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30 de Julho de 1929, jovens velejadoras no porto de Deauville, França (Getty Images)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Calle 13 pôs Porto Rico no mapa do continente, e saiu para conhecê-lo

Quatro jovens, vestidos com roupas esportivas e bonés na cabeça, sentados em um microônibus velho e lotado de indígenas sobem pelos Andes peruanos rumo à mina mais alta do mundo. Poderiam ser alguns dos tantos europeus, norte-americanos e latinos que desbravam o continente com mochilas nas costas para conhecer um pouco de uma realidade distante e atraente. A diferença desses garotos de Porto Rico em relação aos turistas convencionais é de que eles são integrantes (e amigos) do Calle 13, um grupo de reggaetón que tomou de assalto os principais prêmios e grande parte dos tocadores de mp3 existentes na América Latina.
Criado em 2005 e chefiados por René Pérez, o Residente, o grupo explodiu já com o primeiro disco (Calle 13, de 2006), uma boa mistura de rap com outros ritmos dançantes recheada de letras escrachadas e politicamente incorretas. O sucesso absurdo e impensável para um grupo vindo de uma ilhota caribenha, quase um borrão no mapa mundi, veio com o segundo álbum (Residente o Visitante, de 2007) e chegou ao ápice com o terceiro trabalho (Los de atrás vienen conmigo, de 2008), que rendeu à banda três Grammy Latinos.
O sucesso pegou de surpresa também os integrantes da Calle 13 e seu entorno (família e amigos), vindos da periferia pobre e violenta de Trujillo Alto, um município do Norte de Porto Rico
“Em menos de um ano, Calle 13 se converteu na fucking moda”, diz Residente no documentário Sin Mapa, do ano passado. “De comer arroz com salsicha todos os dias ao tapete vermelho em menos de um ano. Não está tão mal”, brinca.
A fama repentina fez o grupo se questionar sobre o sucesso, o futuro e a mensagem que queriam passar. A visita à mina do Peru (registrada no Sin Mapa) é parte de uma viagem de três meses feita por Residente e amigos por vários países do continente (Peru, Venezuela, Nicarágua, Colômbia, México).
René explica no documentário a motivação da viagem. “Se eu sentia a necessidade de falar de coisas que fossem além de mexer a bunda, eu tinha que conhecer lugares, de conhecer sobre o que estava falando.”
No documentário há pouco de música e muito da América Latina. Visitam índios que sofrem com a destruição de rios e florestas, mineiros em condições sub-humanas, a populações negras com história de luta e libertação, e conversam e aprendem com as pessoas. Bonito registro de uma faceta até então desconhecida de Residente e companhia.
A preocupação deles de conhecer melhor o continente faz todo sentido. Com sua música, Calle 13 colocou Porto Rico no mapa. Com o sucesso, sentiu necessidade de conhecer quem os escuta; aprender, conversar e ouvir os sons dessa gente. O resultado dessa preocupação é perceptível na evolução da música que fazem. Música que depois da viagem (em 2007) passa a sofrer mais influência, ser mais diversificada, rica, mas mantendo os traços que fizeram o grupo tão popular: a ironia e a espontaneidade.

Três vídeos para experimentarem Calle 13:

La Perla - Com Rúben Blades (mestre da salsa latina)


Pa´l Norte (com Orishas, de Cuba)


E o terceiro chamando Atrevete te te.

Há algumas semanas, um vídeo do Calle 13 com Mercedes Sosa foi postado no Nota de Rodapé. Vale a pena rever. Há muito sobre Calle 13 que ficou de fora. Polêmicas com os Estados Unidos, com o presidente da Colômbia (e um desconvite para tocar no país), ações de guerrilha urbana não-violenta. Vamos seguir com o assunto outra hora.
Para finalizar este Conexsom Latina segue o link da primeira das 15 partes do documentário disponibilizado no Youtube.



Ricardo Viel é jornalista e colaborador do Nota de Rodapé

3 comentários:

Anônimo disse...

Texto excelente.Muito bom.

Gabriel disse...

Quem sabe nesse ano eu também saia da carne moída e chegue lá! Mto boa a história...estou curioso pelo repertório semana após semana!

Madrid-Mesa disse...

Ótimo texto. Obrigado por apresentar aos brasileiros esta excelente proposta que fusiona música urbana com ritmos tradicionais.

É preciso, para descontruir de vez o brasilcentrismo...

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