação é fundamental.

Segundo uma pesquisa da comScore, os brasileiros são os que mais navegam por blogs. Mas, veja só, outra pesquisa, da Boo-Box, pontua que 96% da preferência vem de apenas três categorias: entretenimento (68%); tecnologia (17%) e esportes (11%).

O NR é de "variedades" e não trata em seu conteúdo das categorias em questão. Portanto, somos parte do universo dos 4% restantes. Acho ótimo, confesso. Me agrada tratar de temas que fogem do senso comum. Ou, como diriam alguns, nadar contra a corrente.

NR é e continuará a ser mídia livre.

É e continuará a ser colaborativo e coletivo.

Vamos em frente! Com vocês.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

As lições de um velho caturra

A entrevista de Antonio Candido no Brasil de Fato (de 30 de junho a 6 de julho) para Joana Tavares é uma aula, como só um bom professor consegue dar. Ele está com 93 anos e goza de uma lucidez e simplicidade ímpar ao tratar dos temas sobre os quais foi perguntado.

Socialismo. “O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você não chegará. Mas se não fizer essa luta, você cai no inferno”. Ou. “O que se pensa que é a face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue.”

Literatura. “O Machado de Assis, mesmo mal traduzido, continua grande. Se dizem: ‘a tradução matou a obra’, então a obra era boa, mas não era grande”

Informação. “Qualquer atividade que não seja estritamente técnica, acho que a clareza é necessária inclusive para poder divulgar a mensagem, a mensagem deixar de ser um privilégio e se tornar um bem comum.”

Geração. “Cada geração tem o seu dever. O nosso dever era político.” E o dever da atual geração? “Ter saudade. Vocês pegaram um rabo de foguete danado”.

Candido diz estar afastado de todas as novidades a cerca de 30 anos. “Parei no telefone e máquina de escrever”. Se define, singelamente, como um velho caturra. Entrevista para  ler, guardar e reler sempre que possível.

domingo, 3 de julho de 2011

A virada

Tomarei a última garrafa de whisky às cinco em ponto.

Seis horas depois estarei na contramão da rodovia norte-sul.

Lá alcançarei a máxima velocidade possível do porsche roubado uma hora antes.

Rodarei com uma dose cavalar de adrenalina por 5 km na faixa exclusiva dos caminhões.

Você pode imaginar a sensação da adrenalina misturada ao álcool? e a velocidade?

O vento entrará pela janela e seu barulho me libertará. Falta pouco.

As luzes crescem e com elas as buzinas e freios fazem coro a minha orquestra particular.

A 150 metros do fim o coração se iguala ao velocímetro.

Marca 200. E bate.

Assim, sem adjetivos e explicações formais, morrerei a meia noite do dia 31 de dezembro de 2018.

Será o dia da virada.

Fredo Sidarta, poeta, para a seção Cronetas do NR.
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