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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Amor fiel

Ser apaixonado por futebol não é algo que acontece por osmose, talvez por convenção familiar ou social, ou em outros casos trata-se de uma coisa que se aprende desde criança como amarrar os cadarços dos sapatos ou cumprimentar as pessoas nas ruas. O difícil é explicar os porques. Mais do que idolatrar um time ou uma seleção, torcer para um clube faz parte do seleto grupo de sentimentos nos quais predominam o amor incondicional, desses irracionais que beiram a cegueira nos lances polêmicos.

Pertencer a uma torcida vai muito além de enotar seu coro, e há quem diga que mais parece um ritual barbáro, ou vestir a camisa do time no dia seguinte a uma vitória. Torcer implica em perder o humor, em chorar quando seu time sofre uma derrota ou é rebaixado. É emoção pura, e nisso não existe espaço para visões céticas nas quais o futebol é comparado a mais uma política pão e circo do sistema. Vibrar com cada gol é natural, é comportamento social esperado para aquela situação, agora, o que foge do comum é o sentimento capaz de extrapolar os limites da razão e manter, durante a derrota, um único canto independente do resultado.

Quando lembro das inúmeras vezes em que vi o Corinthians jogar no Pacaembu, a primeira imagem que me vem a cabeça é da Torcida e seu amor inexplicável de alcance inimaginável. Seu poder de empurrar o time seja da mesma forma independente do placar do jogo não é uma qualidade que encontramos em qualquer esquina. O ambiente da torcida é de festividade pura, não existe classe social entre amigos instantâneos que compartilham as emoções da partida.


Na contramão dessa poesia vivenciamos atualmente o assassinato da beleza em prol da Cartolagem com C maíusculo, manchada de corrupções e intereresses mascarados por uma névoa permanente de banditismo.

Em inúmeras vezes me perguntaram por que os corinthianos falam tanto de sua torcida. Sem saber transmitir essa emoção com palavras sempre convidei meus amigos a irem assistir uma partida do Corinthians no Pacaembu, quem sabe assim eles possam entender. A Gaviões da Fiel arrepia, contagia, enche o coração do povão de alegria. Viva o futebol bem jogado, com lances bonitos, dribles desconcertantes, bandeiras enormes estendidas sobre a torcida, tambores e batucadas entoando os gritos de guerra e todos os elementos desse esporte tão enraizado na cultural canarinha.

Viva o amor incondicional e o futebol arte.

Victor Moriyama, 26 anos, é repórter fotográfico do Jornal O Vale, em São José dos Campos, cidade que reside atualmente. Mantém a coluna Fotógrafo-escreve no NR.

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