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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

domingo, 21 de outubro de 2007

Direitos Humanos?

Nesta última quarta-feira recebi o Informe 2007 da organização de direitos humanos Anistia Internacional (AI), que tem 226 páginas e trata do estado dos direitos humanos no mundo, fornecendo uma visão geral desse tema nos cinco continentes durante o ano de 2006. São constatações estarrecedoras que, de algum modo, são repercutidas pela mídia grande mas nunca objeto de reportagens profundas ou discussões relevantes. São informações que ficam perdidas por aí, sem chão, no emaranhado de notícias que nos enfiam goela abaixo todo dia. São cinco áreas chave abordadas: violência contra as mulheres; armas sob controle; pena de morte; tortura e terror; e justiça internacional.
Diante das informações que falam de um mundo cheio de conflitos armados, repressão, discriminação, onde pelo menos uma, em cada grupo de três mulheres, já foi agredida, obrigada a manter relações sexuais ou sofreu outro tipo de abuso, onde comunidades inteiras padecem com a pobreza e com a exclusão social, pensei só numa coisa “que merda!”. Simples e grosso. Sem nenhuma ponderação intelectual, mesmo porque não sou um.
Continuei a ler e Irene Khan, secretária-geral da Anistia Internacional, lá pelas tantas escreveu “A marginalização de amplas parcelas da humanidade não deveria ser tratada como o preço inevitável nas políticas e nas decisões que negam aos indivíduos seus direitos econômicos e sociais”. Concordam?
Estava ansioso pelo Brasil, não quis pular as páginas, fiz bem, descobri que na baía de Guantánamo, a única forma de protesto possível aos detentos era a greve de fome. Assim fizeram em 2006 duzentos presos, resultado: foram alimentados a força através de tubos inseridos pelas narinas. Quando se divulgou que três homens teriam cometido suicídio, o comandante da força-tarefa estadunidense descreveu o que aconteceu como uma “guerra assimétrica”. Alguém pode explicar? Só em Guantánamo estão detidos 400 pessoas de 30 nacionalidades.
No mundo, cerca de dois milhões de pessoas por ano são levadas de seus países de origem para ser exploradas no exterior por redes de traficantes. Bem, cheguei ao capítulo das Américas, página 30, e lá dizia: “A América Latina permanece sendo um dos locais economicamente mais injustos do planeta. A pobreza continua endêmica e o acesso a serviços básicos, como saúde e educação, continuou a ser negado ou limitado para a maioria das pessoas”.
Os EUA continuam no topo no quesito violência: “surgiram novas evidências de um padrão sistemático de abusos praticados pelos Estados Unidos e seus aliados no contexto da guerra ao terror, com detenções secretas, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e prolongadas em regime de incomunicabilidade, tortura e outras formas de punição cruéis, desumanas e degradantes”.
A América Latina, a África, o Oriente Médio e a Ásia gastam, em média, 22 bilhões de dólares por ano com a compra de armas, dinheiro suficiente para alfabetizar a população infantil dessas regiões e reduzir a mortalidade infantil em dois terços até 2015.
Depois de 80 páginas do que aconteceu em 2006 pelo mundo resolvi parar. Se a Anistia Internacional solta esse documento todos os anos e nada de relevante acontece (acontece?) o que nos aguarda e o que esperar? Denunciar é preciso? Sim, é preciso. Lutar contra isso que aí está fundamental. O jornalismo, da parte que me cabe diretamente, deve levantar as questões, tocar as consciências, investigar e declarar verdadeiramente o que há de podre no reino.
Não preciso repetir que o capitalismo é desigual, que seu fruto, a globalização faz prosperar o medo e marginaliza as camadas pobres. Que os projetos são de poder e não de transformação social. O problema é claro: nada mudará substancialmente com esse sistema neoliberal. É a mazela de fundo de todas as outras questões.
Ah... e o Brasil? Do Brasil só li que integrantes da Polícia Militar de Recife, no Estado de Pernambuco, teriam detido e torturado um grupo de 14 adolescentes que participavam do Carnaval em 2006. Depois da tortura, a polícia os levou até uma ponte do rio Capiberibe e os obrigou a pular. Dois rapazes de 15 e 17 anos morreram afogados. Inquérito aberto e cinco policiais foram acusados de homicídio e tortura. Em junho, um dos sobreviventes que testemunhou contra os policiais foi morto a tiros. Quem quiser ter acesso ao relatório completo acesse
www.amnesty.org

Thiago Domenici é jornalista e está pessimista com a situação mundial.

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