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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Roriz, sutil ironia ou o que?

Contraditório, Ficha Suja só vale para os outros

Apesar de ter sua área de atuação e de influência restrita à região Centro Oeste do país, Joaquim Roriz, do Partido Social Cristão, é um dos mais notórios fichas sujas do Brasil, conhecido nacionalmente. Governador por quatro vezes – três eleito pelo povo, uma nomeado pelo então presidente José Sarney (PMDB) - foi no último cargo, de senador, que Roriz conseguiu arrumar toda a quizumba que o está prendendo em enroscos pelos tribunais.
Em 2007, Roriz renunciou ao seu mandato de senador, após apenas sete meses na cadeira. Na mesma época, a Polícia Federal iniciou uma operação chamada de Aquarela, que acabou pegando Roriz em uma conversa telefônica, discutindo a partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões. Questionado pela polícia, Roriz afirmou que o dinheiro se referia à compra de uma bezerra, que ficou apelidada de “bezerra de ouro”.
Com isso em mãos, o PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) deu entrada no Senado a um pedido de cassação do mandato de Roriz por quebra de decoro parlamentar. Antes sequer de o processo ser analisado por qualquer órgão ou instância da Casa, o ex-governador renunciou, apelando para o velhíssimo artifício de renunciar para não perder seus direitos políticos.
Porém, agora, Roriz garante que não renunciou para fugir de cassação, mas por ter descoberto que “não tinha vocação para o legislativo”, como disse no debate entre candidatos ao governo do DF da televisão Bandeirantes. A coincidência de datas é apenas isso, coincidência, segundo ele, uma oportunidade para renunciar.
Roriz já avisou também que, se continuar barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), questionando a validade da lei para esse ano – pelo princípio da anualidade, toda lei precisa vigorar por um ano para valer para uma eleição – e da retroatividade – nenhuma lei pode retroagir para prejudicar alguém, apenas para beneficiar.
Ou seja, Roriz vai dizer que a) ou a lei não vale para essas eleições, ou b) não vale para ele. Porém, quando é para alfinetar seus adversários, Roriz bem que faz uso da lei. Ele usou o dado divulgado de que o PMDB é o partido com mais membros barrados pelo Ficha Suja para, indiretamente, atacar o personagem que tem sido mais atacado pela coligação de Roriz, sendo chamado constantemente de “traidor”, seu ex-braço-direito Tadeu Filippelli, deputado federal mais votado em Brasília nas últimas eleições e atual vice na chapa do petista Agnelo Queiroz, principal oponente de Roriz na corrida ao GDF.
Como não tenho procuração nem pretensão de defender o PMDB, vai apenas um dado: o PMDB é o partido com mais filiados no Brasil, tendo próximo a ele apenas o PT. Dá até para pensar que é normal o partido ter o maior número de fichas-suja – em um mundo onde ter “fichas-suja” é considerado normal, claro.

Rodrigo Mendes de Almeida é jornalista e escreve a coluna Estação Brasília

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