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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 28 de março de 2009

Socializar a miséria

Vou colocar aqui algumas aspas das entrevistas que fiz com alguns professores temporários e que não entraram na matéria para a edição de abril da Revista do Brasil. Relembro, isso dá um dos vários lados do problema do ensino público no Estado, a maior rede do país.

"O principal problema para o professorado é a questão salarial e salas superlotadas. Eu tenho salas de manhã que têm mais de 40 alunos. E sei de colegas na periferia com salas de 50 alunos."

"A minha filha teve que estudar um ano na escola pública. Pra mim foi desesperador. Porque eu conhecia a escola e sabia que a coisa não funcionava bem. Depois ela foi, quando deu, para um colégio particular."
Maria Cristina, Campinas, temporária há mais de 10 anos

"A atribuição de aulas é briga de tapa mesmo. É socializar a miséria. Sobra migalha e aí tem que repartir."

Não é só a parte pedagógica que está complicada. A questão é social. A escola reflete o que está acontecendo aí fora. Falta de perspectiva."
Pedro (nome fictício), 47, temporário há mais de 20 anos no interior de São Paulo

quinta-feira, 26 de março de 2009

É hexa, nas bancas


Mais uma do São Paulo nas bancas. Dessa vez, depoimentos de Rai, Careca, Dario Pereira, Rogério Ceni, André Dias e Jorge Wagner. O DVD é a conquista do Hexa, 2008; bastidores, jogos e gols. Novamente, aos interessados.... R$29,90. O mesmo DVD nas lojas há um mês estava quase 50 paus.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Sorriso inesquecível

Era 01 de abril de 2008. Bairro de Higienópolis, São Paulo. Lá encontrei para um bate-papo o jornalista Juca Kfouri.

A missão: falar de Sérgio de Souza, nosso Serjão, uma semana exata após seu falecimento. Conversa cercada de emoção. Aqui, alguns trechos do que virou matéria no especial Sérgio de Souza, da revista Caros Amigos do ano passado.

Juca conheceu o Serjão em 1977, tinha 27 anos. Ao encontrá-lo para um jantar, já sabia da importância daquele homem de 43 anos e sorriso inesquecível. “Houve uma química imediata", disse.


Saiba mais:



Os filhos da gente entenderão tudo
Ao longo de quase 30 anos de amizade trabalharam na TV Tupi, em 1978, no programa Nossa Copa, em 1982 e na revista Placar, em 1984. Na Tupi, quase falida, início do governo Ernesto Geisel, Sérgio é convidado para ser o Diretor de Jornalismo. Juca está na editora Abril, era chefe de reportagem da revista Placar. Telefone toca:

- Juca, vem aqui pra comemorar com Whisky.

“Eu fui tomar um Whisky. Ele era simples, uma pessoa que não ligava pra dinheiro, muito despojado, a tal ponto que você sabia se as coisas estavam bem com ele quando tinha Whisky em casa. Era raro!”

- Juca, quero que você seja meu diretor de esportes...

“Eu falei, ‘como? Porque eu?´”

- Juca, jornalista pra mim tem que ter duas qualidades e pra mim você tem as duas: caráter e talento.
“E eu fui sem nunca ter feito televisão na vida”.

Três meses depois, sem pagamento, em condições precárias de trabalho, pediram as contas. “Não tinha redação. Foi divertido, fizemos coisas do arco da velha, na base da guerrilha”. Nos fechamentos que varavam as madrugadas, diante dos filhos e mulheres em casa, o país num momento político complicado, Juca ouviu do amigo.

- Os filhos da gente mais tarde entenderão tudo.

“Lembrei dessa frase agora ao ver todos com um imenso carinho diante da morte do pai.”

Sensibilidade em estado puro
“Ele nunca se impôs hierarquicamente, sempre se impôs pela inteligência, competência, criatividade e pela capacidade que tinha de melhorar as coisas que você fazia. Ele te alertava para um detalhezinho que fazia toda a diferença. Trabalhei como chefe dele na Placar mas nunca fui chefe, como é que se chefiava o Serjão? Deixei a revista com ele.

Duas ou três vezes entrou na minha sala para me criticar, nunca me esqueço de uma vez, o jovem Gui (Guilherme Cunha Pinto, também jornalista) entrou e disse: 'Acho que nisso aqui você exagerou´. Eu tinha elogiado a democracia corintiana. Falei: ´Não, deixa assim porque a guerra está feia, é proposital.´ Aí veio o Serjão: ´Juca, você falou com o Gui? Ele tem razão, isso aqui está exagerado’ Respondo: ´acho que é melhor deixar assim.´ ´Juca, mas tanto o Gui como eu achamos que não e você acha que deve manter?´ ´Sim, Serjão, deve manter, eu quero que mantenha!´ Aí ele soltou, ironicamente: ´Le Magazine c´est moi´ (´a revista sou eu´, como o monarca Luiz XIV um dia disse L´État c´est moi, que quer dizer, ‘O estado sou eu)´

Ou seja, demarcou a posição. Ele era capaz até de se distanciar de alguém sem que isso significasse mudança de avaliação positiva que fazia da pessoa. Não é aquele coisa maniqueísta de ‘ou está comigo ou está contra mim.’ O Serjão é a sensibilidade em estado puro, sempre foi.”

Um artesão do jornalismo
“Serjão tinha a absurda capacidade de ouvir. E a incrível facilidade de decidir o que vai ser feito ou não vai ser feito sem que aparentemente a decisão fosse dele. A impressão que me dá do Serjão é de um artesão do jornalismo, a coisa do lápis preto que sempre me impressionou muito. Cirúrgico.

Se o Serjão fosse escritor, o Serjão seria o Graciliano Ramos. Que os críticos em regra dizem ser o escritor seco, de poucos adjetivos. Mas se você for ler o Graciliano Ramos sem preconceito nenhum você verá que de seco não tem nada. Que ele é extremamente poético na dureza do sertanejo. Alguém disse que o Serjão era que nem abelha, as palavras dele tinham ferrão e mel”.

Ruptura com elegância
“Quando ele dirigiu o jornalismo do Fantástico (em 1981) em São Paulo, quando pediu demissão, virou para um repórter do qual não gostava e disse: ´eu estou indo embora, mas quero que você saiba que eu tenho absoluta percepção de que você é uma figura deletéria´. Você ser chamado de deletério? É pior que canalha! Quer dizer, uma palavra usada na sua precisão absoluta, mais doloroso do que isso impossível.”

Lições de jornalismo e solidariedade
“Eu não me lembro de ter visto ele perder a paciência na vida. Era de uma solidariedade irrestrita e silenciosa. Em 1984, fizemos uma matéria denunciando o doping do jogador Mário Sérgio, que estava no Palmeiras. A matéria envolveu muita gente da Placar. Sexta-feira de madrugada e decidimos que não íamos assinar a matéria.

Seria uma matéria da Placar, o diretor-responsável falou que não, a matéria tinha que ser assinada se não ia no rabo dele e ele não queria. Discute daqui, discute dali, de madrugada não tínhamos nem como acionar a direção da Abril para resolver. O Serjão vira e diz, ´assinemos assim, Juca Kfouri com Sérgio de Souza´ e mais trinta nomes. Aquilo causou um estupor dentro da Abril, uma matéria assinada por 30 pessoas. Quem poderia ser responsável pela matéria? A matéria gerou um ódio da torcida do Palmeiras contra mim. O Serjão soube que numa ida à Campinas, na volta, num posto, fui cercado por torcedores do Palmeiras e no domingo seguinte tinha um Palmeiras e Portuguesa no Pacaembu e eu comentaria pelo SBT.

Nos despedimos e ele: ‘no domingo que horas você vai pro jogo?’ Falei: ‘o carro do SBT deve passar em casa umas 14h 30, por que?’ ‘Não, só pra saber.’ Estou saindo da casa dos meus pais no domingo e estava lá o Serjão encostado no carro. ‘Que que é, Serjão?’ ‘Ah, vou com você.’ Foi para o Pacaembu comigo, a torcida do Palmeiras, na hora que entrei na cabine se virou gritando ‘Juca Kfouri filho...´ E o Serjão e outro amigo, Roberto Manera, na porta da cabine durante o jogo inteiro, puta leão de chácara, segurança, para o que desse e viesse. Outro episódio na Tupi: fizemos uma matéria achando que era do cacete, contando que depois que o Brasil voltasse da Copa da Argentina (1978) qual seria o destino de cada um dos jogadores e que o Rivelino iria para o futebol árabe. Ninguém botava fé e aconteceu. A matéria terminava: ´quem viver, verá!´ O Serjão deixou a gente a vontade pra fazer, só foi ver no jornal da Tupi, no ar.

E ele: ´Pô, mas ele vai mesmo? Vocês vão se danar se não for.´ Quando aparece o trecho ´quem viver, verá!´ Eu e o outro repórter, orgulhosíssimos, e ele: ´estava indo tão bem, precisava desse fecho? Isso é prova de que nem vocês acreditam na informação. Ela por si só é suficientemente forte sem que vocês precisem provocar ninguém, desafiar ninguém.´ Ele tinha toda razão. Não era preciso soltar rojão. É esse o Serjão, essa sensibilidade, é o cara da sintonia fina permanente.

Alegria de viver
Tirar o Serjão de casa nos últimos anos – ainda mais para uma viagem internacional – não era tarefa fácil. Final dos anos 90, depois de inúmeras combinações, enfim o destino planejado, Buenos Aires. Juca conta que o início da viagem foi um caos, mas que apesar dos pesares a viagem deu para ele a medida exata da alegria de viver do amigo, que nunca perdia a paciência e o bom humor. “A saída daqui foi um caos porque o aeroporto estava lotado e a minha mulher, esqueceu a carteira de identidade original e perdemos o vôo da meia noite. Ela teve que pegar a identidade em casa e fomos no vôo das duas da manhã.

O primeiro dia nós, mais ou menos, vamos perder por causa disso, mas o Serjão não se abala, achando graça de tudo, com aquele sorriso dele. Chegamos em Buenos Aires e confesso que estava contrariadíssimo, estressado! No aeroporto, passando pelo saguão para pegar as malas, vimos o free-shop aberto, umas garrafas de whisky e disse ‘pera aí, Serjão´. Era uma garrafa de Blue Label de 60 anos, uma nota.

Olhei pro Serjão e ele ‘Nós merecemos!’. Compramos. Veio o táxi, estamos guardando as malas, e quando vamos entrar a sacola escapa da minha mão, cai na quina da calçada e a gente vê o líquido, aquele líquido precioso, indo em direção do bueiro. Minha vontade foi abaixar e pegar com a mão. Nós entramos no carro e o Serjão caiu na gargalhada. Fomos rindo até o hotel e ele dizendo ‘Porra, realmente essa viagem vai ser do cacete!’ Perdemos o vôo, quebrou o whisky mais caro que ele já comprou na vida na porta do aeroporto e foi uma viagem deliciosa, inesquecível.”

As últimas conversas
“Nós falávamos de tudo e ele ainda mantinha, eu não, mais cético e decepcionado com o governo Lula, um certo otimismo. Estava mais preocupado em olhar para o que ainda tem de positivo. Nunca achei que eu conseguisse mostrar pro Serjão o tamanho do afeto que eu tinha por ele, a admiração.

Na semana dos 10 anos da Caros Amigos, em 2007, quando falei aquilo que depois eu escrevi no obituário dele para a Folhade S.Paulo, a frase do Brecht, sobre os homens imprescindíveis, olhando para ele, pela primeira vez achei que ele gostou de ter ouvido aquilo de mim na frente de todo mundo. Isso me dá a maior alegria de falar, pois falei uma coisa que ele gostou de ouvir, se sentiu confortável.

Porque toda e qualquer coisa que você dissesse pra ele vinha aquele sorriso como se dissesse `que bobagem, isso não tem a menor importância.`”

Um cara da história sem menção da grande mídia
“Essa é a miséria brasileira. Se nos Estados Unidos, na Inglaterra ou na França tivesse morrido um Sérgio de Souza, independentemente da concordância ou não dos demais veículos de imprensa, ele seria devidamente homenageado. Não é com o obituário dos amigos, ele seria primeira página dos jornais mais importantes do país, ‘ Morreu Sérgio de Souza - a essência da revista Realidade’.

Teria destaque em todas as revistas semanais nesse país. É o clima de Fla-Flu que virou a nossa imprensa. Você não precisa concordar com a linha, mas você não pode deixar de respeitar e admirar. Esse é um cara da história. Se esses homens de comunicação não têm essa sensibilidade com outros homens de comunicação, opa, opa! Pouquíssimas mortes na minha vida me abalaram tanto, me doem tanto. Todas as pessoas que conviveram com ele e de quem o Serjão gostou, todas, têm, no mínimo, um ou duas histórias muito fortes pra contar. Ninguém passou em branco.

O Serjão é uma marca na vida de todas as pessoas que o conheceram. Acho muito legal a última entrevista dele ser com uma estudante. Porque, no fundo, essa foi a missão dele: sempre preparar as novas gerações, ele sempre acreditou nisso.” (Thiago Domenici)

1 ano


Hoje faz 1 ano.

Uma lembrança do amigo e mestre, Serjão!

terça-feira, 24 de março de 2009

Homens imprescindíveis

Amanhã completará um ano da perda do Serjão, 25 de março de 2008. Em um ano muita coisa aconteceu na minha vida, na vida dos meus grandes amigos, parceiros que o conheceram e compartilham da mesma saudade. Amanhã postarei uma matéria (sem edição) que fiz com Juca Kfouri, jornalista, também muito amigo do mestre. Existe uma edição especial sobre o Serjão, da Caros Amigos, que ajudei a fazer, ainda como secretário de redação. O fechamento mais complicado da minha ainda breve carreira. Sugiro que aos amantes do bom jornalismo a leitura é imprescindível, igual ao poema, igual ao Serjão. Aqui, minha homenagem a quem me fez e faz lembrar do jornalismo com tesão de mudar, tocar as consciências. Muitas saudades, Serjão!


Homens imprescindíveis

Há homens que lutam um dia e são bons;

Há outros que lutam um ano e são melhores.

Há os que lutam muitos anos e são muito bons.

Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis!

Bertold Brecht

Dois filmes, Sicko e Gran Torino

Curto e grosso, indico dois filmes que vi e gostei no final de semana: Sicko, de Michael Moore, que fala do sistema de saúde falido dos EUA. A base da critica é a comparação, o humor e o bom jornalismo irônico de Moore. Cuba, Canadá, França, Londres são os lugares que ele usa para detonar com a situação estadunidense. O outro filme é Gran Torino, do espetacular Clint Eastwood. Uma obra-prima, que me levou da gargalhada ao choro no cinema. Trata de intolerância, violência, amizade, com um roteiro muito envolvente. Critica de cinema, vocês sabem, é uma merda. É o que acho. Por isso não fico aqui fazendo grandes teses sobre o que vejo. Se eu gostar indico. Se não gostar, nem perco meu tempo.

domingo, 22 de março de 2009

Uma fala, um problema que ninguém dá conta

Compartilho com vocês uma fala de um professor temporário há mais de 20 anos para uma reportagem de minha autoria sobre a situação desses professores (são 100 mil no Estado de São Paulo) que sairá na próxima edição da Revista do Brasil, edição 34, de abril. A fala dá um pouco a dimensão do triste e complicado cenário da educação pública por essas bandas: "A minha esposa é professora da rede também e tinha gente cheirando cocaína na sala de aula, com caderninho na mão, fazendo acerto se fulano pagou, se não pagou.'Cadê fulano e cicrano?' 'Ah, ele está preso professora'."

sexta-feira, 20 de março de 2009

Uma historinha da ditadura

Quando minha mãe, Zilda, tinha 13 anos, vinda do Paraná, da cidade de Sertanópolis ela mal sabia o que era ditadura militar. Corria o ano de 1965. Trabalhando como empregada doméstica na casa de um falecido advogado, de nome Lauro, certa vez ficou curiosa com as constantes reuniões a portas fechadas no apartamento da Vila Mariana, em São Paulo. Das reuniões, lembra apenas de um tal Tancredo Neves que depois veio a saber quem era. Durante uma das faxinas encontrou um pequeno cartão de visita, todo branco e foi imediatamente aconselhada: "você não viu isso, não comente com ninguém." Os seguintes dizeres em preto denunciavam: "O Brasil é um país pior que o Estado Novo, existe uma linha dura costurando o cú do povo."

quarta-feira, 18 de março de 2009

Os sonhos esquecidos

Helena sonhou que deixava os sonhos esquecidos numa ilha.
Claribel Alegria recolhia os sonhos, os amarrava com uma fita e os guardava bem guardados. Mas as crianças da casa descobriam o esconderijo e queriam vestir os sonhos de Helena, e Claribel, zangada, dizia a eles:
- Nisso ninguém mexe.
Então Claribel telefonava para Helena e perguntava:
- O que eu faço com os meus sonhos?

O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano, pg. 45

segunda-feira, 16 de março de 2009

Azeredo quer criminalizar a internet

Trago aqui uma informação de interesse público, com informações do Blog do Sérgio Amadeu. “O Senador Azeredo, eleito presidente da Comissão de Relações Internacionais do Senado, no dia 4 de março, a partir de sua nova posição está pressionando o governo para apoiar a aprovação do seu projeto de criminalização da Internet na Câmara. No dia 5 de março, o deputado conservador ligado ao PSDB, Regis de Oliveira (PSC-SP), conseguiu aprovar seu parecer favorável ao projeto do Senador Azeredo na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. O Parecer afirma que o projeto vigilantista e violador da privacidade na rede é constitucional e clama pela sua aprovação. O projeto de lei do Senador Azeredo quer destruir as redes abertas, impor o fim da comunicação anônima na Internet e criminalizar práticas cotidianas na rede. Abre espaço para atacar as redes P2P, como tem ocorrido em todo o mundo (veja o exemplo do julgamento do Pirate Bay). O projeto do Senador Azeredo é apoiado pela Febraban e pelos banqueiros que querem repassar para a sociedade os custos da segurança bancária. Quem quiser se somar à luta pela liberdade e privacidade na Internet, envie um e-mail para o deputado do seu Estado pedindo que vote contra o projeto de crimes da Internet re-escrito pelo Senador Azeredo. Procure no site da Câmara o e-mail do deputado do seu Estado. Leia as postagens que esclarecem os riscos dos artigos 285-A, 285-B e 22 do projeto-substitutivo do Senador Azeredo. Ajude a divulgar a petição contra o projeto original do senador Azeredo."

domingo, 15 de março de 2009

Surplus

Lixo, muito lixo. Consumo, muito consumo. Capitalismo, vida simples é possível? Surplus é um filme baseado em imagens e discursos de governantes como Fidel Castro. Um tiro curto de 50 minutos, uma reflexão sobre o problema de fundo da humanidade: o capitalismo sem controle ou como diz a sinopse oficial: "Um olhar sobre o jeito de ser e de viver da humanidade, este trabalho coloca em discussão não apenas a vida em sociedade e a ordem estabelecida, como também a própria essência humana. As necessidades dos homens, as maneiras de reagir a elas e as formas de controle social acabam por comprometer todo o ecossistema terrestre, sem exceção às relações humanas." No link acima você vê o filme na íntegra, legendado em português.

sábado, 14 de março de 2009

Show de gols do Tri


Já está nas bancas um trabalho de reportagem que fiz com muito prazer: a Revista-DVD oficial do Hexacampeonato do São Paulo Futebol Clube. Além do DVD, com todos os gols do tricampeonato, um por um, vem a revista, com textos sobre a competição, curiosidades de torcedor e uma entrevista exclusiva com o Muricy Ramalho. Essa imagem é a da capa. Aos tricolores e admiradores, fica a sugestão.

Brasil: pasto de engorda

Bernardo Kucinski escreveu na última edição da Revista do Brasil uma tremenda informação sobre a economia em tempos de crise. Diz ele que "em um único ano, o capital estrangeiro enviou para seus acionistas no exterior dez anos de bolsa família." A análise de Bernardo diz que nossos jornalões exaltam a entrada de capital mas não acompanham o retorno dele. "Só até novembro os investimentos estrangeiros já haviam remetido para o exterior 47,2 bilhões de dólares a título de rendas, conforma boletim de janeiro do Banco Central". E segue: "Foram quase 100 bilhões em apenas dois anos. Nesses mesmos dois anos entraram 64 bilhões de investimentos estrangeiros. Ou seja: já mandamos mais lucros do que capital que entra." E mais: "São números tão grandes que a gente fica sem saber o que significam. Mas, para se ter uma idéia, corresponde a dez anos de orçamento do Bolsa Família, hoje na casa dos 11 bilhões de reais. E a mesma grande imprensa que costuma desprezar o programa social, que atende 11 milhões de famílias, se cala perante a renda obtida aqui pelo capital estrangeiro."

quinta-feira, 12 de março de 2009

40,5% dos dep. federais são contra o aborto

Só para constar: sou a favor da discriminalização do aborto. No Congresso, no entanto, da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, movimento contrário ao aborto, participam 208 deputados (são 513 no total), ou seja, 40,5% deles são contrários a discriminalização. Até pode ser mais, já que o restante não foi mensurado. Fiz as contas baseado apenas nos que integram a tal Frente Parlamentar em Defesa da Vida.

Ainda muito ricos

Os mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes, estão perdendo muita grana com a "entidade crise". São 45% de perdas ou 2 trilhões de dólares. O número de 1.125 pessoas que tinham ao menos 1 bilhão de dólares em 2008 caiu para 793 bilionários em 2009. Segundo matéria da Folha de S. Paulo de hoje, "Na média, cada um tem US$ 3 bilhões - US$ 900 milhões menos que em 2008." No Brasil, Eike Bastista é o mais rico, 7,5 bilhões e 61º do mundo. Eles ainda são muito ricos.

segunda-feira, 9 de março de 2009

O domingo das mulheres

No sábado 300 pessoas estiveram em frente ao prédio da Folha de S. Paulo para protestar contra o editorial da "ditabranda". No dia seguinte, a FSP do seu jeito arrogante pediu desculpas. Sob o título "Folha avalia que errou, mas reitera criticas", o diretor de redação, Otavio Frias Filho escreveu: "O uso da expressão 'ditabranda' em editorial de 17 de fevereiro passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis." Ainda assim, deixou seu desgosto registrado ao final do texto: "Para se arvorar em tutores do comportamento democrático alheio, falta a esses democratas (aqui ele se refere aos professores Maria Victoria Benevides e Fábio Konder Comparato) de fachada mostrar que repudiam, com o mesmo furor inquisitorial, os métodos das ditaduras de esquerda com as quais simpatizam." De todo forma, a desculpa do jornal é um sinal de que a mobilização pela internet, através de e-mails, sites independentes e do movimento dos sem-mídia fez seu efeito. Chamou a atenção e a forma de protesto foi justa, pacífica e só dá margem para que o brasileiro se preste a se indigar, exigir e protestar quando tiver motivo. Isso faz parte da cidadania. Cidadania, aliás, vista também na av. Paulista, na manisfestaçnao do Dia Internacional da Mulher. Muita gente vestindo lilás (cor do movimento feminista) marchou sob o tema: “Nós não vamos pagar por essa crise.” Outro ponto marcante foi a manifestação pela legalização do aborto, calcada nas falacias bobocas do bispo excomungador de médicos (não dá pra falar palavrão aqui, afinal é um religioso). Um amigo disse que ao final do protesto, mulheres subiram no Monumento às Bandeiras, em frente ao Parque do Ibiraquera, carregando uma faixa que dizia “Não à criminalização das mulheres. Legalização do aborto já!” As mulheres são demais!

rodapé cultural: o filme Frost/Nixon é bom. Quem gosta de história e de jornalismo vai curtir. O ator que faz o ex-presidente estadunidense Nixon, o mesmo do caso Watergate, arrebentou na interpretação. Para quem entende inglês (não é o meu caso, como gostaria que alguém traduzisse) a entrevista verdadeira, de 1977, está aqui nesse link.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Uma história da Rede Globo

Um pouco sobre os bastidores da Rede Globo e as sacanagens de bastidores; leia texto do repórter Rodrigo Vianna no site Vi o Mundo, de Luiz Carlos Azenha. Vianna está atualmente na Record e no texto fala sobre sua saída após as eleições de 2006, quando a Globo deu um viés parcial, pra dizer o mínimo, na cobertura das eleições. Eis o que não fazer no jornalismo. Mentir.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Ditabranda, parte 2

Na Folha de S. Paulo de ontem o artigo de Marco Antonio Villa dá nos nervos. Há um dia da manifestação programada pelo Movimento dos Sem-Mídia na porta do jornal contra o editorial que falava da "ditabranda", o historiador (num artigo literalmente encomendado) diz que "É rotineira a associação do regime militar brasileiro com as ditaduras do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai). Nada mais falso. (...) Somente o presidente Ernesto Geisel criou mais de uma centena de estatais. Os governos militares industrializaram o país, modernizaram a infraestrutura, romperam os pontos de estrangulamento e criaram as condições para o salto recente do Brasil, como por meio das descobertas da Petrobras nas bacias de Santos e de Campos nos anos 1970."
Sem dúvida ele não militou na clandestinidade e não deve ter tido nenhum amigo perseguido ou morto. Nem mesmo sua carreira deve ter sido interrompida ou não viveu permanentemente ameaçado com esposa e filhos. Li em algum lugar o seguinte: "Que diferença existe entre ser assassinado com vinte tiros ou ser abatido com um apenas, mas certeiro?". O golpe foi desfechado (com apoio da FSP à época em manchetes claras que a história não esquece) e implementou, além do terror, um regime tecnocrático-militar visando o desenvolvimento capitalista dependente, tanto na economia, quanto na cultura. Parabéns Villa, você conseguiu me irritar com seu artigo relativista. Obrigado.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Coletivo Jovelina e Revista do Brasil

Algumas coisas pra dizer. Muita correria nos últimos dias e o blog ficou meio de lado. Inevitável. Estou readaptando a minha rotina por alguns motivos, ei-los: emprego novo. Agora sou repórter da Revista do Brasil, começei essa semana e, ainda pegando o jeitão em meio ao mundo de informações que tenho que adquirir, estou gostando bastante. A proposta editorial é bem intencionada e justa, privilegiando a boa condução jornalística. Com um portal de notícias a ser lançado em Abril, no qual dedicarei maior parte do tempo, terei no jornalismo diário de web um desafio tentador e de muito valor.
Outra causo pra dizer é sobre a tal pesquisa do nome jovelina que postei por aqui. É que eu e mais três amigas jornalistas estamos montando um Coletivo de jornalismo e arte, chamado Jovelina. Faremos um site lá pra frente, antes lançaremos um blog pra pegar ritmo, com jornalismo de primeira, porque a equipe é pra lá de qualificada. Todos advindos da Escola Sérgio de Souza, nosso mestre. Daí fazer jornalismo do jeitão autoral, humano, tentando agregar mais pessoas interessadas em sair da mesmice, ter idéias em comunicação e arte, sempre com viés do "prazer de fazer", pela paixão de informar com critério, relevância e, sobretudo, pensando no leitor. Queremos pilhar e criar. Estamos elaborando a proposta, o manifesto, pra daí cair na rede mundial. Queremos ser lidos, ouvidos, vistos, fazer diferença com conteúdo do bom, porque o que a gente quer é jornalismo com idéias.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Definição da arte

Portinari saiu - dizia Portinari. Por um instante espiava, batia a porta e desaparecia.
Eram os anos trinta, caçada de comunistas no Brasil, e Portinari tinha se exilado em Montevidéu.
Iván Kmaid não era daqueles anos, nem daquele lugar; mas muito tempo depois, ele espiou pelos furinhos da cortina do tempo e me contou o que viu: Cândido Portinari pintava da manhã à noite, e noite afora também.
- Portinari saiu, dizia
Naquela época, os intelectuais comunistas do Uruguai iam tomar posição frente ao realismo socialista e pediam a opinião do prestigiado camarada.
- Sabemos que o senhor saiu, mestre - disserram, e suplicaram:
- Mas a gente não podia entrar um momento? Só um momentinho.
E explicaram o problema, pediram sua opinião.
- Eu não sei não - disse Portinari.
E disse:
- A única coisa que eu sei é o seguinte: arte é arte, ou é merda.

Livro dos Abraços, Eduardo Galeano, L&PM Pocket

domingo, 1 de março de 2009

Tango do bom

Ontem estive no auditório do ibirapuera, à noite, para assistir ao espetáculo da Orquesta Típica Fernández Fierro (OTFF), da Argentina. Aliás, espetáculo a parte é o próprio auditório, obra do gênio Niemeyer. Nascida em 2001, a OTFF organiza-se como cooperativa, grava seus discos de maneira independente e administra seu próprio clube, o CAFF (Clube Atlético Fernández Fierro). Ontem eles tocaram o último CD "Mucha mierda", mas já têm quatro anteriores. Em 2006 foram indicados para o Prêmio Gardel como Melhor Álbum de Orquestra de Tango. Vou colocar aqui um vídeo do Youtube, da música "Che Bandoneon", instrumento esse, o Bandoneon, alma do Tango, de um vigor e força que arrepiam. Do que li e vi ao vivo, concordo que o OTFF tem uma estética punk mais forte do que a tangueira, com um show cheio de luzes e representações teatrais. É uma renovação na forma de sentir a música, com mais humor e menos tristeza.

Identidades em Trânsito

Do Porta Curtas um belo documentário: Identidades em Trânsito, que trata das experiências de estudantes de Guiné-Bissau e Cabo Verde formados no Brasil. O filme aborda a saída, a chegada, adaptação no Brasil, e o retorno desses estudantes aos seus países de origem. O documentário é de 2007 e já ganhou mais de 13 prêmios. Os diretores são Daniele Ellery e Márcio Câmara. Clique na imagem para assistir, são 19 minutos.
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