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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O amor mora no 202?

Queridaaaaa, cheguei!

“Amooor, seguei”. É uma frase simples, inócua, mas que consegue estragar o pouco de humor que me resta no final do dia. Ela é dita pelo vizinho do lado, diariamente, quando o dito cujo chega do trabalho, entre seis e meia e sete e meia da noite. Eu disse: todos os dias. A parede fina do apartamento me permite (talvez me obrigue) ouvir a saudação do rapaz a sua amada com toda a desnecessária sonoridade.
Vivo neste cubículo há seis meses, mas o fantasma da alegria alheia me persegue há menos. O casal se mudou para o 202 há uns três meses.
Nunca conversei com eles e os vi algumas poucas vezes no elevador ou no corredor no prédio. Parecem pessoas normais. Até gente boa, eu diria. Mais ou menos da minha idade. Em tese, poderiam perfeitamente fazer parte do meu ciclo de amizades. Mas eu trocaria meus vizinhos por um aprendiz de violoncelo, uma evangélica fervorosa ou um casal ninfomaníaco.
Nada contra o amor. Fico contente que ainda haja no mundo pessoas que consigam dividir o mesmo espaço - nesse caso, mínimo, escasso - e serem felizes. Meu ódio é contra a mesmice, a monotonia, e, principalmente, a imbecilidade de se dizer diariamente um “amor, cheguei”.
Sempre que ouço o Romeu chegando, penso: como alguém pode sentir qualquer tipo de carinho pelo companheiro que faz, diariamente, com aquela entonação idiota que algumas pessoas usam para falar com as crianças ou os cachorros, a mesma declaração (batida) de amor? E como pode alguém manter intacto o carinho e respeito conquistados ao fazer, todos os dias, com a mesma voz de babaca, a mesma declaração (batida) de amor?
Quando a chave roda na porta do 202 me sobe um frio na espinha e o tempo se congela. Os dois ou três segundos de silêncio entre o ranger da madeira e a frase dita são uma eternidade, a calmaria antes do tsunami.
Confesso que da primeira vez foi engraçado. Fui pego de surpresa e um sorriso espontâneo brotou na minha face quando escutei a manifestação amorosa. A partir do terceiro comecei a fazer cara de namorado idiota e dublar a frase. Ainda era um pouco divertido.
Na segunda semana já passou a ser insuportável e comecei a me planejar para não estar em casa nesse horário. Saía para andar com o cachorro, tomava banho, colocava o som mais alto. Qualquer coisa para não duvidar de que duas pessoas com as perfeitas faculdades mentais podem se amar dessa forma. Era inócuo. Difícil prever com exatidão o momento da chegada da hecatombe que carrega meu resto de humor para a lua.
Já cogitei muitas hipóteses – algumas de extrema maldade - para que a paz volte a reinar em minha casa. Primeiro (e bondoso) pensamento: quem sabe a Julieta engravida e eles cheguem a conclusão de que o espaço é pequeno demais para três? Demoraria, no mínimo, nove meses. Até lá já terei enlouquecido.
Pequenos atentados, foi a segunda alternativa. Riscar o carro do casal e murchar os pneus; colocar por baixo da porta insultos e ameaças; propagar a teoria de que no apartamento do lado houve um brutal crime em que o homem matou a mulher e deixou o corpo guardado na geladeira por anos; contratar um profissional para descobrir a amante dele ou o amante dela (e se não existir, criar um) e enviar por correio um dossiê detalhado sobre a traição. Hipóteses, pelo perigo que trazem e pela maldade em si, inviáveis. Tão inviável quanto os dois mil e trezentos reais que o rapaz quer me cobrar para tornar meu apartamento cem por cento vedado a ruídos externos. “Pode pagar em três vezes, parceiro”. Como se em três vezes o valor caísse de dois mil para dois reais!
Já tenho o plano. Chamarei o dono do meu apartamento para um café e vou propor um ruptura do contrato amigável, sem multa. Motivo? Permitir que eu, um rapaz de trinta e poucos anos e que vem de relações afetivas frustradas, não perca o pouco de esperança que tenho no amor.
Faz quatro dias que não escuto o “amor, seguei”. Ouço ele entrar no apartamento no horário de sempre. Mas entra calado. Não sei se ela viajou ou se eles estão em crise. Hoje vi o elevador com a proteção que se coloca quando alguém no prédio está de mudança. O amor se mudou do 202?

Henrique de Melo Sabines, mineiro, 30 anos, trabalha na ECT e se dedica à astronomia nos fins de semana. Fã de Drummond, começou a escrever por recomendações médicas. É um dos autores do espaço Cronetas no NR.

Liquidificador destaca: Rocha Mattos livre, estádio do Timão e tornado de fogo em Araçatuba

Imagine a turbulência mental ao ler detalhadamente todas as notícias mais “importantes” do dia veiculadas no jornal do dia seguinte. S.A.T.U.R.A.Ç.Ã.O é o que penso sempre que pego o jornal, qualquer deles. “Não quero saber, mas preciso”. Liquidificador da informação é um apanhado. Nada mais. Aqui, somente, apenas, a informação menor. O que batemos o olho. De ontem, não te importa hoje. Respire e vá de um fôlego.

A maquete do Fielzão. Fonte: Jornal Agora
Dia 31 de agosto. TSE decide hoje se Roriz é ficha suja (leia o texto do NR de ontem sobre o tema). Eike Batista – o muito, muito rico! – disse no Roda Viva ter doado dinheiro para a campanha petista e tucana “em prol da democracia”. Pedirá uma coleira?
O rapper MV Bill está gravando para a global Malhação. Ele vai fazer um professor durão chamado Antonio. Lá é tão ruim quanto aqui. México expulsa 3.200 policiais por corrupção. Hoje no Parque São Jorge, com a preseça de Lula, anúncio oficial do estádio em Itaquera que abrirá a Copa Brasil (na imagem). Amanhã, 1 de setembro, é o primeiro dia do centenário do time e o NR terá texto-homenagem de Thiago Barbieri, madrugador e corintiano. No Anhangabaú, o show da virada para comemorar os cenzão começa às 19h 30. Carla Bruni, a bela primeira dama francesa, está na campanha contra o apedrejamento de Sakineh, a iraniana condenada a morte por adultério. O amigo Léo Arcoverde, repórter de polícia do jornal Agora, informa que hoje deve sair o parecer do Ministério Público de São Paulo sobre a possível progressão para o regime aberto da prisão do ex-juiz federal, João Carlos da Rocha Mattos, 62 anos, acusado de vender sentenças. Ele está preso deste 2003 e sempre negou as acusações. E hoje é o dia do Blog. A data, segundo o Wikipédia, foi estabelecida de forma informal. Obrigado pela preferência e parabéns aos leitores e amigos da blogosfera. Para finalizar, cena rara em Araçatuba, interior de São Paulo, no dia 24 de agosto. Um tornado de fogo, veja o vídeo abaixo. Até o jornal inglês Telegrafh divulgou o episódio. Curtinhas: Dilma e Serra falaram ontem sobre reforma tributária e Mantega, ministro da Fazenda, esteve no sétimo fórum de economia. Até amanhã.

Campanha para salvar o Cine Belas Artes

Cinema precisa de patrocinador para não fechar
O amigo deste blogue Lucas Duarte de Souza enviou uma informação que compartilho com vocês. Se trata de apoiar a sobrevivência de um dos cinemas mais tradicionais de São Paulo, o Belas Artes, na esquina da avenida Consolação e Paulista. No fim do mês de março, o banco que patrocina o cinema, o HSBC, optou em sair da parceria. Com isso, o cinema que funciona há 43 anos pode fechar.
“No início de abril, André Sturm, sócio-proprietário do Cine Belas Artes, iniciou uma batalha para conseguir um novo patrocinador, infelizmente sem sucesso até o momento. Inconformada com a possibilidade do fechamento, Marie-France Henry, proprietária do Restaurante La Casserole, reuniu outros restaurantes para criar uma campanha de Apoio, batizada de 'Salve o Belas Artes: Tudo Pode Dar Certo'. Ajude-nos a buscar uma forma de não permitir o fechamento de mais uma sala de cinema na cidade de São Paulo."

A campanha

É simples, ao ir em um dos restaurantes que apoiam a campanha para ajudar a manutenção de um dos poucos cinemas de rua da cidade você faz o seguinte na hora de fechar a sua conta: você autoriza uma contribuição no valor de 5 reais para e recebe um ingresso para assistir um filme. No cinema, o ingresso será carimbado e você pode pedir uma sobremesa no mesmo restaurante, em uma próxima refeição.Veja os restaurantes que estão participando da ação AQUI.

Patrocínio

"Se "você" empresa, agência, mídia se interessou e quer mais informações sobre os valores e dados do Belas Artes mande um comentário no blog com seu e-mail e telefone que entraremos em contato (não serão postados) ou envie um e-mail para: salvemobelasartes@gmail.com"
Também no twitter: @belasartescine! Ou divulgue a mensagem: @belasartescine! http://migre.me/N2oV #salvemobelasartes

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Filmes inteiros no Youtube e boa iniciativa do La Nacion

Entrevista em quadrinhos
O YouTube agora exibe filmes na íntegra. Mas só para os filmes de estúdios que fecharam acordos como, por exemplo, a Sony Pictures. Ao The Guardian, Donagh O'Malley, o executivo que responde pelas parcerias afirmou. "Esperamos que os amantes do cinema apreciem a variedade da nossa biblioteca gratuita”. Biblioteca essa que pretende ofertar cerca de 400 títulos (entre “clássicos”, “drama”, “humor”, “mistério”e “suspense”). Eu, particularmente, vi que apenas alguns filmes são interessantes para o meu gosto, mas dê uma olhada, afinal, a iniciativa é boa porque traz de graça ao público filmes inteiros e não mais apenas os vídeos de 10 minutos – limite permitido pelo YouTube para veiculação de material. Acesse os filmes disponíveis AQUI.
Falando em iniciativas, o La Nacion da Argentina mandou bem ao inaugurar novo espaço: a entrevista em quadrinhos, a primeira é com o ator Ricardo Darín (“Filho da Noiva” e “Segredo dos seus olhos”).

Tem um palhaço puxando o circo

Tiririca, o palhaço puxador de votos
A candidatura do cantor e comediante Tiririca, o Francisco Everardo Oliveira Silva, pode ser um voto de protesto para muita gente, ou mesmo uma satira ao sistema político, como comentou o Thiago Domenici nesse post. Mas o que sinto é que o palhaço é menos abestado do que parece, ou mais fantoche do que imagina.
A candidatura de Tiririca é o lançamento emblemático do puxador de votos nestas eleições. Seu partido, o PR (Partido da República, resultado do PL com o PRONA), usa a tática de que é melhor entrar pela porta dos fundos da Câmara do que não entrar. Explico: no Brasil, as eleições são proporcionais, o que quer dizer que os votos dos deputados são somados por partido – até que alcancem a cota miníma – e, depois, os mais votados de cada partido dividem essas cotas conquistadas e são eleitos.
Para se ter uma idea, em São Paulo cerca de 440 mil votos somados de um partido são suficientes para eleger um deputado (o falecido Clodovil conseguiu sozinho fazer com que 493 mil eleitores votassem nele e, portando, se elegeu e ainda deu mais de 40 mil votos para seu partido, o PTC – os números são aproximados).
No caso do Tiririca, o que o partido espera dele não é um voto de protesto, por lá as coisas são mais simples. O que esperam é que o palhaço puxe o circo, ajudando a eleger outros deputados da legenda, como o Valdemar Costa Neto, que renunciou em 2005 para não ser cassado no caso mensalão e conseguiu se reeleger em 2006.
Antes de votar no “pior que tá não fica”, vale o cuidado para não eleger por tabela o circo inteiro, e não só o inocente palhaço.

Diogo Ruic é jornalista e editor assistente do NR

Liquidificador destaca: Dolabella diz que não agrediu para “machucar"

Imagine a turbulência mental ao ler detalhadamente todas as notícias mais “importantes” do dia veiculadas no jornal do dia seguinte. S.A.T.U.R.A.Ç.Ã.O é o que penso sempre que pego o jornal, qualquer deles. “Não quero saber, mas preciso”. Liquidificador da informação é um apanhado. Nada mais. Aqui, somente, apenas, a informação menor. O que batemos o olho. De ontem, não te importa hoje. Respire e vá de um fôlego.

Fonte Nova foi implodida neste final de semana
Dia 30 de agosto. Serra critica Dilma por “sentar na cadeira” antes da hora. O Ibope de sábado divulgou as intenções para alguns governos. Em São Paulo o tucano Alckmin continua na frente com 47% seguido do petista Mercadante com 23%. Em Minas Gerais, Anastasia está na frente de Helio Costa, 35% e 33%, respectivamente. O Datafolha também soltou mais uma pesquisa, desta vez, ao senado. Em SP, Marta Suplicy (PT) possui 32% seguida por Orestes Quércia (PMDB) com 26% e o neocomunista Netinho de Paula (Tô chegando na Cohab para curtir minha galera...) do PC do B com 24%. Em MG, Aécio (PSDB) tem 70% seguido do ex-presidente topetudo Itamar Franco (PMDB) com 44%.
Paulo Coelho diz ao Extra do RJ, em entrevista sobre o lançamento de seu novo livro “O Aleph” que sonhava em ser bombeiro. Quanto ganha um bombeiro?
José Antonio Dias Toffoli, ministro do STJ, suspendeu em caráter liminar todos os recursos que tramitam na justiça e tratam das diferenças de correção nas cadenetas de poupança em razão dos planos econômicos Bresser, Verão e Collor I.
E Sabe o Dado Dolabella? O ator, cantor e vencedor da Fazenda da Record disse a revista Veja que jamais agrediu Luana Piovani e a ex-mulher, Viviane Sharahyba, para “machucar”. Disse ainda que sua ex-mulher está se fazendo de vítima. Maria da Penha nele!
Pastor Evangélico negro foi preso e solto depois após ser acusado de racismo no Pará. Ele chamou uma funcionária da TAM de “neguinha folgada”. Na Argentina, Lidia Papelo diz que foi torturada para vender a Papel Prensa. Caso Sakineh: chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, diz que pode empreender uma ação coletiva contra o Irã. Uma das medidas será o envio de uma carta comum pedindo a revisão do caso. Na Inglaterra, BBC vai cortar salários em 25% para reduzir o déficit da emissora do Reino Unido.
Do mundim futebolístico. São Paulo empata por 2 a 2 com o ainda líder Fluminense com atuação brilhante de Rogério Ceni. Corinthians – que vai ter arena para a abertura da Copa Brasil em 2014 – ganha na volta de Ronaldo Fenômeno. Palmeiras de Felipão passa por Atlético Mineiro de Luxemburgo e Diego Souza. Na Bahia, o Fonte Nova foi implodido (na foto). O palco de tantos jogos leva o nome de Octavio Mangabeira e dará origem a nova arena e foi o primeiro a ser implodino na América Latina. O Diário da Borborema destaca que houve um tiroteio durante a Rifa de um liquidificador (não este da informação, ainda bem) em Massaranduba, em Campina Grande, e um homem ficou ferido.

Roriz, sutil ironia ou o que?

Contraditório, Ficha Suja só vale para os outros

Apesar de ter sua área de atuação e de influência restrita à região Centro Oeste do país, Joaquim Roriz, do Partido Social Cristão, é um dos mais notórios fichas sujas do Brasil, conhecido nacionalmente. Governador por quatro vezes – três eleito pelo povo, uma nomeado pelo então presidente José Sarney (PMDB) - foi no último cargo, de senador, que Roriz conseguiu arrumar toda a quizumba que o está prendendo em enroscos pelos tribunais.
Em 2007, Roriz renunciou ao seu mandato de senador, após apenas sete meses na cadeira. Na mesma época, a Polícia Federal iniciou uma operação chamada de Aquarela, que acabou pegando Roriz em uma conversa telefônica, discutindo a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões. Questionado pela polícia, Roriz afirmou que o dinheiro se referia à compra de uma bezerra, que ficou apelidada de “bezerra de ouro”.
Com isso em mãos, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) deu entrada no Senado a um pedido de cassação do mandato de Roriz por quebra de decoro parlamentar. Antes sequer de o processo ser analisado por qualquer órgão ou instância da Casa, o ex-governador renunciou, apelando para o velhíssimo artifício de renunciar para não perder seus direitos políticos.
Porém, agora, Roriz garante que não renunciou para fugir de cassação, mas por ter descoberto que “não tinha vocação para o legislativo”, como disse no debate entre candidatos ao governo do DF da televisão Bandeirantes. A coincidência de datas é apenas isso, coincidência, segundo ele, uma oportunidade para renunciar.
Roriz já avisou também que, se continuar barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a validade da lei para esse ano – pelo princípio da anualidade, toda lei precisa vigorar por um ano para valer para uma eleição – e da retroatividade – nenhuma lei pode retroagir para prejudicar alguém, apenas para beneficiar.
Ou seja, Roriz vai dizer que a) ou a lei não vale para essas eleições, ou b) não vale para ele. Porém, quando é para alfinetar seus adversários, Roriz bem que faz uso da lei. Ele usou o dado divulgado de que o PMDB é o partido com mais membros barrados pelo Ficha Suja para, indiretamente, atacar o personagem que tem sido mais atacado pela coligação de Roriz, sendo chamado constantemente de “traidor”, seu ex-braço-direito Tadeu Filippelli, deputado federal mais votado em Brasília nas últimas eleições e atual vice na chapa do petista Agnelo Queiroz, principal oponente de Roriz na corrida ao GDF.
Como não tenho procuração nem pretensão de defender o PMDB, vai apenas um dado: o PMDB é o partido com mais filiados no Brasil, tendo próximo a ele apenas o PT. Dá até para pensar que é normal o partido ter o maior número de fichas-suja – em um mundo onde ter “fichas-suja” é considerado normal, claro.

Rodrigo Mendes de Almeida é jornalista e escreve a coluna Estação Brasília

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O NR no I Encontro dos Blogueiros Progressistas

Nos dias 21 e 22 de agosto, 330 pessoas de 19 estados brasileiros compareceram ao I Encontro de Blogueiros Progressistas, realizado em São Paulo, na sede do Sindicato dos Engenheiros. A ideia do evento foi lançada há cerca de três meses, quando da inauguração do Centro Barão de Itararé de Mídia Alternativa – entidade de estudos e debates sobre democratização na mídia. A reportagem do NR participou dos dois dias de atividades, que começaram pela manhã e se estenderam até 21h, no sábado, e 16h, no domingo.
No primeiro dia, foram debatidos vários temas, como a integração dos blogues dentro de um portal, diversidade informativa, defesa da neutralidade na rede (não neutralidade política, mas para assegurar a "grandes" e "pequenos" blogueiros acesso à mesma velocidade de internet) ampliação da banda larga, capacitação dos blogueiros por meio de oficinas e criação de ações organizadas para lidar com questões jurídicas.
Perceptíveis, nos pequenos stands improvisados com a finalidade de vender livros e revistas, eram as estampas de rostos históricos, ícones da esquerda, como Che Guevara - o mais "presente".
E não eram somente os personagens do passado que davam o ar da graça. A candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff (PT) era a imagem mais vista entre os vivos estampados. Uma camiseta com os dizeres "Dilma Guerreira", e com a foto da ex-ministra nos tempos de luta contra a ditadura militar foi bastante procurada – e vestida – no evento. Não resta dúvida, claro, os "progressistas" eram, na maioria, de esquerda. Sim, havia mais petistas. Porém, também estavam no encontro pessoas ligadas ao PCdoB, PSTU e PSOL. E até mesmo gente que nem de longe pode ser definida como "de esquerda". Até um blogueiro malufista (quem diria?) esteve por lá. E é mera coincidência que o polêmico senhor Paulo Salim Maluf é o cacique do... Partido Progressista!
No segundo dia, inclusive, aconteceu uma celeuma, talvez a maior de todas, sobre o nome do encontro. Na plenária final, a adjetivação “progressistas” foi alvo de críticas e houve quem quisesse aboli-lo. No entanto, em votação, o título foi mantido, entendido como garantia de mais abertura em relação à orientação política e ideológica dos participantes. Nesse sentido, aprovada no fechamento das atividades, a carta de princípios dos blogueiros menciona "o caráter suprapartidário do evento".
Contudo, o domingo abarcou outras temáticas, mais direcionadas a critérios técnicos. Seis grupos de trabalho foram formados, tendo os relatórios finais aprovados por unanimidade. Um dos principais pontos, consensual, diz respeito a distribuir conhecimentos sobre as ferramentas dos blogues, assim como das redes sociais, pois nem todos possuem saber técnico na área. Daí surgiu a ideia de realizar oficinas nos estados, além da criar uma cartilha sobre software livre, aproximando o público do conceito de construção colaborativa.
Outros aspectos objetivaram fortalecer o trabalho em rede, por exemplo, focando o auxílio jurídico aos blogueiros. Isso se daria por meio da formação de uma rede de operadores do Direito, pois já existem notificações e até ações judiciais promovidas por veículos da imprensa tradicional que, de acordo com muitos blogueiros, desejam cercear a liberdade de expressão de quem nem sempre têm condições financeiras de pagar defesa.
Sobre as maneiras de financiamento, a percepção geral apontou para a necessidade de mobilizar o que foi denominado de "sociedade civil progressista", com o intuito de apoiar os blogues no formato de iniciativas de economia solidária.
Bem, mantido o nome, o II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que deve ocorrer em agosto de 2011, promovendo antes encontros estaduais, ainda não tem local certo para ocorrer, mas deseja-se uma cidade que não seja São Paulo. Coerente, já que a proposta fundamental, cerne do evento, é a descentralização e a ampliação do debate público, algo condizente com as características da blogosfera, marcante para a definição das diferenças entre liberdade de expressão e liberdade de imprensa, conceitos geralmente tão mal utilizados no Brasil.

Moriti Neto é jornalista, colunista do NR e foi nosso representante no I Encontro dos Blogueiros Progressistas.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ô Abestado

O candidato lindo?
O palhaço Tiririca é Francisco Everaldo Oliveira Silva, 45 anos, famoso pela música “Florentina de Jesus”. Às vesperas das eleições, Tiririca se revela um bem-humorado candidato a deputado federal pelo PR (Partido da República) desde que a campanha na tevê se iniciou em agosto.

Em recente entrevista a Folha de S. Paulo, "o candidato lindo" diz que decidiu se candidatar pelo partido, de quem recebeu o convite há um ano, depois de falar com a mãe que o aconselhou a entrar na política já que “daria pra ajudar as pessoas mais necessitadas”. O slogan "Vote Tiririca, pior que tá, não fica" é esdrúxulo. No entanto, não deixa de ser crítico ao atual cenário político brasileiro. Aliás, nem tão atual assim. Um cenário que a cada legislatura se afunda mais em alianças e acordos que desrespeitam a história partidária e os eleitores. Em meio a isso surgem figuras do mundo "artístico" como Tiririca, Mulher Melão, Leandro do KLB etc.

É realmente complexo acreditar em alguma coisa em época eleitoral quando o de sempre volta à baila: “desvio de dinheiro público”, “corrupção”, “improbidade administrativa”, “caixa 2”. A desilusão vem à tona, não tem jeito. Mas cabe aqui uma diferenciação. Aos que acham que está uma merda o cenário, não vale deixar que piore, concorda?

Tiririca, evidentemente, não tem nenhum tipo de preparo para legislar em Brasília caso vença pelo Estado de São Paulo às eleições de outubro. Sua legenda 2222 é simples de memorizar. Agora, sua vitória, cá peço desculpas ao palhaço, espero que não se concretize.

Tiririca não sabe quanto custa sua campanha ou o que faz um deputado federal. Não sabe quem são os seus assessores e mal consegue articular as respostas durante a entrevista. Fica nítido que sua candidatura é uma ambição do partido pequeno em que está de ter algum fantoche – por menor que seja – com certo poder no Congresso. “Por eu ser um cara popular, eles [o PR] acreditaram muito, como eu também acredito, que tá certo, eu vou ser eleito.” Sua mais vaga proposta é batalhar pelos “nordestinos, pelas crianças e pelos desfavorecidos.” Quando perguntado sobre algum projeto concreto, responde: "De cabeça, assim, não dá pra falar. Mas como tem uma equipe trabalhando por trás, a gente tem os projetos que tão elaborados, tá tudo beleza. Eu quero ajudar muito o lance dos nordestinos.”

O slogan do palhaço que afirma ser uma “realidade” o argumento de que “pior do que tá não fica”, se levado ao pé da letra, é problemático e errado. O eleitor, espero, precisa ver Tiririca como uma sátira ao sistema político – existiram outras no passado (ver abaixo) – e ter consciência do seu voto. Temos que tentar votar – por mais que erremos – no candidato que tem proposta programática e alguma ideia que não seja de interesse pessoal.

O candidato Tiririca, não fosse uma candidatura real e com chances de vitória, seria um ótimo personagem de programas que hoje estão proibidos de fazer humor com os políticos, como o CQC, Pânico, Casseta e Planeta etc. Ao contrário do que diz Tiririca “(...) Nunca votei. Sempre justifiquei meu voto”, os eleitores deveriam se envolver mais. Quem sabe, entendendo melhor sua posição, você não se depara com uma posição de recusar todos os candidatos de uma vez e votar nulo, mais isso é tema de um próximo texto.

Cheiroso, Tião e Cacareco
O rinoceronte recebeu 100 mil votos em 1958
Em uma época em que não existia a urna eletrônica e o voto era realizado em cédulas de papel em que se escrevia o nome do candidato de sua preferência o povão, sempre criativo, resolveu protestar. Foram três casos clássicos de voto nulo em massa no Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo. Macaco Tião tornou-se uma celebridade no Brasil depois que os humoristas do Casseta e Planeta lançaram a sua candidatura não oficial para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 1988.

Segundo a revista da Abril, Superinteressante, “depois do fracasso do Plano Cruzado, o macaco chimpanzé Tião, habitante do zoológico do Rio de Janeiro, foi lançado candidato a prefeito. Terminou em terceiro lugar, com 400 mil votos (9,5% do total).” Em Jaboatão (PE), o bode Cheiroso, recebeu 400 votos para vereador. Em São Paulo, segundo o Wikipédia, “O rinoceronte Cacareco, habitante do Zoológico da cidade, nas eleições de outubro de 1958 para vereador, recebeu cerca de 100 mil votos.

Após o resultado das eleições, Stanislaw Ponte Preta comentou no jornal Última Hora que 'diversos membros da cúpula do PSP andaram rondando a jaula de Cacareco, para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros'. Já o então presidente Juscelino Kubitschek declarou: 'Não sou intérprete de acontecimentos sociais e políticos.

Aguardo as interpretações do próprio povo'. A ideia de lançar o animal como candidato teria sido do jornalista Itaboraí Martins, em protesto contra o baixo nível dos outros 450 concorrentes. O fato se tornou notório e serviu como referência para várias análises de percentuais no Brasil de voto nulo e dos chamados votos de protesto.”

Thiago Domenici é jornalista

Em Logorama, a polícia é o boneco da Michelin e o bandido o Ronald McDonald’s

Todos são marcas ou ícones das marcas
O filme LOGORAMA é muito interessante e se inicia com uma música alegre que pergunta como vai a sua (nossa) felicidade? Todos os personagens são “marcas” ou ícones dessas marcas, como os policiais que são os bonecos da Michelin. É o mundo em que vivemos, cheio de armadilhas e perseguições, desencontros, com a curiosidade de o vilão ser o palhaço Ronald McDonald’s, identificado como um traficante de armas e urânio que só fala palavrões e está fugindo da polícia. O diálogo inicial, antes de aparecer o vilão do Mc Donald’s fala de um passeio que um dos Michelin fez ao zoológico com os filhos. E fala também do sofrimento de alguns animais, em especial de uma sheeta - uma espécie de leopardo. Quando um dos Michelin vai pegar a comida, por sinal num dos concorrentes do McDonald’s, o KFC, o rádio avisa que há um suspeito dirigindo uma van vermelha, um palhaço... Ele está armado e é muito perigoso, uma tremenda gozação. O filme é ao mesmo tempo uma crítica dura ao sistema capitalista, que nos inunda de marcas e logotipos que não acabam mais, mas também uma mensagem de amor.
Parece até ter um simbolismo bíblico: depois da destruição, do apocalipse, a Eva (aqui a gotinha da Exxon) come a maça de novo (o símbolo da Macintosh) e o Adão é um menino imaturo chamado de Big Boy.  Arriscaria dizer que Deus, não sei se numa mensagem direta ou indireta, não quer destruir o mundo. Ele quer que voltemos a ser criativos, livres e não dependentes do SISTEMA. A música final diz mais ou menos o seguinte: "eu não quero um mundo transformado em fogo, quero apenas a luz borbulhando em meu coração... Tenho um desejo no meu coração... Quero apenas que você me ame..." Vale a pena ver... Amazing!...

LOGORAMA é uma animação feita por uma equipe francesa que foi premiada no Festival de Cannes em 2009, bem como no Sundance Festival nos EUA. Abaixo, em inglês. Seria legal se alguém fizesse as legendas para o português.
 

Logorama from Marc Altshuler - Human Music on Vimeo.

Ana Luísa Almada, do Canadá, especial para o Nota de Rodapé

quarta-feira, 25 de agosto de 2010



Veruscka Girio é publicitária, designer, diretora de arte, produtora multimídia, videocenarista, vj e curiosa no processo do uso do computador como ferramenta de criação e produção artística para elaboração de novos mundos. Mantém a coluna de arte multimídia e interativa Astronauta Mecanico neste Nota de Rodapé.

Recuerdo de la muerte


Já que me aventurei pela seara literária, eis mais uma indicação. Recuerdo de la muerte é um excelente livro do jornalista e político argentino Miguel Bonasso. Escrito na reta final da última ditadura militar argentina (1976-83), é um retrato fenomenalmente detalhado de um aspecto específico daquele regime.
O centro da narrativa é a história de Jaime Dri, militante político dos Montoneros, grupo peronista, nacionalista e tão complicado quanto qualquer aspecto da vivência política argentina. Dri, ou Pelado, descobre uma faceta ensandecedora da ditadura ao ser raptado pelos militares: os chupados, ou seja, os militantes políticos que passavam a colaborar com o regime depois do rapto. Um daqueles livros para agarrar na leitura e ficar o tempo inteiro na tensão à espera do desfecho de sucessivos episódios. Pelado vai ou não passar para o lado dos milicos? Será morto na tortura? Quais os companheiros que realmente traíram o movimento? Fortíssima a narrativa de Bonasso, que escreveu também El Palácio y la Calle, no qual narra – bem, mas de maneira não tão empolgante – os bastidores da derrocada argentina de 2001-02.

João Peres é jornalista e colunista do NR

terça-feira, 24 de agosto de 2010

A travessura de Plínio

Plínio conseguiu romper o anonimato
O twitter imita a vida — ou melhor, tenta contrariá-la. É assim, pelo menos, quando o assunto é a cobertura midiática da campanha presidencial de 2010 no Brasil.
Plínio, Marina, Serra e Dilma aparecem com mais ou menos frequência na televisão, no rádio, nos jornais e nas revistas de grande circulação e impacto na opinião pública. Claro, a candidatura de cada um também é abordada com diferentes enfoques, dependendo da posição política e dos interesses de quem publica. Não é novidade para ninguém que os candidatos do PT e do PSDB são os favoritos da imprensa — estes mais do que aqueles.
Serra e Dilma estão na dianteira em todas as pesquisas de opinião e diariamente ganham manchetes país afora. Marina aparece em terceiro lugar nas intenções de voto e também na preferência dos jornalistas. O raciocínio segue com o representante do PSOL, em quarto, chamando muito pouca atenção dos holofotes. Há outros concorrentes, claro, mas a liberdade de imprensa vigente no Brasil não tem espaço para sua insignificância eleitoral.
Talvez pela distribuição desigual de atenções, Plínio de Arruda Sampaio é, de longe e de perto, o postulante ao Planalto que mais recorre ao Twitter. Depois vem Marina Silva, seguida por José Serra e Dilma Rousseff. O ranking dos presidenciáveis tuiteiros é exatamente oposto ao espaço que cada um deles — seja pela letra da Lei Eleitoral, seja pela vontade da imprensa — possui junto aos meios de comunicação.
Plínio está vidrado nesta (já não tão) nova ferramenta da internet. Antes da campanha deslanchar, já anunciava no YouTube sua adesão ao serviço gratuito que permite disseminar mensagens de até 140 caracteres diretamente a quem quiser ou puder lê-las. E lá se vão mais de duas mil, escritas de próprio punho ou pelos dedos da assessoria do PSOL. Os assuntos são variados. Plínio comenta os debates, reforça suas propostas de campanha, critica seus adversários e responde os internautas que lhe perguntam sobre tudo. Como só tem tempo de tuitar tarde da noite, batizou sua atividade internética noturna de Comando da Madrugada.

Tuitaço
Mas o grande feito do Plínio tuiteiro aconteceu no debate organizado em conjunto pelo jornal Folha de S. Paulo e pelo portal UOL. Foi o primeiro evento do tipo transmitido ao vivo pela rede. Ao contrário do que aconteceu na Bandeirantes e, mais recentemente, na TV católica Canção Nova, o candidato do PSOL simplesmente não foi convidado. Porém, marcou presença. Como? Pelo Twitter, oras. Plínio lançou mão da twitcam, uma ferramenta que permite ao tuiteiro tuitar, em tempo real, com voz e imagem, através de uma câmera instalada no computador. Como o debate da Folha/UOL se deu integralmente na internet, o candidato excluído se fez notar como um internauta qualquer que estivesse participando e interagindo com os debatedores oficiais.
Mas, claro, não se tratava de um internauta qualquer, e sim de um presidenciável. A travessura de Plínio, portanto, foi além.
“Para surpresa geral, o número de pessoas interagindo com o candidato do PSOL pela twitcam chegou a superar a quantidade de participantes das salas de bate-papo do debate Folha/UOL. O fato foi registrado pelos serviços de informação disponibilizados pela internet”, comenta o próprio candidato num artigo publicado na edição online da revista CartaCapital.
Empolgado, Plínio até criou um neologismo para resumir seu êxito cibernético contra o bloqueio dos grandes meios de comunicação: tuitaço.
Num país como o Brasil, em que a internet chega a apenas 50 e tantos por cento dos domicílios, o tuitaço de Plínio pode parecer empolgação barata de um candidato de um partido sem base social, que não tem a menor chance de vencer as eleições e que, exatamente por isso, se contenta em celebrar como grandes conquistas pequenos episódios isolados e sem maiores impactos no pleito de outubro.
Mas é importante levar em consideração o fato de que “nunca antes na história deste país” um candidato rotulado como nanico e com uma porcentagem sofrível de intenções de voto conseguiu impor sua participação, ainda que de forma paralela e extra-oficial, num debate presidencial. Até porque, antes do aparecimento das novas ferramentas da internet, Twitter entre elas, entrar de bicão no circo midiático eleitoral era tarefa impossível. O feito de Plínio foi ter reconduzido, ainda que timidamente, as ideias e posições políticas ao centro do debate, passando ao largo dos desígnios dos grandes meios de comunicação. Se o tuitaço teve mais audiência que o programa em si, é porque o candidato do PSOL tinha algo a dizer. E havia gente interessada em ouvi-lo.
A Folha e o UOL quiseram limar Plínio do debate que promoveram na internet e, além de não terem conseguido, não tiveram como detê-lo. Por isso, o presidenciável pode ter razão ao escrever que “as forças democráticas da nação precisam se debruçar sobre o fenômeno, porque ele pode representar um instrumento poderosíssimo para ajudar a reverter o sombrio panorama da política mundial neste inicio de século.”
É esperar (e agir) pra ver, levando em conta que o Plano Nacional de Banda Larga está prestes a arrancar e difundir um pouco mais a internet no Brasil.



Tadeu Breda é jornalista, colunista do NR e vive em Latitude Sul.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cooperação suíço-brasileira contra o mal de Parkinson

O ministro da Educação, Fernando Haddad, assina com Didier Burkhalter, conselheiro federal do governo suíço, na próxima segunda feira, 30, às 9h, na sala da Congregação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), um acordo de colaboração científica para o desenvolvimento de novos estudos sobre o mal de Parkinson e outras doenças neurodegenerativas, visando uma compreensão mais profunda desses graves problemas de saúde, seu controle e tratamento. A contrapartida suíça no acordo envolve a instalação de um supercomputador na Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa (AASDAP), organização brasileira presidida pelo neurocientista Miguel Nicolelis.
A máquina, um supercomputador BlueGene/L, da IBM com capacidade de 22 teraflops que em sua configuração final será capaz de processar 46 trilhões de operações por segundo, veio da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL). A propósito, quando o acordo de cooperação técnica entre os dois países foi definido, no final do ano passado, a EPFL também comunicou a criação da Cátedra em Neuroengenharia EPFL-NATAL, concedida a Miguel Nicolelis pela Fundação Família Sandoz, para assegurar o avanço e a aceleração dos estudos de moléstias neurodegenerativas em instituições de pesquisa geridas pela AASDAP no Rio Grande do Norte. Inclui-se aí o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS) e os novos centros de pesquisa que vão fazer parte do Campus do Cérebro, em Macaíba, já em obras a essa altura. Nesse campus está sendo erguido o data center que abrigará a super máquina, já batizada de 14 BIS-21.
Na cerimônia de assinatura do acordo de cooperação Brasil-Suíça, na próxima segunda, Nicolelis terá a oportunidade de explicar detalhes da utilização do 14 BIS-21 no país. O neurocientista prevê múltiplos usos para o supercomputador, enquanto ele próprio se desdobra entre as atividades de professor e pesquisador na Universidade Duke, nos Estados Unidos – trabalhando na fronteira da neurociência, em especial na interface cérebro-máquina -, e as exigências da implantação de vários projetos vinculados à criação de centros de pesquisa e de educação científica integral para crianças e jovens no Brasil.
O 14 BIS-21 poderá superpor ao trabalho com dados de neurociência tarefas em
muitas outras áreas do conhecimento. Além de processar e analisar informações em tempo real da atividade elétrica, magnética e metabólica do cérebro humano, ele tem capacidade para simular e analisar modelos climáticos; realizar a análise estatística de grandes bancos de dados genômicos, proteômicos e metabolômicos; efetuar a análise geológica para prospecção de petróleo; realizar modelagem matemática em biologia molecular, genética, física de alta energia e química; e ainda pode servir para o desenvolvimento de uma plataforma computacional voltada para a educação científica.

Informações enviadas pela assessoria de Miguel Nicolelis.

Os EUA querem salvar o mundo do terrorismo e quem salvará o mundo dos EUA?

A arrogância e a prepotência com que o governo dos EUA se comporta no mundo contemporâneo, além de cansativas, estão se tornando um perigo para a sobrevivência da humanidade. Que eu saiba, à exceção dos poucos países cujos governos mantêm uma postura totalmente submissa aos interesses norte americanos (cito de cabeça a Colômbia, a Costa Rica, a Arábia Saudita e a Coréia do Sul como exemplos mais significativos), nenhum de nós, mortais, deu procuração a Washington para pensarem e agirem em nosso nome.
Essa “luta contra o terrorismo”, a “defesa da democracia” e o “combate ao narcotráfico” já não convencem a ninguém mais. A quem quer enganar o Tio Sam? Luta contra o terrorismo? Mas quem é que armou o Talibã? Quem criou Osama Bin Laden? Quem tortura inocentes na prisão de Guantánamo? Quem apoiou a maioria dos golpes de estado na América Latina nos anos 50, 60 e 70 e o recente golpe em Honduras? Quem apoiou a Operação Condor e praticou atentados terroristas no Cone Sul? Quem financiou terroristas como Posada Carriles e que vive exilado nos EUA?
“Democracia”? Mas de qual democracia estamos falando, cara pálida? Dessa que paga salários monstruosos a executivos para fraudarem balanços e balancetes a enganarem a própria sociedade norte-americana? Essa democracia, cujos bancos, lavam dinheiro da droga? Essa democracia envia dez mil soldados em “ajuda humanitária” ao Haiti? Essa democracia que mata civis inocentes no Iraque e no Afeganistão? Essa democracia que apóia a ignomínia de Israel contra os palestinos?
“Combate ao narcotráfico”? Mas qual é, segundo dados da própria ONU, o país que mais consome drogas pesadas do mundo, como o ópio e a cocaína? Cujos lucros passam já de 400 bilhões de dólares anuais, dinheiro sujo, mas legalmente lavado em alguns dos principais bancos do Tio Sam? Dinheiro, que já se suspeita, financia algumas operações da CIA “around the world”?
Nesse item particular, do “combate ao narcotráfico”, cabem aqui algumas perguntinhas que não querem calar: do que precisa o maior país consumidor de drogas do mundo? Da droga, é claro, responderia o conselheiro Acácio. Onde se produz mais ópio? AFEGANISTÃO. Onde se produz mais cocaína? COLÔMBIA. Muito bem.
Vamos investigar mais um pouquinho. Como é que se faz para o ópio chegar aos Estados Unidos da América em grande quantidade e segurança, se há uma guerra de invasão ao Afeganistão e o país está sob o comando das Forças Armadas dos EUA? Como é que a cocaína deixa a Colômbia em quantidade e segurança, se boa parte do território está vigiada pelo exército Colombiano e por sete bases militares dos EUA com os mais sofisticados armamentos e sistemas de vigilância do mundo?
Contem essas histórias para outros... Até quando o mundo será obrigado a conviver com essa hipocrisia, com tanta mentira e empulhação, como se fossemos todos uns idiotas que não sabemos o que queremos? Ou somos?
O drama é real para todos, enquanto a pobre sociedade norte-americana vai se tornando cada vez mais doente, em parte alienada pela droga, em parte pela lavagem cerebral que sofrem seus cidadãos dos meios de comunicação, e em parte ainda por ter de suportar quase que em tempo integral seus jovens partirem para guerras umas atrás das outras.
Só no primeiro semestre de 2010, 145 soldados americanos cometeram suicídio no Iraque e no Afeganistão. E 1713 tentaram.
Quem salvará o mundo dos Estados Unidos da América?

No vídeo
"O Jornal da Record descobriu o local onde ficava o principal centro da operação Condor, no centro de São Paulo. A Condor era uma operação que atuava em conjunto com outros países sob supervisão dos EUA." 



Izaías Almada é escritor e colunista do NR.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ele faz museus

O entrevistado em sua casa em São Paulo
Marcello Dantas não dá autógrafo, não é parado na rua para tirar fotos e não precisa andar com seguranças, mas em 2009 foi "visitado" por mais de 2 milhões de pessoas apenas em São Paulo. Designer de museus e exposições, ele é responsável pela concepção de museus como o da Língua Portuguesa, sucesso de público e crítica na capital paulista (e que, só no ano passado, recebeu a visita de 40 estádios do Morumbi lotados, ou quase a população inteira do Uruguai). Entre os mais de cem projetos que já realizou estão, também, duas das exposições mais comentadas que a OCA, no parque Ibirapuera, recebeu nos últimos anos: sobre a bossa nova, em 2008, e sobre o cantor e compositor Roberto Carlos, encerrada em junho. Esse artista carioca radicado em São Paulo está envolvido atualmente em 25 projetos, em lugares como Xangai, Bogotá, Nova York e Belo Horizonte. Marcello passa mais da metade dos dias do ano fora de casa, mas não reclama. Trabalho são também as viagens que, para ele, servem como fonte de inspiração, tanto quanto cozinhar para os amigos ou brincar com as filhas.

(por Ricardo Viel, publicado originalmente na revista Retrato do Brasil, edição 35, junho de 2010. Fotos de Paula Sacchetta.)

Retrato do Brasil – Qual a sua trajetória de vida até se tornar um produtor de museus?
Marcello Dantas – Sou carioca, morei em Brasília, e atualmente fico em São Paulo. Quando terminei a escola, fui estudar diplomacia. Em um dado momento, entendi que jamais poderia fazer isso na vida. Sempre me interessei pela linguagem. Sabia que meu negócio era esse: visual, teatral, algo assim [Marcello se formou em cinema e televisão pela New York University]. Aos poucos, fui descobrindo possibilidades técnicas e inventando formas de aplicá-las. Entrei nessa história quando a tecnologia era inacessível, cara e pouco funcional.

RB – Antigamente, nos museus havia a regra de que não é permitido tocar, mas somente observar. Isso mudou?
MD – Agora é justamente o contrário: “Por favor, toque.” Isso de não tocar está muito associado ao colecionismo, uma atitude acadêmica de resolver tudo com os olhos. Não acredito nisso. Todos os elementos do sentido me dizem muito. Não se tinha a noção do que o museu poderia ser. Imersivo, educativo, inspirador. O museu, durante muitos anos, por uma falta de percepção, virou um depositário, um armário, um lugar para guardar coisas velhas. Quando, na verdade, o nome “museu” vem de templo de musas, ou seja, lugar onde a gente ora para nossas musas nos inspirar. Não acho que os museus clássicos, como o Louvre, o Prado, vão deixar de existir. Só não é possível fazer mais desses. Essa linguagem se esgotou. O que existe é o que existe. Você não tem mais como adquirir aquelas coleções. Aquela arte não é mais produzida. Quem a tem não vai querer vendê-la ou só vai vender o que é de segunda.

RB – E países menos abastados dificilmente terão...
MD – Não vão ter. Vai virar a franquia do Guggenheim. Manda o que está sobrando para cá! Nada contra o Guggenheim como instituição, mas esse modelo não é criativo. Vai repetir aquilo que já existe e que é sucesso em outro lugar. Acho muito mais divertido e interessante o desafio: ok, não vamos ter a Monalisa, mas vamos fazer o museu do nosso tempo, com a cultura que temos, que é muito mais interessante do que abrir uma franquia de um museu.

RB – Esse museu “clássico” se esgota, muitas vezes, por ser excludente, porque exige um conhecimento prévio para ser visitado. A ideia é torná-lo mais acessível?
MD – Os museus sofrem, na maioria dos casos, de fracasso de público. Isso porque existem para seus curados e para os outros curadores. Uma coisa arrogante. É fácil falar com seu colega. Agora, tente falar com crianças e jovens que são 50% dos que frequentam museus. Falar com quem não teve o mesmo background socioeconômico, não teve acesso àquela informação e ainda assim seduzi-los. E fazer isso sem nenhuma gota de arrogância? Esse é o desafio.

RB – E essa mudança de conceito se inicia em que momento?
MD – O primeiro museu a mudar um pouco a percepção quanto à linguagem foi o do Holocausto, em Washington, em 1990. Várias exposições nos anos 1980 apontaram para essa mudança, que aconteceu porque há várias causas no mundo que são tremendamente nobres, mas cujas coleções não dão em nada. Ou você utiliza essas novas linguagens, ou vai fazer um museu que nasce velho. Por exemplo, como fazer um museu sobre a língua? Vou botar um monte de livros? Fazer biblioteca? Citações na parede? Não é isso. Preciso criar um envolvimento para que se entenda a vida dessa língua, a palavra, o som, sua cordialidade.

RB – Como o Brasil ingressa no cenário dos construtores desses novos espaços?
MD – Dez anos depois do museu do Holocausto, o Brasil já é referência. Muitos artistas aqui já estavam antenados a novas linguagens expositivas. Essa é uma das áreas em que somos respeitados. Como na música, na publicidade e na arquitetura, o Brasil tem voz em design de exposições. Há vários artistas, cada um com seus conceitos e background. Eu, como bagagem, trago a cultura tecnológica, audiovisual, interativa.

"Quando foi a última vez que você escreveu uma carta? É bobagem tentar diferenciar o que é e não é tecnologia"
 
RB – Há alguma explicação para o fato do Brasil ser referência nisso?
MD – Tem um aspecto de mistura de linguagem que acontece aqui de maneira muito forte. Uma quebra do enrijecimento acadêmico, que aqui não resiste. A gente ama misturar linguagens e faz isso com naturalidade. Os museus eram pensados como uma entidade elitista, para uma determinada fatia da sociedade. No Brasil, como não existiam esses feudos, era fácil chegar com uma coisa nova. É a soma de um país que tem uma cultura naturalmente antropofágica, miscigenadora, com a demanda de que você crie uma linguagem que seja popular. O ambiente era favorável. Aqui não tem coleção e há um abismo educacional grande. Tem uma massa para alimentar culturalmente. Outra coisa: quarenta anos de ditadura fizeram com que não se criasse nenhum museu relevante. Depois, tivemos mais dez anos de estagnação econômica. Ficou uma lacuna. O país foi acordar no final do século XX, e a Mostra do Redescobrimento, em 2000, ajudou muito. É um marco, um momento em que todo mundo pôde crescer de patamar de produção.

RB – Você não tem medo de ficar refém da tecnologia, de que as pessoas não vejam seu trabalho pelo viés do conteúdo?
MD – Sei muito bem desse perigo e trabalho muito para não cair nessa armadilha. A tecnologia sozinha não faz nada. A gente vai ter que olhar para o passado sempre. Ainda bem! Mas temos que reinterpretá-lo com o conhecimento do nosso tempo. O segredo está no conteúdo e na linguagem. Vivenciamos hoje a nossa realidade por meio da tecnologia e a própria educação afetiva é fortemente pautada pela mídia. Somos tocados a nos expressarmos sobre o amor através dela. Isso não é pouco importante. Construímos a percepção dessas coisas através do audiovisual. Quando foi a última vez que você escreveu uma carta? É bobagem tentar diferenciar o que é tecnologia e o que não é. Não tem esse outro mundo.

RB – E as crianças de hoje já sabem apertar todos os botões...
MD – É natural para eles. Credito essa reação contra a tecnologia a uma dose de analfabetismo tecnológico. É só uma questão das pessoas se aposentarem. O Chico Buarque tinha razão, “você não gosta de mim, mas sua filha gosta”. Ninguém lembra para quem ele falou isso, mas a música ficou. Se você pergunta para um jovem quem é o Geisel, ele não sabe. Mas o Chico, todos conhecem. Sobrou só a música.

RB – O que você faz para dominar os assuntos que são trabalhados nos projetos?
MD – Não tenho a pretensão de saber tudo. Meu trabalho não é o de ser o curador do mundo inteiro. Sou capaz de fazer um museu sobre qualquer assunto, mas não tenho que entender profundamente. O que preciso dominar é a linguagem. Preciso entender aquelas palavras que ouvi, aquelas culturas que observei, como traduzir para uma linguagem contemporânea, que inclusive ajudo a criar. É muito mais um trabalho de tradução do que de pesquisa. Não tenho a intenção de ler todos os livros, mas me cerco de especialistas. Você pega um pouco daqui, um pouco dali e devolve algo que eles nem imaginavam que dava para fazer. O Museu do Caribe é um exemplo legal. Percebi que a questão da miscigenação é fundamental para aquela sociedade. Mas como representar a miscigenação? Gente trepando? Mistura de DNA? Caras? Comida? Comida é miscigenação. A partir das receitas daquela região – adoro cozinhar – mostramos as origens. Você adiciona os ingredientes e vê de onde vem cada coisa: isso veio dos árabes; isso, dos índios; esse, dos europeus...

RB – Nos seus museus não há aquele guia que “ensina”. Eles são desnecessários?
MD – Não precisa. Tenho que ser capaz de dar o sentido exploratório do museu para que você, com a sua curiosidade, seja capaz de se encontrar nele. Não é para sair dali sabendo tudo. Eu tento deixar a pessoa solta, para ela ir se achando, se guiando pelo faro. Não tem uma historinha linear contada por alguém. Todas as vezes que aceitei propostas neste sentido e incluí guias no projeto, tivemos problemas. Eu voltava lá, anonimamente, e via o sujeito falando cada bobagem...

RB – Já há pessoas que se inspiram ou copiam você?
MD – Quanto a copia, não me preocupo. Primeiro porque nunca faço dois projetos iguais. Não fico preso a uma técnica. O que mais quero é que venha uma geração para mudar esse cenário. Não quero mudar sozinho e nem posso. Só gostaria que, quem viesse, trouxesse uma sensibilidade real em relação ao conteúdo. Essa é a mágica deste trabalho. Tecnologia é a parte fácil, perto do que é articular a linguagem. O segredo é estrada. Ler jornal do mundo todo, se interessar por absolutamente tudo. A fórmula é viver e ter sensibilidade. Eu só trabalho, mas para mim é natural. É minha vida. O livro que leio, pode ser de poesia, uso no meu trabalho. Minhas filhas são enormes fontes de inspiração. Aprendo muito com elas. Essa linha de fronteira do que é trabalho para mim não existe. Várias vezes acordo três da manhã porque veio uma ideia.

Um plebiscito vem aí e precisa da sua participação


Pela reforma fundiária no país, entre 1 e 7 de setembro o Fórum Nacional da Reforma Agrária e Justiça no Campo promoverá o plebiscito pelo limite da propriedade rural com apoio de dezenas de entidades e movimentos sociais. O objetivo do plebiscito é demonstrar ao Congresso Nacional que o povo brasileiro deseja que se inclua na Constituição um novo inciso limitando a propriedade da terra - quase 50% das propriedades rurais têm menos de 10 ha (hectares) e ocupam apenas 2,36% da área do país. E menos de 1% das propriedades rurais (46.911) têm área acima de1 mil ha cada e ocupam 44% do território (IBGE 2006). Mais informações e para assinar abaixo-assinado acesse: www.limitedaterra.org.br

Neste sábado, professores de política debatem eleições 2010

Organizado pela Gestão José Adão do Centro Acadêmico Florestan Fernandes, da Fundação Escola de Sociologia de São Paulo, o debate vai tratar dos novos aspectos da eleição deste ano

“Professores renomados problematizarão questões relativas ao processo eleitoral que este ano elegerá não apenas o presidente, mas também senadores, deputados estaduais e federais. Um dos elementos importantes no pleito deste ano é o uso das mídias digitais. Desta vez o candidato pode, inclusive, receber doações por via da internet. Além disso o uso das redes sociais, aparentemente, exercerá um papel fundamental em qualquer candidatura”, diz a nota.

Debatedores
“Estarão presentes o professor Aldo Fornazieri, colunista do Estadão e atual Diretor Acadêmico da FESPSP, além de Flávio Rocha, coordenador do curso de Pós-Graduação em Política e Relações Internacionais, Roseli Coelho, doutora em filosofia política, e José Paulo Martins, especialista em processos eleitorais. A mediação ficará a cargo do professor Rodrigo Estramanho.”

Data: 21 de Agosto de 2010
Horário: 15 horas
Local: Rua General Jardim, 522, sala 02 - Vila Buarque
Entrada: Franca
Mais informações: contato@caffesp.com.br

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Liquidificador destaca: todos querem Lula de amiguinho no horário eleitoral

Imagine a turbulência mental ao ler detalhadamente todas as notícias mais “importantes” do dia veiculadas no jornal do dia seguinte. S.A.T.U.R.A.Ç.Ã.O é o que penso sempre que pego o jornal, qualquer deles. “Não quero saber, mas preciso”. Liquidificador da informação é um apanhado. Nada mais. Aqui, somente, apenas, a informação menor. O que batemos o olho. De ontem, não te importa hoje. Respire e vá de um fôlego.

Dia 18 de agosto. Ficção, comédia, terror ou nenhuma das anteriores? Me refiro ao início do horário eleitoral gratuito na televisão e no rádio, durante o qual os candidatos à Presidência falaram sobre seus planos de governo – o programa de Dilma Roussef (PT) apresentou um diálogo da candidata com o presidente Lula sobre os investimentos que pretende realizar em várias cidades, enquanto José Serra (PSDB) deu ênfase aos seus projetos na área da saúde e citou o presidente Lula dizendo que “vai continuar a melhorar a nação.”
Superior Tribunal Militar (STM) respondeu a Folha de S. Paulo sobre a proibição de consulta ao processo contra Dilma, que a levou para a prisão durante o regime militar – segundo a nota, o acesso ao processo só é permitido aos agentes públicos em função pública ou partes interessadas (a nota foi uma resposta ao artigo “Tribunal esconde processo contra Dilma”, publicado pelo jornal).
Lula lá: em discurso de inauguração de obras na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univale), em Petrolina (PE), disse que quer “ganhar as eleições (presidenciais) para cuidar do meu povo, como a mãe cuida do seu filho” - em Salgueiro (PE), Lula visitou as obras da Ferrovia Transnordestina, onde criticou o Ministério Público e a morosidade nos processos de licenciamento ambiental: “É um verdadeiro inferno concluir um projeto dessa magnitude”.
Seu dinheiro: a divulgação pela Receita Federal do resultado da arrecadação federal de impostos e contribuições no mês de julho, ficou em 67,973 bilhões de reais. Artigo da FSP informa que o relatório final da Polícia Federal sobre o inquérito da Operação Satiagraha pede o indiciamento de 42 cotistas do fundo de investimentos Opportunity Fund pela suposta realização de operações financeiras ilegais.
Greve nacional dos médicos residentes: segundo a ANMR (entidade que congrega os trabalhadores do setor), tem a adesão de 80% da categoria (17,5 mil profissionais) - dentre as reivindicações estão o aumento de 38,7% no valor da bolsa mensal, 13º salário e adicional por insalubridade (na segunda-feira, o Ministério da Saúde ofereceu aumento de 20% na bolsa mensal, a partir de 2011).
Do mundão em colapso: o atentado em Bagdá (Iraque) de um suicida que detonou uma bomba ao se aproximar de uma fila de recrutas que se alistariam ao Exército do país deixou ao menos 61 mortos e mais de 100 feridos – outros 8 ataques realizados em várias partes do país, todos contra juízes, deixaram 2 mortos e dezenas de feridos. Lá em Taiwan o Parlamento aprovou um “Acordo Básico de Cooperação Econômica” com a China, que prevê a redução gradual de tarifas sobre uma cesta inicial de produtos num prazo de três anos – pelo acordo, a China reduzirá tarifas sobre 539 produtos, enquanto Taiwan reduzirá tarifas sobre 267 produtos chineses. (A quem interessa essa notícia?). Obama tem que esperar: foi anunciado pelo presidente da Corte Constitucional da Colômbia, Mauricio Gonzalález Cuervo, a decisão da Corte de suspender o acordo militar assinado entre o governo do país e os EUA, em outubro de 2009, até que seja aprovado pelo Congresso - entre outras medidas, o acordo permite por 10 anos o acesso de militares americanos a sete bases colombianas. Crise na Europa: a carta enviada ao presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, por 9 países da União Européia (Hungria, Polônia, Suécia, República Checa, Romênia, Eslováquia, Bulgária, Lituânia e Letônia) com o pedido de inclusão dos sistemas privados de pensão no cálculo do déficit orçamentário desses países – se aceita, a medida reduzirá o nível de endividamento crescente desde as reformas nos sistemas de aposentadoria realizados nos últimos anos.
Do Irã: a entrevista coletiva concedida pelo seu porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast, disse que o governo iraniano não aceitará interferências de outros países que reivindicam a libertação da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte no país - “Nações independentes não permitem que outros países interfiram em seus assuntos judiciais”. A publicação pela revista Nature Geoscience de artigo escrito por pesquisadores da Universidade de Princeton (EUA) em que descrevem a descoberta de vestígios fósseis de animais semelhantes às esponjas do mar com aproximadamente 650 milhões de anos, em Adelaide (Austrália) – é a evidência mais antiga já encontrada do corpo de um animal complexo. A modelo Isabely Fontana disse ao Jornal Extra do RJ que Stefany Brito (ex-mulher do atacante do Milan e da seleção, Alexandre Pato, que pede pensão polpuda) deveria trabalhar: “está enfiando o pé na jaca, ops, no Pato”.

Thiago Domenici, jornalista.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Calendário do Poder, leitura pré-eleitoral

Acabo de ler Calendário do Poder, de Frei Betto. Casualmente, o momento pré-eleitoral foi muito interessante para a leitura. A obra soma-se a Mosca Azul na contemplação sobre o período em que Frei Betto ocupou o cargo de Assessor Especial do governo Lula (2003-04), tendo como incumbência a mobilização da sociedade civil – e a consequente atuação desta no governo.
O livro é extremamente interessante por ser constituído, em sua espinha dorsal, pelo diário de Betto ao longo deste período no Planalto. Em primeiro plano, a trajetória das impressões do escritor “casa” com as de milhares de brasileiros: a imensa esperança com a eleição de Lula, a desconfiança de que algo não caminha bem, a certeza de que muita coisa não caminha bem.
Betto é o observador privilegiado da trama do primeiro mandato. A elite tradicional, amiga de última hora de Lula, apropria-se com sabedoria de várias instâncias de governo. A política econômica de Antonio Palocci, definida como neoliberal, desagrada aos antigos quadros do PT: a obsessão pelo superavit primário conduz a cortes nas áreas sociais. Alguns dos nomes mais representativos da esquerda brasileira pós-ditadura vão se desapontando e, um por um, deixando o governo. No meio do turbilhão está Lula, que confidencia a Betto sua decepção com o andamento de muitas vertentes do governo, mas tarda em tomar decisões. O escritor, no entanto, não culpa o presidente, amigo de muitos anos: prefere constatar, não sem tristeza, que uma coisa é chegar ao governo; outra, bem diferente, é chegar ao poder.
Se em Mosca Azul estão registrados os exemplos de como o poder, por sua vez, mexe com ânimos, instintos e personalidades, Calendário do Poder também é farto em situações do gênero. São ministros fritando ministros, reuniões que vazam à imprensa, dados que aparecem ao acaso e acabam por derrubar cabeças. Enfim, uma boa leitura.

João Peres é jornalista e colunista do NR.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

400contra1: bandidagem à la Hollywood

Daniel Oliveira em cena do filme 400contra1
O filme 400contra1 – uma história do crime organizado, narra a formação do Comando Vermelho, facção criminosa que surge no presídio de Ilha Grande (vulgo “caldeirão do diabo”), Rio de Janeiro, no final dos anos 70 e que mete medo no Estado até hoje. O mote do filme vem do livro homônimo de William da Silva Lima – interpretado pelo ator Daniel Oliveira (o mesmo de Cazuza) – o único sobrevivente da primeira geração do grupo. O ator, aliás, faz o filme ser melhor do que é. Eu não li o livro mas sabia, no entanto, da divisão que se fazia em época de ditadura militar entre os presos da ala política e a turma do “fundão” - assaltantes de bancos, em sua maioria.
Sempre fico instigado ao ver essas produções que contam histórias, mesmo que de um jeito torto, sobre a bandidagem brasileira. Foi assim com Carandiru, Cidade de Deus e Salve Geral, para citar alguns recentes. O problema é que sempre acho as adaptações fracas ou não me sinto completamente confortável ao sair do cinema. Para ser sincero, não acredito no que assisto. O problema sou eu? Como disse minha namorada, Natalia Mendes, “me sinto meio enganada.” Não que deva ser assim, acreditar ou não em algo que se vê – mas há sempre, nestes filmes, um ar de glamour desnecessário em apresentar os bandidos herois que, pelo pouco que li ou ouvi, não condiz com uma realidade maior do sistema carcerário brasileiro – mesmo que há algumas décadas - e com a vida que se leva.
Se é intencional dar uma linguagem menos dolorida e apresentar uma estética palatável ao grande público, já não sei. Talvez seja uma das funções do cinema de muitos milhões e que precisa de audiência não pegar tão pesado no cerne da questão. Mas a mensagem fica sempre no ar para mim, ou seja, a de que por traz do fato de ser o que é – bandido – existe algo pop ou ideológico, uma motivação maior que justifica sua vida contra o sistema - esse, sim, o grande vilão. Ser bandido traz sofrimento, dor e morte. Ponto. E isso o filme pincela de um jeito à la Hollywood que não me deixou contente.
Sempre existe, é verdade, uma motivação – política, familiar, amorosa etc – na vida de todos nós. No caso do filme, a meu ver, faltou dimensionar melhor essa questão no grupo que fez surgir o CV. Por mais link coletivo que se dê a história, 400contra1 – que é uma grande produção nacional – me deixou a ver navios em vários aspectos e sai com uma interrogação: será que...? Vou ler o livro assim que puder e, quem sabe, obtenho mais respostas. De todo jeito, é um bom filme, mas não é ótimo.



Thiago Domenici, jornalista, não é crítico de cinema e nem se postula a tanto, mas quis dividir com os leitores essa breve e rasa reflexão

Liquidificador destaca: Santos perde e Neymar chama juiz de ladrão no Twitter

Imagine a turbulência mental ao ler detalhadamente todas as notícias mais “importantes” do dia veiculadas no jornal do dia seguinte. S.A.T.U.R.A.Ç.Ã.O é o que penso sempre que pego o jornal, qualquer deles. “Não quero saber, mas preciso”. Liquidificador da informação é um apanhado. Nada mais. Aqui, somente, apenas, a informação menor. O que batemos o olho. De ontem, não te importa hoje. Respire e vá de um fôlego.

Dia 16 de agosto. Nova pesquisa Datafolha saiu no sábado. A candidata Dilma Rousseff (PT) tem 41% das intenções de voto, seguida por José Serra (PSDB) com 33% e Marina Silva (PV) com 10% - foram entrevistados 10.856 eleitores, em 382 municípios, entre 9 e 12 de agosto. Para os governos estaduais: em São Paulo o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) tem 54% das intenções, seguido por Aloizio Mercadante (PT) com 16% e Celso Russomano com 11% - no Rio de Janeiro, o candidato Sérgio Cabral (PMDB) com 57% é seguido por Fernando Gabeira (PV) com 14%.
A Petrobras divulgou, na sexta-feira, seu balanço financeiro relativo ao 2º trimestre de 2010, que apresentou lucro líquido de 8,285 bilhões de reais, 1,65% maior que o registrado no mesmo período do ano anterior, de 8,160 bilhões de reais – a receita total da empresa no trimestre atingiu 53,631 bilhões de reais, 6% maior que no 2º trimestre de 2009 (é ou não é muita coisa?).
Rolou a prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio de Janeiro contra a coordenadora de Pediatria do Hospital Riomar, Sarita Fernandes Pereira, e o estudante do 5º período de Medicina, Alex Sandro da Cunha Silva – Sarita é acusada de contratar ilegalmente o estudante, que atendeu e liberou uma menina que havia dado entrada no hospital com convulsões – após ser liberada, a menina entrou em coma e ficou internada em outro hospital por 26 dias, falecendo na sexta-feira (a assessoria de imprensa do hospital informou que Sarita foi demitida).
A divulgação pelo Arquivo Nacional dos EUA, na sexta-feira, de arquivo contendo documentos, cartas e questões parlamentares que mostram que o ex-presidente do país, Richard Nixon (1969-1974), pediu ao governo do Uruguai que matasse o líder tupamaro Raúl Sendic e outros membros de grupos contrários ao regime militar se Dan Mitrione, agente do FBI sequestrado no país, fosse executado – o ministro de Relações Exteriores uruguaio na época, Jorge Peirano Facio, disse que não faria a execução, mas sugeriu que os chamados “esquadrões da morte”, existentes na América Latina na década de 1970, poderiam fazê-lo (e não é que existem até hoje?).
Fluminense decola no campeonato brasileiro e tem quatro pontos a mais que o segundo colocado, Corinthians. Isso porque o Deco, ex-barça e Chelsea nem estreou. Santos leva goleada do Vitória (4 x 2) e Neymar, que nem jogou, chama juiz de ladrão no Twitter. Lula fez vídeo de apoio a Dilma no Youtube. Pede que os internautas contribuam para a campanha com fotos, textos e vídeos. Do outro lado do Atlântico: para a ONU, Paquistão vive seu pior desastre. Teve parada do Orgulho Gay em Brasília: 30 mil presentes.
Segundo o Correio Brasiliense, em vez de comprar 410 máquinas de hemodiálise para UTIs, Secretaria de Saúde resolve alugar 12 equipamentos com a mesma verba: 29 milhões de reais. E em São Paulo a prefeitura começa a multar motos na Marginal Tietê e alguns shoppings colocam vigias armados depois da onda de assaltos. Bom frio, até amanhã.

Thiago Domenici, jornalista.

Dr. Rino e as receitas da Vovó (parte 2)

Dando continuidade a edição passada, segue a segunda metade das “Receitas da Vovó”, com mais três segredos medicinais do povo brasileiro. Só, por favor, não repitam em casa!

Abacaxi é melhor
Domingão, 23 30h, o tempo se arrasta no pronto-socorro. Parece que nunca chega a tal da segunda-feira. O que chega mesmo são pacientes, um atrás do outro. E nessa de “um atrás do outro”, chega seu Sebastião, 44 anos, cabisbaixo ao entrar no consultório:
- Boa noite Dr. Tô com um problema, sabe...
- Boa noite... Que problema, seu Sebastião?
- É Dr... é meio chato de contar, mas... Tem que resolver, né?!
- Por isso o sr. veio, não foi?! Vamos lá, o que acontece?
- Então Dr. Tava com uma prisão de ventre danada, faz uns dias... E eu sou motorista... de caminhão de feira.
- Não entendi. Como assim?
- Então Dr., meu colega, carregador do caminhão, me falou que abobrinha era bom prá curar isso.
- E?
- E aí que eu peguei e usei!
- E que problema tem nisso, seu Sebastião?
Nesse momento, com o olhar no chão, voz trêmula e a testa brilhando de suor, seu Sebastião revela a tão buscada cura para a constipação intestinal:
- É que coloquei uma lá... lá embaixo. Por trás. E não saiu até hoje, faz 03 dias.
Bela desculpa! Bela!

A ceia do papai
A Otorrinolaringologia, “ciência dos buracos de cima”, a qual exerço com todo o orgulho e dedicação possíveis, é fonte de momentos escatológicos interessantíssimos em meu dia-a-dia. Dentre uma dezena que me recordo, o mais marcante envolveu Roberto, 30 anos, o papai de primeira viagem; e Lucas, 1 aninho e meio, o primogênito. Eis que entram em meu consultório:
- Olá seu Roberto, como vai? O que acontece com o Lucas?
- Ah Dr., esse menino só vive com o nariz entupido, cheio de catarro! À noite então, é uma roncadeira danada! Ele quase não respira!
Mais algumas informações menos relevantes e vou examinar o pequeno Lucas. A queixa do pai procedia: o menino com o nariz bastante congestionado, com um catarro esverdeado espesso em ambas as narinas, certamente impedindo uma respiração adequada. Antes de finalizar o exame físico, Roberto completa:
- E Dr., sabe o que eu faço? Quando ele tá muito entupido à noite, sem dormir direito, eu pego e chupo o nariz dele!
- Como é que é???
- Chupo Dr., com a minha boca mesmo. Fica limpinho, aí ele dorme melhor! Tem algum problema em fazer isso?
Talvez prá quem goste de ostras deva ser uma delícia!
Leia também: Dr. Rino e as receitas da vovó (parte 1) 
O fim da espinhela caída
Em visita aos pacientes internados na enfermaria do hospital-escola, conheço seu José. Homem simples, agricultor desde o berço, internado agora aos seus 66 anos por complicação de um enfisema pulmonar, fruto de seu hábito de fumar cigarros de palha durante décadas. Em meio à detalhada história clínica típica de estudante de Medicina, seu José revela:
- Tava tomando uns remedinho da roça dotô! Bem melhor que aqueles comprimido que o outro médico passô! Aqueles eu parei! Só que peguei aquela friage do final de semana e, aí, deu nisso!
- Que remédio da roça, seu José?
- Meio copo de óleo, com um pouquinho de azeite virge, dois dedinho só! É prá me curar dessa espinhela caída! É bão dimais. Chega engraxa o peito do cabocro!
Pois é Hipócrates, você não sabia de nada MESMO!

Dr. Rino não é contra fitoterapia ou medicinas alternativas, até pelo fato de grande parte das medicações serem fabricadas a partir de extratos naturais (como o anticoagulante Ancrod®, derivado de veneno de víboras da Malásia e que diariamente salva a vida de milhares de pessoas do derrame cerebral; ou a própria Aspirina®, analgésico e antitérmico, extraída da casca do salgueiro). Entretanto, absurdos como os acima, além de não possuírem nenhum efeito benéfico cientificamente comprovado, podem trazer conseqüências piores que a própria doença, mesmo quando não tratada.

domingo, 15 de agosto de 2010

Vencedores da Promoção Nota de Rodapé e Tomás Chiaverini

Os sorteados a espera de confirmação são:

Livro FESTA INFINITA:

1) beatriz-prado@ig.com.br (Confirmado)
2) rodrigomenitto@yahoo.com.ar (Confirmado)

Livro CAMA DE CIMENTO:

1) kluppel@terra.com.br -
não confirmou, em novo sorteio, o e-mail vencedor foi:
ingridstrelow@terra.com.br

2) joaolluccas.frizzera@gmail.com (Confirmado)

Os vencedores têm até terça-feira (17) para enviarem o nome e o endereço completo para promocao@notaderodape.com.br para validar a promoção Nota de Rodapé e Tomás Chiaverini ofereçem 4 exemplares autografados, dois do livro Cama de Cimento e dois do livro Festa Infinita.

Parabéns aos vencedores e boa leitura!

Thiago Domenici, coordenador e editor do NR.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Liquidificador destaca: hoje é sexta-feira, 13, você tem medo?

Imagine a turbulência mental ao ler detalhadamente todas as notícias mais “importantes” do dia veiculadas no jornal do dia seguinte. S.A.T.U.R.A.Ç.Ã.O é o que penso sempre que pego o jornal, qualquer deles. “Não quero saber, mas preciso”. Liquidificador da informação é um apanhado. Nada mais. Aqui, somente, apenas, a informação menor. O que batemos o olho. De ontem, não te importa hoje. Respire e vá de um fôlego.

Sexta-feira 13. Quem tem medo? Ontem não fiz o liquidificador, faltou organização melhor, foi mal. Hoje vai um mais detalhado e segunda-feira, voltemos à baila. No JN de ontem a Globo entrevistou Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, com condução do repórter Tonico Ferreira (um dos criadores do Jornal Movimento) e na Globo há muitos anos. Enquanto isso, Lula em evento da Secretaria Nacional da Juventude, no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília disse ter desistido de enviar ao Congresso o projeto de lei de Consolidação das Leis Sociais (CLS), que transformaria em lei uma série de programas sociais mantidos por meio de decretos e portarias - “não mandarei exatamente porque a gente manda um pônei bonitinho de circo e o bicho volta um camelo”, disse.
Da entrevista de José Serra, no JN de anteontem, nota oficial do Ministério da Saúde contesta a afirmação do candidato de que o número de mutirões de cirurgias eletivas diminuiu no governo Lula e de que “muita prevenção que se fazia acabou ficando para trás” – também em nota, o Ministério dos Transportes rebateu críticas de Serra sobre a malha rodoviária federal, dizendo que no que se refere a pavimentação das rodovias, 88,2% estão em boas condições.
O rico, muito rico, mas rico mesmo, empresário Eike Batista, anunciou em teleconferência a jornalistas a descoberta de uma nova reserva de gás natural na Bacia do Rio Parnaíba, no Maranhão – segundo ele, a região tem potencial estimado de produção entre 280 bilhões e 420 bilhões de metros cúbicos de gás (ainda faltam estudos mais detalhados para confirmação do tamanho da reserva). Do mundo das estatísticas: Ipea divulgou estudo “Desigualdade da Renda no Território Brasileiro”, segundo o qual os municípios entre os 10% mais ricos do país detinham, em 2007, 78,1% do PIB nacional, enquanto os 40% mais pobres tinham participação de 4,7% - o índice de Gini (concentração de renda) calculado para os municípios brasileiros em 2007 ficou em 0,82, contra 0,88 em 1996.
Os nosso índios reclamam: a assembleia final do encontro Acampamento Terra Livre Regional, em Altamira (PA), cerca de 400 índios de tribos da região da Amazônia decidiram que não irão mais dialogar com o governo federal sobre a usina hidrelétrica de Belo Monte - “o governo só mente. Não há mais diálogo e agora temos de partir para a luta física”, disse a líder indígena em Altamira, Sheyla Juruna.
Educação: a informação divulgada pela FSP de que o governo de São Paulo pagará R$50 a alunos que apresentam dificuldade em aprender matemática e que passem a frequentar aulas de reforço 2 vezes por semana, em sessões de 90 minutos, por 3 meses – o projeto será testado em 1.200 alunos da rede estadual
Do mundão: a entrevista do comandante das Forças Armadas do Iraque, general Babakir Zebari, à agência France Presse, disse que o Exército iraquiano não está pronto para assumir a segurança do país e que “as forças dos EUA devem permanecer até que o Exército do Iraque esteja completamente preparado, em 2020”. Na Colômbia, com novo presidente, atentado ocorrido no centro de Bogotá. Uma bomba explodiu contra o prédio em que se localiza a Rádio Caracol e a sede local da agência de notícias EFE (18 pessoas ficaram feridas) – o presidente colombiano Juan Manuel Santos se dirigiu à emissora e concedeu uma entrevista: “querem perturbar, causar medo na população. Não vão conseguir. Pelo contrário, isso nos lembra que não devemos baixar a guarda”, disse. O filho da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte no Irã, deu entrevista ao OESP, e disse que em conversa com sua mãe ela confessou participação na morte de seu pai e que cometeu adultério – no entanto, Sajjad Ashtiani disse que não acredita nessas declarações: “os gestos dela eram de alguém que não acreditava em uma só palavra do que estava dizendo”, disse. E o Extra, do Rio, mandou uma boa: “Parece piada de vascaíno, mas não é” em referencia a tentativa de contratação de Felipe Mello pelo Flamengo. E na TV, 10 minutos para Dilma e 7 para Serra. Nova etapa vem aí...

Thiago Domenici, jornalista. 

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Mas você tem babá?

"Que o senhor não dê trigêmeos aos pobres"
O mês de julho sempre traz sentimentos contraditórios às mães em surto. Lembro-me de passar férias na casa da minha avó, viajar com os meus pais para a praia, para o sítio, ficar em casa vendo sessão da tarde comendo bolacha recheada e tomando leite com chocolate.
É claro que as coisas não são mais assim. Esta mãe em surto que vos escreve e todas as outras NUNCA conseguem tirar férias em julho ou dezembro, junto com a criança. Portanto, quando vai chegando o final do semestre é hora de rebolar: brigar com o pai que não quer dividir, arranjar entre uma avó e outra as quatro semanas, negociar a diária do curso de férias na escola caso dê tudo errado, enfim.
Os sentimentos são contraditórios porque ao mesmo tempo em que a mãe em surto pode tirar férias das obrigações maternas, sente-se culpada por estar longe, tirando férias das obrigações maternas. É claro que os planos de ver as amigas e pegar um cinema no meio da semana não passam de ilusão. Trabalho e mais trabalho tomam os 30 dias de ponta a ponta e você descobre que seria uma workaholic infeliz e não uma baladeira descolada.
Nas minhas férias escolares, ou melhor, do pequeno, rebolei um bocado. Fui dormir no sítio umas noites para matar as saudades, acordei cedo pra voltar ao trabalho e fechar a matéria nos dias seguintes, o trouxe para casa aos finais de semana, dei jeitos mirabolantes de mandá-lo de volta nas segundas-feiras, enfim...
Aí no cabeleireiro granfino, esperando para ser tosada de graça (porque mãe em surto, ainda mais jornalista, não tem dinheiro, mas tem amigos), escutei a moça sem olheiras da direita comentar com a loira bem tratada da esquerda, que Theodoro (porque deve ser escrito com H) “teve até febre porque eu passei 10 dias em Madrid, acredita?” e a dúvida era “Será que emendo uma viagem à New York? Minha amiga me convidou e fiquei bem tentada”. “Ai boba, vai sim, não perde a vida. Logo eles crescem e te esquecem” foi o conselho da loira sem pontas duplas da esquerda.
Querendo ser simpática, pergunto à sem olheiras se ela tem apenas um filho e qual a idade: “Não, tenho trigêmeos! Eles têm três anos”. Trigêmeos? Começava a ter dó da moça, quando parei para pensar que esta informação não condizia com sua pele. “Mas você tem babá?”, perguntei. “Quatro”, respondeu a da pele boa. Inclui na minha prece diária. “Que o senhor não dê trigêmeos aos pobres ou às mães solteiras, amém” e saí menos culpada do salão.

Andrea Dip é jornalista e Mãe em Surto
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