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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cientista da esperança


Aqui a íntegra da entrevista de Miguel Nicolelis do qual falei em postagem anterior. Publicada originalmente na Revista do Brasil, edição 37, julho. Entrevista realizada por mim e pela repórter Cida de Oliveira na sede da Associação Alberto Santos Dumont, em São Paulo. As imagens são do fotógrafo Jailton Garcia.

O paulistano Miguel Nicolelis dirige, desde 1994, o centro de neurociência da Universidade Duke, na Carolina do Norte, Estados Unidos. E é um dos fundadores do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), na capital do Rio Grande do Norte. A escolha de um local longe dos centros econômicos está ligada à sua batalha por descentralizar a produção do conhecimento, tornar a educação científica acessível às crianças das escolas públicas do Rio Grande do Norte. Seu grupo pesquisa origens da doença de Parkinson e como controlar ou amenizar seus efeitos no homem. Por esse estudo, que abre uma nova frente de pesquisas também sobre outras doenças do sistema nervoso, foi o primeiro brasileiro a ter destaque na capa da revista Science. Formado pela USP, Miguel Ângelo Laporta Nicolelis começou a ter seu trabalho projetado internacionalmente quando implantou uma prótese no cérebro de um macaco, por meio da qual o bicho moveu um braço robótico – com a “força do pensamento”. O trabalho foi listado pelo Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT) como uma das dez tecnologias que vão mudar o mundo. Ele e seus colegas registraram também sinais elétricos emitidos por neurônios do cérebro de uma macaca e os transmitiram ao laboratório do MIT, distante mil quilômetros, onde um braço robô foi movido por esses impulsos. Posteriormente, o registro da atividade neural da macaca enquanto andava numa esteira foi enviado, via satélite, ao Japão, onde um macaco andou sob o comando cerebral da primata americana. A ideia dessas experiências é fazer pessoas com paralisia voltarem a andar. Para Nicolelis, mais importante que o Prêmio Nobel que corre o risco de ganhar é fazer com que a educação seja não um objeto de mecanização de ordens, mas de geração e difusão de conhecimento. E de construção de uma nova democracia.

Como transformar a sociedade pela ciência?
A ciência gera conhecimento novo e processos geradores de mais conhecimento, tecnologias, métodos e novos produtos. Gera poder. No século 21, a democratização de uma sociedade depende da democratização dos meios de produção de conhecimento de ponta. Ao longo da História fomos levados a crer que só a elite pode fazer ciência nesses lugares misteriosos que a gente chama de universidade, esses espaços originados nos mosteiros da Idade Média, que têm acesso restrito, onde para entrar é preciso passar no vestibular. Com isso, boa parte da sociedade fica sem saber como é gerada a inovação. É a ciência que vai mostrar como enfrentar questões como as da Amazônia, do meio ambiente, das nossas reservas de óleo. O que faremos com tudo isso? Onde aplicaremos o dinheiro que será gerado pelas reservas do pré-sal? Os brasileiros têm de participar dessa discussão. Mas para participar devem ter acesso aos métodos de produção de ciência.

Mas como os brasileiros podem ter esse acesso? A ciência produzida não fica restrita aos cientistas e seus ambientes, universidades, laboratórios?
Geralmente sim. É como se ficasse numa redoma de vidro à qual a grande massa da população não tem acesso. Costumo dizer que estamos melhorando muito, mas tudo é ainda muito caótico. A universidade pública, por exemplo, ainda não é pública na entrada nem na saída. Embora tenhamos hoje a melhor gestão do Ministério da Educação que jamais tivemos na história do Brasil, ainda falta muita coisa. O problema é muito grande, acumulado em séculos de negligência.

Como o senhor avalia o aumento quantitativo da produção científica brasileira?
Esse aumento nos últimos anos deu-se pela exigência dos métodos de avaliação das universidades, que cobram produção em número, e não em qualidade. A qualidade de um trabalho científico não é medida apenas localmente, e sim pelo seu impacto no mundo da ciência, que é muito objetivo. Por isso o impacto desse aumento na vida do país ou do mundo é questionável. Apesar de aumentar o número de pesquisas, o Brasil é um dos países que menos patenteiam propriedade intelectual e menos produzem inovação científica. Ainda temos uma visão cartorial da ciência, com algumas agências de financiamento brasileiras impondo uma burocracia absurda, que não pode se aplicar ao projeto de um cientista.

Isso é só no Brasil ou lá fora também?
O Brasil é campeão nisso. Precisamos construir mecanismos ágeis de fomento, de operacionalização. Não adianta ter só o dinheiro. Seria um exercício muito interessante, para vocês, pegar o orçamento do Ministério da Ciência e Tecnologia e ver quanto dele foi executado. Nem os caras lá dentro conseguem se livrar da burocracia.

O senhor declarou numa entrevista que o ministro da Ciência e Tecnologia deveria sentar do lado do presidente da República. Por quê?
Na minha modesta opinião, os ministros da Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia – a trindade – deveriam sentar do lado do presidente. E bem lá atrás o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, fazendo contas. E temos gente altamente preparada, nessas três áreas, que tinham de receber o orçamento que determinassem. E então apertaríamos o cinto em outras coisas para garantir o cumprimento das prioridades, que trarão retorno para o país e para a humanidade. Há cientistas brasileiros brilhantes aqui que não precisavam sofrer para ser financiados, porque contribuem para a humanidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, a ciência e a tecnologia estão no centro do debate nacional e são tema da conversa do café de todo mundo.

Independentemente de quem esteja no governo?
Sim, e a grande vantagem da academia americana é que lá o cara que nasce na periferia de Nova York, por exemplo, tem chance de ser um professor universitário. Aqui, a ciência brasileira foi construída pela elite. Isso mudou um pouco, mas não o suficiente para um menino da periferia sonhar em ser cientista. Os meninos da periferia de Natal já têm mais chances porque nós desmistificamos a ciência para eles. Antes, quando perguntávamos o que queriam ser, respondiam jogador de futebol, atriz, modelo. Hoje há quem queira ser ortopedista, astrofísico, geólogo, químico, professor. Eles constataram que professor não é inimigo, e sim o adulto em que podem confiar porque vai lhes abrir portas.

O senhor convive com crianças em Natal e com neurocientistas num laboratório americano...
Ambas as realidades estão conectadas. Em nosso laboratório estudamos o cérebro e como é o processo de educação do cérebro. Então a neurociência e a educação andam lado a lado, como qualquer outra coisa que envolve a atividade humana. Porque tudo que vem do ser humano, do ponto de vista de produção motora-cognitiva-intelectual, tem como final da cadeia o cérebro. Os sistemas políticos, o mercado financeiro, a arte, enfim, tudo depende das propriedades biológicas do nosso cérebro. O mundo inteiro deveria ter interesse em saber como nosso cérebro funciona porque ele é a essência do que somos e explica tudo o que fazemos.

Foi o que o trouxe de volta ao Brasil?
Quando decidi voltar para o Brasil e fazer alguma coisa sabia que seria tudo muito difícil. Cheguei a ser tratado como estrangeiro por alguns setores das universidades. E eu só decidi entrar na briga porque queria disseminar a ideia de que a ciência é agente catalisador da transformação social, começando pela educação. Se eu quisesse que essas crianças passassem a ter prazer em aprender, em se envolver com a investigação científica, a única maneira seria colocá-las em contato com o critério lúdico da investigação científica. Criança adora ver a reação causal das coisas. Se uma pilha de blocos cai, ela logo percebe que é necessária uma estrutura para manter os blocos em pé – coisa que dificilmente perceberá em uma aula teórica, com o professor falando um monte de coisa que terá de ser reproduzida numa prova.

Como é esse trabalho em Natal?
A formação de professores levou seis meses. Nossa escola vai fazer três anos e é um esforço pequeno ainda. Atendemos mil crianças, mas queremos levar a experiên¬cia para o Brasil inteiro. Toda escola pública deveria ter aula em período integral. E a aula deveria ser diferente, livre desse modelo da autoridade, de o professor vomitar a “verdade” que deverá ser recitada pelo aluno. A verdade tem de ser descoberta. E esse é um método científico, que faz parte da nossa vida o tempo inteiro. É o caso de quem empresta dinheiro e não recebe. A chance de emprestar de novo diminui. Isso é experimento. Nossa vida inteira é assim. Quando andar de bicicleta pela primeira vez a criança vai cair e pôr a rodinha. Quando percebe que consegue, tira a rodinha. Essa realidade lúdica deve ser levada para dentro da sala de aula. Ou para os laboratórios de ciências para criança, embora muitos duvidassem que isso pudesse acontecer no Nordeste. O talento está lá. Está dentro das crianças e precisa ser garimpado. Por gerações temos negligenciado, abandonado e desperdiçado talentos. Nunca assumimos a responsabilidade de oferecer para as gerações futuras algo melhor do que nós tivemos. É uma visão de colonizados que ainda prevalece, a de que o futuro não vale a pena. Nunca assumimos um pacto de renúncia a certas coisas do presente para oferecer algo melhor para os que ainda nem nasceram. Nossos filhos, netos, bisnetos.

O senhor teve encontros com o presidente Lula para apresentar o projeto?
Eu conversei muito com o presidente. Senti que ele entendeu para onde estamos indo, e que aquilo era um experimento não de cientista, e sim de nação, de como o Brasil pode ser esse país que tem chance de acontecer, de entrar para a História e ser verdadeiramente de todos.

O senhor vê as pessoas, no exterior, manifestarem alguma visão sobre o atual momento do Brasil?
Quando viajo e encontro colegas franceses, alemães, russos, chineses, noto que estão todos desencantados com seus políticos e seus governos. Muitos dizem: “Sorte sua que é do Brasil, onde as coisas vão acontecer, que alimentará o mundo, produzirá energia limpa e ainda manterá o ambiente de pé. Como a gente vai conseguir criar uma democracia feliz, onde as pessoas vão poder perseguir a felicidade? Vocês têm um presidente que é admirado no mundo inteiro”. E então eu penso: se os brasileiros ouvissem metade do que ouço pelas minhas viagens, certamente se encantariam.

Por que não sabemos de tudo isso?
Porque a informação não chega. Abrimos os jornais brasileiros e as manchetes são desanimadoras, não celebramos os avanços. Há frases ditas por brasileiros que eu odeio, como aquelas do tipo “só podia ser no Brasil mesmo”, ou “se a gente fizer assim, vira coisa de Primeiro Mundo”. Vivemos nos depreciando. O Primeiro Mundo está despencando, entrando num buraco negro e não sabe se vai escapar. A Europa tem problemas seríssimos, os Estados Unidos estão desesperados, precisam sair do problema que eles mesmos criaram. Sobrou quem para ser Primeiro Mundo? Nós somos o Primeiro Mundo. O Primeiro Mundo do amanhã, mas para isso precisamos acreditar em nós. O nosso complexo de inferioridade, tão gigantesco, vem do sistema educacional, que cria carneiro, e não leão, que cria gente que obedece a ordens.

As ordens não são necessárias no aprendizado?
Na escola, eu tinha de cantar o Hino Nacional porque era uma ordem, e não o meu desejo de exaltar a minha pátria. Um milico em algum lugar me mandava fazer isso. Eu tinha de decorar e cantar o Hino à Bandeira e o da Independência por decreto militar. Temos de incentivar nossas crianças a ir para a rua, a achar a cura do câncer, a construir uma democracia melhor, a remover esse entulho mental de inferioridade que acumulamos ao longo da nossa história. Por que o brasileiro não pode almejar qualquer coisa? Eu entro no avião e ouço: “O seu país é demais”. Aí viajo dentro do Brasil e metade do que eu ouço é depreciação.

Privilegiamos a mediocridade?
E ainda promovemos o que não tem relevância, a cultura da celebridade, do efêmero. Aí as pessoas dizem que no mundo inteiro os jornais estão desaparecendo, que há uma crise na mídia. A mídia criou essa crise quando não reportou o fato, quando não se comprometeu com a população, e transgrediu esse elo que havia ao abrirmos um jornal e acreditarmos no que líamos. O povo não é bobo. E o New York Times tem de retratar 180 páginas de reportagens falsas sobre as razões que levaram os Estados Unidos à Guerra do Iraque. Quem vai acreditar no jornal? E esse fenômeno acontece aqui com sérios jornais que trazem coisas sem relevância para a vida de cada um de nós. Essa quebra destruiu a nossa ligação com os intermediários que transmitiam os fatos para nós. Agora não queremos mais intermediários. A internet, apesar de todos os seus defeitos, está se transformando num lugar onde se pode tentar achar o que está acontecendo. O intermediário sumiu. Os políticos deveriam começar a se preocupar, porque o mundo inteiro não acredita mais nas promessas de eleição, nos congressos. As pesquisas de opinião da Europa, dos Estados Unidos e daqui mostram que os poderes representativos estão no fundo do poço. O pessoal precisa ficar de olho aberto porque ainda vai aparecer alguém com uma fala nova de representação, mais efetiva, barata e honesta. E o intermediário também pode sumir rapidamente.

Como é a vida nos Estados Unidos de um brasileiro que adora as coisas do seu país?
Eu não moro mais só nos Estados Unidos. Como agora tenho a chance de vir para cá mais vezes, tudo ficou mais fácil. Difíceis foram os primeiros 15 anos, eu sabia que só poderia voltar para o Brasil depois que tivesse construído algo fora. Então foi muito difícil. A cultura, o clima, a comida e as pessoas são diferentes. Todo brasileiro que tem visão pejorativa do Brasil deveria passar dez anos de exílio em algum lugar. Voltaria muito melhor. Porque o Brasil não é só São Paulo. O país é, na verdade, centenas de outros países. É impossível crescer na cidade de São Paulo e entender o Seridó, o sertão do Piauí, o interior da Bahia, ou mesmo a capital do Rio Grande do Norte.

Somos um imenso país de estrangeiros uns para os outros?
Embora todos falem português, as emoções transmitidas são diferentes em cada região, em cada sotaque. E isso nos dividiu, quando deveria ter unido. Essa diversidade cultural, linguística, vegetal, biológica é que faz o Brasil ser o que é. Aprendi na escola que o Nordeste é a caatinga, é o deserto. E lá vi que cinco milímetros de chuva, uma garoa miserável, fazem com que os cactos floresçam imediatamente. E o que era caatinga virou jardim. E é o maior exemplo de sobrevivência que já encontrei na minha vida. Porque tudo que existe lá evoluiu para sobreviver a qualquer custo. A valorização da vida, seja de inseto, animal, humana, é gigantesca. E isso é exemplo de sobrevivência, não de miséria. Ninguém no sertão se sente miserável. Ao contrário, as pessoas que encontrei, crianças e adultos, jamais querem sair de lá. Quando o pessoal sai é porque não tem mais jeito. Aquele lugar pode se transformar num engenho, num grande motor da economia, se for olhado de maneira correta, se a ciên¬cia for aplicada da maneira que acredito que pode ser aplicada lá.

Lidar com a possibilidade de descoberta de tratamento para o Parkinson é algo que atrai uma expectativa e tanto, não?
Cada vez que um trabalho novo é publicado há uma grande expectativa entre as famílias dos pacientes. Sei disso porque meu avô teve Parkinson e sempre temos a esperança de que alguma coisa possa ajudar. Eu sempre tento manter as pessoas esperançosas quanto à possibilidade de uma nova terapia, mais barata, eficiente, fácil de ser implementada cirurgicamente, minimamente invasiva, com menos riscos e que, se os testes em primatas e os estudos clínicos tiverem os mesmos resultados obtidos em roedores, poderá ampliar significativamente o número de pacientes beneficiados com o tratamento.

Não se trata de cura?
De forma alguma. É o tratamento dos sintomas motores e de alguns dos efeitos mais dramáticos do mal de Parkinson. Essa terapia, até onde sabemos, não paralisa o processo neurodegenerativo que causa a doença. Mas, de qualquer maneira, são milhões de pessoas afetadas que poderão se beneficiar. Quando publicamos esse trabalho com destaque na imprensa científica, recebemos milhares de e-mails de todo o mundo. É algo sério, que deve ser lidado com muita responsabilidade e com muito cuidado para não alimentar falsas esperanças. Então, evidentemente, essa distinção entre cura e tratamento é uma das primeiras coisas que tentamos fazer. Nosso esforço é para acelerar o avanço dessas pesquisas para que possamos dizer, com total segurança, que chegamos ao ponto X.

O que é o pensamento? E o sonho?
O pensamento é uma corrente elétrica, uma tempestade se espalhando pelo cérebro. Só isso. É um relâmpago em milivolts, em milissegundos. Tudo o que fazemos vem de uma tempestade elétrica na nossa cabeça. Uma tempestade tão complexa e tão difícil de prever como as que acontecem no céu. Mas move tudo o que nós fazemos, como sonhar, imaginar, pensar, prever, andar, falar, correr, tudo. Essa é a raiz de toda a humanidade, centenas de bilhões de elementos disparando pequenas descargas elétricas que geram um campo magnético muito pequeno, mas mesmo assim poderoso o suficiente para gerar tudo que a história da humanidade já gerou. E o sonho é uma atividade do sistema nervoso que, pelo que se debate muito hoje em dia e pelas teorias mais modernas, responde pela recapitulação do que aconteceu recentemente com tudo o que foi acumulado ao longo da vida e gera reverberações elétricas quando dormimos. Ele tem várias funções. Se considerarmos pesquisas mais recentes, nada mais é do que a consolidação das nossas memórias.

Quais os próximos lugares em que o senhor pretende instalar um centro semelhante ao de Natal?
Nesse momento nem estou falado nisso porque Natal demanda muita energia. Estamos tentando criar um programa de autossustentação, capaz de manter o campus de Natal independente, com parceria público-privada. E ainda vivemos a luta contínua para manter a coisa viva. Então, apesar de ter essa ambição, só vou para outros lugares em outras condições. Se quisermos construir o segundo instituto em outro lugar, o lugar tem de querer e criar condições para receber esse know -how. Há outros lugares onde chegamos até a conversar, assinamos documentos, mas nada sai, é uma perda de tempo. É importante que as pessoas valorizem esse esforço e, se quiserem realmente embarcar numa parceria, saibam que existem responsabilidades de ambos os lados. Não é simplesmente dizer “eu quero um negócio desses aí”. Em Natal aconteceu dessa maneira porque era o embrião, a semente que tinha de florescer e está florescendo.

Seus estudos são financiados pelo governo americano e fundações de todo o mundo. É legítimo dizer que se trata de pesquisa brasileira?
Sim. A ideia saiu de um cérebro que nasceu na Bela Vista, foi escrita por alguém que cresceu em Moema, assinada por um pesquisador com diploma da Universidade de São Paulo e quem assina o cheque é um torcedor do Palmeiras. Se isso não é brasileiro, então não sei o que é. O fato de trabalhar nos Estados Unidos, numa universidade americana, financiada pelo governo americano e por fundações de vários países não significa que essa produção não seja brasileira. Primeiro de tudo porque ciência não é de ninguém, é da humanidade. No meu trabalho tem pesquisadores do Chile, Suécia, Canadá, Brasil e Estados Unidos. Mas, se for para definir uma nacionalidade, quem teve a ideia do trabalho, recrutou as pessoas e foi atrás de dinheiro veio daqui. E escreveu parte dele enquanto andava pela praia de Natal, na sede da associação, no Parque Antártica, no avião. Vem da nossa condição colonial a dificuldade de acreditar que tenhamos condição de fazer essas coisas. É como se alguém dissesse: “Mas o Oscar Niemeyer fez um monumento na Argélia. Será que é dele? Quem pagou foi um argelino”.

O que é mais fácil: o Palmeiras ser campeão do mundo ou o senhor ganhar o Prêmio Nobel?
Ah, não tem dúvida de que é o Palmeiras. O Nobel é um fetiche nacional. É como o Oscar. Para a ciência nacional ser legitimada alguém tem de ganhá-lo. Eu não tenho nada a ver com isso. Não acredito que isso faça a diferença que todo mundo acha que faz.

O Nobel não é importante para a ciência brasileira?
Esse prêmio só terá grande repercussão se for consequência de um projeto estratégico nacional científico em que dezenas de pessoas têm chance de ganhar. Ninguém ganha o Nobel sozinho. É como uma célula do cérebro que produz uma faísca elétrica. Mas para produzir a faísca teve uma série de células por trás dela que a alimentaram de informação para ela poder disparar. Eu não dou muita atenção para essas coisas porque acho que é uma glorificação muito egocêntrica do indivíduo, quando a ciência é o próprio time. É como um jogo de futebol. É possível ter um grande jogador no time e não ganhar nada. Mas, se há um time, há como ganhar. O capitão levanta a taça. Mas é o time que ganha o jogo. A nossa cultura é muito de dar a recompensa para um indivíduo.

Como os brasileiros poderiam contribuir com seus projetos?
Somos uma organização da sociedade civil com interesses públicos. Temos o nosso site (www.natalneuro.org.br), vivemos de doações mínimas, a partir de R$ 1. As pessoas entram no site, ficam enamoradas pelas perspectivas. Agora temos tentado ampliar nossa rede de doadores para não depender tanto dos grandes doadores. É uma campanha que vamos começar a intensificar porque acho que é uma forma alternativa de mostrar que é possível construir coisas com a participação de um grande número de pessoas que possam ser cúmplices de uma empreitada social, sócias de um sonho. Creio que todo mundo tem a chance de realizar um sonho, canalizar seu desejo. É a oportunidade que muitas pessoas não tinham e agora têm. Por isso se encantam. Mas acho que é importante que as pessoas ajudem começando a tomar ciência dos problemas da sua comunidade, a ser mais participativas em suas escolas, dos seus filhos, nas suas cidades, e começar a exigir tudo o que elas deveriam ter e não ainda não têm

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Penetra Oficial # 3


Epitáfios é de grudar no sofá

Recentemente tive a alegria de redescobrir o ato de assistir tevê. Falo da produção argentina Epitáfios, em exibição na HBO. Sabemos que encontrar algo que entusiasme é raro, e não incluo o fato de ir ao cinema ou alugar um filme. Me refiro a uma programação capaz de fazer grudar no sofá a ponto de não marcar nada no horário.
Foi uma questão passional, nada aleatória, apaixonada que sou por Cecília Roth, apresentada por Almodóvar em Tudo Sobre Minha Mãe que me fez chegar a série. Uma coisa levou a outra, surpreendeu-me, já que nunca fui grande fã de tramas investigativas do tipo CSI ou as do gênero.
Epitáfios é um show de roteiro, onde mocinhos e mocinhas morrem sim! Histórias com viradas sensacionais que nos pega de jeito com direito a mão na boca, paralisia e surpresa adrenalizada.
A primeira temporada rodada em 2004 fez grande sucesso, com direito a lançamento em DVD nos EUA. Mas, só em 2008 veio a segunda temporada. Tempo de espera que valeu a pena.
O brilhante trabalho dos roteiristas e irmãos Marcelo e Walter Slavich - com fotografia e maquiagem magníficas - dá a cada um dos 13 episódios a certeza de que é inviável passar despercebido por uma produção de tão alto nível sem elogiá-la.

Sem freios
Epitáfios se cria da rotina de dois policiais com vidas pessoais arrasadas; conflitos afetivos e familiares que os ligam de alguma maneira ao assassino que buscam sem freios. Convivendo com seus dramas e fantasmas do passado a série se desnuda de forma nada previsível, sem compaixão com os protagonistas.
O pontapé inicial da segunda temporada nos traz as consequências do que o psicopata do primeiro ano provocou. Dois lances: enterrada viva, o policial Renzo perde a mulher que ama e passa a viver solitário num apartamento frio e escuro. Abandonada quando criança, Marina Segall (Cecilia Roth) mata a própria mãe incitada pelo psicopata; vingança pelo suicídio do pai, abandonado pela mãe.

Nova caçada
Os dois policiais agora se reencontram para nova caçada. Atormentado pelo passado, o psicopata (Leonardo Sbaraglia de Plata Quemada) esquizofrênico de dupla personalidade recria grandes assassinatos e os fotografa como uma obra de arte.
A origem pessoal que esses assassinatos incorporam a sua vida transformam-se numa trama complexa, que se abre a cada capítulo, e nos deixa num debate interno: “o que vai acontecer a seguir?”
A atuação de Leonardo Sbaraglia é das melhores de sua carreira, porque nos causam reações instantâneas de raiva, aflição e principalmente dó diante das cenas em que sente culpa pelo que faz, atormentado, agindo como criança insegura.

Sangue novo
Com Mariano Lagos (Juan Minujín), também da Divisão de Homicídios, que contrapõe o jeito agressivo de trabalhar de Renzo Marques a trama ganha novo fôlego. Lagos é o lado sensível, o policial modelo com olfato extremamente desenvolvido a ponto de distinguir mistura de odores e ligar isso ao tempo, espaço e forma de execução.
O personagem XL é o único sobrevivente dos ataques do assassino, mas que ficou perturbado após escapar ao ser enterrado vivo. Com o dom mediúnico de ‘adivinhar’ nomes de vítimas antes que sejam assassinadas, XL é um trunfo para o departamento de homicídios.
A história, novamente fechará o cerco das vidas pessoais de Renzo e Marina, os traumas de ambos que ainda não cicatrizaram e Mariana que se descobre um irmão que deseja vingar nela a morte da mãe.

Fio da meada
As mortes possuem sempre uma ligação com a versão original dos crimes. Cada pessoa é escolhida a dedo pelo assassino - relação que vai de testemunhas, médicos legistas até polícias que participaram das investigações dos antigos crimes. O assassino é próximo e observa tudo da mesma lente da câmera fotográfica que outrora fotografou os crimes originais.
O trio Marina Segall, Renzo Marquéz e Mariano Lagos nos dão bons momentos de diversão porque são distintos e peculiares. E Epitáfios não é só mais uma série pesada e densa. Ao contrario, grande parte do humor que alivia a tensão da série é provocado pelo perfil mau humorado e prático de Renzo Marquéz, que nos arranca boas risadas e o identifica com gente do nosso dia a dia.

Tá na mão: site onde você pode baixar os episódios de graça; Portal oficial da série com imagens e informações complementares.

Fabiana Cardoso é jornalista e produtora

terça-feira, 28 de julho de 2009

Corpos Unidos

Enviado por e-mail pelo colega Rodrigo Menitto. De autoria desconhecida o texto é poético!

Corpos Unidos

Nossos corpos estão tão unidos, que posso sentir as batidas do seu coração.

Nossa respiração confunde-se com a do outro.

Nossos movimentos são sincronizados. Indo e voltando. Para frente e para trás.

Às vezes pára, e então, quando nos cansamos da mesma posição, nos esforçamos para mudar, mesmo que seja só por pouco tempo.

O suor de nossos corpos começa a fluir sem que nada possamos fazer.

Um calor enorme parece que nos fará desmaiar.

Uma força ainda maior nos faz ficar ainda mais colados um ao outro e, quando não aguentamos mais segurar...

Uma voz ecoa em nossos ouvidos:

- Estação Sé, desembarque pelo lado esquerdo do trem.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A Queda versão Sarney

Trecho do filme A Queda adaptado para o coro do Fora Sarney.

PEC 438: pelo fim do Trabalho Escravo


Confiscar a terra dos que utilizam o trabalho escravo. Vamos abolir de vez essa vergonha. Já assinei. Assinem e divulgem. Este abaixo-assinado é de responsabilidade da "Frente Nacional Contra o Trabalho Escravo e pela Aprovação da PEC 438". Integram o movimento: a Subcomissão de Combate ao Trabalho Escravo no Senado Federal, Subcomissão de Combate ao Trabalho Escravo, Degradante e Infantil na Câmara dos Deputados, Secretaria Especial de Direitos Humano, Ministério Público do Trabalho, Procuradoria Geral do Trabalho, Secretaria de Inspeção do Trabalho - Ministério do Trabalho e Emprego, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Comissão Pastoral da Terra, Organização Internacional do Trabalho, Fórum Nacional da Reforma Agrária, CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura, MST - Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, FETRAF - Federação dos Trabalhadores, CRS - Catholic Relief Services / Brasil, COETRAE/MA - Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo / Maranhão, COETRA/PA - Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo / Pará, COETRAE/TO Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo / Tocantins, CDVDH - Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia/MA, ONG Repórter Brasil, SINAIT - Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho, ANAMATRA - Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho, ANPT - Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, ANPR - Associação Nacional dos Procuradores da República, AMB - Associação dos Magistrados Brasileiros, AJUFE - Associação dos Juízes Federais, OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, ABRA- Associação Brasileira de Reforma Agrária, Movimento Humanos Direitos - MHuD, CEJIL - Centro Pela Justiça e o Direito Internacional, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, ONG Atletas pela Cidadania, SDDH - Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, UGT - União Geral dos Trabalhadores, CSP - Central Sindical de Profissionais, CUT - Central Única dos Trabalhadores, CTB - Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, NCST - Nova Central Sindical de Trabalhadores, CONLUTAS/ ANDES, INTERSINDICAL, CGTB - Central Geral Dos Trabalhadores Do Brasil, CNT - Central Nacional de Trabalhadores, entre outros.

domingo, 26 de julho de 2009

Chet Baker: Almost Blue

Domingão à noite e pro começo da segunda de manhã; pra dar uma relaxada uma música do monstro Chet Baker.

sábado, 25 de julho de 2009

Anima Mundi: Mon Chinois

Em francês com legendas em português esse ótimo curta-metragem, delicado, bem feito, crítico e também bem-humorado foi escolhido pelo júri popular (RJ) como o melhor do Anima Mundi 2009.

Fretados em SP e Médicos Cubanos na Bolívia

A história da restrição dos ônibus fretados em São Paulo pela Prefeitura tem tido cobertura quase que diária da Rede Brasil Atual feita pelo repórter João Peres e por esse que vos escreve. Aos interessados conseguimos ouvir 32 dos 55 vereadores e colocamos todas as opiniões e ainda deixamos o espaço aberto aos vereadores que não tiveram tempo ou não puderam falar por conta do recesso parlamentar a mandar suas opinões. Outra boa matéria é da Paula Sacchetta sobre os médicos cubanos que atuam na Bolívia e que atenderam mais de 400 mil pessoas gratuitamente, inclusive o suboficial que assassinou Che Guevara em 1967. Ela conta essa história em detalhes como parte de um especial deste país que estamos publicando na Rede.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Gay Talese no Roda Viva

Gay Talese no Roda Viva com legenda no youtube em 10 partes. Vale muito a pena assistir. Talese é inspirador e dá uma lição de jornalismo; do seu jornalismo, particular, raro, não compreendido, não mercadológico, não linear, sem pressa, com calma, para lapidar, entender, digerir, refazer, desistir, recomeçar. A gente (não eu, outros) pode não concordar, mas ele conseguiu fazer do jeitão que, espero, nunca desapareca.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Penetra Oficial # 2

“- OLHA, E SE DAQUI UNS DOIS ANOS A GENTE SE SENTIR MAL COM ESTE LANCE DE CONTRATO, COMO FAZEMOS?
R: Procure um médico...”

Há quem diga: trabalhar com música é pura diversão.
Melhor advertir: sim, digamos que trabalhar no ramo é engraçado, tem suas facilidades, mas ‘rola’ muito trabalho sério e temos que aguentar muita carne de pescoço - com um sorriso no rosto - que Fernanda Montenegro daria os parabéns pela bela interpretação.
Após ter começado a trabalhar no ramo aconteceu uma desmistificação automática do ser “ídolo”. Conservo pessoas que admiro, mas passei a enxergar tudo de maneira diferente, ou melhor, de maneira realista: somos todos iguais!
Você passa a perceber os defeitos, qualidades, manias, estrelismos desnecessários, caras e bocas e tudo mais que se possa imaginar.
Tudo isso porque viver nesse mundo eleva o desejo de status, pequeno poder, competição por mídia, por valor de cachê, e esquecem o essencial: executar a arte e levá-la para onde o público estiver. O dom virou um negócio lucrativo, apenas isso. Mas, se todos tivessem dom isso já seria um alívio!
Pior são aqueles que acreditam que são mais artistas do que o próprio artista. E isso já ‘queimou filme’ de muitas celebridades. Já vi tantas exigências que o artista sequer sabia que estavam na sua lista de necessidades. É a super valorização do talento, assim como acontece no futebol.
Apesar de todo o glamour e chateação a vida de quem trabalha com musica é tão dura quanto de um administrador de empresas, advogado, jornalista etc. São dias úteis e finais de semana em árduo trabalho e muitas horas fora de casa.
Essas pessoas têm família, amigos, sofrem com problemas afetivos, tem problemas de saúde, muitas vezes viajam dias e dias doentes, não dormem por que precisam pegar o primeiro vôo do dia. E não tem essa de atestado médico, no show business isso não funciona.
Uma amiga, também produtora, já passou a semana inteira tomando cortisona para aguentar a gripe que piorava a cada dia. Tem como melhorar? Em um dia era show em São Paulo, no outro em Minas e no dia seguinte no Sul. Nesse meio tempo conseguiu dormir 6 horas e se alimentou apenas de comida de camarim (e ainda há contratante que reclama de fornecer abastecimento de camarim). Perde-se o vínculo familiar e já não tem graça experimentar os melhores hotéis do Brasil, não há conforto que traduza a alegria de estar ao lado de familiares e amigos ou no aconchego do lar.

“Show em nome de Deus”, disse furibundo
Em 2007 viajei para a cidade de Cruz das Almas no interior da Bahia. Era um show Gospel, e quando chegamos ao local não havia a iluminação solicitada em contrato, nem mesmo uma sonorização decente. Para piorar, ao reclamar, me disseram que não poderia agir daquela forma porque tínhamos que executar o “show em nome de Deus”. Não aguentei: “Então peça ao seu Deus que coloque agora um sistema de som que faça o show acontecer.”
Daí em diante foi terror e caos. Fui agredida verbalmente pelo contratante evangélico e chamada de atéia por ele e demais companheiros. Tive, ainda, que subir ao palco e explicar ao público que não teríamos como prosseguir com o show naquelas condições. O contratante virou o próprio capeta e diante de muita discussão o show não durou mais do que 20 minutos. Com direito a polícia na porta, tivemos que sair escoltados direto para pousada, dormir algumas horas e correr para o aeroporto. Foram poucas horas de sono, duas de estrada até o aeroporto, uma na sala de embarque e três de vôo. Fora a espera de meia hora para o desembarque das bagagens, a fila do táxi e a aguardada chegada em casa para desabafar o choro contigo da noite anterior.
Quem trabalha com música vive na estrada. Filhos passam seus aniversários longe dos pais. Não acompanham o crescimento dos sobrinhos ou o nascimento de um novo integrante da família. Não tem dia dos pais, das mães, páscoa e muitas vezes nem fim de ano. Fazer planos não faz parte dos seus planos!
Um produtor também faz empréstimo, também perde namorada (o) por falta de tempo para ter uma relação de verdade e deixa de participar da vida do filho na escola, além de não comparecer em reuniões de pais e mestres.

“Muletas profissionais”
Para que um belo show aconteça tem gente na estrada batalhando e que passa por situações muito piores.
Se tem algo que me irrita é o chamado “pequeno poder” de pessoas que acreditam ser poderosas por ostentar uma credencial pendurada no pescoço ou que gozam de uma posição social a qual não pertence. Gente sem qualquer talento ou percepção de realidade que faz dos demais companheiros de trabalho muletas profissionais. Não são humildes, são petulantes; o que não é exclusividade do ramo musical.
Sim, pequenas coisas me divertem como o início desse texto que nada mais é do que a resposta de um empresário da música para um artista novato recém contratado que “cheio de dedos” queria saber sobre uma rescisão contratual.

Fabiana Cardoso é jornalista e produtora

domingo, 19 de julho de 2009

Um grande brasileiro: Miguel Nicolelis

Para tentar algo para mudar o Brasil o neurocientista Miguel Nicolelis foi fazer seu pé de meia nos EUA. Ficou lá 20 anos e trouxe na bagagem um conceito que todos precisam conhecer: a ciência como agente de transformação social. Para isso a base é a educação. Em Natal, no Rio Grande do Norte, o seu Instituto de Neurociências já dá passos largos nesse sentido. Escrevo sobre ele porque o entrevistei - pela segunda vez - agora para a Revista do Brasil e gostaria que os leitores deste blog pudessem ter contato com esse grande brasileiro. Aqui indico o seu instituto com muito material e entrevistas que ele deu pelo mundo. Apesar de negar, Nicolelis é um candidato forte a conquistar o Nobel por tudo que vem realizando pela ciência. Ele diz que a ciência é da humanidade e afirma: “Temos de incentivar as crianças a aprender se divertindo, a construir uma nova democracia e a remover o entulho de inferioridade que acumulamos.”

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Do Re Mi na estação

Estação ferroviária na Antuérpia, Bélgica. Aos poucos mais de 200 bailarinos dançaram o “Do Re Mi”, perto das 8h da manhã. Foram dois ensaios. Reações diversas de quem passava no local. A iniciativa foi de um programa de televisão daquele país. Já pensou um lance desse por aqui? Seria ótimo.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Manchetes Rejeitadas # 5


Avança a gripe Sarney

Inverno surpreende e faz frio

terça-feira, 14 de julho de 2009

Penetra Oficial # 1

Fabiana Cardoso, jornalista, é atualmente de um metier não jornalístico. Vem para o Blog de Rodapé contar uns causos. Desaguar ideias. Trabalhou por quatro anos em assessoria de imprensa e desde 2008 comanda as produções executivas de uma produtora em São Paulo. Histórias de bastidores para contar não faltam. São inúmeras experiências no mundo da música. Vai escrever sobre outra paixão: o cinema, sobretudo o espanhol e latino. Pra começar uma homenagem ao mestre dela. A seção tem nome. Penetra Oficial.

“Me liga”, escreveu num e-mail

1996. Estava na sala de espera de um consultório médico quando um livro chamou minha atenção. Entre as revistas e o livro, peguei o livro. Sem reparar no autor, capa ou coisa do tipo arranjei algo para fazer o tempo passar. Era uma coletânea de crônicas. Escolhi uma que o título me agradasse. Escolhi a segunda, embalei na terceira e minha mãe saiu da consulta:
- Vamos?
Olhei para ela, olhei para o livro, olhei para a recepcionista, coloquei o livro debaixo do braço e sai com a frase estampada na testa: “Meu Deus, roubei!”
No mesmo dia já tinha lido o livro. Uma edição especial com as 100 melhores crônicas publicadas no jornal O Estado de São Paulo.
Um mês depois retornei ao consultório com minha mãe. Fui devolver o livro para a recepcionista e ela nem notou seu sumiço. Generosa:
- Fica com você!
2004. Terceiro ano de faculdade e estava experimentando o suor frio de conseguir entrevistar alguém de respeito no jornalismo. Era a proposta de uma das professoras para um trabalho de jornalismo literário.
Tinha cerca de 10 dias para entregar e desde o início tive uma certeza: quero o Mário Prata.
Por onde começar? Não sabia. Estava no auge do meu amor platônico por ele. Lia e relia suas crônicas, lia e relia seus livros. A verdade é que sonhava ser a versão feminina do Mário Prata.
Minha primeira ideia - para minha sorte - deu resultado: liguei no jornal e consegui seu e-mail já imaginando que aquele devia ser algo como filtro para spam, malas diretas e outros malas de plantão. Não tinha muita esperança na resposta. Mas ela veio rápida e rasteira.
“Me liga”
Como assim “me liga”? Não posso sair por ai “Te ligando”, pensei. Apelei para a água com açúcar e depois de horas meditando e sofrendo liguei. Ele atendeu. O Mario Prata atendeu. Uau!
Jornalismo, me revelou o episódio seguinte, se aprende fora da instituição educacional.
A certa altura ele me perguntou se eu sabia o que era uma máquina de linotipo. Não sabia o que dizer. Bastou o silêncio para ele entender que não fazia ideia.
- Como podem não ensinar aos alunos o que é uma máquina de linotipo?
Bastou uma pergunta.
Pesquisei, então, a tal máquina inventada em 1890 que significava ao Mário Prata muito mais do que a sua criação se propunha a fazer. Dias depois ele citou a questão da linotipo em uma das suas crônicas. Era o movimento cíclico da “Velha Guarda” com a nova geração.
Minha pauta caiu por terra. Olhava minhas perguntas e as achava ridículas. Ele não era intocável. Por alguns meses mantive contato por e-mail, mas como sempre me senti num estado de invasão de privacidade não prossegui muito tempo. Naquela época não conseguia compreender como um grande profissional era mesmo tão acessível. Fruto, quem sabe, do nosso atual jornalismo ter mais “Jornalistas que brilham” do que “brilhantes jornalistas”.

“Faculdade de surf também não precisa de diploma”

Existem profissões que você não escolhe. É escolhido.
Absurdos durante a faculdade me fizeram crer que novos ‘jornalistas’ estão longe de fazer a diferença positiva na profissão.
Uma garota no primeiro dia de aula justificou estar no curso porque queria mesmo era faculdade de surf - mas sabe como é - não deu certo.
Alguns anos depois um amigo, estagiário de jornalismo, revelou não gostar de ler. São muitos. Compreendi exatamente o que o Mario Prata me explicou nas entrelinhas: falta viver, sentir e transpirar a profissão.
Não vou entrar no mérito do diploma de jornalismo. Discuto a ausência do verdadeiro profissional. Esse que independe do diploma nas mãos. Caderno, caneta e pauta. A mesa de bar que democraticamente reunia diferentes jornalistas, diferentes correntes, diferentes empresas e mídias. Ali era o cenário onde se trocava experiência, informação e devaneios. Não havia notebook, gravadores digitais ou e-mail. Para fazer pesquisa não exista nem Google nem Wikipédia para resolver.
Estreio a coluna com uma justa homenagem ao profissional em que sempre me espelhei e que me ajudou a decidir pelo jornalismo quando relia pela milésima vez o livro que havia ganhado em 1996.
Fosse numa mesa de bar em frente ao prédio do jornal ou no cigarro para desabafar a tensão. E quem sabe no copo gelado de cerveja, e com a indisciplina no jeito jornalista de viver. De uma geração que deixou lições e que ensina até hoje que diploma algum te faz o profissional que desejaria ser.

“invasão nenhuma, fabiana: mas pra sair da ilha... dá uma preguiça. além do que, sempre me dá um frio na barriga. te agradeço, sinceramente, lembrar do meu nome. beijo. Prata”

domingo, 12 de julho de 2009

Humor em pílulas # 1

De graça, até toque retal

Na minha (ainda) curta vivência em Medicina, dentro da realidade brasileira, por diversas vezes me perguntei: o povo é doente ou é ignorante? Falta mais saúde ou educação? Não sei.
Há alguns anos, durante meu 4° ano da faculdade, o chefe da disciplina de Urologia convidou alguns alunos a participar de uma tal de “Campanha da Próstata”.
A campanha seria direcionada exclusivamente para pacientes encaminhados da rede de unidades básicas de saúde da cidade, os quais já teriam passado por uma triagem prévia se houvesse suspeita clínica de doença prostática. E o que faríamos na campanha, basicamente, seria o temido “toque retal” em todos os pacientes.
Manhã ensolarada de sábado e a recepção do hospital lotada de senhores entre 50 e 80 anos, com seus resultados de exames e senhas em mãos. Dividimo-nos em 4 ou 5 consultórios, cada um acompanhado de um médico supervisor, para iniciarmos as consultas. Conversa rápida, exame minucioso e boas notícias para a maioria dos pacientes. Eram dezenas e só tínhamos uma manhã.
Nesse entra e sai frenético de pacientes (e dedos), entra no consultório um senhor com seus 55 anos, andar caipira, óculos fundo de garrafa, roupas simples e uma fisionomia de anos sob o sol da lavoura. A consulta prosseguiu normalmente:

- Bom dia... porque o senhor veio à campanha?
- O médico do postinho que me mandou aqui dotô. Veio um exame de sangue com pobrema, me falou prá passar com vocês.
- E o senhor sente alguma coisa?
- Ahhh dotô... as vista tão fraca, tenho uma éli de disco e fiz até uma sorolância magnética no ano passado e...
- Não, senhor. A campanha aqui é da próstata... esses outros problemas de saúde o senhor acompanhará com seu médico do postinho, ok?!
- Tudo bem, dotô.
- O senhor quer fazer o exame?
- Sim, vambora!
- Então se deite na maca de barriga pra cima e abaixe as calças e a cueca até os joelhos.

Procedimento padrão: luva, vaselina no dedo indicador e introdução do mesmo no ânus do paciente, em busca de se caracterizar alterações nos contornos, consistência e volume da próstata.

- Vamos lá, vou fazer o exame, relaxe que não dói e dura 30 segundos.

Ao introduzir o dedo, o susto:

- Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!! Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh!!!

Uma combinação de gritos de desespero com uma chave de pernas em meu antebraço que daria inveja em qualquer lutador de vale-tudo; sem contar a sensação de meu dedo sendo esmagado por aquele anel muscular poderosíssimo.

- Calma senhor!!! Calma!!! Largue meu braço!!! Calma!!! Deixe eu tirar o dedo!!!

- Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh... aaahhh... ah dotô... ah...

- Mas o que aconteceu??? Doeu? Mal comecei o exame!!! O senhor acabou de me dizer que queria fazer o exame!

E com lágrimas nos olhos e ar de derrota, pausadamente, o paciente disse:

- Ahhh dotô... mas eu não sabia... Eu não sabia que era “assim”...

Dr. Rino é médico (usa aqui pseudônimo)

Manchetes Rejeitadas # 4

Tietê Campos não viu, ouviu a corrida de formula 1 deste domingo. Ligou há pouco. Já tem a manchete para qualquer jornal esportivo do Brasil.

Rubinho só tem um problema na vida
... ganha milhões, tem uma bela mulher, passeia de iate e jatinho.
Só não sabe dirigir automóvel

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Novas estreias

Em breve o blog de Rodapé que já conta com Izaías Almada e Tietê Campos (Manchetes Rejeitadas) terá mais dois colaboradores. Um para falar de causos médicos engraçados e o dia a dia de consultórios - seção Humor em Pílulas - e outra pra falar de cinema e música, mas sempre com informações de bastidores - seção Penetra Oficial. E não vai parar por aí. Estou cobiçando novos adeptos. Logo, logo, seção sobre gastronomia. A ideia é fazer do blog um coletivo de ideias. Do jornalismo ao humor.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Lula premiado pela Unesco

Prêmio Félix Houphoët-Boigny oferecido pela UNESCO é o mais importante aos que promovem a paz no mundo depois do Nobel e o Lula ganhou. Realmente poucos veículos da imprensa falaram do tema. Ou se falaram da premiação privilegiaram a manifestação realizada pelo Greenpeace na hora da cerimônia. Até aí, ok. Mas é bem rídiculo fingir que o cara não levou o caneco. Durante seu discurso, disse "Sinto-me honrado em compartilhar essa distinção com mulheres e homens que dedicaram as suas vidas em favor da paz e de um mundo mais justo. Recebo esse prêmio não tanto como homenagem a minha tragetória pessoal, sindical e política e mais como reconhecimento das conquistas recentes do povo brasileiro. Lutei nas fábricas, nos espaços sindicais e na arena política de meu país. Em todos esses momentos, sem perder a combatividade, nunca renunciei a busca do entendimento, a construção de consensos e o fortalecimento da democracia." Também lembrou de Honduras: "Condenamos veementemente o golpe em Honduras" e finalizou assim: "Uma vez mais gostaria de agradecer pela indicação desse tão importante prêmio. Não só como presidente do Brasil, mas também em nome do menino do sertão brasileiro que sonhou que um dia sua vila, seu país, seu planeta poderiam ser um lugar diferente. Estou convencido que a liberdade que nós conquistamos no mundo, ainda tem muita deficiencia, será vencida totalmente porque a única possibilidade de um nação crescer, educar os seus filhos e garantir cidadania é se essa nação estiver em paz. A paz não é uma coisa qualquer, ela é fundamental para garanrir a subsistência da vida humana."

Honduras: Golpe de Estado

Imagens entre os dias 28 e 30 de junho. Golpe de estado em Honduras. A Telesur está em cima na cobertura, ótimo canal para acompanhar os acontecimentos. No entanto, essas imagens que posto são do no comment, da euronews. O site da Rede Brasil Atual também está na cobertura.



terça-feira, 7 de julho de 2009

Manchetes Rejeitadas # 3

Sarney está mais sujo que pau de galinheiro
... e Lula enfia o dedo e espalha

Sugestão de Anúncio. Não é exclusiva mas o Tietê Campos acha importante lembrar.

Compre uma passagem da Air France
e ganhe um ingresso para o show do Michael Jackson

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Jean Charles é de engolir saliva pra não desabar

Domingo vi Jean Charles no cinema. De Henrique Goldman. A história de Jean, amplamente divulgada na imprensa de telejornais e diários impressos na tela ganha uma dimensão diferente. Em muitos momentos é engolir a saliva pra não desabar. Uma execução besta. Uma morte sem sentido e ainda sem reparação. Como já publiquei por aqui sobre o tema deixo a dica de que ver o filme é recapitular e relembrar um tema recorrente também no exterior: a impunidade. Um registro curto: enquanto a fila do filme transformers dobrava às centenas, o nacional tinha pouco mais de cinquenta. É uma vitória. Há alguns anos nem no circuito estaria. Mérito do Selton Mello no elenco e da evolução do cinema nacional.

domingo, 5 de julho de 2009

FLIP: estar e não ver

Cheguei na FLIP, Paraty, na sexta-feira à noite. O negócio começou na quinta. Participei do evento ao qual fui convidado no sábado às 19h. Na Off-Flip. Uma mesa para discutir Direitos Humanos e para lançar o livro Brasil Direitos Humanos 2008 da SEDH. Estava com a amiga e jornalista Marina Amaral. Não vi o Chico Buarque. Nem o Gay Talese. Nenhum escritor. Nenhum show. Trombei uns globais nas ruelas de Paraty; é uma cidade muito bonita com gente muito bonita. A FLIP em si, minha primeira vez real, não gostei. É excludente. Um evento de literatura - a literatura é libertária ou não é? - não pode ser feito em tendas fechadas, com editoras que vendem seus livros com preços absurdos. Shows serem fechados é brincadeira. Telão é migalha. Filas imensas. Ingressos que não existem. É um evento de pompa, sem dúvida! Muitos bons escritores, sem dúvida. A questão, talvez, é que não me enquadro. Dizem que o Chico Buarque não deu muitos autógrafos após sua mesa e que isso gerou protestos. A tietagem foi desproporcional, me disse um camarada. Chico fez bem em sair logo. Eu faria o mesmo. Um taxista comentou que tem gente que pergunta onde ficam os artistas para ir lá ver (tipo zoológico, mediocriadade pouca é bobagem) e que não aguenta mais no que se tranformou a cidade. Apesar de o táxi ser seu ganha pão, gostaria de menos badalação, segundo ele, quer de volta o silêncio enriquecedor. A FLIP deve ter tido boas discussões e reflexões, mas eu não vi a literatura pulsar para a inclusão dos que não tem acesso. Vi diversidade de pessoas; jovens, idosos, adultos, mas os nichos de festas fechadas, restaurantes caríssimos e gente pobre tomando em pé sua lata de cerveja era um contraste. A beleza de Paraty inspira. Seus personagens menos badalados mais ainda. Para mim os escritores e cantores que não estão nos catálogos dariam uma bela pauta jornalística. Perambulam pelas ruas. Recitam poesia pra você. Os moradores afastados do centro, em praias como a do Jabaquara, são ótimas conversas e têm grandes e saborosas histórias. Acho que é isso. Estive em Paraty, mas não na festa literária.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Manchetes Rejeitadas # 2

Tietê Campos ligou hoje no meio da tarde querendo estrear a seção com duas manchetes. Sugestões são bem-vindas, me disse o homem. Depois desligou sem dizer mais nada. A primeira sugestão é esportiva para o diário Lance. A segunda para o diário Agora.

Armação para expulsão de D´Alessandro foi crucial para resultado do jogo
...com ele em campo Inter golearia fácil o timão

Michael Jackson percebe que morreu
...Rei do Pop se livrou das dívidas

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