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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

terça-feira, 12 de abril de 2011

CQC e Bolsonaro: cúmplices

Diante da pergunta de Preta Gil a resposta de Bolsonaro
criou uma polêmica nacional. Ele foi racista e preconceituoso


Para quem vê o programa CQC, da TV Bandeirantes, como mistura de jornalismo e humorístico, de cara, largo duas perguntas: depois da tremenda barulheira causada pela pseudo-entrevista do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) no dia 28 de março, pode-se dizer que aquilo é jornalismo? E sobre o tal humor? Eu, sinceramente, não consegui rir até agora.
Todos que são razoavelmente informados politicamente sabem das posições ultra-reacionárias do parlamentar em questão. Jair Bolsonaro foi capitão do exército e confessa ter saudade da ditadura militar. É preconceituoso ao extremo. Por exemplo, manifesta-se, sempre virulento, contra a união civil entre casais homossexuais, o debate sobre homossexualidade na escola e dá sinais óbvios de racismo – não foi só contra Preta Gil que o sujeito destilou o veneno discriminatório de raça, pois muitas vezes já se declarou contra o sistema de cotas, dizendo que jamais permitiria que um médico negro, formado como cotista, colocasse as mãos nele. Sendo assim, o que a brilhante equipe do CQC esperava?
No início do programa, o ex-professor Tibúrcio, Marcelo Tas, já anunciava que viria uma entrevista com “o deputado mais polêmico do Brasil”. No fim da “obra-prima”, dando o tradicional migué, Tas diria, com cara de “susto”: “Prefiro acreditar que o Bolsonaro não entendeu a pergunta”, referindo-se a resposta dada a Preta Gil. Contudo, no dia seguinte, em entrevista ao Terra Magazine, o líder do CQC observou o seguinte: “Entendi que Bolsonaro fez duas coisas que faz com recorrência: declarou seu profundo apoio à ditadura militar e manifestou dois preconceitos, contra os negros e contra os gays”. Então, cadê a surpresa, meu caro? Onde está o jornalismo? Ou mesmo o humor, a tal ironia que joga luzes a temas relevantes, porém com leveza?
De leveza não houve nada. A situação foi pesada. Clima ruim. Foram traídos todos os princípios do bom jornalismo e, se havia intenção de fazer piada, pouca gente riu – talvez só os que lucraram com o ibope gerado em torno da polêmica que, de fato, foi urdida minuciosamente. Senão, porque escolher Preta Gil para fazer a pergunta final? Se o objetivo era provocar debate, “jogar luz” nas discussões, por que não levar ativistas homossexuais e negros para responder com fundamento as imbecilidades proferidas pelo “entrevistado”?
Simples. O intuito era “jogar luz” numa coisa apenas: audiência. Ainda que ela fosse trazida das palavras de um cretino que praticou crimes – morais e éticos – de racismo e preconceito, em rede de projeção nacional. E o CQC deu palco a isso. Foi palanque de um discurso torpe, disseminador do preconceito racial e da homofobia, pois não esqueçamos que mais de 120 mil brasileiros elegeram Bolsonaro ao atual mandato e que figuras assemelhadas transitam pelo Congresso Nacional e outras casas legislativas Brasil afora.
E, se o deputado praticou ato criminoso, o CQC e a Bandeirantes também o fizeram? Tas já andou dizendo que as críticas feitas ao programa por movimentos e ativistas são tão preconceituosas quanto às palavras do parlamentar. Tergiversação, senhor ex-professor Tibúrcio. Não desvie o foco. Os protestos não têm base no preconceito, mas nos crimes que o programa e a emissora ajudaram a cometer.
Com a precipitada trama, o CQC não traiu só os princípios do bom jornalismo. Traiu a Constituição Federal no que tange ao Capitulo V, sobre Comunicação Social. Estimulou sentimentos de dissensão na sociedade brasileira ao abordar tais temas a partir dos grunhidos de uma pessoa desqualificada, fornecendo-lhe uma concessão pública como espaço para propagá-los. Não houve debate algum. Somente gritaria rasteira.

Moriti Neto
é jornalista e colunista do Nota de Rodapé.

2 comentários:

Ana Leticia disse...

Bom discordo um pouco das declarações feitas, pois assisti ao programa citado a cima no dia em que foi ao ar e o que vi nao foi surpresa do Marcelo Tas , mas sim uma suposição ironica " Prefiro acreditar que o deputado nao entendeu a pergunta".É obvio que a rede bandeirantes se beneficou do polemico Bolsonaro para conseguir audiencia, mas pelo menos nao se utilizou irresponsavelmente de tragedias como a do Realengo para ter materia em seus programas como fizeram as outras emissoras.
Que fique claro que n]ao estou defendendo nem a emissora nem o respectivo apresentador, apenas acho que nesse assunto em questao ambos fizeram seu papel de mostrar a populaçao a visao fechada de seu representante no congresso.

Tatiana disse...

Acredito que nao devemos julgar o apresentador nem a emissora, é si necessario que se seja mostrado aso brasileiros em quem andam votando, e o que andam escolhedo para o SEU Brasil! Sim, é muito mais facil simplismente nao querermos criar polemica e ficarmos quietos, mas é exatamente isso que serve de alimento para esse tipo de politico! agradeço ao programa pela oportunidade de descobrir o nojo deste deputado...!

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