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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Tio Pac e a inclusão digital na Cidade Tiradentes

Há pouco mais de uma semana estive no Sesc Consolação para acompanhar a palestra do sociólogo italiano Massimo Di Felice, um estudioso da sociedade no contexto digital. Após a palestra, apenas uma de um ciclo chamado Era Digital, uma rica “mesa redonda” ganhou espaço e atraiu olhares e mentes para o que estava sendo ali debatido.
Entre os presentes Cláudio, que prefere ser chamado de Tio Pac. Morador da Cidade Tiradentes, um dos bairros mais carentes da capital paulista, Cláudio lidera um ousado e interessante projeto: a WebTV Cidade Tiradentes.
Além de mostrar o que é feito na comunidade, o projeto oferece oficinas de produção audiovisual para jovens e adolescentes, principalmente alunos de escolas públicas, para que se tornem os próprios produtores dos conteúdos apresentados.
Segundo o site oficial do projeto, “a proposta editorial da WebTV Cidade Tiradentes visa facilitar o processo de tomada da palavra por parte de populações que sempre foram vistas como meras espectadoras, ‘consumidoras’ de conteúdo. O que se espera é que estas pessoas passem a produzir e a interagir com conteúdos nos quais elas se reconheçam. E, mais do que isso, espera-se que estas pessoas sintam-se valorizadas com a divulgação dos seus saberes e do seu cotidiano para outras regiões da cidade, do país e do mundo. Aliás, esse alcance que a internet possibilita é fundamental para desmitificar muitos dos discursos negativos construídos sobre o bairro Cidade Tiradentes, na capital paulista” Acesse aqui.

Em entrevista exclusiva ao Blog Nota de Rodapé, Tio Pac fala um pouco mais sobre a WebTV Cidade Tiradentes e comenta o vídeo premiado no festival de Quebéc, Canadá.

Blog Rodapé: Para iniciarmos, por que o nome Tio PAC?
O nome Tio Pac foi uma brincadeira. Surgiu pelo fato de gostar dos trabalhos do rapper Two PAC Shakkur. Aí, pela minha idade, coloquei “tio”. E o “p.a.c” tem como significado Política, Ação e Cultura: PAC.

BR: Como nasceu a ideia de usar a Internet, em particular a WebTV, para divulgar os trabalhos da sua comunidade?
Em primeiro lugar, existe a questão da democratização real. A internet é realmente democrática. A proposta da WebTV surgiu por não me sentir contemplado. Quando a grande mídia retrata a periferia, ela tem uma visão estereotipada, só pensa em mostrar a violência a miséria, gratuitamente, e nunca explora os motivos, o porquê; é puro sensacionalismo. Por isso resolvemos trabalhar com a internet, para divulgar os bons trabalhos existentes aqui na comunidade. Mesmo com todas as dificuldades nas periferias, sem infraestrutura, sem emprego, sem serviços básicos de saúde, transporte, educação, habitação, lazer e cultura, saem jogadores de futebol, cantores, poetas, cineastas ,etc. Então a proposta da WebTV na Cidade Ti radentes é retratar o que tem de bom nas periferias. E tem muita coisa boa.

BR: Acho que a WebTV é o futuro da televisão. Nesse sentido, seu trabalho na Cidade Tiradentes é muito importante. Em que situação o projeto se encontra e quais os planos para o futuro?
O nosso projeto está em fase de expansão. Estamos inserindo alguns jovens formados por nós para potencializarmos nossas produções. resolvemos trabalhar via Web porque essa é a melhor forma da comunidade ter acesso através das centenas de lan house existentes aqui no bairro. Estamos planejando algumas ações para que a maioria dos moradores da nossa comunidade conheça a programaçao da WebTV e se aproprie, pois a TVCT (TV Cidade Tiradentes) é da comunidade. Iremos estabelecer algumas parcerias com o comércio local (lan house) para podermos deixar exposto na tela de descanso o nosso endereço. Assim, as pessoas acessam e podem multiplicar para os demais usuários da comunidade. Estamos montando também uma equipe de produà ðão local e, com essa equipe, pretendemos criar na comunidade uma referência, jovens produtores da própria comunidade. Ah, eu vou assistir para ver o que eles fizeram.

BR: Há no seu blog um vídeo que recebeu menção honrosa em um festival do Canadá. Qual a sua participação e da comunidade na produção desse video?
A minha participação no vídeo, defina-se, foi na área de produção, e a participação da comunidade foi na parte de atuação. Todos os que participaram da realização do vídeo são moradores locais, foi muito interessante a participação da comunidade nesse vídeo, e entendemos que, a partir da participação, automaticamente a comunidade se identifica e se apropria.

BR: Como você vê a questão da Exclusão Digital, ou seja, a dificuldade que a população tem para acessar a Internet?
Eu acredito que a exclusão é uma coisa real, mas acho que está minimizando. Os preços estão barateando, o número crescente de lan houses em comunidades carentes, a infinidade de telecentros e infocentros. Na verdade, a questão da exclusão está sendo resolvida e o que na verdade agora temos que pensar é em como as pessoas devem explorar melhor a internet, em termos de informação. Há vários conteúdos em termos de páginas, blogs, que são pouco explorados. Agora temos que montar uma força tarefa para divulgar o que tem de interessante para os usuários das periferias, senão acaba que os usuários só vão ficar no youtube vendo futilidades, acaba virando uma Rede Globo da vida.



Paulo Rodrigo Ranieri é jornalista, pesquisador da comunicação no contexto digital e membro do grupo de estudos Atopos - ligado à USP - e colunista do Blog Rodapé. http://jornalismomultimedia.wordpress.com/

Um comentário:

Anselmo disse...

legal, belo furo. a tv brasil tinha até pouco tempo (nao sei se ainda tem) um programa que exibia produções de núcleos independentes e populares... de repente seria uma canal pra dar projeção. tudo bem q a tv brasil nao tem a audiência que o brasil precisa, mas já ajuda...

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