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Há anos o governo distorce e maquia números para tentar convencer a população de que, nessa guerra, só quem está envolvido com os “narcos” perde a vida. A tese, que há muito tempo vem sendo contestada, acaba de receber o golpe final. Desta vez será impossível transformar a vítima em culpado.
Após a morte do filho, Sicilia convocou os mexicanos a protestarem. Pediu para que as ruas fossem ocupadas por um basta à violência. Na quarta-feira (6), o escritor encabeçou uma marcha em Cuernavaca que reuniu mais de 20 mil pessoas. A manifestação se repetiu em outras 22 cidades e já há novos atos programados. Calderón pode ser colocado em xeque por uma morte que vale por 40 mil.
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Quando recebeu a notícia do assassinato, o escritor estava nas Filipinas. No avião de regresso, escreveu um poema, que leu publicamente na praça da cidade onde mataram o filho. Depois, anunciou que aquele havia sido seu último poema. “Não posso escrever mais poesia. A poesia já não existe mais em mim”.
El mundo ya no es digno de la palabra
Nos la ahogaron adentro
Como te asfixiaron
Como te desgarraron a ti los pulmones
Y el dolor no se me aparta
Sólo queda un mundo
Por el silencio de los justos
Sólo por tu silencio y por mi silencio, Juanelo.
Eu estive no México por um mês no começo do ano. Vi um país militarizado, assustado e uma população que se sente refém de uma violência que parece não ter fim nem razão. A sensação que tive ao tentar me informar sobre os acontecimentos é que já é impossível distinguir quem está matando quem e por quê. Por sorte, ainda há o sentimento de indignação.
Ricardo Viel é jornalista, colunista do Nota de Rodapé
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