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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

sábado, 8 de dezembro de 2012

Até 2013, pessoal!

Queridas e queridos navegantes deste coletivo. Ano que vem está logo aí e vamos, a partir de hoje, tirar umas férias. Nos vemos a partir de janeiro, 14. A seguir uns desejos e reflexões de alguns de nossos colunistas. Boa leitura!

Ana Mendes

"As coisas que não existem são mais bonitas" (Manoel de Barros)

De dois anos pra cá, tenho enfeitado a casa pra virada do ano. Em 2011 recortei tecidos e fiz uma luminária. Esse ano, tô envolvida com velas e rendas. Acho graça. Quem vê a manufatura dos objetos, por dias a fio, me desreconhece. E eu atravesso um período de água. Caibo em qualquer destino. Fico acariciando pensamentos com formato de fita. Não é exatamente uma retrospectiva ou sequer uma projeção. Me enredo na ignorância gostosa sobre o que me reserva o ano seguinte, os dias seguintes, o resto da vida.

André Carvalho

Em 2012, o Nota de Rodapé deu samba. Com a coluna "Batucando", o ritmo mais quente do Brasil ganhou espaço. Com palavras minhas e traços de Kelvin Koubik, exaltamos baluartes como Carlos Cachaça, Ederaldo Gentil, Herivelto Martins e Paulinho da Viola. Agora, como um bom samba de Moreira da Silva, é hora do breque. Se a vida é uma música, ela é feita de sonhos - que são melodias -, e realizações - nossas rimas. Se nossa existência é uma canção, certamente é um samba. Voltamos em janeiro, com os tamborins, surdos e pandeiros numa batucada enfezada!

Fernanda Pompeu

Se você está lendo esta mensagem significa que afinal o mundo não se acabou. Ao contrário, ele segue. Ora firme, ora trêmulo, ora cor de sangue, ora cor do arco-íris. O mundo redondo como nossas cabeças. Prometo para minhas leitoras e leitores – e para meus ilustres colegas do Nota de Rodapé – caprichar (ainda mais) nas webcrônicas. Caprichar é escrever com sinceridade e carinho.

Fernando Evangelista

Queridos e queridas, leitores e leitoras, leitões e leitoas,
Se o mundo não acabar, desejo a todos um 2013 inspirado e generoso, com muita sorte e muito amor.
Obrigado pelo carinho.
Beijos e abraços.

Izaías Almada

Em 13 de dezembro de 2013, o mundo vai acabar... Até lá tenham todos um feliz natal e um ótimo réveillon.

Júnia Puglia

Participar do NR e manter esta coluna tem sido uma bela e inesperada experiência, graças à equipe do NR e a vocês, leitores e leitoras que nos acompanham. Como esse mundão velho não vai acabar assim fácil, estarei de volta em 2013 pra retomar nossa conversa. Até logo, e tenham um ótimo começo de ano!

Marcos Grinspum Ferraz

2012 foi intenso! Fins e recomeços, voos e aterrisagens, mortes e nascimentos. Mas se esse papo parece muito pessoal, digo isso porque um dos voos mais emocionantes foi começar a escrever neste Nota de Rodapé. Um desafio a cada mês e uma satisfação enorme de fazer parte desse time. 2013 será também intenso, então, que venha nos dizer a que vem!

Moriti Neto

Ano bom este 2012. Para o NR, sem dúvida, excelente. Que em 2013, este maravilhoso coletivo continue a angariar leitores e colaboradores. E, principalmente, siga a encantar com belas crônicas e a serviço do jornalismo que intervém socialmente. Feliz ano novo!

Ricardo Viel

Há uma frase de Caetano que acho maravilhosa (se fosse de Paulo Coelho, provavelmente eu acharia besta) que diz assim: "É impressionante a força que as coisas têm quando elas têm queacontecer".

Tenho para mim que o Nota de Rodapé tem tanta força porque tinha que acontecer. E foi graças a um editor fantástico (como profissional e como pessoa) que esse projeto, assim meio sem plano, foi ganhando vida, leitores, colaboradores e foi se tornando um espaço diverso e divertido. Estamos – leitores e colaboradores – espalhados por esse mundão, mas há algo que nos une, e é isso que faz com que o NR seja um projeto que já atingiu seu objetivo: ser bonito, alegre e prazeroso para quem faz e lê. Desejo a todos nós, grupo que faz o NR, um 2013 cheio de força. O resto a gente constrói. Um abração. Feliz 2013

Ricardo Sangiovanni

Olha, se há algo que aprendo com esse ofício de jornalista - algo bonito, que rende mesmo uma mensagem de fim de ano - é o exercício do dom divino da apuração. Pois é dom que a graça de Deus (ou da Natureza) nos deu e dará sempre a todos - muito embora nós, oh povo de dura cerviz!, sigamos dele fazendo uso tão encurtado. Aprender, para depois ensinar ao mundo, a apurar (no sentido luso do “depurar”; evite o “apressar” castelhano) é a missão sagrada de todos nós jornalistas. Só apurando é que chegamos a desbastar intrigas, a desfazer mal-entendidos, a escapar de tolos embates maniqueus, a saber de fato quem disse o quê, sobre quem, por quê, quando e como. Só apurando é que aprendemos a aceitar que as relações entre as pessoas são complexas, que a vida não aceita dobrar-se às narrativas fáceis de nossa literatura ruim. Só apurando é que, no mínimo, evitamos dizer maiores bobagens. Portanto, caro leitor, aproveite as reuniões de final de ano para apurar o quanto puder de onde vem aquela rusga com o tio do interior, aquele cenho franzido para a colega de trabalho chata, aquela simpatia falsa com o amigo das antigas que trocou de carro antes de lhe pagar aquela dívida vencida. Apurar faz bem para o espírito. Feliz Natal, Feliz 2013.

Thiago Domenici

O NR virou, meio que sem querer, depois querendo muito, talvez por ter se tornado um vale encantado de bons amigos, de boas ideias, um refúgio pessoal e profissional. Sabe aquele lugar único que você vê algum sentido em trabalhar e também se divertir por algo que julga relevante?

É um pouco como me sinto em relação ao blog. Sem dúvida tem sido uma grande responsabilidade, sobretudo, um grande aprendizado.

2012 foi até agora o nosso melhor ano, ainda mais com o reconhecimento do internauta, que votou para estarmos entre os três melhores blogs profissionais do país na categoria notícias e cotidiano do prêmio TopBlog. E nesse esquema coletivo e colaborativo a gente cresce desde 2008; mais leitores e colunistas trazendo informação e conteúdo de qualidade.

A Fernanda Pompeu, na sua sabedoria, costuma brincar entre nós, que somos o “Barcelona dos Blogs”. Sem o tom pretensioso que isso possa causar em você, pra gente é gostoso pensar que somos ou que podemos jogar bonito sempre. É um estímulo, quer queiramos ou não, precisamos de estímulo pra ir mais adiante.

Às vezes, confesso, é difícil colocar tantas vontades em pratica. Falta braço, perna, tempo... Mas vamos em frente! Enquanto houver leitores, haverá NR. Espero voltar em 2013 mais satisfeito, de um jeito de não caber na gente, que transborda. Desejo a todos força e entusiasmo pelo que vale a pena. Meu pensamento bom, leve para esse fim de ano é: uma taça de vinho, pés relaxados, um sorriso, boas leituras e pensamentos soltos. Saravá!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Bem guardados

A memória é uma coisa louca: ora generosa, ora torturante, surpreendente, desalentadora, ou tudo ao mesmo tempo. Tem gente que defende a “exatidão” daquilo que lembra, como sendo a verdade, como se a memória fosse desinteressada e pudesse congelar o que aconteceu de forma objetiva. Nada mais enganoso. Cada pessoa que tenha estado presente numa determinada situação terá a sua própria memória do fato, pessoal e intransferível, moldada pela história e pelas características individuais.

Começo assim porque quero falar da infância, assunto que vem me rondando há algum tempo. Quem me companha aqui já leu várias menções à maternidade e aos filhos. Somos todos filhos, todos fomos fetos e bebês, e todos tivemos todas as idades anteriores à que temos hoje. No entanto, é muito comum que, uma vez encerrada determinada etapa da vida, guardemos dela uma memória idealizada. Deixando de lado a vida intrauterina e os três primeiros anos, dos quais poucos de nós se lembram de forma consciente, há uma espécie de consenso de que na infância se concentram as lembranças mais felizes.

Desconfio muito desse artifício. Aprender quem somos, o lugar onde estamos e como devemos nos comportar para obter aceitação e afeto – essenciais, mas nem sempre disponíveis – implicam um processo sumamente complexo e doloroso, que cada um de nós enfrenta como pode. Somos civilizados, enquadrados, moldados para caber naquilo que se espera de cada um, conforme a miríade de variáveis envolvidas na equação individual. Então, não me venham com esse papo de que tudo era lindo e perfeito. Não era, mas pode ter se tornado, para ficar mais confortável na memória.

Sim, é verdade que entre tudo o que eu não entendia e ninguém explicava, porque não há como explicar tudo, e não há como se desviar da dor dos filhos – como um dia desses a Eliane Brum escreveu lindamente em sua coluna semanal – vivi momentos mágicos quando criança. Entre eles, estão: olhar para as letras e entender como usá-las para formar palavras e expressar qualquer coisa – um deslumbramento; a banda de melancia devorada no quintal, com o suco escorrendo pelos braços e pingando dos cotovelos no chão – um prazer quase selvagem de tão intenso; acordar do sono da tarde banhada em suor, por causa do remédio para gripe, e encontrar minha mãe ao lado e uma jarra de Mirinda sobre a mesa. Estão lá, bem guardados, e de vez em quando os trago de volta. Você com certeza os tem também.


Júnia Puglia, cronista, mantém a coluna semanal De um tudo no NR. + Textos da autora.

O inferno do abandono

Desabrigados pelas enchentes desde 2010, moradores de alojamento improvisado em Atibaia (SP) sofrem, seguidamente, com descaso do Poder Público

Pela quinta vez, o Nota de Rodapé chega ao Campo do Santa Clara, no bairro do Caetetuba, periferia de Atibaia. Nesta visita à cidade interiorana, localizada a 60 quilômetros de São Paulo, encontramos Elisa da Fonseca, Josefa Ferreira da Silva, Eliane Aparecida Narciso e Regiane Aparecida Narciso. Quatro mulheres e um mesmo lugar. Nomes e documentos diferentes, mas situação de abandono e preconceito comum desde as enchentes que atingiram o município nos verões de 2010 e 2011.

Como tantos outros, elas são ex-moradoras da rua dos Pires, na Vila São José, bairro próximo e uma das áreas mais pobres da região bragantina. Todas tiveram as casas demolidas e queimadas pela Prefeitura em janeiro de 2010. De acordo com os números oficiais, atualmente são 32 famílias habitando o outrora campo de futebol.

Ali os moradores já foram enlatados em contêineres e quase entraram num alojamento com o venenoso amianto sob as cabeças, como denunciou este NR.

Além disso, até hoje estão nas precárias casas de madeirite do abrigo improvisado, recebem valores exorbitantes nas cobranças de água e luz, e ainda convivem com a truculência policial.

Eliane, que mora com cinco filhos no local, tenta proteger a família tanto da influência do tráfico de drogas quanto da agressividade e discriminação da polícia. “Eu nem trabalho, pois não posso largar eles aqui, não tem nada pra fazer. Se deixar, eles vão se envolver mesmo. É o que tem pra eles”, diz.

Com o poder dos traficantes, ela pouco pode fazer para cuidar da família. Fora isso, tem que enfrentar ações policiais que criminalizam a população do lugar e já até “profetizaram” o destino de dois de seus filhos. “Um policial da Rota falou pra mim assim: ‘esse bebê que está no seu colo, daqui a alguns dias já vai estar no meio das drogas e a de 11 anos vai estar vendendo’, contou.

“A Polícia Militar, o pessoal da Rota, da Força Tática, quer que a gente denuncie traficante, mas eles vêm aqui pra prender um ou outro e vão embora. Nós vamos continuar morando. Como fica a segurança se a gente entrega alguém?”, pergunta Eliane.

Elisa também vivenciou a condição de criminalidade ser estendida para toda e qualquer pessoa que viva no campo. A unidade do alojamento em que mora com o marido e a filha foi invadida por uma operação policial. A suspeita da PM era que a casa fosse “ponto de drogas”. A moradora lembra que foi vigiada por 15 dias até que cinco viaturas a cercaram na porta de casa. “Pensaram que eu ia sair correndo”, explica a senhora, hoje aposentada e que tem sérios problemas na coluna.

Violência e precariedade

Josefa Ferreira da Silva, conhecida no bairro como Julia, instalou, na parte do abrigo em que mora com o marido, uma mercearia. “A gente precisa de renda. Dá pra ganhar uns trocados aqui, né?”, comenta. O pequeno comércio acabou por se tornar ponto de encontro, principalmente para as mulheres que têm a precaução de vigiar os filhos.
A partir da esquerda: Eliane, Elisa, “Julia” e Regiane
(Foto de Mayra Bondança)

Segundo Julia, o abrigo, com a forte presença do tráfico, violência da polícia e precariedade estrutural, é “um pedacinho do inferno”. “Ficamos no meio do fogo cruzado, pois as casas são procuradas por gente que se esconde da polícia. Aí a PM entra sem pedir licença, acusando que a gente protege bandido”.

Não bastasse o que se vive de dificuldades de habitação, já que as casas, entre outros problemas, têm telhados que se assemelham a papelão – não suportam chuva e esquentam absurdamente expostos ao sol – e infestações de ratos que abalam as estruturas frágeis das casas, fazendo ceder pisos e abrindo buracos nas paredes, o preconceito com a comunidade alojada no Campo do Santa Clara vai além da polícia.

Regiane Aparecida Narciso, irmã de Eliane, foi vítima de discriminação quando buscava trabalho em Atibaia. Candidata a uma vaga no Supermercado Extra, situado em área central, chegou antes da hora marcada para a entrevista. “Meia hora depois, chegou outra moça. A pessoa que ia atender a gente perguntou onde cada uma morava. Quando eu disse Campo do Santa Clara, chamaram a outra pra fazer entrevista antes de mim, no meu horário marcado. Depois, avisaram que a vaga tinha sido preenchida. Mal falaram comigo”, revela. Grávida do quinto filho, ela segue desempregada.

Os exemplos de acontecimentos como esse parecem comuns. A juventude do alojamento está entre os que mais sofrem. “Meu filho de 15 anos também já passou por isso. Os meninos procuram trabalho, mas o pessoal não emprega, fala que tem medo. Tem preconceito sim. Gente que poderia dar oportunidade diz que não ajuda porque não conhece o tipo de gente que mora aqui”, aponta Eliane.

Até quando?

Durante bastante tempo, os moradores escutaram da Prefeitura que o prazo para sair do alojamento seria de dois anos, a contar de fevereiro de 2010, quando a obra do alojamento se iniciou. Na época, uma placa colocada no campo pelo Poder Público mostrava o mês, mas indicava uma data inusitada.

Vista dos prédios do futuro conjunto habitacional
(Foto de Moriti Neto)
O destino das famílias seria um conjunto habitacional chamado de Assentamento Caetetuba II, em outro bairro periférico. Contudo, os prazos para a entrega dos prédios foram alterados. A Prefeitura anunciou várias datas. “Depois dos dois anos de prazo, falaram em dezembro de 2012. Daí mudou pra fevereiro do ano que vem. Modificaram pra abril e já tem comentário de funcionário da Prefeitura de que fica pronto só no final de 2013”, descreve Eliane.

A preocupação de Eliane é baseada não só nos comentários. Numa visita ao futuro conjunto, é fácil notar que a construção está em estágio que necessita da finalização de diversos itens. Os sete prédios, com 24 apartamentos cada, estão erguidos, mas não há qualquer sinal do acabamento no trabalho dos poucos operários que tocam a obra. Água e esgoto ainda não têm as instalações concluídas. Tudo indica que os dias no “inferno” estão longe de terminar.


Moriti Neto, jornalista, mantém a coluna mensal Escarafunchar

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Mania de presente

Algumas semanas atrás, sentado na plateia para assistir a um show de homenagem aos 30 anos do disco “Bloco na Rua”, de Sérgio Sampaio, ouvi um comentário rápido que muito me fez pensar. O DJ Zé Pedro, ali ao meu lado, disse: “Velho, as coisas estão acontecendo! A gente é que não dá conta de acompanhar tudo”. No palco estavam Juliano Gauche, Tatá Aeroplano e Gustavo Galo. Ao menos na minha interpretação, Zé Pedro se referia a uma efervescência cultural e criativa na cena musical do país, e ao tanto de bons discos e shows a que temos acesso diariamente. Que fique claro: isso não excluí, de modo algum, o tanto de coisas ruins que também proliferam por aí.

Chegando ao fim do ano, neste último texto de 2012 da coluna Verbo Sonoro, não me ocorreu assunto melhor para tratar do que essa efervescência musical, aproveitando para, junto a isso, combater qualquer mania de passado. Se vou, aqui, listar vários nomes que vem a cabeça, de gente que está produzindo música boa atualmente, este texto não se propõe a fazer nenhum tipo de ranking de “melhores discos do ano” – como é usual nesta época de Papai Noel. Primeiro, porque ninguém dá conta de acompanhar tudo o que surge na música brasileira, o que já torna falha qualquer lista que se proponha “total”. Mas mais do que isso, porque música não é competição, não é feita no ringue; não tem primeiro, segundo e terceiro lugares. Música agrega, soma e multiplica, mesmo que possam existir rivalidades (por vezes tolas) neste meio.

Este texto, de saída, corre riscos. Talvez soe muito otimista; talvez pareça uma “visão parcial” das coisas, já que conheço alguns dos músicos que cito. Bom, seja como for, garanto que não perdi o senso crítico! E, além disso, é importante ressaltar: o manual de redação do Nota de Rodapé (ainda não redigido no papel...) não nos define como um blog “neutro, plural e apartidário”. Sabe esse papo? Então, deixemos o (falso) discurso da neutralidade para a grande mídia...

Bom, voltando. As coisas estão acontecendo. As coisas estão sempre acontecendo, claro, e não estou querendo dizer que os tempos de hoje são melhores ou piores que os de ontem. E se isso parece óbvio, não é tanto assim. Me lembro de, na adolescência, ficar lamentando por não ter vivido nos anos 60, 70 e 80, para poder ter visto ao vivo todos aqueles músicos que eu ouvia aos 15 anos. Sim, eu ainda gostaria de tê-los visto, mas a verdade é que também me satisfaz, e muito, o que temos para ver e ouvir hoje. Como escreveu Gil em “Era Nova”: “Novo tempo sempre se inaugura (...) O tempo que você perdeu, perdeu, não volta”.

Entre shows e discos de trabalhos brasileiros recentes (de 2011 para cá), adentraram meus tímpanos neste ano, e agradaram muito, os sons de Karina Buhr, Céu, Pélico, Romulo Fróes, Passo Torto, Tatá Aeroplano, Bixiga 70, Tulipa Ruiz, Otto, Criolo, Emicida, Racionais, Metá Metá, Batuntã, Afroelectro, Peri Pane, Meno Del Picchia, Zafenate, Curumim, Gaby Amarantos, Los Sebosos Postizos, Herbert Vianna, Márcia Castro, Vintena Brasileira, Loungetude 46 e vários outros. Gente trabalhando com novas linguagens, se reapropriando de sonoridades ou dando continuidade a pesquisas antigas, mas sempre com ideias originais, conectadas aos nossos tempos de conectividade.

Então estamos no paraíso? Uhm, não é isso. Cada um que abra os ouvidos e tire suas conclusões. Só não deixem de abrir os ouvidos, isso é importante. Pois as coisas estão, sim, acontecendo.

Um parênteses aqui. Eu diria também que, de diferentes modos, é gente com muita coisa a dizer, ao contrário do que escreveu Pedro Alexandre Sanches em um texto recente na revista Caros Amigos. Falando sobre a cidade de São Paulo ele argumentou que os músicos do lado de lá do rio (na maioria rappers de origem humilde) tem muito a dizer, enquanto as pessoas do lado de cá do rio não. Pois bem, esse assunto renderia páginas, mas só digo, de passagem, que ter algo a dizer não é apenas fazer música de protesto, nem tem relação direta com classe social – isso seria uma visão muito rasa de arte.

E nesse ponto lembro de algo que Tom Zé me disse em entrevista nesse ano, quando perguntado sobre suas parcerias com Mallu Magalhães, Pélico, Emicida e Rodrigo Amarante: “Digamos que, assim como eu vi o tropicalismo apontar setas para o futuro – não só na profissão de músico, mas em todas as áreas –, eu vejo nesses músicos novos que chegaram perto de mim uma grande capacidade de crítica, de visão. Acho que quando estivermos diante da terceira revolução industrial, com todos os problemas que devem vir, a gente vai precisar no Brasil que os artistas produzam massa mental para fazer frente à essa novidade. Aí, quando eu vejo esses artistas novos, eu penso: pode ter jeito, porque esses caras são de foder! Quer dizer, acho que a música dará sua contribuição.”

Pois bem, aproveitando a referência a Tom Zé, entramos aqui em um outro aspecto fundamental disso que chamo de “efervescência atual”: ela não se refere nem a um único estilo musical, nem a uma geração “etária” específica, mas ao momento em que nós vivemos em sentido mais amplo. Ter 20 ou 80 anos não inclui ou exclui ninguém. E os novos trabalhos de Tom Zé, Caetano Veloso, Chico Buarque e Gal Costa, por exemplo, mostram que modernidade nada tem a ver com idade. São CDs que dão passos à frente e nos instigam a pensar o futuro da música popular brasileira.

Esses trabalhos mostram também como é grande o diálogo entre as gerações. Além de Tom Zé, com os participantes que citei, basta pensar que a banda de Caetano é formada por três jovens (dois deles do grupo Do Amor), que Gal gravou com Kassin e Moreno Veloso e que vários dos novos artistas tem trazido participações de músicos com longa estrada em seus discos e shows: Tulipa com Lulu Santos, Pitanga em Pé de Amora com Mônica Salmaso, Garotas Suecas com Elza Soares, Karina Buhr com Edgar Scandurra, Peri Pane com Alzira E., O Terno com Abujamra, Léo Cavalcanti com Arnaldo Antunes, Cinco à Seco com Lenine e Chico César etc., etc., etc.

Alguns podem argumentar que sempre foi assim, que as gerações sempre dialogaram. Certamente, mas parece que, de fato, há uma notável abertura neste momento por parte dos músicos consagrados para olhar para artistas novos e independentes. E no caso atual, não parece haver por trás disso nenhum grande interesse comercial, o que poderia explicar esses tipos de relação; pois não são gravadoras ou empresários incentivando as parcerias; a troca parece, mesmo, artística.

Então estamos no paraíso? Uhm, não é isso. Cada um que abra os ouvidos e tire suas conclusões. Só não deixem de abrir os ouvidos, isso é importante. Pois as coisas estão, sim, acontecendo. E, mesmo que seja melhor não ser “maníaco”, prefiro ter “mania” de presente do que de passado. É hoje que estamos vivendo. Acabo o texto, assim, citando algumas palavras do grande Belchior, consagradas na voz de Elis Regina: “Você pode até dizer que eu tô por fora, ou então que eu tô inventando. Mas é você que ama o passado e que não vê, é você que ama o passado e que não vê, que o novo sempre vem”. E a música brasileira nos dá boas perspectivas de futuro: que venha 2013!


Marcos Grinspum Ferraz, jornalista e saxofonista da banda Trupe Chá de Boldo mantém a coluna mensal Verbo Sonoro, sobre cultura e música. Caco Bressane, arquiteto e ilustrador, também colunista do blog, especial para o texto

Cheiro de tinta


Não
sou dada a futurologias. Gosto mesmo é do odor da naftalina, da cor sépia das fotografias, do papéis amarelados. Talvez pelo fato do passado deixar marcas, manchas, trilhas tangíveis, ao passo que o futuro é tão somente uma assombração de promessas.

Mas, apesar do amor pelas coisas pretéritas, não sou do tipo nostálgico. Não posto fotos do meu eu jovem no facebook. Também não cultivo saudades. De forma alguma acho que o tempo passado seja melhor ou superior ao tempo presente.

Ele foi apenas distinto. Hoje, pouco a pouco, vou me acostumando a ler jornais na tela. É muito dinâmico, pois foco na notícia do meu interesse e checo em veículos diferentes como ela foi trabalhada. Aqui vale um parênteses: vejo tudo muito parecido, nada autoral.

a impressão que um jornalista copiou do outro, mudando ou acrescentando um detalhe embaixo, outro em cima. Tenho a sensação de que ninguém quer se comprometer. Como se fosse apenas um bater o ponto. Um se desfazer rapidamente de um encargo chato.

Creio que os jornalistas da web devem atentar para a relação íntima entre a qualidade e a diversidade no tom e no estilo. Basta conferir a história de dois gigantes de papel que morreram faz pouco tempo. Falo do carioca Jornal do Brasil (1891-2010) e do paulistano Jornal da Tarde (1966-2012).

O Jornal do Brasil, JB, teve longa vida de influência e importância. Foi referência como "jornal do país". Fez reformas editoriais e gráficas copiadas muitas vezes pela concorrência. Foi o primeiro a inventar um caderno B. Durante décadas serviu como contrapeso ao O Globo. Agora existe uma versão digital, mas na verdade só carrega o mesmo nome.

o Jornal da Tarde, JT, teve vida bem mais breve. No entanto foi brilhante na sua proposta inicial de inovação de texto e de paginação. Produziu capas memoráveis, legítimos "quadros" para, com gosto, a gente pendurar na parede. Ele apostava no visual bonito e leveza verbal muito antes da internet.

Na minha modesta opinião, creio que os dois começaram a morrer tempos antes das suas rotativas calarem. A agonia teve início quando cada um abriu mão da inovação e ousadia que, em boas fases, os caracterizaram. Os diferenciaram da maioria.

O leitor abandonou o Jornal do Brasil quando seus editores abriram mão ou perderam colunistas de primeira. Quando seu estilo passou a não cheirar e nem feder. Idem o leitor do Jornal da Tarde que não se sentiu disposto a acompanhar uma proposta cada vez mais ligeira e desimportante.

Uma bênção do passado é a de abrir os nossos olhos. Por exemplo, enxergar que o sucesso precisa ser renovado dia a dia. Não é tatuagem permanente, nem louro para se dormir. Os jornais digitais ainda não encontraram o ponto do doce.

Os webjornalistas precisam rapidamente ousar. Necessitam pôr tom e estilo em seus textos. Caso contrário, os leitores de notícias vão migrar em massa para os portais gerais e para o São Google. Nada é para amanhã.


fernanda pompeu, webcronista do Yahoo e do Nota de Rodapé, escreve às quintas a coluna Observatório da Esquina. Ilustração de Fernando Carvall, especial para o texto.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A janela

Há pouco para se ver da janela do meu quarto, além de um muro enfeitado com plantas trepadeiras, um obstáculo monótono que não me permite enxergar mais que umas janelas aqui e ali, quase sempre trancadas, o topo dos telhados das casas agrupadas e uma porção minúscula de céu. Muito pouco para minhas pretensões bisbilhoteiras. Sim, desde pequeno tenho verve fofoqueira; assumo. Como se morasse dentro de mim uma mulher velha e solitária, sentada há horas na varanda de casa em sua cadeira de vime, onde se dedica à eterna vocação de estar atenta a qualquer movimento da rua.

Por causa da visão desprivilegiada, uso os ouvidos. Pego no sono embalado pelo barulho da água corrente da criação de carpas do vizinho. Queria tanto um dia poder ver as carpas!

Foi numa dessas, mais exatamente na tarde do último feriado de 15 de novembro, enquanto trabalhava, que acompanhei a briga mais ferrada dos últimos tempos na Vila Romana, dessas que são lembradas pra sempre. Os gritos da mulher me arrepiavam. Incrível como grito de mulher assusta. Quando percebi que era mesmo coisa séria, larguei do computador e fui à janela para não correr o risco de perder nenhum detalhe. Mas essa briga de casal já tinha chegado no estágio em que o marido, um tanto arrependido por alguma bobagem que fez, tenta acalmar a esposa, que está em prantos, indignada, ameaçando romper definitivamente. Já o marido falava baixo. Vim saber, tempo depois, que era caso de agressão. No quarto da frente, o Cabelo, que mora comigo, também acompanhava a briga. Vimos de camarote a aproximação das viaturas, os dois na calçada; a mulher, mais calma, calada e descabelada; o marido, igual, com cara de bobo perdido, ouvia os policiais, balançando a cabeça pra cima e pra baixo, como um cachorro acompanhando o movimento dos talheres; pra cima e pra baixo; sim, senhor; até os policiais voltarem pras viaturas e sumirem, sob os olhares do povo janeleiro. Não ouvi falar mais no assunto. Deve ter ficado por isso mesmo.

Nesse mesmo feriado, que pra muita gente emendou com o do dia 20, teve mais duas brigas que eu acompanhei do meu quarto, enquanto corrigia envelopes intermináveis de provas da escola. Uma na casa do bebê recém-nascido: foi filho da puta pra tudo que é lado, uma gritaria terrível, portas batendo, criança chorando. A outra foi na casa do Alemão: que ele não pagava nenhuma conta, que não ajudava em nada, não trabalhava há quatro meses; e tudo isso ela gritava não para ele, mas para o bairro, porque tem certeza de que aqui no bairro o que não falta é gente querendo saber da vida dos outros; um escândalo.

Obrigadas a ficar em casa por causa do feriado, as famílias brigam. Lembrei-me de uma crônica em que eu narro a dificuldade que enfrentamos, eu mais quatro amigos, pra alugar esta casa. Os corretores queriam uma família, com marido, esposa, filhos. República?... Ah, república o proprietário não quer, porque tem as festas, o barulho...

Visitamos um prédio em que, logo no saguão, demos de cara com uma plaquinha, alertando: “Este é um prédio de família”. Nem subimos pra ver o apartamento. Famílias: briguem à vontade. Gritem. Xinguem. Só não chamem a polícia pra acabar com as nossas festas. Minha nova família, composta por cinco jovens, e uma infinidade de agregados, também tem direito de fazer o seu barulho de vez em quando.


Carlos Conte, sociólogo e cronista, estreia hoje a coluna mensal Casa de Loucos, uma homenagem aos mestres João Antônio e Lima Barreto

O véio macho do baião

Rojão, como também era chamado o gênero Baião inventado por Luiz Gonzaga, foi um dos feitos que consagrou o músico Pernambucano como um dos principais expoentes da música popular brasileira. Recebendo suas devidas homenagens em todos os cantos do Brasil, Gonzagão completaria 100 anos de vida em 2012.

Trazendo sempre em suas composições a alegria e os valores de sua terra seca, tornou-se um dos responsáveis por levar um novo olhar para a música nordestina. Em 1947, apresentou para o país sua composição, ao lado de Humberto Teixeira, "Asa Branca", conhecida como um Hino do povo sofrido do nordeste. Hoje a música está difundida no mundo inteiro, inclusive com interpretações em japonês!

Esse Cabra para lá de arretado, extrapolou as fronteiras de seu território e abriu os caminhos para a música popular nordestina. Embora Seu Lua, como também era conhecido, não esteja por aqui de corpo presente, suas canções e composições seguem vivíssimas, promovendo tradicionalismo e cultura brasileira pelo mundão afora.

Assim o Véio Macho do Baião eterniza. Luiz Gonzaga do Nascimento, para sempre em nossa música.





Kelvin Koubik, artista visual e músico de Porto Alegre, colunista do NR. Veja + do autor

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A singularidade dos desodorantes

Tenho problemas com desodorantes (como inclusive já disse aqui). Eles estragam a roupa, ou não funcionam, ou têm cheiro de banheiro de rodoviária, ou tudo isso junto. Aquela gente das propagandas até tenta me convencer. Jatos refrescantes de prazer, mulheres que caem do céu arrancando as próprias roupas, carros velozes, esportes radicais... Mas nunca conseguiram.

Pra piorar, a última marca que me arrisquei a usar tinha outro problema. Produzia uma névoa tóxica no banheiro que, quando inalada, me irritava a garganta. Então criei uma técnica. Prendia a respiração, passava o desodorante, saía do banheiro e rapidamente fechava a porta atrás de mim. Assim continuei a usar esse desodorante por algum tempo. Não apenas porque fosse menos pior, mas, talvez, porque essa última implicância me agradasse.

Pois é. Me agradava. E me agradava porque fazia eu me sentir único. Todo mundo gosta de se sentir único. Uma programação biológica, provavelmente. Nossas mães dando à luz um por vez, e nos mimando como se o mundo girasse em torno do nosso umbigo.

No fundo, a verdade é que somos sete bilhões de atores principais nos trombando no palco, enquanto a plateia segue vazia.

Depois a vida vai aos poucos acabando com essa ilusão. Ou melhor, vai tentando acabar. Porque no fundo, em algum lugar do inconsciente e por mais comum que seja seu emprego, seu carro, sua mulher, todo mundo se acha um pouquinho único. Não há como ser diferente. Estamos vendo o mundo através dos nossos olhos, a vida nos é narrada por nossa própria consciência.

E assim temos a ilusão de que o mundo está lá pra gente, como um cenário onde protagonizaremos nossas aventuras. Uma espécie de engano primordial, eterna fonte de guerras, desavenças, divórcios e afins. No fundo, a verdade é que somos sete bilhões de atores principais nos trombando no palco, enquanto a plateia segue vazia.

É uma dura realidade essa. Ser só mais uma abelha no enxame. Por isso minha birra com o desodorante me dava prazer e, mais do que isso, me orgulhava. Tanto que há algum tempo, numa roda de amigos, me peguei genialmente discorrendo sobre os defeitos de cada marca de desodorante, sobre minha pele sensível, e sobre como minha visão do mundo cosmético se diferenciava da dos demais mortais.

No fim, comecei a contar de como minha garganta se irritava com a nuvem tóxica de sais de alumínio e aromatizantes e estava prestes a falar da minha técnica quando o Luli tomou a palavra. Assim, como se nada fosse e de um só golpe destruiu minhas ilusões de singularidade:

“Sim, essa marca é horrível. Eu sempre prendo a respiração antes de passar, saio do banheiro e fecho rápido a porta.”


Tomás Chiaverini é autor do romance Avesso (Global), e dos livros reportagem Cama de Cimento e Festa Infinita (ambos pela Ediouro). Mantém a coluna mensal Abelha na Orelha

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Sem dizer adeus


“La esperanza le pertenece a la vida, es la vida misma defendiéndose” (Julio Cortázar, en “Rayuela”)

 Rubem Braga, em uma de suas tantas crônicas maravilhosas, daquelas adornadas de poesia e delicadeza, relata uma separação sem despedida, e a tristeza que ela trouxe.

“Talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão”, diz o mestre. E completa: “não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.”

Será permitido guardar uma “leve tristeza” e uma “lembrança boa”, anota o velho Braga. E amparados em ambas, digo eu, como se fossem duas muletas, há que se carregar, como for possível, o peso imenso da ausência.

Não há protocolo a ser seguido quando se trata de uma separação. Mesmo a ausência de uma despedida não garante que a dor seja menor; pode, sim, alimentar uma ilusão de que se deu porque assim quis a vida – o que, dependendo do ponto de vista, resulta menos ou mais triste.

Tenho pra mim que o pior que há numa despedida é que ela já leva consigo uma saudade – e uma dor – antecipadas. Nem foi dito o adeus e já estamos a pensar como sobreviver sem aquela(s) pessoa(s), sem aquele lugar – ou pior, sem ambos. E nesse momento parece ser que será impossível seguir a vida com esse vazio.

Pode ser tão dilacerante a ponto de levar-nos a pensar que melhor seria nunca ter acontecido. Mas perdoemos os magoados, porque eles não sabem o que dizem. Melhor seria, isso sim, nunca ter que dizer adeus. Porém, a eternidade não existe (e caso existisse seria uma chatice). Há que, se tragar demasiado rancor, acostumar-se com a ideia de o que foi já não será.

Por fim, talvez fosse melhor mesmo esquecer aquela última mensagem, aquele telefonema no meio da madrugada, como sugere o cronista dos cronistas. Assim fica a ilusão de que foi como em um baile de carnaval e se carrega a esperança de que um dia, talvez no próximo fevereiro, haja um reencontro e que, de mãos bem dadas para não se perder mais, se seguirá, em companhia, o cordão da vã alegria.


Ricardo Viel, jornalista, atualmente em Lisboa, Portugal, é dos primeiros colunistas deste NR e, a pedido, tira umas férias para voltar quando tiver o que dizer a seus leitores. 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Coisa Íntima # Santa Ceia

Série Coisa Íntima
Autorretratos por fotógrafos profissionais e amadores.
Participe, saiba + 

“Tirar a própria fotografia é a terceira coisa mais íntima que uma pessoa pode fazer com ela mesma, depois da masturbação e do suicídio”. 

clique para ampliar




Título: Santa Ceia
Autor:
Luiz Achutti
Mais em http://www.achutti.com.br/ 

sábado, 1 de dezembro de 2012

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