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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 9 de março de 2006

EUA e o seu soberbo relatório mundial de direitos humanos!

A falta de humildade do governo dos Estados Unidos para assumir seus erros ganha de goleada de todos os outros governantes do planeta. Invariável em seus atos, os EUA tende a achar, que os outros, no caso nós, somos obtusos. Pode-se dizer também, caso essa primeira opção não seja a melhor, que o governo americano tenha a maior equipe de PhD´s no quesito “cara-de-pau lavada”.
O fato é: ontem, dia 08 de março, foi divulgado o relatório mundial de direitos humanos, publicado desde 1977, feito lá mesmo nos EUA, onde se analisa todos os paises – todos menos eles. Isso mesmo, o país que sofre mais criticas quando o assunto são os direitos humanos analisa os outros, mas não se analisa. O que diria um professor americano para seus alunos se perguntado sobre o assunto: “– professor, porque no relatório os EUA não têm casos de abuso dos direitos humanos?” Certamente o professor ficaria numa “sinuca de bico”. Ele poderia contestar e dizer “– garotada, esse relatório é uma farsa, basta vocês lerem os jornais do mundo inteiro e não precisa ir muito longe, façam uma pesquisa de três anos que vocês irão achar, pelo menos, três casos, como as torturas a prisioneiros iraquianos em Abu Graib, a detenção de suspeitos de terrorismo sem julgamento e abuso de tratamento dos detentos na Base de Guantánamo, em Cuba.” Mas ele poderia simplesmente omitir e repedir o que diz o relatório: “sabemos dos defeitos do país, mas a luta dos EUA pela liberdade e justiça para todos tem sido longa e difícil, e está longe de estar completa”.
É o velho discurso dominador e imperialista que afoga qualquer esperança e tentativa de mudança dos paises subdesenvolvidos. No discurso da secretária de Estado Condoleezza Rice ela cita seis países em especial, Coréia do Norte, Myanmar, Irã, Zimbábue, Cuba e China. Aliás, países que vivem conflitos políticos constantes e até históricos com os EUA. O Iraque (que os EUA teimam em manter sob seu controle até 2008), consta no relatório, mas não foi citado pela secretária de Estado, pois ela sabe que seria uma autocritica velada aos EUA. O Iraque é acusado de ter um governo que desrespeita todos os direitos humanos, onde a população vive em meio ao terrorismo e rebeliões que impactam suas vidas em todos os aspectos e que o número de assassinatos cometidos pelo governo por razões políticas aumentou.
As criticas maiores foram para a China, acusada de continuar cometendo sérios abusos, como medidas austeras para controlar a mídia, censurar conteúdo de Internet e de prender pessoas consideradas ameaças ao governo. A Rússia é acusada de ter um governo corrupto e que pressiona a justiça. E o Irã continua a cometer abusos como execuções, desaparecimento de civis, torturas e punições como amputação de membros. O Brasil também foi citado no relatório: casos de corrupção, esquadrões da morte, trabalho escravo e por aí vai. O relatório está em inglês no endereço:
www.state.gov/g/drl/rls/hrrpt/2005/
È sabido que muitos países têm inúmeros problemas com os Direitos Humanos, aliás um problema crônico desde que o mundo é mundo, mas credibilidade e transparência são fundamentais para um relatório que aponta deslizes com os direitos humanos e esse relatório americano não tem. Os EUA apontam a ferida dos outros, mas não vê (ou finge que não vê) a sua feridas. Qual será o próximo episódio da novela “O tropa de Bush e seus parlapatões”?

Thiago Domenici é jornalista
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